Canja de galinha realmente ajuda quem está doente? Entenda a ciência por trás disso
- Author, Colby Teeman*
- Role, The Conversation
Preparar canja de galinha para um ente querido quando ele está doente é uma prática comum em todo o mundo há séculos. Hoje, gerações de praticamente todas as culturas confiam nos benefícios da sopa.
Nos EUA, o prato normalmente é feito com macarrão. No Brasil, com arroz. Mas cada cultura prepara esse "remédio" à sua maneira.
O uso da canja de galinha como tratamento remonta a 60 d.C. e a Pedanius Dioscorides, um cirurgião do Exército que serviu ao imperador romano Nero. Sua enciclopédia médica de cinco volumes foi consultada pelos primeiros curandeiros por mais de um milênio.
Mas as origens da canja de galinha remontam a milhares de anos antes, à China antiga.
Mas será que existe algo científico por trás da crença de que a canja ajuda em momentos de doença? Ou será que a sopa serve apenas como um placebo reconfortante, proporcionando benefícios psicológicos enquanto estamos doentes?
Como nutricionista registrado e professor de Nutrição e Dietética, conheço bem o apelo da canja de galinha: o calor do caldo e os sabores ricos e saborosos do frango, dos vegetais e do arroz.
O que dá à sopa o sabor distinto é o umami – a quinta categoria de sensações gustativas, junto com doce, salgado, azedo e amargo. Muitas vezes é descrito como tendo um sabor “carnudo”.
Melhor apetite, melhor digestão
Uma tonelada de cocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
Episódios
Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
Tudo isso faz sentido porque os aminoácidos são os blocos que formam as proteínas, e o aminoácido glutamato é encontrado em alimentos com sabor umami.
Porém, nem todos os alimentos umami são compostos de carne ou aves - queijo, cogumelos, missô e molho de soja também fazem parte do grupo.
Estudos mostram que o sabor é fundamental para as propriedades curativas da canja de galinha.
Quando atendo pacientes com doenças respiratórias, percebo que muitos deles passam a comer menos ou não comem nada. Isso ocorre porque as doenças agudas desencadeiam uma resposta inflamatória que pode diminuir o apetite.
Não sentir vontade de comer significa que é improvável que você obtenha a nutrição necessária, o que não ajuda a saúde imunológica e a recuperação de doenças.
Mas as evidências sugerem que o sabor umami da canja de galinha pode ajudar a estimular um apetite maior. Os participantes de um estudo disseram que sentiram mais fome depois de provarem pela primeira vez uma sopa com sabor umami adicionado pelos pesquisadores.
Outros estudos dizem que o umami também pode melhorar a digestão de nutrientes. Uma vez que nossos cérebros detectam umami através dos receptores gustativos em nossas línguas, nossos corpos preparam nosso trato digestivo para absorver proteínas com mais facilidade.
Isso pode reduzir os sintomas gastrointestinais, que muitas pessoas experimentam quando estão indispostas.
Embora a maioria das pessoas não associe infecções respiratórias a sintomas gastrointestinais, pesquisas em crianças descobriram que o vírus da gripe aumenta os sintomas de dor abdominal, náusea, vômito e diarreia.
Pode reduzir a inflamação e o nariz entupido
A inflamação faz parte da resposta natural do corpo a lesões ou doenças e ocorre quando os glóbulos brancos migram para o tecido inflamado para ajudar na cura.
Quando esse processo inflamatório ocorre nas vias aéreas superiores, resulta em sintomas comuns de resfriado e gripe, como nariz entupido ou coriza, espirros, tosse e muco espesso.
Por outro lado, a menor atividade dos glóbulos brancos nas passagens nasais pode reduzir a inflamação. E, curiosamente, pesquisas mostram que a canja de galinha pode, de fato, diminuir o número de glóbulos brancos que viajam para os tecidos inflamados.
Ela faz isso inibindo diretamente a capacidade dos neutrófilos, um tipo de glóbulo branco, de viajar até o tecido inflamado.
Ingredientes chave
Para compreender verdadeiramente os efeitos calmantes e curativos da canja de galinha, é importante considerar os ingredientes da sopa.
Nem todas as canjas de galinha contêm propriedades curativas nutritivas. Por exemplo, as versões enlatadas ultraprocessadas, com ou sem macarrão, carecem de muitos dos antioxidantes encontrados nas versões caseiras.
A maioria das versões enlatadas de canja de galinha também é quase desprovida de vegetais saudáveis.
Os principais nutrientes das versões caseiras da sopa são o que diferenciam essas variedades das versões enlatadas. O frango fornece ao corpo uma fonte completa de proteínas para combater infecções. Os vegetais fornecem uma grande variedade de vitaminas, minerais e antioxidantes.
Se preparado à maneira americana, o macarrão fornece uma fonte de carboidratos de fácil digestão que seu corpo utiliza para energia e recuperação. Na versão brasileira, o arroz pode fazer essa função.
Até o calor da canja de galinha pode ajudar. Beber o líquido e inalar os vapores aumenta a temperatura das vias nasais e respiratórias, o que solta o muco espesso que muitas vezes acompanha as doenças respiratórias. E em comparação apenas com água quente, estudos mostram que a canja de galinha é mais eficaz para soltar o muco.
As ervas e temperos às vezes usados na canja de galinha, como pimenta e alho, também soltam o muco. O caldo, que contém água e eletrólitos, auxilia na reidratação.
Assim, para maximizar os benefícios da canja de galinha para a saúde, recomendo uma variedade caseira, que pode ser preparada com cenoura, aipo, alho fresco, ervas e temperos, só para citar alguns ingredientes.
Mas se você precisar de uma opção mais fácil e rápida, consulte o rótulo dos ingredientes e informações nutricionais e escolha sopas com uma variedade de vegetais em vez de sopas ultraprocessadas e pobres em nutrientes.
Em suma, a ciência recente sugere que a canja de galinha – embora não seja uma cura definitiva para constipações e gripes – realmente ajuda no processo de cura. Parece que a vovó estava certa mais uma vez.
*Colby Teeman é professor Assistente de Dietética e Nutrição na Universidade de Dayton, nos Estados Unidos
*Este artigo foi publicado no site The Conversation e é reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique para ver a versão original, em inglês.