O topo da pirâmide etária do Brasil está se alargando: segundo o censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção da população com mais de 65 anos é de 10,9% (22.169.101), alta de 57,4% ante 2010, quando o índice era de 7,4% (14.081.477). O envelhecimento do país aumenta o percentual de beneficiários da previdência pública e diminui o de contribuintes - criando um cenário em que investimentos de longo prazo são fundamentais. Diante do desafio, seguradoras privadas apostam, para crescer, em educação financeira, tecnologia, facilidades, tíquetes de entrada acessíveis e comunicação.
O mercado está em expansão: de acordo com dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), os planos de previdência privada aberta arrecadaram, entre janeiro e setembro de 2014, R$ 146,9 bilhões, crescimento anual de 17,6%. Mas os números ainda são pequenos em relação ao público potencial: apenas 7% da população com 18 anos ou mais (11,2 milhões) possui planos desse tipo.
A esperança de vida subiu de 71,1 anos, em 2000, para 76,4 anos, em 2023. Em 2070, deve chegar a 83,9 anos. De 2000 a 2023, a proporção de idosos (60 anos ou mais) na população passou de 8,7% para 15,6%. Em 2070, cerca dos 37,8% dos habitantes estarão nessa faixa.
Segundo especialistas, a alta da proporção de idosos, aumento da longevidade e queda da fecundidade contribuem para agravar o déficit da previdência pública, fazendo com que a busca por alternativas seja importante.
“A população precisa se preparar melhor para o futuro. Da forma como o sistema está montado, com empregados e empregadores contribuindo para pagar benefícios dos aposentados, o resultado é deficitário. O Tesouro Nacional acaba equilibrando a conta. Estudo do Insper indica que mais da metade dos gastos da União são usados para pagar pensões do INSS [Instituto Nacional de Seguridade Social]”, diz o consultor atuarial Rafael Porto.
Demonstrar como esses dados impactam o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), e tornam a previdência privada importante para complementar a renda, é essencial para bancos, seguradoras e corretoras atraírem clientes.
Mas somente explicar, com dados, por que é importante começar a aplicar em um plano de previdência complementar, assim como suas vantagens e benefícios tributários, não é suficiente, diz Porto. Segundo ele, as pessoas não são mais convencidas apenas com números.
“Se fosse racional, seria fácil. Os cidadãos precisam ser, além de educados financeiramente, abordados por uma ótica que valorize a experiência, que deve ser ágil e atraente. É necessário enxergar o comportamento das novas gerações e saber como acessá-los”, diz o consultor.
Pesquisa apresentada
Levantamento feito pelo banco BNY Mellon aponta que 50% dos brasileiros da geração Y (nascidos entre 1982 e 1994) acredita não haver produtos previdenciários voltados para seu perfil. Além disso, 84% não conhecem as vantagens tributárias do regime privado. Um dado chama a atenção: 65% esperam receber na aposentadoria as mesmas fontes de renda dos pais.
“Isso mostra desconhecimento. Por isso é preciso educar e gerar vivências positivas, para que os mais jovens tenham confiança para um relacionamento longo”, acrescenta o consultor.
Criar essa experiência positiva é uma das estratégias da Zurich Santander. A instituição diz investir constantemente em tecnologia, plataformas digitais simples, semelhantes a contas bancárias, e ampliação de seu portfólio. De 2021 até hoje, houve um aumento de 50% de clientes
“É essencial ressignificar a previdência para a sociedade, tornando a gestão do investimento acessível e aproximando a previdência do dia a dia das pessoas. Investimos em parcerias com fintechs e prevtechs que se destacam por soluções inovadoras e simples, na palma da mão, por meio de plataformas on-line, com interatividade e inúmeras funcionalidades” diz Rafael Guilhon, superintendente de negócios em previdência da Zurich Seguros.
Fomentar a educação financeira é essencial. A Zurich criou uma campanha na qual influenciadores falam da importância da previdência complementar. O Itaú, por exemplo, desenvolveu a plataforma de investimentos íon, com ferramentas de assessoria digital, agregador de carteiras, compra e venda de produtos de investimentos e notícias.
“É fundamental promover o hábito de investir. Isso passa por educação financeira e fomentar a importância do planejamento a longo prazo. Investimos na criação de uma plataforma de conteúdo, capacitação de especialistas e na evolução do íon, tanto no atendimento humano quanto no digital”, diz Rogerio Calabria, superintendente de produtos de investimento e previdência do Itaú Unibanco.
A democratização do acesso aos planos é outro ponto ressaltado. O Itaú tem mais de 180 produtos disponíveis para contratação a partir de R$ 1. O saldo de previdência da instituição cresceu 10% nos nove primeiros meses de 2024, atingindo R$ 288 bilhões.
“Mais importante do que guardar muito é começar a guardar cedo, e de maneira recorrente. Tornar a experiência com investimento mais fluída e intuitiva é fundamental para criar esse hábito”, diz Calabria.
Pesquisa realizada pelo Datafolha para a FenaPrevi, divulgada esta semana, mostra que oito em cada dez brasileiros pensam em planejar as finanças para o futuro. As ações mais recorrentes pensadas para atingir esse objetivo são poupar ou guardar dinheiro (30%), trabalhar (30%) ou fazer investimentos (22%), sendo a poupança a principal forma de construção dessas reservas.
Reduzir despesas para sobrar dinheiro (45%) e gerar renda suficiente para guardar (42%) são apontados como os principais obstáculos para esse objetivo.