Desigualdade econômica
A desigualdade econômica (português brasileiro) ou económica (português europeu) abrange uma ampla variedade de tópicos. Pode se referir a distribuição de renda (medida pela quantidade de dinheiro que as pessoas recebem) ou a distribuição de riqueza (a quantidade de riqueza que as pessoas possuem). Além da desigualdade econômica entre países ou Estados, existem importantes tipos de desigualdade econômica entre diferentes grupos de pessoas.[1]
Tipos importantes de medidas econômicas focam em riqueza, renda e consumo. Existem muitos métodos para medir a desigualdade econômica, sendo o Coeficiente de Gini o mais utilizado. Outro tipo de medida é o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado pela Desigualdade, que é um índice composto estatístico que leva em conta a desigualdade.[2] Conceitos importantes de igualdade incluem equidade, igualdade de resultados e igualdade de oportunidades.
Pesquisas sugerem que uma maior desigualdade dificulta a duração do crescimento, mas não sua taxa.[3][4] Enquanto a globalização reduziu a desigualdade global (entre nações), aumentou a desigualdade dentro dos países.[5]
Na economia
[editar | editar código-fonte]Economia Neoclássica
[editar | editar código-fonte]Entre economistas neoclássicos é comum um modelo proposto inicialmente por Simon Kuznets que estabelece um relação entre o nível de desenvolvimento econômico de uma nação e sua desigualdade. De acordo com esta hipótese, sociedades nos estágios iniciais de crescimento apresentam uma renda baixa distribuída de maneira relativamente igualitária; então, conforme se desenvolvem, a desigualdade cresce constantemente até atingir seu pico nos níveis de riqueza intermediários. A partir deste ponto, a desigualdade começa a diminuir conforme a economia se desenvolve, eventualmente retornando a níveis baixos em estágios de desenvolvimento avançado. Esta tendência pode ser representada por uma função quadrática cuja concavidade aponta para cima, dando origem a famosa Curva de Kuznets.[6]
Segundo as hipóteses originais, este padrão ocorre porque, nos estágios iniciais do crescimento, ganhos estão focalizados nos setores industriais nascentes da economia, levando ao êxodo rural e a concentração de renda. Entretanto, os setores mais "conservadores" da economia acabam por também beneficiar-se do desenvolvimento e da riqueza, retornando a desigualdade à níveis reduzidos. Tentativas de verificação empírica do modelo têm retornado resultados mistos, não havendo portanto consenso sobre a relação entre desigualdade e riqueza entre economistas. Recentemente, o trabalho do economista Thomas Piketty é influente entre críticos da hipótese de Kuznets.[6][7]
Na filosofia política
[editar | editar código-fonte]Rousseau
[editar | editar código-fonte]Rousseau acreditava que existiam dois tipos de desigualdade: a primeira, a desigualdade física ou natural, que é estabelecida pela força física, pela idade, saúde e até mesmo a qualidade do espírito; e a segunda, moral e política, que dependia de uma espécie de convenção e que era autorizada e consentida pela maioria dos homens.[8]
No livro Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, ele se preocupa em mostrar a desigualdade moral e política, pois, para ele, é desnecessário se preocupar com a origem da desigualdade natural e física, pois a resposta é essa: é natural, e o que vem da natureza já está justificado.[8] Também fala que a desigualdade não pode ser estudada tendo como ponto de partida o momento então da humanidade. Também diz que para estudar a desigualdade moral e política, deve-se "ir até a essência do homem para julgar a sua condição atual" e deve-se fazer, sem atribuir ao homem primitivo, atributos do homem civilizado. Sem esse cuidado, a busca pela origem da desigualdade estaria distorcida.[8]
Marxistas
[editar | editar código-fonte]Karl Marx acreditava que a sociedade capitalista é baseada na divisão entre a classe trabalhadora e a burguesia detentora dos meios de produção (capital), e que esta continuamente explora proletários lucrando através da extração injusta de mais-valia advinda do trabalho. A relação entre trabalhador (subalterno) e o capitalista (dominante) é a matriz da estrutura social contemporânea. A miséria é utilizada em uma condição de manutenção das classes dominantes. [9][10]
Marxistas alegam que a desigualdade social é inevitavelmente produzida pelo capitalismo e não poderá ser alterada sem uma modificação no sistema capitalista. [9][11] Alegam que os burgueses têm interesse em manter a desigualdade econômica, além de a utilizarem para incentivar os assalariados a se esforçar cada vez mais, principalmente em países desenvolvidos, fazendo com que trabalhem em empregos mais desagradáveis e pesados para que possam alcançar um nível de consumo parecido com as classes altas, o que para os marxistas, é uma ilusão.[11]
Conforme Karl Marx, o socialismo seria uma forma de eliminação das desigualdades do mundo capitalista. O socialismo viria por meio de uma revolução proletária na qual a classe trabalhadora assumiria o controle do Estado e destruiria a propriedade privada através de medidas despóticas. Esta seria a fase de transição do capitalismo para o comunismo. O comunismo surgiria naturalmente a partir do socialismo, sendo uma sociedade sem classes sociais e sem Estado em que as riquezas seriam divididas entre o povo e em que todos iriam contribuir com a sua força de trabalho.[9][12]
Anarquistas
[editar | editar código-fonte]O anarquismo defende o fim de qualquer autoridade política, econômica e religiosa,[necessário esclarecer] ou seja, defende uma sociedade baseada na liberdade total, mas responsável.[13][14][15] Também defende a igualdade entre todas as pessoas e o fim da propriedade privada, sendo assim uma forma de sair da exploração capitalista.[16]
Os principais teóricos que influenciaram o anarquismo foram William Godwin, que publicou em 1973 o seu livro Indagação relativa à justiça política, Pierre-Joseph Proudhon, que em 1840 publicou o livro Que é a propriedade? e Max Stirner, que publicou o livro O indivíduo e sua propriedade.[13]
Consequências
[editar | editar código-fonte]Geralmente, existem diversas consequências da desigualdade social e econômica. A marginalização de parte da sociedade, o retardamento no progresso da economia do país, a pobreza, a favelização e o crescimento da criminalidade e da violência são algumas das consequências.[17][necessário esclarecer]
Concentração de renda
[editar | editar código-fonte]Concentração de renda é o processo pelo qual a renda, proveniente de lucro, de salário, de aluguéis (como os juros oligopolísticos) e de outros rendimentos, converge para uma mesma empresa, região ou grupo privilegiado de pessoas,[18][carece de fonte melhor] como os 26 indivíduos que possuem ao menos 1 bilhão de dólares e somados concentram mais dinheiro que as 3,8 bilhões de pessoas mais pobres do planeta — 50% da população mundial — conforme Oxfam. Este relatório utiliza dados publicados pela revista Forbes e pelo banco Credit Suisse, é de 2018 e afirma que a concentração se acentuou; em 2017 tais indivíduos eram mais numerosos, 43. De modo geral, no período de 2017 a 2018 a riqueza destes indivíduos aumentou 900 bilhões de dólares, enquanto a metade mais pobre do planeta perdeu 11% de sua renda.[19] Um dos métodos usados para se medir a concentração de renda é medir quanto o grupo formado pelos 10% mais ricos da população recebe em comparação ao grupo dos 10% mais pobres, conhecido como P90/P10 ou "10% Mais Ricos a 10% Mais Pobres".[18] Outros índices conhecidos são o Coeficiente de Gini e o Índice de Theil.
O Japão tem um coeficiente de Gini de 24,9, perdendo apenas para a Dinamarca, cujo coeficiente é de 24,7. Pelo critério P90/P10, o país com a menor concentração de renda do mundo é o Japão, a segunda maior economia do planeta, com 4,23. Dentre os países desenvolvidos, a maior concentração de renda está nos Estados Unidos da América (15,57), seguido pela França, com 9,1. No Brasil a concentração de renda é elevada; o índice P90/P10 está em 68 (2001). Ou seja, para cada dólar que os 10% mais pobres recebem, os 10% mais ricos recebem 68. O Brasil é menos desigual apenas que a Guatemala, Essuatíni, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia.[20]
O Banco Mundial, órgão ligado ao FMI, faz gestões para sensibilizar as elites governantes dos países subdesenvolvidos numa tentativa de engajá-las em esforços que melhorem a distribuição de renda nos países que dirigem.[21] Um comitê conjunto formado pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) conclamou os países em desenvolvimento, assim como os doadores, a acelerar os esforços com vistas a atingir as metas de redução de pobreza acordadas internacionalmente, até a data prevista de 2015.[21]
Brasil
[editar | editar código-fonte]A desigualdade social é bastante acentuada no Brasil, que é o país com o décimo primeiro maior índice de desigualdade econômica no mundo e o quarto na América Latina, segundo dados disponibilizados no relatório de desenvolvimento humano produzido pela ONU em 2014.[22] Um bom exemplo que pode ser dado da desigualdade do Brasil é o estado da miséria, a extrema condição de renda, os salários baixos, a fome, o desemprego, a violência, a marginalidade, etc.[23]
Em relação à posição econômica entre negros e brancos, pôde-se constatar que 60% dos pobres no Brasil são constituídos por negros ou pardos[necessário esclarecer] e dentre as pessoas consideradas como indigentes, 70% são negros ou pardos.[24] De um modo geral, de acordo com os dados da pesquisa, cerca de 40% das pessoas negras ou pardas se situam entre os 30% mais pobres, enquanto que apenas cerca de 20% dos brancos apresentam a mesma condição econômica.[24]
Devido à prosperidade econômica e às políticas de combate à desigualdade social promovidas pelo Governo do Brasil nos últimos anos,[não consta na fonte citada] a desigualdade social no Brasil vem caindo, chegando em 2012 a níveis de 1960. Em 2015, o coeficiente de desigualdade no Brasil atingiu 0,514.[25] Até 1930, a economia do Brasil era voltada para a produção agrária, que coexistia com o esquema agro-exportador, sendo o Brasil um exportador de matéria-prima.[23]
Segundo dados do Human Development Report (HDR) – Organização das Nações Unidas (ONU), de 2004, o Brasil apresenta historicamente uma desigualdade extrema, com índice de Gini próximo a 0,6. Este valor indica uma desigualdade brutal e rara no resto do mundo, já que poucos países apresentam índice de Gini superior a 0,5.[2] Dos 127 países presentes no relatório, o Brasil apresenta o oitavo pior índice de desigualdade do mundo, superando todos os países da América do Sul e ficando apenas à frente de sete países africanos.[26] Sobre esse tema já disse Florestan Fernandes:[27] "No Brasil, sempre se seguiu a rotina de privilegiar os privilegiados, sem tentativas frutíferas de intervenção programada na distribuição da renda."[27]
De acordo com o Relatório da Organização das Nações Unidas de 2016, o Brasil empata com o Essuatíni em 10º lugar em nível de desigualdade social, com um Coeficiente de Gini de valor 0,515. O Essuatíni é um reino na África, sem acesso ao mar e com um governo autoritário. Na América latina, somos o quarto pior em termos de igualdade, atrás apenas de Paraguai, Colômbia e Haiti, respectivamente com os valores de 0,517, 0,535 e 0,608. A África do Sul é o país mais desigual, com 0,634. Neste Top 10, só existem países do eixo África e América Latina. A Ucrânia, país do Leste Europeu é o mais igual do mundo, com 0,241. Ele é seguido por Eslovênia e Noruega, respectivamente com 0,256 e 0,259.[28]
Classe social
[editar | editar código-fonte]A classe social é medida no Brasil, seguindo o estabelecido pelo Critério Brasil. Esse critério define as classes sociais de acordo com o poder de compra e de consumo de alguns itens, como geladeira, TV em cores, rádio, banheiro, automóvel, empregada mensalista, aspirador de pó, máquina de lavar, videocassete/DVD e freezer independente.[29]
A desigualdade social do Brasil apresenta-se na classe social, onde a maior parte da população (43%) é classe C ou classe média.[30] Isso ocorreu graças à forte aceleração econômica que aconteceu a partir de 2006. Essa aceleração que ocorreu fez com que vinte milhões de pessoas passassem para a classe C.[31]
Classe social | % da população do Brasil[30] |
---|---|
A1 | 1% |
A2 | 4% |
B | 24% |
C | 43% |
D | 25% |
E | 3% |
Coeficiente de Gini
[editar | editar código-fonte]O Coeficiente de Gini mede o grau da desigualdade de cada um dos países. No Brasil, o coeficiente de Gini evidenciou um aumento considerável da desigualdade social nos anos sessenta e uma elevada desigualdade econômica que persistiu nos mesmos patamares até os anos noventa. Desde então, observa-se que a desigualdade vem caindo consistentemente para níveis inferiores aos de cinquenta anos atrás.[25]
Ano | Coeficiente de Gini[25][30][33] |
---|---|
1960 | 0,5367 |
1976 | 0,6227 |
1985 | 0,5976 |
1990 | 0,6138 |
1995 | 0,6005 |
1999 | 0,5939 |
2005 | 0,5694 |
2009 | 0,5427 |
2011 | 0,529 |
2012 | 0,526 |
2013 | 0,525 |
2014 | 0,515 |
2015 | 0,514 |
Portugal
[editar | editar código-fonte]Em Portugal, a desigualdade é uma das maiores, comparado a outros países da União Europeia.[34][35]
Classe social
[editar | editar código-fonte]Classe social | % da população[36] |
---|---|
Alta e Média-alta | 15,4% |
Média | 27,5% |
Média Baixa | 29,8% |
Baixa | 27,3% |
Desigualdade segundo coeficiente de Gini
[editar | editar código-fonte]Ano | Coeficiente de Gini[37] |
---|---|
1994 | 0,349 |
2000 | 0,338 |
2005 | 0,351 |
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
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Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- BARROS, José D'Assunção. Igualdade, Desigualdade e Diferença - rediscutindo três noções. Análise Social no. 175, 2005, p. 345-366
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