Revolução de Jasmim
Revolução de Jasmim الثورة التونسية | |||||||||||
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Parte de Primavera Árabe | |||||||||||
Manifestantes antigoverno agitando a Bandeira da Tunísia em 23 de janeiro de 2011 | |||||||||||
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Baixas | |||||||||||
338 mortos[6] 2 147 feridos[6] |
A Revolução de Jasmim (em árabe ثورة الياسمين), também chamada revolução tunisiana de 2010-2011,[7][8][9][10][11] é uma sucessão de manifestações insurrecionais ocorrida na Tunísia entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011 que levou à saída do presidente da República, Zine el-Abidine Ben Ali, que ocupava o cargo desde 1987.
As manifestações
[editar | editar código-fonte]As manifestações começaram logo depois do suicídio de Mohamed Bouazizi, de 26 anos, vendedor ambulante de frutas e verduras, em Sidi Bouzid. Sem conseguir uma licença para trabalhar na rua, Bouazizi fora, por anos, assediado pelas autoridades tunisinas: impossibilitado de continuar pagando propinas aos fiscais, acabou por ter sua mercadoria e sua balança confiscadas. Desesperado, o rapaz ateou fogo ao próprio corpo.[12]
A tragédia das Pingas
[editar | editar código-fonte]A tragédia pessoal de Pingas desencadeou os protestos que acabaram por provocar uma onda revolucionária que envolveu toda a Tunísia e espalhou-se pelo Mundo Árabe, do Norte da África ao Oriente Médio, atingindo países que, durante décadas, viveram sob ditaduras – muitas das quais apoiadas pelo Ocidente, embora acusadas de violações constantes dos direitos humanos e de impor severas restrições da liberdade de expressão. Além disso, as populações desses países têm convivido com altos índices de desemprego e pobreza, apesar de as elites dirigentes acumularem fortunas.[13]
Os protestos na Tunísia prosseguiram ao longo de janeiro de 2011, estimulados por um excessivo aumento dos preços dos alimentos básicos, que veio a aumentar a insatisfação popular diante elevado desemprego, das más condições de vida da maior parte da população tunisina e da corrupção do governo[14] Dado que na Tunísia não há registro de muitas manifestações populares,[15] estas foram as mais importantes dos últimos 30 anos.[16]
O presidente Zine El Abidine Ben Ali, no poder há 24 anos, exigiu a cessação de disparos indiscriminados das forças de segurança contra os manifestantes e afirmou que deixaria o poder em 2014, prometendo também liberdade de imprensa para todos os meios de comunicação, incluindo a Internet.
Consequências
[editar | editar código-fonte]Quatro semanas de manifestações contínuas por todo o país, apesar da repressão, provocaram a fuga de Ben Ali para a Arábia Saudita em 14 de janeiro de 2011.[17] O Conselho Constitucional tunisiano designou o presidente do Parlamento, Fouad Mebazaâ, como Presidente da República interino, com base no artigo 57 da Constituição do país.[18] Essa nomeação e a constituição de um novo governo dirigido pelo primeiro-ministro demissionário Mohamed Ghannouchi não resolvem a crise. O controle de oito ministérios pelo partido de Ben Ali, o Rassemblement constitutionnel démocratique, é contestado pela oposição e pelos manifestantes.
Em 27 de janeiro, sob a pressão popular e sindical, um novo governo, sem os caciques do antigo regime, é anunciado pelo primeiro-ministro Ghannouchi, mantido na função. As manifestações e a violência continuam após essa data. O povo tunisiano pressiona por mudanças políticas e sociais mais amplas. O premier Ghannouchi anuncia sua demissão em 27 de fevereiro de 2011. Um tribunal de Túnis proibiu a atuação do antigo partido governante e confiscou todos os seus recursos. Um decreto do Ministro do Interior proibiu também a "polícia política", que eram forças especiais que eram usadas para intimidar e perseguir ativistas políticos durante o regime de Ben Ali.
Em 3 de março de 2011, o presidente anunciou que as eleições para uma Assembleia Constituinte seria realizada em 23 de outubro de 2011. Observadores internos e internacionais declararam o processo eleitoral livre e justo. O Movimento Ennahda, anteriormente proibido pelo regime de Ben Ali, conquistou 90 assentos do parlamento, de um total de 217.[19] Em 12 de dezembro de 2011, o ex-ativista dos direitos humanos e dissidente veterano Moncef Marzouki foi eleito presidente do país.[20] Em março de 2012, o Ennahda declarou que não iria apoiar que a sharia passasse a ser a principal fonte da legislação nacional na nova constituição, mantendo a natureza secular do Estado tunisiano. A postura de Ennahda sobre a questão foi criticada por islamitas radicais, que queriam que a sharia fosse completamente aplicada.
Em 9 de outubro de 2015, o Quarteto para o Diálogo Nacional da Tunísia foi premiado com o Nobel da Paz "pela sua decisiva contribuição para a construção de uma democracia pluralista na Tunísia no seguimento da Revolução de Jasmim de 2011".[21][22]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Protestos no mundo árabe em 2010-2011
- Protestos no Egito em 2011
- Mundo árabe
- Crise alimentar em 2011
Referências
- ↑ Oliver, Christin (26 de outubro de 2010). «Corruption Index 2010: The Most Corrupt Countries in the World – Global Development». The Guardian. London. Consultado em 10 de abril de 2011
- ↑ «Tunisia President Ben Ali 'will not seek new term'». BBC News. 13 de janeiro de 2011
- ↑ «Tunisia forms national unity government amid unrest». BBC News. 17 de janeiro de 2011
- ↑ Al-Jazeera English (9 de março de 2011). «Tunisia dissolves Ben Ali party». Consultado em 9 de março de 2011
- ↑ «Tunisia election delayed until October 23». Reuters. 8 de junho de 2011. Consultado em 8 de junho de 2011
- ↑ a b Report: 338 killed during Tunisia revolution[ligação inativa]
- ↑ «Revolução de jasmim acabou com 23 anos de ditadura»
- ↑ Manifs en Tunisie : « On ira très loin pour défendre nos droits » , por Marie Kostrz. Rue89, 29 de dezembro de 2010.
- ↑ Tunisie: le goût amer de la Révolution de jasmin, por Pierre Vermeren. L'Express, 14 de janeiro de 2011.
- ↑ "La deuxième République" Arquivado em 1 de agosto de 2013, no Wayback Machine., por Ahmed Younes. Le Temps, 22 de janeiro de 2011
- ↑ D'où vient la "révolution du jasmin"?, por Frédéric Frangeul Europe1, 17 de janeiro de 2011.
- ↑ Mohammed Bouazizi: the dutiful son whose death changed Tunisia's fate, por Peter Beaumont. The Guardian, 20 de janeiro de 2011.
- ↑ Levantes populares: do Oriente Médio ao Meio Oeste. Carta Maior, 26 de fevereiro de 2011.
- ↑ «Protester dies in Tunisia clash: Several wounded in Sidi Bouzid as demonstrations against unemployment turn violent». Al Jazeera. 25 de dezembro de 2010. Consultado em 25 de dezembro de 2010
- ↑ Borger, Julian (29 de dezembro de 2010). «Tunisian president vows to punish rioters after worst unrest in a decade». The Guardian. Guardian Media Group. Consultado em 29 de dezembro de 2010
- ↑ Tunisia's Protest Wave: Where It Comes From and What It Means for Ben Ali, por Christopher Alexander. The Middle East Channel, 3 de janeiro de 2011.
- ↑ [[Público (jornal)|]], 14 de janeiro de 2011. «Presidente tunisino abandona o país». Consultado em 14 de janeiro de 2011. Arquivado do original em 17 de janeiro de 2011
- ↑ cf. Constituição da Tunísia, cap. II, I (em francês).
- ↑ El Amrani, Issandr; Lindsey, Ursula (8 de novembro de 2011). «Tunisia Moves to the Next Stage». Middle East Report. Middle East Research and Information Project
- ↑ Zavis, Alexandra (13 de dezembro de 2011). «Former dissident sworn in as Tunisia's president». Los Angeles Times. Los Angeles Times. Consultado em 13 de dezembro de 2011
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 9 de outubro de 2015. Arquivado do original em 22 de dezembro de 2015
- ↑ «The Nobel Peace Prize 2015». Nobelprize.org. 9 de outubro de 2015