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Linhas de trabalho na umbanda

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

As Linhas de Trabalho, na Umbanda, são grupos de tipos de espíritos que se manifestam nos terreiros e Casas. Não devem ser confundidos com as Sete Linhas de Orixás da Umbanda. Basicamente, cada Linha de Trabalho engloba espíritos desencarnados (Eguns e Egunguns) que se reúnem como grupo, de acordo com arquétipos (características, finalidades, etc), para atuar nesta força específica.[1] Eles atuam na regulação espiritual auxiliando os residentes no Ayé, o mundo físico (os encarnados, na tradição umbandista espirita). Já os Orixás não são linha de trabalho, mas sim representam forças da natureza e suas manifestações, agindo como intermediários entre a humanidade e o Criador do Universo (chamado Olódùmarè / Olorun / Olofi)[2][3], sendo que sustentam o trabalho das entidades que pertencem às diversas linhas de trabalho.

Principais Linhas de Trabalho

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As principais linhas de trabalho da Umbanda são as linhas de Caboclos, Pretos-Velhos e Erês (Crianças), presentes em quase todos os terreiros, linhas estas conhecidas como "triângulo da direita",[4] da mesma forma Exús e Pombajiras são as linhas de trabalho mais conhecidas da esquerda da Umbanda, outras linhas de trabalho bastante conhecidas são Baianos, Marinheiros, Ciganos, Boiadeiros, Orientais e Malandros.[5]

Os nomes, classificações e configurações exatas das linhas de trabalho variam, estes arquétipos são em alguns casos compostos a partir de divisões étnicas, por exemplo, a Linha dos Pretos-Velhos (negros), a Linha dos Caboclos (ameríndios), a Linha dos Ciganos (nômades/indo-europeus) e a Linha dos Orientais (abrange muitos outros povos),[1][6][7] há também linhas de trabalho relacionado a profissões presentes no Brasil antigo, por exemplo, a Linha dos Boiadeiros e a Linha dos Marinheiros, assim como há também linhas de trabalho relacionado a regiões (tendo esta grande variação de acordo com as regiões em que diferentes terreiros estão inseridos), exemplos mais comuns são a Linha dos Baianos e a Linha dos Gaúchos, apesar de haver muitas outras linhas de trabalho seguindo este padrão ou outros, por exemplo a Linha dos Erês (Crianças)[6][7], há também linhas de trabalho que atuam na direita ou esquerda no contexto da Umbanda.[5]

Algumas correntes da Umbanda correlacionem as linhas dos Orixás às Linhas de Trabalho, há falanges, presentes em uma mesma linha de trabalho que são regidas por outra linha (de Orixá) que não à associada comumente a aquela linha de trabalho em questão, por exemplo, a Linha (de trabalho) em que atuam Caboclos (normalmente regidos pela Linha (de Orixá) de Oxóssi), pode haver ainda assim caboclos na Linha de (de Orixá) de Ogum, bem como os mais diversos Orixás.[8] Da mesma forma, a Linha (de trabalho) dos Pretos-Velhos é entendida como regida por Obaluaiê (Omolu), mas assim como todas as linhas há, seguindo este exemplo, falanges de Pretos-Velhos que transitam na irradiação dos mais diversos outros Orixás, por exemplo, Nanã.[9]

Variações e Diversidade

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Por conta da grande diversidade e pluralidade cultural na Umbanda, a quantidade de linhas de trabalho pode variar.[1][10] As mais comuns divisões de Linha de Trabalho, nas principais vertentes, são[11]:

  • Umbanda Branca e Demanda, Umbanda de Cáritas, Umbanda Kardecista ou De Mesa Branca:

1. Caboclos(as), Pretos-Velhos e Crianças. Especificamente na vertente Kardecista, Crianças aparecem raramente. Ainda, sequer organizam-se em Linhas de Trabalho.

  • Umbanda Mirim:

1. Caboclos(as), 2. Pretos-Velhos, 3. Crianças.

  • Umbanda Popular (ou Umbanda Cruzada e Umbanda Mística):

1. Caboclos(as), 2. Pretos(as)-Velhos(as), 3. Crianças, 4. Baianos(as), 5. Boiadeiros(as), 6. Marinheiros & Sereias, 7. Ciganos(as), 8. Orientais, 9. Povo da Rua (Exus, Pombagiras, Exus-Mirins e Pombagiras-Mirins) e 10. Malandros(as).

  • Umbandas Traçadas (Traçada, Omolocô, Umbandomblé e de Almas e Angola):

1. Caboclos(as), 2. Pretos(as)-Velhos(as), 3. Crianças, 4. Baianos(as), 5. Gaúchos(as), 6. Mineiros, 7. Marinheiros, 8. Sereias 9. Boiadeiros(as) 10. Ciganos(as), 11. Orientais 12. Pombagiras 13. Exús 14. Mirins (Exus-Mirins & Pombagiras-Mirins) e 15. Malandros(as).

Partindo-se da tradição Umbandista de Zélio, mais sincretizada com o cristianismo, havia somente Linhas de Trabalho de Pretos-Velhos, Caboclos e Crianças. Porém, com o desenvolvimento de ramificações que empreenderam o resgate destes antigos elementos africanos, ameríndios, orientais entre outros excluídos da Umbanda Branca, outras linhas foram surgindo como Linha dos Baianos, Linha dos Marinheiros, Linha dos Boiadeiros, Linha dos Ciganos, Linha dos Orientais, Linha dos Exus, Linha das Pombajiras e etc.[1][10]

Em alguns terreiros, a Linha dos Caboclos é dividida em duas classes: os Caboclos de Pena, que são espíritos de indígenas, e os Caboclos Boiadeiros[1] enquanto mais comumente, a Linha dos Caboclos e a Linha dos Boiadeiros são tratadas separadamente.[1][10]

A Linha dos Orientais que apesar de algumas vezes ser tratada de forma unificada sem subclassificações separadas, muitas vezes é dividida em 7 falanges (raras vezes também tratada cada falange como uma linha de trabalho separadamente), é uma das linhas de difícil consenso para ter suas entidades classificadas pois abriga muitas entidades muito diferentes entre si, isto ocorre devido a estas entidades vir das mais diversas regiões do planeta e muitas destas ter seus métodos pouco compreendidos pela população, apesar disso entre estas entidades algumas são muito famosas como o Dr. Fritz, ao qual normalmente é classificado nesta linha ou classificado em alguma de suas ramificações (chamadas de falanges), por exemplo, muitas vezes o Dr. Fritz é classificado na falange chefiada por José de Arimatéia, falange esta que abriga legiões de médicos, cientistas, sábios e outros estudiosos.[1][10]

No Rio de Janeiro, São Paulo, bem como na Região Sul do Brasil, a Linha dos Malandros é muito forte nos terreiros destes estados, as entidades mais conhecidas da linha dos Malandros é o Seu Zé Pelintra e a Maria Navalha.[1] No entanto, em alguns terreiros de Minas Gerais, por exemplo, Seu Zé Pelintra está incluso na Linha dos Baianos,[1] em alguns terreiros também, Seu Zé Pelintra trabalha na Linha dos Nordestinos, linha esta pela qual é presente em alguns contextos e engloba outros estados do Nordeste do Brasil alem da Bahia (entidades advindas do estado da Bahia normalmente são categorizados separadamente da Linha dos Baianos mesmo em terreiros que trabalham com a linha dos Nordestinos).[1] Já em algumas regiões do Nordeste, a entidade trabalha na Linha da Família de Légua ou mais raramente na Linha dos Exus ou até na Linha dos Caboclos,[10][1] o mesmo, por exemplo, acontece com as entidades normalmente relacionadas a Linha dos Gaúchos, por vezes são inclusas na Linha dos Boiadeiros quando a Linha dos Gaúchos não é presente no terreiro.[1]

Em algumas tradições da Umbanda esta presente a Linha de trabalho dos Gaúchos e Linha dos Barrigas-Verdes ou Catarinenses separadamente, porem devido a Linha dos Barrigas-Verdes não ter tanta visibilidade, há alguns terreiros que incluem as entidades da Linha dos Barrigas-Verdes juntamente na Linha dos Gaúchos ou ainda classificam em Linha dos Sulistas em ordem à incluir as entidades da Linha dos Gaúchos a Linha dos Barrigas-Verdes.[1] Há alguns terreiros que incluem a Linha dos Mineiros (muitas vezes engloba entidades advindas de Minas Gerais e São Paulo, apesar de algumas vezes ser tratado por Linha dos Mineiros e Linha dos Paulistas separadamente), bem como de qualquer outro grupo com arquétipo que tenha influência forte o suficiente para ser compreendido e formar a sua própria linha de trabalho.[1]

Existem linhas de esquerda que já estão presentes na Umbanda há algum tempo, mas não são tão conhecidas.[12] A Linha dos Piratas é a equivalente à Linha dos Marinheiros na esquerda. A Linha dos Pretos-Velhos ou Linha das Almas é representada nas giras de esquerda de algumas casas pela Linha dos Pretos-Velhos Bruxos ou Pretos-Velhos Feiticeiros, que pode ser conhecida também como Linha dos Africanos ou Linha dos Pretos ou Linha dos Pretos-Velhos Quimbandeiros.[12] A Linha dos Ciganos da Rua[13] é o equivalente à Linha dos Ciganos nas giras de esquerda.[12]A Linha dos Caboclos também tem seu equivalente nas giras de esquerda conhecida como Linha dos Caboclos Bruxos ou Linha dos Caboclos Feiticeiros ou Linha dos Caboclos Quimbandeiros.[12] Em alguns terreiros, a Linha dos Palhaços é a equivalente de esquerda das Linha das Crianças ou Linha de Erês[1], bem como a Linha dos Cangaceiros equivale à Linha dos Baianos na esquerda.[10][14][1]

Atualmente ainda é evitado e por muitos considerado como sendo engano, ideias e práticas consideradas como “estranhas”, como linhas de trabalhos de Caminhoneiros(as) ou Andarilhos(as) ou Eremitas (Linha dos Mendigos(as) sendo sua respectiva versão de trabalho de esquerda), a linha de trabalho de Samurais (Linha de trabalho dos Ninjas ou Shinobis sendo sua respectiva versão de trabalho de esquerda), a linha de trabalho de Extraterrestres (Linha de trabalho dos Reptilianos sendo sua respectiva versão de trabalho de esquerda) ou outras demais com pouca ou nenhuma ligação com a cosmovisão africana, afro-brasileira, ameríndia, indo-europeia entre outras, já tradicionalmente abordada na Umbanda, portanto tais linhas de trabalho de muito pouca influencia ao longo do Brasil (como a linha de trabalho dos Samurais e linha de trabalho dos Ninjas ou Shinobis pela qual tem foco na inclusão da comunidade nipo-brasileira na religião e tem maior foco na ancestralidade dos imigrantes japoneses no Brasil, por tal ancestralidade ser desconhecida em muitas partes do pais, esta linhas de trabalho tem presença quase exclusiva no estado de São Paulo) portanto estas e outras são linhas de trabalho que acabam sendo de rara aceitação nos terreiros pelo pais.[10][14][1] Assim como a linha dos Malandros pela qual é uma linha nova e atualmente bem aceita e de bastante influência e presença em estados como Rio de Janeiro ou São Paulo ou o Sul do Brasil não é presente em todas regiões do Brasil, apesar disso estas e outras linhas podem ou não ter gradativa aceitação de acordo com o desenvolvimento sociocultural brasileiro de cada região.[10][1] A Umbanda foca na ancestralidade e também no aspecto histórico-cultural brasileiro, por isso estas e outras novas linhas ganham visibilidade de acordo com o desenvolvimento sociocultural brasileiro separadamente em cada região do Brasil.[1]

A Umbanda é entendida como conectada à cultura em que está, mas de forma sóbria e adequada ao contexto do terreiro. Existem linhas de trabalho e pontos cantados que são peculiares de uma respectiva região, cultura, tradição/terreiro que podem não ser encontrados em outro lugar. Cada terreiro tem um perfil e proposta diferente, o que explica tal diversidade e flexibilidade.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t Vídeo-aula: "CONHEÇA AS LINHAS DE TRABALHO DE UMBANDA", do canal Alan Barbieri, no Youtube.
  2. «Orixá». Wikipédia, a enciclopédia livre. 12 de janeiro de 2022. Consultado em 5 de fevereiro de 2023 
  3. «Religião iorubá». Wikipédia, a enciclopédia livre. 5 de fevereiro de 2023. Consultado em 5 de fevereiro de 2023 
  4. Umbanda Eu Curto (24 de julho de 2018). «Crianças, Caboclos e Pretos Velhos: muito além da Umbanda». Consultado em 3 de novembro de 2018 
  5. a b Douglas Rainho (23 de outubro de 2013). «Os dois pilares na Umbanda: Esquerda e Direita.». Consultado em 2 de novembro de 2018 
  6. a b Stephen C. Finley; Torin Alexander (2009). African American Religious Cultures. ABC-CLIO. p. 393. ISBN 978-1-57607-470-1.
  7. a b Edmondo F. Lupieri; James Hooten; Amanda Kunder (2011). In the Name of God: The Making of Global Christianity. Wm. B. Eerdmans Publishing. pp. 137 – 138. ISBN 978-0-8028-4017-2.
  8. Centro Espírita Urubatan. «Sete Linhas de Umbanda». Consultado em 3 de novembro de 2018 
  9. Umbanda eu Curto. «Preto-Velho». Consultado em 3 de novembro de 2018 
  10. a b c d e f g h «Para reflexão: NOVAS LINHAS DE TRABALHO NA UMBANDA». Centro Espiritualista Pena Roxa. Consultado em 15 de junho de 2021. Cópia arquivada em 15 de junho de 2021 
  11. Negra, Templo Caboclo Pantera. «As "Umbandas" dentro da Umbanda». Templo Caboclo Pantera Negra. Consultado em 5 de fevereiro de 2023 
  12. a b c d Vídeo-aula: "AB Responde | O QUE SERIA A LINHA DOS PIRATAS?", no canal Alan Barbieri, disponível no Youtube.
  13. Cigana da Praia, Alzira da (2011). Cigano do Oriente. Rio de Janeiro: Pallas. 110 páginas. ISBN 9788534704359 
  14. a b «Linha dos Mendigos». www.paiarruda.com.br. TUPAG - Terreiro de Umbanda Pai Arruda da Guiné - Curitiba/PR. Consultado em 15 de junho de 2021. Cópia arquivada em 15 de junho de 2021