Cultura de Baxendi
A cultura de Baxendi, similar ao Neolítico Inferior do Saara, foi identificada no oásis de Dacla e foi dividida em duas unidades (A e B) representadas por datas obtidas através de cascas de ovo de avestruz e carvão vegetal.[1] Segundo McDonald o "oásis de Dacla desempenhou um papel formativo nas transformações culturais, incluindo o início do sedentarismo e da agricultura, que varreu o Nordeste da África pouco antes do surgimento da civilização egípcia".[1] Seus sítios estão majoritariamente localizados no extremo leste e sudeste do oásis.[2]
Em torno de 5 400 a.C. é evidenciado o início da domesticação animal, então complementada por caçadas; por volta de 4 900 a.C. surgem os primeiros edifícios de pedra locais e uma cerâmica polida e suavizada, às vezes com a parte superior pintada de preto, semelhante a modelos de Bir Kiseiba e Nabta Playa.[3] Wenke vê a importância destes sítios: "as primeiras evidências de formas de assentamento, subsistência e tecnologia que diferiram significativamente daqueles do final do Pleistoceno, no nordeste da África vem das áreas desérticas de Bir Kiseiba e Nabta no sudoeste do Egito (...) Essas comunidades egípcias também ilustram a natureza dos processos evolutivos da cultura: mudança cultural e de transformação é um processo intermitente de becos sem saída, fracassos, extinções e apenas ocasionalmente os tipos de pequenas mudanças que resultam, em longo prazo, transformação revolucionária. Por exemplo, aparentemente, essas comunidades egípcias não fazem a transição para uma forma agrícola totalmente sedentária de vida".[4]
Arte rupestre de cavernas locais foi datada do período Baxendi; representa pessoas, imagens antropomórficas e animais, especialmente girafas (são indicativos do clima do período[5]) e bovinos (possivelmente domesticados), e está relacionada com sítios compostos por fragmentos de cerâmica, artefatos líticos e abrigos.[6]
Baxendi A
[editar | editar código-fonte]A unidade Baxendi A, subdividida em dois períodos, desenvolveu-se no intervalo de 6400-5 800 a.C.;[7] produziu dezessete datas radiocarbônicas, agrupadas em duas concentrações em torno de 7300-6900 AP.[8] Há três tipos de sítios: sítios com lareiras e artefatos dispersos, ligados com depósitos playa (p. ex. sítios #228 e #275); sítios menos ligados com depósitos playas (p. ex. sítios #137, #174 e #270); sítios localizados fora da área do oásis, com lareiras e artefatos dispersos (p. ex. sítio #141).[2] Além disso foi constatado uma nítida diferença entre os assentamentos da fase inicial e os da fase final da unidade: os sítios da fase inicial eram acampamentos sazonais de caça caracterizados por lareiras e artefatos; os da fase final possuem círculos de pedra, possivelmente cabanas,[9] o que evidência um crescente sedentarismo na região, além disso, tais assentamentos apresentam sinais de reocupação.[10]
Com base nos artefatos localizados, e com a escassez de provas contundentes acerca da domesticação animal, sugere-se que a economia era baseada na caça e coleta vegetal; grande número de mós sugere que houve processamento vegetal.[2] Entre os restos orgânicos foram identificados restos faunísticos )(búbalus, raposas, gazelas, lebres e três aves de tamanhos diferentes, incluindo avestruz[11]) e vegetais (quatro tipos de cereais selvagens, milheto e sorgo[7]); em sítios da fase final desta unidade foram identificados restos de ovinos, caprinos e bovinos.[12] Pontas de flechas (algumas com base oca), bifaciais e muitas lascas, pontas espinhosas, flanqueadas e entalhadas de tamanhos diversos, contas de casca de ovo de avestruz e plugues labiais são alguns dos artefatos produzidos.[13] A cerâmica é escassa, habitualmente não possuía decoração (quando havia era geométrica[14]) e assemelha-se a cultura do Saara.[7]
Hiato entre Baxendi A e B
[editar | editar código-fonte]Entre as duas unidades foi evidenciado, pela arqueologia e pelas datas produzidas, que houve um hiato ocupacional que perdurou por 100 anos, até 5 600 a.C.[7] Este hiato foi tardio em relação ao hiato evidenciado em grande número de sítios do deserto no começo do oitavo milênio que, segundo McDonald, "parece correlacionar-se com o episódio árido 79-7700 AP do registro sedimentológico".[15] Além disso, em vista das diferenças aparentes entre ambas as unidade, postula-se que duas culturas diferentes, embora relacionadas, habitaram o oásis em momentos diferentes.[16]
Baxendi B
[editar | editar código-fonte]A unidade Baxendi B desenvolveu-se entre 5600-3 800 a.C. e foi contemporânea das culturas Faium, Tarifiana, Merinde, e Badariana.[7][17] A maioria dos sítios está localizada na parte ocidental da bacia, "não no fundo da bacia, mas em suas bordas, acima do atual nível dos lodos playas".[8] Lareiras estão localizadas dispersas nos assentamentos, no entanto, foram identificados agrupamentos mais densos (p. ex. #271 e #276); há sítios associados com lençóis de areia tubulares (p. ex. sítios #101, #104 e #116) e com grande bacias (p. ex. sítios #77 e #165).[2]
Pontas de flechas, pontas, e folhados bifaciais continuam a ser produzidos e novos modelos são adicionados: trinchetes, lascas golpeadas lateralmente, crescentes, raspadores, lunados, machados e celtas polidos, contas de amazonita, cornalina, cristal e calcário, pingentes e pulseiras de conchas, paletas pequenas de minério de ferro ou calcário e pedra de chão.[13][2] A cerâmica era marrom-avermelhada ocasionalmente com a parte superior preta, temperada com quartzo e xisto e possuía decoração geométrica linear ou dentada.[2]
Entre os restos faunísticos foram evidenciados bovinos e caprinos domesticados, assim como gazelas e búbalus; segundo McDonald o processo de sedentarização ocorrido no período anterior é abandonado em detrimento de um padrão de subsistência voltado para o pastoreio nômade: "Até o início do sétimo milênio, grupos ainda reconhecidamente Baxendi A tinham adicionado pastoreio para suas atividades de subsistência e foram se estabelecer em um número relativamente grande de sítios agora menos claramente associados com sedimentos playa".[10]
Referências
- ↑ a b McDonald 2001, p. 26
- ↑ a b c d e f «Dakhleh Neolithic» (em inglês). Consultado em 11 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 13 de agosto de 2014
- ↑ Shaw 2000, p. 31
- ↑ Wenke 1999, p. 444
- ↑ «The Oxford Encyclopedia of Ancient Egypt» (em inglês). Consultado em 29 de novembro de 2011[ligação inativa]
- ↑ Kuciewicz 2008, pp. 2-3
- ↑ a b c d e Mcdonald 2006, pp. 2-3
- ↑ a b McDonald 2001, p. 34
- ↑ Warfe 2003, p. 179
- ↑ a b McDonald 2001, p. 35
- ↑ McDonald 1991, p. 47
- ↑ Hassan 2002, p. 202
- ↑ a b McDonald 1996, p. 95
- ↑ Warfe 2003, pp. 180-182
- ↑ McDonald 2001, p. 38
- ↑ Warfe 2003, pp. 178/193
- ↑ Martini 2010, p. 103
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- McDonald, M. (2001). The Late Prehistoric and Radiocarbon Chronology for Dakhleh Oasis within the wider environmental and cultural setting of the Egyptian Western Desert. [S.l.: s.n.]
- McDonald, M. (1996). Relations between Dakhleh Oasis and the Nile Valley in the Mid-Holocene: a discussion. [S.l.: s.n.]
- McDonald, M. (1991). Technological Organization and Sedentism in the Epipalaeolithic of Dakhleh Oasis, Egypt. [S.l.: s.n.]
- McDonald, M. (2006). Kharga Oasis, Egypt: key to timing transdesert contacts in the mid-Holocene. [S.l.: s.n.] line feed character character in
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at position 60 (ajuda) - Wenke, Robert J. (1999). Patterns in Prehistory. [S.l.: s.n.]
- Warfe, Ashten R. (2003). Cultural Origins of the Egyptian Neolithic and Predynastic: An Evaluation of the Evidence from the Dakhleh Oasis (South Central Egypt). [S.l.: s.n.]
- Hassan, Fekri A. (2002). Droughts, food and culture. ecological change and food security in Africa's Later Prehistory. [S.l.: s.n.] ISBN 0-306-47547-2
- Martini, I. Peter (2010). Landscapes and Societies. Selected Cases. [S.l.: s.n.]
- Kuciewicz, Ewa (2008). Dakhleh Oasis Project Prehistory Group: 2008 Final Report. [S.l.: s.n.]