Caso Rojas
Evento | Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 1990 - Zona Sul-Americana - Grupo 3 | ||||||
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Partida abandonada aos 22 minutos do segundo tempo com o Brasil vencendo por 1-0. A FIFA concedeu ao Brasil uma vitória por 2-0, e o Chile foi proibido de disputar as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994 | |||||||
Data | 3 de setembro de 1989 | ||||||
Local | Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil | ||||||
Árbitro | Juan Carlos Loustau |
O Caso Rojas, tambem conhecido como Maracanaço da seleção chilena (em castelhano: Maracanazo de la selección chilena), Condorazo ou Bengalazo, foi um incidente ocorrido durante a partida de futebol entre Brasil e Chile no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 3 de setembro de 1989, no qual o goleiro chileno Roberto Rojas fingiu ser ferido por um rojão atirado por torcedores brasileiros. É considerado pelos historiadores e especialistas em futebol como um dos acontecimentos mais vergonhosos do futebol mundial. O incidente fez com que o Chile fosse banido das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994 e resultou no encerramento da carreira de Rojas, já que foi banido para sempre do futebol.
Histórico
[editar | editar código-fonte]Para a Copa do Mundo FIFA de 1990, a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) recebeu 3,5 vagas (incluindo a Argentina, que já se classificou como detentora do título). As outras equipes foram agrupadas em três grupos. Os vencedores dos Grupos 1 e 3 se classificaram diretamente para a Copa do Mundo, enquanto o vencedor do Grupo 2 teve que disputar um play-off intercontinental contra o vencedor das eliminatórias da Oceania. Chile, Venezuela e Brasil foram designados para o Grupo 3.
Nas eliminatórias, o Chile venceu a Venezuela por 3 a 1 em Caracas, empatou em 1 a 1 com o Brasil em Santiago e venceu a Venezuela por 5 a 0 em Mendoza, Argentina, pois a FIFA proibiu o Chile de jogar em casa após problemas de torcida no jogo contra o Brasil. Com as duas equipes disputando uma contra a outra, Chile e Brasil lideravam o grupo com 5 pontos cada, embora o Brasil estivesse no topo da diferença de gols. Isso significava que o Chile precisava vencer o Brasil para se classificar.
A partida
[editar | editar código-fonte]Após um primeiro tempo sem gols, o brasileiro Careca marcou o único gol aos 4 minutos do segundo tempo. Aos 22 minutos, o goleiro chileno Roberto Rojas caiu no chão, fingindo ser ferido por um rojão atirado por torcedores brasileiros.
Imediatamente, jogadores e oficiais chilenos, liderados pelo capitão Fernando Astengo, deixaram o campo em protesto, enquanto o árbitro argentino Juan Carlos Loustau tentou, sem sucesso, convencê-los a continuar com o jogo.[1] Enquanto Rojas estava sendo tratado, Patricio Yáñez fez um gesto obsceno para os torcedores brasileiros, manipulando seus órgãos genitais. Este gesto foi mais tarde conhecido no Chile como Pato Yáñez.[2]
No dia seguinte, imagens de televisão e várias fotos revelaram que o foguete lançado pelos torcedores brasileiros não atingiu Rojas, mas aterrissou a pouco mais de um metro de distância. Com essa evidência, os gerentes da CONMEBOL desacreditaram o relato de Rojas sobre um "ataque" dos torcedores brasileiros, questionando a origem de sua lesão, que não mostrava sinais de queimadura ou vestígios de pólvora, mas parecia ter sido causada por uma lâmina de barbear. Enquanto isso, a polícia brasileira identificou e prendeu quem jogou o rojão no campo: uma torcedora de 24 anos chamada Rosenery Mello do Nascimento, mais tarde conhecida como Fogueteira do Maracanã[3][4] e cuja fama repentina a levaria à capa da Playboy brasileira em novembro daquele ano.[5]
À medida que a investigação avançava, ficou evidente para os gerentes da CONMEBOL que o ferimento de Rojas não foi causado por um objeto jogado das arquibancadas. Após o interrogatório, Rojas confessou ter se cortado com uma lâmina de barbear escondida em uma das luvas para simular um ataque dos torcedores brasileiros, e que o técnico chileno Orlando Aravena havia pedido a Rojas e o médico Daniel Rodríguez que permanecessem em campo para forçar um escândalo, com o objetivo de anular o resultado do jogo e forçar uma terceira partida em solo neutro ou desclassificar o Brasil da competição em favor do Chile.[6][7][8]
Dez dias após o jogo, a FIFA decidiu que Rojas deveria ser banido "perpetuamente" do futebol profissional (a proibição foi suspensa em 2001) e o Chile seria banido das eliminatórias para a Copa do Mundo FIFA de 1994 (que deveria abandonar a partida, e não a simulação de Rojas). Além disso, a FIFA decidiu que o jogo seria considerado como vencido pelo Brasil por meio de uma passagem oficial com um placar oficial de 2-0. Além disso, Sergio Stoppel (presidente da Federação de Futebol do Chile), Orlando Aravena (técnico da equipe), Fernando Astengo (jogador) e Daniel Rodríguez (médico da equipe), entre outros, foram todos punidos pela FIFA por seus papéis.
Nos dias seguintes, houve incidentes em frente à embaixada brasileira no Chile, depois que a mídia chilena reportou a versão fornecida por Rojas e Stoppel. As revistas de esportes (especialmente Minuto 90) sugeriram até uma conspiração de João Havelange para garantir a qualificação do Brasil.
Detalhes da partida
[editar | editar código-fonte]3 de setembro de 1989 | Brasil | 2–0 (W.O.) | Chile | Maracanã, Rio de Janeiro |
Careca 49' | Árbitro: Juan Carlos Loustau (Argentina) |
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Referências
- ↑ «Astengo revela nuevos antecedentes del incidente en el Maracaná en 1989». emol.com (em espanhol). El Mercurio. 17 de dezembro de 2013. Consultado em 3 de março de 2016
- ↑ Martínez, Alfredo (3 de setembro de 2009). «El gesto técnico "Pato Yáñez" cumple 20 años» (em espanhol). Las Últimas Noticias. Consultado em 3 de março de 2016
- ↑ Souto, Luiza. «Rosinery Mello (1965–2011) – A fogueteira do Maracanã». Folha de Sao Paulo. Consultado em 3 de março de 2016
- ↑ «La "Fogueteira" ahora se las gana vendiendo completos» (em espanhol). La Cuarta. 24 de novembro de 2009. Consultado em 3 de março de 2016. Arquivado do original em 4 de dezembro de 2013
- ↑ «Morre a "fogueteira do Maracanã"». Jornal de Notícias. Lisboa. 5 de junho de 2011. Consultado em 9 de junho de 2022
- ↑ Edwards, Piers (28 de junho de 2014). «World Cup scandal! The unbelievable plot to eliminate Brazil» (em inglês). CNN. Consultado em 3 de março de 2016
- ↑ Kennedy, Kostya (14 de novembro de 1993). «BACKTALK; The Fall of the Condor: Chile's National Disgrace» (em inglês). The New York Times. Consultado em 3 de março de 2016
- ↑ «The untold scandal: When Chile plotted to eliminate Brazil from the World Cup» (em inglês). Sports Keeda. 18 de junho de 2014. Consultado em 3 de março de 2016