Batalha de Constantinopla (922)
Batalha de Constantinopla | |||
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Data | junho de 922 | ||
Local | Constantinopla | ||
Desfecho | Vitória búlgara | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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A Batalha de Constantinopla foi travada em junho de 922 nas redondezas da capital do Império Bizantino, Constantinopla, entre as forças do Primeiro Império Búlgaro e os bizantinos durante a Guerra bizantino-búlgara de 913–927. No verão, o imperador Romano I Lecapeno (r. 920–944) enviou tropas sob o comando de Sactício para repelir outro raide búlgaro próximo da capital. Os bizantinos atacaram o campo búlgaro, mas foram derrotados quando confrontados pela principal força búlgara. Durante a fuga, Sactício foi mortalmente ferido e morreu na noite seguinte.
Os búlgaros, que cerca de 922 estavam controlando boa parte dos Bálcãs, continuaram a pilhar o campo bizantino virtualmente sem oposição. Contudo, careciam de um poder marítimo para conduzir um cerco bem-sucedido de Constantinopla. As tentativas subsequentes para negociar uma aliança bizantino-árabe para um assalto conjunto a Constantinopla foram descobertas pelos bizantinos e contidas com sucesso. A situação estratégica nos Bálcãs permaneceu inalterada até ambos os lados assinaram um tratado de paz em 927, que reconheceu o título imperial dos monarcas búlgaros e a independência completa da Igreja Ortodoxa Búlgara como patriarcado autocéfalo.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Durante seu curto reinado, o imperador Alexandre (r. 912–913) provocou um conflito com o cã Simeão I (r. 893–927). Ele, que a muito ambicionava reclamar o título imperial, tomou a oportunidade para guerrear.[1][2] Com o Império Bizantino em desordem, os búlgaros chegaram a Constantinopla sem oposição e forçaram a regência de Constantino VII (r. 913–959) a reconhecê-lo imperador.[3] Após um golpe palaciano em 914, a nova regência revogou as concessões dadas aos búlgaros e convocou o exército inteiro, incluindo as tropas da Ásia Menor, para lidar com a ameaça búlgara de uma vez por todas. Na decisiva Batalha de Anquíalo em 917, as forças bizantinas foram completamente aniquiladas, deixando os búlgaros no comando dos Bálcãs.[4] Suas campanhas anuis chegaram até as muralhas de Constantinopla e o istmo de Corinto. Todas as tentativas subsequentes para confrontar o exército búlgaro em Catarsitai, Águas Cálidas e Pegas terminaram em derrota.[5]
Embora militarmente supremo em terra, ele precisava de auxílio naval para sitiar a capital. Em 922, enviou clandestinamente emissários ao califa Abedalá Almadi Bilá em Mádia para negociar a ajuda de sua poderosa marinha. Simeão propôs dividir os espólios igualmente; os búlgaros manteriam Constantinopla e os fatímidas ganhariam os territórios bizantinos na Sicília e sul da Itália.[6][7]
Batalha
[editar | editar código-fonte]Para distrair a atenção bizantina das negociações secretas com os árabes, no verão de 922 os búlgaros lançaram uma campanha na Trácia Oriental. Capturaram e guarneceram algumas cidades fortificadas na região, incluindo Bizie.[8] Em junho, chegaram as cercanias de Constantinopla e incendiaram o Palácio de Teodora, situado nas margens do Corno de Ouro. Em resposta, o Romano I Lecapeno (r. 920–944) convocou os comandantes das tagmas num banquete e incitou-os a confrontar os búlgaros. No dia seguinte um deles, Sactício, liderou o assalto contra os búlgaros.[9]
Enquanto boa parte dos soldados búlgaros dispersou para saquear, os bizantinos atacaram o campo búlgaro e mataram alguns poucos defensores deixados lá.[9] Quando as principais forças búlgaras souberam do ataque, retornaram ao acampamento para confrontar os oponentes. Na batalha subsequente, os búlgaros prevaleceram e forçaram os bizantinos a fugir apesar da coragem de Sactício, que os cronistas alegam que "matou muitos".[10] Durante a fuga, o cavalo de Sactício ficou preso no logo de um rio e o comandante bizantino foi ferido na nádega e na coxa. Seus soldados conseguiram libertar o cavalo do lodo e levá-lo para Blaquerna vivo. Sactício foi levado a Igreja de Santa Maria de Blaquerna, onde morreu na noite seguinte.[11]
Rescaldo
[editar | editar código-fonte]Após a vitória, Simeão enviou cartas ao patriarca Nicolau Místico e o coimperador de Romano, Constantino VII,[a] para propor negociações de paz. Contudo, sua intenção foi prolongar as negociações até o retorno de seus emissários dos fatímidas.[12] Quando Simeão e Nicolau trocaram cartas as ações militares continuaram. Em poucas semanas, o exército búlgaro capturou Adrianópolis, a cidade mais importante da Trácia.[13] A queda de Adrianópolis aumentou o temor em Constantinopla de que um assalte búlgaro à cidade era iminente. Os bizantinos tentaram intimidar Simeão ameaçando incitar magiares, pechenegues e rus' a atacar a Bulgária, como fizeram na guerra de 894–896.[14][15] Simeão sabia que eram palavras vazias, pois o Império Bizantino não estava em posição de realizar essas ameaças.[16]
No meio tempo, os emissários búlgaros receberam uma recepção calorosa de Almadi. O califa aceitou os termos búlgaros e enviou seus próprios emissários a Simeão. Contudo, em seu caminho de volta o navio foi capturado pelos bizantinos, que conseguiram superar os búlgaros e distrair um ataque fatímida.[17] Os búlgaros permaneceram no controle de boa parte dos Bálcãs, anexando a Sérvia, uma aliada bizantina, em 924, mas sem apoio naval foram incapazes de lançar um ataque decisivo contra Constantinopla. A guerra continuou até a morte de Simeão em 927, quando seu filho Pedro I (r. 927–969) concluiu um tratado de paz com os bizantinos, que reconheceu o título imperial aos monarcas búlgaros e a completa independência da Igreja Ortodoxa Búlgara como um patriarcado autocéfalo em troca de boa parte das conquistas de Simeão na Trácia depois de 917.[18]
Notas
[editar | editar código-fonte]- [a] ^ Embora após 919 Romano assumiu o poder absoluto no Império Bizantino e Constantino tornou-se um títere, Simeão endereçou sua carta a Constantino pois considerou Romano como usurpador.[19][20]
Referências
- ↑ Andreev 1996, p. 97.
- ↑ Fine 1991, p. 143.
- ↑ Fine 1991, p. 145–148.
- ↑ Andreev 1996, p. 100.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 382, 408–410.
- ↑ Andreev 1996, p. 102.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 418.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 419–420.
- ↑ a b Zlatarski 1972, p. 421.
- ↑ Wortley 2010, p. 209-210.
- ↑ Lilie 2013, #26964 Saktikes.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 420–425.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 425.
- ↑ Andreev 1996, p. 101–102.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 426.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 428.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 433–434.
- ↑ Andreev 1996, p. 108–109.
- ↑ Fine 1991, p. 151.
- ↑ Zlatarski 1972, p. 423.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Andreev, Jordan; Lalkov, Milcho (1996). Българските ханове и царе (The Bulgarian Khans and Tsars). Veliko Tarnovo: Abagar. ISBN 954-427-216-X
- Fine, John Van Antwerp (1991). The Early Medieval Balkans: A Critical Survey from the Sixth to the Late Twelfth Century (em inglês). Ann Arbor, Michigan: University of Michigan Press. ISBN 0472081497
- Lilie, Ralph-Johannes; Ludwig, Claudia; Zielke, Beate et al. (2013). Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit Online. Berlim-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften: Nach Vorarbeiten F. Winkelmanns erstellt
- Wortley, John, ed. (2010). John Skylitzes: A Synopsis of Byzantine History, 811-1057. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-76705-7