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Mitani

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Ḫa-ni-gal-bat
Império de Mittani
1600 aC – 1150 aC
 

Localização de Império de Mittani
Localização de Império de Mittani
Reino de Mitanni (corresponde atualmente ao chamado Curdistão)
Continente Ásia
Capital Washshukanni
Governo Não especificado
História
 • 1600 aC Hurritas fundam o império
 •  Egito XVIII dinastia e Hititas conquistam do Império Mitanni
 •  Assírios conquistam as terras do Império ocupadas pelos Egipcios e pelos Hititas
 • 1150 aC Elamitas conquistam o Império
 • 1150 aC Elamitas conquistam o Império
Tablete cuneiforme contendo uma carta do rei Tushratta de Mitanni para o rei Amenhotep III, atualmente no Museu Britânico

Mittani Mi-ta-an-ni, (em fontes assírias Hanigalbat, Khanigalbat cuneiforme Ḫa-ni-gal-bat) foi um reino Hurrita no noroeste e nordeste da Mesopotâmia de 1600 a.C., até o auge de seu poder, no século XV a.C., abrangendo o que é hoje o sudeste da Turquia, o nordeste da Síria, norte do Iraque (o que corresponderia ao chamado Curdistão), estabelecido em torno da capital Washshukanni, possivelmente a atual cidade de Al Hasakah no nordeste da Síria. Nos tempos Neo-assírios, o nome era usado como um termo geográfico para a área entre o Rio Khabur e o Eufrates.[1]

Hurritas

Ver artigo principal: Hurritas

Os hurritas foram um povo (mais corretamente, uma denominação linguística de implicações étnicas) que adentrou o Oriente Próximo provavelmente por volta da primeira metade do segundo milênio a.C., instalando-se no noroeste e no nordeste da Mesopotâmia, entre os rios Khabur e Eufrates. Devido à evidência linguística, os especialistas remontam suas origens às regiões montanhosas do alto Eufrates e da atual Turquia oriental, mas não da Península da Anatólia propriamente dita. Com efeito, os hurritas falavam uma língua que não era de matriz semítica nem indo-europeia, mas possivelmente parente de idiomas do Cáucaso, ou então, alternativamente, mais remotamente aparentada com o proto-indo-europeu, mas não era um membro direto dessa família linguística. Documentos antigos revelam a existência de pequenos estados hurritas no norte da mesopotâmia por volta de 2200 a.C.[2]

Primórdios

Ver artigo principal: História da Mesopotâmia

Durante o auge do império acadiano de Naram-Sin, muitos reinos hurritas primitivos estiveram sob domínio dos acadianos, e assim permaneceram até a queda do Império Acadiano (c. 2190 a.C.). Os príncipes hurritas mantiveram as tradições e a língua acadianas após a queda do Império, e se apresentavam como sucessores do poder de Acad buscando legitimar seu domínio monárquico. No período que antecede o estabelecimento de um grande reino hurrita, confrontos colocaram os hurritas contra reis da terceira dinastia de Ur. Ao final do século XIX a.C., os hurritas passaram para a órbita de influência do império de Shamshi-Adad I. Entre os séculos XVIII e XVII a.C. o desenvolvimento dos estados hurritas é virtualmente desconhecido, sobretudo devido à falta de documentação, que se torna bastante mais rara com a destruição de Mari e seus arquivos por Hammurabi nesta época.

Estabelecimento de Mitanni

Supõe-se que os estados hurritas independentes do século XIX a.C. se uniram gradualmente nos anos seguinte, conformando-se num Império de grandes dimensões até o século XVI a.C. Nesta época, documentos hititas e egípcios se referem a um grande poder hurrita estabelecido a leste do Eufrates. Os egípcios referem-se a esse reino pelo nome de Mitanni, cuja origem etimológica é ainda confusa. Não se sabe se o nome é efetivamente hurrita, mas ele certamente partilha uma origem comum com o nome próprio “Maitta”, que figura nos textos de Nuzi (atual Yorghun Tepe). Os nomes dos primeiros reis hurritas, aliás, são todos derivados do ramo indo-ariano das línguas indo-europeias, o que pode indicar (conforme uma opinião amplamente aceita na academia) a penetração de minorias de guerreiros arianos nas planícies do norte da Mesopotâmia e sua absorção como elite política e dinastia real nos reinos hurritas. O governante hurrita mais antigo de que temos registro foi Shuttarna I.

A expansão do reino de Mitanni

Por volta do século XV a.C. o reino de Mitanni inicia um processo de expansão, a princípio sobre os territórios que estavam anteriormente sob domínio ou influência dos Hititas. O rei Parrattarna I (c. 1500-1450 a.C.) e seus sucessores avançaram sobre a região entre o Eufrates e o Mediterrâneo, sobretudo as dependências sírias, aproveitando-se da fraqueza do Hatti, dividido por lutas intestinas. Neste período, as fontes egípcias aplicam o termo “hurrita” às regiões que se estendem da Palestina à Síria. Por volta de 1458 a.C., contudo, Tutmosis III do Egito enfrentou príncipes de pequenos estados do Oriente Próximo, aliados de Mitanni, num confronto pela supremacia política na região do corredor sírio-palestino, tendo sido vitorioso. No entanto, não conseguiu avançar o suficiente para forçar um confronto direto com os hurritas que, ao final do século quinze, alcançaram o ápice de seu desenvolvimento político sob o reinado de Saushtatar. Este monarca conquistou, por exemplo, a cidade de Assur (capital da Assíria), embora não tenhamos informações adicionais sobre sua conquista. Relatos hurritas contam como Saushtatar carregou ouro e prata saqueados de Assur para a então capital de Mitanni, Wasshukkani (até hoje não identificada pelos arqueólogos).[3]

Política externa

Após o confronto com Tutmosis III, Mitanni deixou de ser visto como reino inimigo pelos egípcios e, com Tutmosis IV (c. 1401-1391 a.C.), formou uma coalizão com o Egito contra os Hititas na Anatólia. A aliança foi selada com o casamento de uma princesa egípcia com um rei hurrita.

Declínio e Queda (c. 1350 a.C.)

Com a ascensão de Akhenaton I (c. 1353-1337 a.C.) ao poder no Egito, contudo, os faraós não mais se interessaram pela expansão dos Hititas na Ásia e passaram a centrar suas atenções nos distúrbios político-religiosos internos. Com isso, Mitanni se viu isolado num momento em que Hititas e Assírios aumentavam gradualmente seu poder militar, ameaçando seriamente as pretensões imperiais dos hurritas. O rei de Mitanni na época, Tushratta, teve sua legitimidade ao trono contestada por grupos internos, o que enfraqueceu a posição hurrita na Síria, logo reconquistada pelos Hititas por volta de 1350 a.C. Por fim, os assírios marcharam por toda a região norte da Mesopotâmia, anexando o que restara do Império de Mitanni. Por volta de 1200 a.C., a língua hurrita havia desaparecido dos registros cuneiformes.[4]

Referências

  1. William Dunstan (1998). «The ancient Near East» (em inglês) 
  2. Gernot Wilhelm, Diana L. Stein (1989). «The Hurrians» (em inglês) 
  3. Jack M. Sasson (1995). «Civilizations of The Ancient Near East, volume 2» (em inglês) 
  4. Martha A. Morrison. «Studies on the civilization and culture of Nuzi and the Hurrians, volume 10» (em inglês)