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Ressurreição de Jesus: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Pietro Perugino cat53.jpg|thumb|direita|300px|"Ressurreição".<br /><small>1499-1500. Por [[Perugino]].</small>]]
[[Imagem:Pietro Perugino cat53.jpg|thumb|''Ressurreição'', de [[Perugino]], 1499-1500]]
A '''Ressurreição de Jesus''' é o nome dado à fé cristã de que [[Jesus Cristo]] retornou à vida no domingo seguinte à sexta-feira na qual ele foi [[Crucificação de Jesus|crucificado]]. É uma doutrina central da [[cristianismo|fé e da teologia cristã]] e parte do [[Credo Niceno]]: ''"Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme as Escrituras"''.<ref>Versão atualizada do Credo Niceno-Constantinopolitano apresentada no [[Primeiro Concílio de Constantinopla]] (381), em Norman Tanner, ''New Short History of the Catholic Church'', page 33 (Burns & Oates, 2011). ISBN 978-0-86012-455-9</ref><ref>Tradução para o português em {{citar web|url = http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html|título = Credo Niceno-Constantinopolitano| publicado = Ekklesia.com| acessodata = 13 de janeiro de 2012}}</ref>
A '''Ressurreição de Jesus''' é a [[Cristianismo|fé cristã]] de que [[Jesus Cristo]] retornou à vida no domingo seguinte à [[Sexta-feira Santa|sexta-feira]] na qual ele foi [[Crucificação de Jesus|crucificado]]. É uma doutrina central da fé e da [[teologia cristã]] e parte do [[Credo Niceno]]: ''"Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme as Escrituras"''.<ref>Versão atualizada do Credo Niceno-Constantinopolitano apresentada no [[Primeiro Concílio de Constantinopla]] (381), em Norman Tanner, ''New Short History of the Catholic Church'', page 33 (Burns & Oates, 2011). ISBN 978-0-86012-455-9</ref><ref>Tradução para o português em {{citar web|url=http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html|título=Credo Niceno-Constantinopolitano|publicado=Ekklesia.com|acessodata=13-1-2012}}</ref> O acontecimento e especialmente a sua representação artística é conhecido como '''anástase''' ({{langx|el|αναστασις||'''''anastasis'''''|prefixo=do|sufixo="ato de elevar"}}){{ref infopedia dic|anástase|22-4-2024}}


No [[Novo Testamento]], depois dos [[Império Romano|romanos]] terem crucificado Jesus, ele é [[Sepultamento de Jesus|ungido e sepultado num túmulo novo]] por [[José de Arimateia]], ressuscitou dos mortos<ref>São inúmeras as referências: {{citar bíblia|Atos|2|24}}, {{citar bíblia|Romanos|10|9}}, {{citar bíblia|I Coríntios|15|15}}, {{citar bíblia|Atos|2|31|32}}, {{citar bíblia|Atos|3|15}}, {{citar bíblia|Atos|3|26}}, {{citar bíblia|Atos|4|10}}, {{citar bíblia|Atos|5|30}}, {{citar bíblia|Atos|10|40|41}}, {{citar bíblia|Atos|13|30}}, {{citar bíblia|Atos|13|34}}, {{citar bíblia|Atos|13|37}}, {{citar bíblia|Atos|17|30|31}}, {{citar bíblia|I Coríntios|6|14}}, {{citar bíblia|II Coríntios|4|14}}, {{citar bíblia|Gálatas|1|1}}, {{citar bíblia|Efésios|1|20}}, {{citar bíblia|Colossenses|2|12}}, {{citar bíblia|I Tessalonicenses|1|10}}, {{citar bíblia|Hebreus|13|20}}, {{citar bíblia|I Pedro|1|3}}, {{citar bíblia|I Pedro|1|21}}</ref> e [[aparições de Jesus após a ressurreição|apareceu para muitas pessoas]] durante um período de quarenta dias, quando então [[Ascensão de Jesus|ascendeu ao céu]] para [[sessão de Cristo|se sentar à direita do Pai]]. Os cristãos celebram a ressurreição no [[Domingo de Páscoa]], o terceiro dia depois da [[Sexta-Feira Santa]], o dia da crucificação. A [[Computus|data da Páscoa]] correspondeu, a grosso modo, com a [[Páscoa judaica]], o dia de observância dos judeus associado com [[o Êxodo]], que é calculado como sendo a noite da primeira [[lua cheia]] depois do [[equinócio]].<ref>Tamara Prosic, ''The Development And Symbolism Of Passover Until 70 CE'', page 65 (T & T Clark International, 2004).
No [[Novo Testamento]], depois de ser crucificado pelos [[Império Romano|romanos]], Jesus é [[Sepultamento de Jesus|ungido e sepultado num túmulo novo]] por [[José de Arimateia]], ressuscita dos mortos<ref>São inúmeras as referências: {{citar bíblia|Atos|2|24}}, {{citar bíblia|Romanos|10|9}}, {{citar bíblia|I Coríntios|15|15}}, {{citar bíblia|Atos|2|31|32}}, {{citar bíblia|Atos|3|15}}, {{citar bíblia|Atos|3|26}}, {{citar bíblia|Atos|4|10}}, {{citar bíblia|Atos|5|30}}, {{citar bíblia|Atos|10|40|41}}, {{citar bíblia|Atos|13|30}}, {{citar bíblia|Atos|13|34}}, {{citar bíblia|Atos|13|37}}, {{citar bíblia|Atos|17|30|31}}, {{citar bíblia|I Coríntios|6|14}}, {{citar bíblia|II Coríntios|4|14}}, {{citar bíblia|Gálatas|1|1}}, {{citar bíblia|Efésios|1|20}}, {{citar bíblia|Colossenses|2|12}}, {{citar bíblia|I Tessalonicenses|1|10}}, {{citar bíblia|Hebreus|13|20}}, {{citar bíblia|I Pedro|1|3}}, {{citar bíblia|I Pedro|1|21}}</ref> e [[aparições de Jesus após a ressurreição|aparece para muitas pessoas]] durante um período de quarenta dias, quando então [[Ascensão de Jesus|ascende ao Céu]] para [[sessão de Cristo|se sentar à direita do Pai]]. Os cristãos celebram a ressurreição no Domingo de [[Páscoa]], o terceiro dia depois da [[Sexta-feira Santa]], o dia da crucificação. A [[Computus|data da Páscoa]] correspondeu, a grosso modo, com a [[Páscoa judaica]], o dia de observância dos judeus associado com [[o Êxodo]], que é calculado como sendo a noite da primeira [[lua cheia]] depois do [[equinócio]].<ref>Tamara Prosic, ''The Development And Symbolism Of Passover Until 70 CE'', page 65 (T & T Clark International, 2004). {{ISBN|0-8264-7087-4}}</ref>
ISBN 0-8264-7087-4</ref>


A história da ressurreição aparece em mais de cinco diferentes locais na [[Bíblia]]. Em diversos episódios nos [[evangelhos canônicos]], [[Jesus profetiza sua morte]] e posterior ressurreição, que ele afirma ser o plano de [[Deus Pai]].<ref>''Dictionary of Premillennial Theology'' by Mal Couch 1997 ISBN 0-8254-2410-0 page 127</ref> Os cristãos veem a ressurreição de Jesus como parte do plano de [[Salvação (cristianismo)|salvação]] e [[redentor (cristianismo)|redenção]] através da [[expiação|expiação pelos pecados do homem]].<ref>''Great Preaching on the Resurrection'' by Curtis Hutson 2000 ISBN 0-87398-319-X pages 55-56</ref>
A história da ressurreição aparece em mais de cinco diferentes locais na [[Bíblia]]. Em diversos episódios nos [[evangelhos canônicos]], [[Jesus profetiza sua morte]] e posterior ressurreição, que ele afirma ser o plano de [[Deus Pai]].<ref>''Dictionary of Premillennial Theology'' by Mal Couch 1997 ISBN 0-8254-2410-0 page 127</ref> Os cristãos veem a ressurreição de Jesus como parte do plano de [[Salvação (cristianismo)|salvação]] e [[redenção]] através da [[expiação]] pelos pecados do homem.<ref>''Great Preaching on the Resurrection'' by Curtis Hutson 2000 ISBN 0-87398-319-X pages 55-56</ref>


Estudiosos céticos questionaram a historicidade da ressurreição por séculos; por exemplo, ''"...o consenso acadêmico do século XIX e início do século XX descarta as narrativas sobre a ressurreição como sendo relatos tardios e lendários"''.<ref>{{citar livro |título= The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder| ano= 2005|editora= Prometheus Books|local= Amherst|isbn= 1-59102-286-X| páginas= front flap}}</ref> Diversos estudiosos modernos expressaram suas dúvidas sobre a historicidade dos relatos sobre a ressurreição e continuam debatendo suas origens,<ref>Michael Martin "Skeptical Perspectives on Jesus' Resurrection" chapter 18 in ''The Blackwell Companion to Jesus'' edited by Delbert Burkett 2011 ISBN 978-1-4443-2794-6</ref> enquanto que outros consideram os relatos bíblicos sobre o episódio como sendo derivados das experiências dos seguidores de Jesus e, particularmente, do [[Paulo de Tarso|apóstolo Paulo]].<ref name = "ActJJesus">[[Robert W. Funk|Funk, Robert W.]] and the [[Jesus Seminar]]. ''The acts of Jesus: the search for the authentic deeds of Jesus.'' HarperSanFrancisco. 1998. "What do we really know about Jesus" p. 527–534.</ref><ref name = "Sanders 15">Sanders, E. P. The historical figure of Jesus. Penguin, 1993. Epilogue: the resurrection. p. 276–281.</ref>
Estudiosos céticos questionaram a historicidade da ressurreição por séculos; por exemplo, ''"...o consenso acadêmico do {{séc|XIX}} e início do {{séc|XX}} descarta as narrativas sobre a ressurreição como sendo relatos tardios e lendários"''.<ref>{{citar livro|título=The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder|ano=2005|editora=Prometheus Books|local=Amherst|isbn=1-59102-286-X|páginas=front flap}}</ref> Diversos estudiosos modernos expressaram suas dúvidas sobre a historicidade dos relatos sobre a ressurreição e continuam debatendo suas origens,<ref>Michael Martin "Skeptical Perspectives on Jesus' Resurrection" chapter 18 in ''The Blackwell Companion to Jesus'' edited by Delbert Burkett 2011 ISBN 978-1-4443-2794-6</ref> enquanto que outros consideram os relatos bíblicos sobre o episódio como sendo derivados das experiências dos seguidores de Jesus e, particularmente, do [[Paulo de Tarso|apóstolo Paulo]].<ref name = "ActJJesus">[[Robert W. Funk|Funk, Robert W.]] and the [[Jesus Seminar]]. ''The acts of Jesus: the search for the authentic deeds of Jesus.'' HarperSanFrancisco. 1998. "What do we really know about Jesus" p. 527–534.</ref><ref name = "Sanders 15">Sanders, E. P. The historical figure of Jesus. Penguin, 1993. Epilogue: the resurrection. p. 276–281.</ref>


== Narrativa bíblica ==
== Narrativa bíblica ==
=== Epístolas paulinas ===
=== Epístolas paulinas ===
Os mais antigos registros escritos da morte e ressurreição de Jesus são as cartas de Paulo, que foram escritas por volta de duas décadas após a morte de Jesus<ref>[http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/religion/story/oral.html L. Michael White, ''Importance of the Oral Tradition'']</ref><ref>Barnett, Paul, ''The Birth Of Christianity: The First Twenty Years (After Jesus)''</ref> e mostram que, neste período, os cristãos acreditavam firmemente no evento. Alguns estudiosos acreditam que elas tenham incorporado [[credo]]s e [[hino]]s primitivos, escritos apenas uns poucos anos após a morte de Jesus e originados na comunidade cristã de Jerusalém.<ref>Oscar Cullmann, trad. J. K. S. Reid, ''The Earliest Christian Confessions'' (London: Lutterworth, 1949)</ref> Estes credos, mesmo inseridos nos textos do Novo Testamento, são uma fonte importante sobre este período do [[cristianismo primitivo]] ([[#Importância teológica|vide abaixo]]):
Os mais antigos registros escritos da morte e ressurreição de Jesus são as cartas de Paulo, que foram escritas por volta de duas décadas após a morte de Jesus<ref>[http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/religion/story/oral.html L. Michael White, ''Importance of the Oral Tradition'']</ref><ref>Barnett, Paul, ''The Birth Of Christianity: The First Twenty Years (After Jesus)''</ref> e mostram que, neste período, os cristãos acreditavam firmemente no evento. Alguns estudiosos acreditam que elas tenham incorporado [[credo]]s e [[hino]]s primitivos, escritos apenas uns poucos anos após a morte de Jesus e originados na comunidade cristã de Jerusalém.<ref>Oscar Cullmann, trad. J. K. S. Reid, ''The Earliest Christian Confessions'' (London: Lutterworth, 1949)</ref> Estes credos, mesmo inseridos nos textos do Novo Testamento, são uma fonte importante sobre este período do [[cristianismo primitivo]] ([[#Importância teológica|vide abaixo]]):
* {{citar bíblia|Romanos|1|3|4|citação = acerca de seu Filho (que veio da descendência de Davi quanto à carne, e que foi com poder declarado Filho de Deus quanto ao espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos), Jesus Cristo nosso Senhor}}.<ref>Wolfhart Pannenberg, ''Jesus—God and Man'' translated Lewis Wilkins and Duane Pribe (Philadelphia: Westminster, 1968) pp. 118, 283, 367; Neufeld, ''The Earliest Christian Confessions'' (Grand Rapids: Eerdmans, 1964) pp. 7, 50; C. H. Dodd, ''The Apostolic Preaching and its Developments'' (Grand Rapids: Baker, 1980), p. 14</ref>
* {{citar bíblia|Romanos|1|3|4|citação=acerca de seu Filho (que veio da descendência de Davi quanto à carne, e que foi com poder declarado Filho de Deus quanto ao espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos), Jesus Cristo nosso Senhor}}.<ref>Wolfhart Pannenberg, ''Jesus—God and Man'' translated Lewis Wilkins and Duane Pribe (Philadelphia: Westminster, 1968) pp. 118, 283, 367; Neufeld, ''The Earliest Christian Confessions'' (Grand Rapids: Eerdmans, 1964) pp. 7, 50; C. H. Dodd, ''The Apostolic Preaching and its Developments'' (Grand Rapids: Baker, 1980), p. 14</ref>
* {{citar bíblia|II Timóteo|2|8|citação = Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu Evangelho}}.<ref>Bultmann, ''Theology of the New Testament'' vol 1, pp. 49, 81; Joachim Jeremias, ''The Eucharistic Words of Jesus'' translated Norman Perrin (London: SCM Press, 1966) p. 102</ref>
* {{citar bíblia|II Timóteo|2|8|citação=Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu Evangelho}}.<ref>Bultmann, ''Theology of the New Testament'' vol 1, pp. 49, 81; Joachim Jeremias, ''The Eucharistic Words of Jesus'' translated Norman Perrin (London: SCM Press, 1966) p. 102</ref>
* {{citar bíblia|I Coríntios|15|3|7|citação = Pois eu vos entreguei primeiramente o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que foi ressuscitado ao terceiro dia segundo as Escrituras e que apareceu a Cefas e então aos doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte permanece até agora, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos;}}.
* {{citar bíblia|I Coríntios|15|3|7|citação=Pois eu vos entreguei primeiramente o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que foi ressuscitado ao terceiro dia segundo as Escrituras e que apareceu a Cefas e então aos doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte permanece até agora, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos;}}.

[[Imagem:El Greco - The Resurrection - WGA10530.jpg|thumb|direita|200px|"Ressurreição".<br /><small>Entre 1569 e 1600. Por [[El Greco]], atualmente no [[Museu do Prado]], em [[Madrid]].</small>]]
[[Imagem:El Greco - The Resurrection - WGA10530.jpg|thumb|upright|''Ressurreição'', de [[El Greco]], 1569–1600, [[Museu do Prado]], [[Madrid]]]]
Estas aparições neste último credo incluem aquelas aos membros mais proeminentes entre os seguidores de Jesus e, posteriormente, da [[igreja de Jerusalém]], incluindo [[Tiago, irmão de Jesus]], e os apóstolos, nomeando apenas Pedro (Cefas). O credo também faz referências a aparições para pessoas cujo nome não é citado. [[Hans Von Campenhausen]] e [[A. M. Hunter]] afirmaram, separadamente, que o texto deste credo cumpre os rigorosos critérios de historicidade e confiabilidade de origem.<ref>Hans Von Campenhausen, "The Events of Easter and the Empty Tomb", in ''Tradition and Life in the Church'' (Philadelphia: Fortress, 1968) p. 44</ref><ref>Archibald Hunter, ''Works and Words of Jesus'' (1973) p. 100</ref>

Estas aparições neste último credo incluem aquelas aos membros mais proeminentes entre os seguidores de Jesus e, posteriormente, da [[igreja de Jerusalém]], incluindo [[Tiago, irmão de Jesus]], e os apóstolos, nomeando apenas Pedro (Cefas). O credo também faz referências a aparições para pessoas cujo nome não é citado. Hans Von Campenhausen e A. M. Hunter afirmaram, separadamente, que o texto deste credo cumpre os rigorosos critérios de historicidade e confiabilidade de origem.<ref>Hans Von Campenhausen, "The Events of Easter and the Empty Tomb", in ''Tradition and Life in the Church'' (Philadelphia: Fortress, 1968) p. 44</ref><ref>Archibald Hunter, ''Works and Words of Jesus'' (1973) p. 100</ref>


=== Evangelhos ===
=== Evangelhos ===
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No mesmo dia, Jesus apareceu para dois seguidores na [[Discípulos de Emaús|estrada para Emaús]]. Eles só o reconheceram quando ele partiu o pão e deu graças, desaparecendo em seguida. Os dois imediatamente seguiram para Jerusalém, onde encontraram os discípulos excitados com a aparição de Jesus a Pedro. Quando eles começaram a contar a história, Jesus apareceu para todos eles, que ficam assustados, mas ele os convidou a tocarem no seu corpo, comerem com ele e explicou que nele as profecias se realizaram ([[Lucas 24]]).
No mesmo dia, Jesus apareceu para dois seguidores na [[Discípulos de Emaús|estrada para Emaús]]. Eles só o reconheceram quando ele partiu o pão e deu graças, desaparecendo em seguida. Os dois imediatamente seguiram para Jerusalém, onde encontraram os discípulos excitados com a aparição de Jesus a Pedro. Quando eles começaram a contar a história, Jesus apareceu para todos eles, que ficam assustados, mas ele os convidou a tocarem no seu corpo, comerem com ele e explicou que nele as profecias se realizaram ([[Lucas 24]]).

==== Atos dos Apóstolos ====
Na continuação do relato de Lucas, Jesus apareceu para diversas pessoas por quarenta dias, dando muitas provas de sua ressurreição e instruindo os apóstolos a não deixarem Jerusalém antes de serem batizados pelo [[Espírito Santo]] ([[Atos 1]]).


==== João ====
==== João ====
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Naquela tarde, Jesus apareceu entre eles, mesmo as portas estando trancadas, e lhes conferiu o poder sobre o pecado e o de perdoar. Uma semana depois, ele [[Dúvida de Tomé|apareceu para Tomé]], que não tinha acreditado até então. Quando ele tocou as [[chagas de Cristo|chagas de Jesus]], disse ''"Meu senhor, meu Deus"'', ao que Jesus respondeu ''"Creste, porque me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram"'' ([[João 20]]).
Naquela tarde, Jesus apareceu entre eles, mesmo as portas estando trancadas, e lhes conferiu o poder sobre o pecado e o de perdoar. Uma semana depois, ele [[Dúvida de Tomé|apareceu para Tomé]], que não tinha acreditado até então. Quando ele tocou as [[chagas de Cristo|chagas de Jesus]], disse ''"Meu senhor, meu Deus"'', ao que Jesus respondeu ''"Creste, porque me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram"'' ([[João 20]]).

==== Atos dos Apóstolos ====
Na continuação do relato de Lucas, Jesus apareceu para diversas pessoas por quarenta dias, dando muitas provas de sua ressurreição e instruindo os apóstolos a não deixarem Jerusalém antes de serem batizados pelo [[Espírito Santo]] ([[Atos 1]]).


=== Principais temas ===
=== Principais temas ===
[[Imagem:Brooklyn Museum - Jesus in the Sepulchre (Jésus dans le sépulcre) - James Tissot.jpg|thumb|''Jesus na Sepultura''; [[James Tissot]] ({{séc|XIX}})]]
{{multiple image

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[[Imagem:Descent of Christ to Limbo WGA.jpg|thumb|[[Descida de Cristo ao inferno]]; [[Andrea de Bonaiuto]] ({{séc|XIV}})]]
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| header = Temas principais
| footer = Topo: [[James Tissot]] (séc. XIX)<br>Meio:[[Andrea de Bonaiuto]] (séc. XIV)<br>Embaixo: [[James Tissot]] (séc. XIX)
[[Imagem:Brooklyn Museum - Jesus Appears to the Holy Women (Apparition de Jésus aux saintes femmes) - James Tissot.jpg|thumb|[[Três Marias|Jesus aparece para as mulheres]]; [[James Tissot]] ({{séc|XIX}})]]

| image1 = Brooklyn Museum - Jesus in the Sepulchre (Jésus dans le sépulcre) - James Tissot.jpg
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| caption1 = Jesus na Sepultura
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| caption2 = [[Descida de Cristo ao inferno]]
| image3 = Brooklyn Museum - Jesus Appears to the Holy Women (Apparition de Jésus aux saintes femmes) - James Tissot.jpg
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| caption3 = [[Três Marias|Jesus aparece para as mulheres]]}}
No [[Novo Testamento]] há três grupos de eventos relacionados à morte e ressurreição de Jesus: ''[[Crucificação de Jesus|crucificação e sepultamento]]'', no qual Jesus é colocado num novo túmulo após a sua morte, ''[[Túmulo vazio|descoberta do túmulo vazio]]'' e as ''[[aparições de Jesus após a ressurreição|aparições após a ressurreição]]''.
No [[Novo Testamento]] há três grupos de eventos relacionados à morte e ressurreição de Jesus: ''[[Crucificação de Jesus|crucificação e sepultamento]]'', no qual Jesus é colocado num novo túmulo após a sua morte, ''[[Túmulo vazio|descoberta do túmulo vazio]]'' e as ''[[aparições de Jesus após a ressurreição|aparições após a ressurreição]]''.


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Os trechos em itálico abaixo, do Novo Testamento, comentam sobre a morte e ressurreição de Jesus e o período no qual ele esteve no túmulo:
Os trechos em itálico abaixo, do Novo Testamento, comentam sobre a morte e ressurreição de Jesus e o período no qual ele esteve no túmulo:


O [[apóstolo]] [[São Pedro|Pedro]] dá um sermão cinquenta dias após a ressurreição no qual ele afirma: {{citar bíblia|Atos|2|29|31|citação = Irmãos, é-me permitido dizer-vos ousadamente acerca do [[patriarca]] [[David]], que ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo está entre nós até hoje. Sendo, pois, [[neviim|profeta]], e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes seria colocado sobre o seu trono; prevendo isto, ''Davi falou da ressurreição de [[Cristo]], que nem foi deixado no [[Hades]], nem o seu corpo viu a corrupção.''}}
O [[apóstolo]] [[São Pedro|Pedro]] dá um sermão cinquenta dias após a ressurreição no qual ele afirma: {{citar bíblia|Atos|2|29|31|citação=Irmãos, é-me permitido dizer-vos ousadamente acerca do [[patriarca]] [[David]], que ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo está entre nós até hoje. Sendo, pois, [[neviim|profeta]], e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes seria colocado sobre o seu trono; prevendo isto, ''Davi falou da ressurreição de [[Cristo]], que nem foi deixado no [[Hades (cristianismo)|Hades]], nem o seu corpo viu a corrupção.''}}


Pedro, agora em sua [[I Pedro|primeira epístola]], diz: {{citar bíblia|I Pedro|3|18|20|citação=Assim também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus, sendo, na verdade, ''morto na carne, mas vivificado no Espírito, no qual também foi pregar aos espíritos em prisão''.}}
Pedro, agora em sua [[I Pedro|primeira epístola]], diz: {{citar bíblia|I Pedro|3|18|20|citação=Assim também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus, sendo, na verdade, ''morto na carne, mas vivificado no Espírito, no qual também foi pregar aos espíritos em prisão''.}}


Estas passagens formam a base teológica que sustenta a frase ''"Ele desceu ao inferno"'' que consta no [[Credo dos Apóstolos]] e deu origem a tradição da [[Descida de Cristo ao Inferno]].
Estas passagens formam a base teológica que sustenta a frase ''"Ele desceu ao inferno"'' que consta no [[Credo dos Apóstolos]] e deu origem à tradição da [[Descida de Cristo aos infernos]]. De acordo com a [[Tradição católica|fé católica]], Jesus foi à [[Mansão dos mortos]] para libertar os espíritos dos justos que lá estavam presos, e que ainda não podiam entrar na glória celeste.


==== Descoberta do túmulo vazio ====
==== Descoberta do túmulo vazio ====
{{AP|Túmulo vazio|Três Marias|Noli me tangere}}
{{AP|Túmulo vazio|Três Marias|Noli me tangere}}
Embora nenhum evangelho apresente um relato que inclua todos os episódios sobre a ressurreição e as aparições, eles concordam em quatro pontos<ref>{{citar bíblia|Marcos|16|1|8}}, {{citar bíblia|Mateus|28|1|8}}, {{citar bíblia|Lucas|24|1|12}} e {{citar bíblia|João|20|1|13}}</ref>:
Embora nenhum evangelho apresente um relato que inclua todos os episódios sobre a Ressurreição e as aparições, eles concordam em quatro pontos<ref>{{citar bíblia|Marcos|16|1|8}}, {{citar bíblia|Mateus|28|1|8}}, {{citar bíblia|Lucas|24|1|12}} e {{citar bíblia|João|20|1|13}}</ref>:
# A atenção dada à pedra que fechava a entrada do túmulo.
# A atenção dada à pedra que fechava a entrada do túmulo.
# A ligação da tradição do túmulo vazio com a visita das mulheres "no primeiro dia da semana".
# A ligação da tradição do túmulo vazio com a visita das mulheres "no primeiro dia da semana".
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# A proeminência de [[Maria Madalena]];<ref name="Stagg2">Stagg, Evalyn and Frank. ''Woman in the World of Jesus.'' Philadelphia: Westminster Press, 1978, p. 144–150.</ref><ref>Vladimir Lossky, 1982 ''The Meaning of Icons'' ISBN 978-0-913836-99-6 page 185</ref><ref>Setzer, Claudia. "Excellent Women: Female Witness to the Resurrection." ''Journal of Biblical Literature,'' Vol. 116, N.º 2 (Summer, 1997), pp. 259–272</ref>
# A proeminência de [[Maria Madalena]];<ref name="Stagg2">Stagg, Evalyn and Frank. ''Woman in the World of Jesus.'' Philadelphia: Westminster Press, 1978, p. 144–150.</ref><ref>Vladimir Lossky, 1982 ''The Meaning of Icons'' ISBN 978-0-913836-99-6 page 185</ref><ref>Setzer, Claudia. "Excellent Women: Female Witness to the Resurrection." ''Journal of Biblical Literature,'' Vol. 116, N.º 2 (Summer, 1997), pp. 259–272</ref>


Já as diferenças aparecem em torno da hora precisa da visita ao túmulo, o número e identidade das mulheres; o propósito da visita; a aparição de outros mensageiros - angélicos ou humanos, a mensagem deles para as mulheres e a resposta delas.<ref name="Stagg2" />
Já as diferenças aparecem em torno da hora precisa da visita ao túmulo, o número e identidade das mulheres; o propósito da visita; a aparição de outros mensageiros - angélicos ou humanos, a mensagem deles para as mulheres e a resposta delas.<ref name="Stagg2"/>


Os quatro evangelhos relatam que as mulheres foram as primeiras a encontrar o túmulo vazio, embora o número varie de uma ([[Maria Madalena]]) até um número não especificado. De acordo com Marcos e Lucas, o "anúncio" da ressurreição de Jesus foi feito primeiro às mulheres, enquanto que em Mateus e João, Jesus de fato "apareceu" primeiro para elas.<ref name="Stagg2" /> Especialmente nos [[evangelhos sinóticos]], as mulheres tiveram um papel central como testemunhas da morte, sepultamento e na descoberta do túmulo vazio.<ref>B. Gerhardsson, 'Mark and the Female Witnesses', in H. Behrens, D. Loding, and M. T. Roth, eds., ''Dumu-E2-Dub-Ba-A'' (A. W. Sjöberg FS; Occasional Papers of the Samuel Noah Kramer Fund 11; Philadelphia: The University Museum, 1989), pp. 219–220, 222–223; S. Byrskog, ''Story as History—History as Story'' (Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament Jerusalem Talmud 123; Tübingen: Mohr, 2000; remprinted Leiden: Brill, 2002), pp. 75–78; Richard Bauckham, ''Jesus and the Eyewitnesses'' (Eerdmans Publishing Company: Cambridge, 2006), p. 48.</ref>
Os quatro evangelhos relatam que as mulheres foram as primeiras a encontrar o túmulo vazio, embora o número varie de uma ([[Maria Madalena]]) até um número não especificado. De acordo com Marcos e Lucas, o "anúncio" da ressurreição de Jesus foi feito primeiro às mulheres, enquanto que em Mateus e João, Jesus de fato "apareceu" primeiro para elas.<ref name="Stagg2"/> Especialmente nos [[evangelhos sinóticos]], as mulheres tiveram um papel central como testemunhas da morte, sepultamento e na descoberta do túmulo vazio.<ref>B. Gerhardsson, 'Mark and the Female Witnesses', in H. Behrens, D. Loding, and M. T. Roth, eds., ''Dumu-E2-Dub-Ba-A'' (A. W. Sjöberg FS; Occasional Papers of the Samuel Noah Kramer Fund 11; Philadelphia: The University Museum, 1989), pp. 219–220, 222–223; S. Byrskog, ''Story as History—History as Story'' (Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament Jerusalem Talmud 123; Tübingen: Mohr, 2000; remprinted Leiden: Brill, 2002), pp. 75–78; Richard Bauckham, ''Jesus and the Eyewitnesses'' (Eerdmans Publishing Company: Cambridge, 2006), p. 48.</ref>


==== Aparições após a ressurreição ====
==== Aparições após a ressurreição ====
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== Historicidade e origem da narrativa ==
== Historicidade e origem da narrativa ==
[[Imagem:Anastasis Pio Christiano Inv31525.jpg|thumb|direita|220px|[[Chi Ro]] representando Jesus ressuscitado.<br /><small>350 d.C. Nos [[Museus Vaticanos]] (Museu Pio-Cristão).</small>]]
[[Imagem:Anastasis Pio Christiano Inv31525.jpg|thumb|upright|''Chi Ro representando Jesus ressuscitado'', {{DC|350|n}}, [[Museus Vaticanos]] (Museu Pio-Cristão)]]
[[Géza Vermes]], que considera a ressurreição como um dos conceitos fundamentais da fé cristã, apresentou oito possíveis teorias para explicá-la. Estas teorias abrangem todo um espectro que vai da negação completa do evento até a fé absoluta nele. As seis outras variantes incluem o roubo do corpo, a recuperação de um estado de [[coma]] e uma ressurreição espiritual, não corporal<ref>{{citar livro |título= The Resurrection: History and Myth |sobrenome= Vermes|nome= Geza|ano= 2008|editora= Doubleday|local= Nova Iorque|isbn= 978-0-7394-9969-6|página= xv}} Original in italics.</ref><ref name="ReferenceA">{{citar livro |título= The Resurrection: History and Myth |autorlink=Géza Vermes|sobrenome= Vermes|nome= Geza|ano= 2008|editora= Doubleday|local= Nova Iorque|isbn= 978-0-7394-9969-6|página= 141}}</ref> Vermes descarta as duas extremas, afirmando que elas ''"não são suscetíveis ao julgamento racional"''.<ref name="ReferenceA"/>


Géza Vermes, que considera a ressurreição como um dos conceitos fundamentais da fé cristã, apresentou oito possíveis teorias para explicá-la. Estas teorias abrangem todo um espectro que vai da negação completa do evento até a fé absoluta nele. As seis outras variantes incluem o roubo do corpo, a recuperação de um estado de [[coma]] e uma ressurreição espiritual, não corporal<ref>{{citar livro|título=The Resurrection: History and Myth|sobrenome=Vermes|nome=Geza|ano=2008|editora=Doubleday|local=Nova Iorque|isbn=978-0-7394-9969-6|página=xv}} Original in italics.</ref><ref name=verm>{{citar livro|título=The Resurrection: History and Myth|autorlink=Géza Vermes|sobrenome=Vermes|nome=Geza|ano=2008|editora=Doubleday|local=Nova Iorque|isbn=978-0-7394-9969-6|página=141}}</ref> Vermes descarta as duas extremas, afirmando que elas ''"não são suscetíveis ao julgamento racional"''.<ref name=verm/>
Diversos argumentos contra a historicidade da ressurreição também foram apresentados, como, por exemplo, o número de outras figuras históricas ou deuses sobre os quais existem relatos de morte e ressurreição semelhantes<ref name="RMB 14">[[Robert M. Price]], "The Empty Tomb: Introduction; The Second Life of Jesus." In {{citar livro |título= The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder| ano= 2005|editora= Prometheus Books|local= Amherst|isbn= 1-59102-286-X|página= 14}}</ref>{{Ref label2|b}}. De acordo com Peter Kirby, ''"muitos estudiosos duvidam da historicidade do túmulo vazio"''<ref>Peter Kirby, "The Case Against the Empty Tomb", In {{citar livro |título= The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder| ano= 2005|editora= Prometheus Books|local= Amherst|isbn= 1-59102-286-X|página= 233}}</ref>{{Ref label2|a}}. Porém, de acordo com uma pesquisa realizada por [[Gary Habermas]], 75% de todos os estudiosos do Novo Testamento, conservadores ou não, aceitam argumentos a favor do evento.<ref>Gary Habermas Experiences of the Risen Jesus [http://www.garyhabermas.com/articles/dialog_rexperience/dialog_rexperiences.htm Link]</ref> [[Robert M. Price]] alega que se a ressurreição pudesse, de fato, ser comprovada por evidências científicas ou históricas, o evento perderia suas qualidades milagrosas.<ref name="RMB 14"/> [[Helmut Koester]] escreveu que as teorias sobre a ressurreição foram originalmente [[epifania]]s e que os relatos mais detalhados do evento são de fontes secundárias e não se baseiam em registros históricos.<ref>Helmut Koester, ''Introduction to the New Testament, Vol. 2: History and Literature of Early Christianity.'' Walter de Gruyter, 2000. p. 64-65.</ref>


Diversos argumentos contra a historicidade da Ressurreição também foram apresentados, como, por exemplo, o número de outras figuras históricas ou deuses sobre os quais existem relatos de morte e ressurreição semelhantes.<ref name="RMB 14">[[Robert M. Price]], "The Empty Tomb: Introduction; The Second Life of Jesus." In {{citar livro|título=The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder|ano=2005|editora=Prometheus Books|local=Amherst|isbn=1-59102-286-X|página=14}}</ref>{{
De acordo com [[Richard. A. Burridge]], o consenso majoritário entre os acadêmicos bíblicos é que o gênero literário dos evangelhos é uma forma de biografia antiga e não uma narrativa mitológica.<ref>Burridge, R. A. (2006). Gospels. In J. W. Rogerson & Judith M. Lieu (Eds) ''The Oxford Handbook of Biblical Studies.'' Oxford: Oxford University Press. p. 437</ref> [[E.P. Sanders]] argumenta que uma conspiração para fomentar a crença na ressurreição provavelmente resultaria numa história mais consistente e que algumas das pessoas envolvidas nos eventos deram suas vidas para defender essa crença.<ref>"Jesus Christ." Encyclopædia Britannica, 2007. Encyclopædia Britannica Online. 10 janeiro de 2007</ref> [[James D.G. Dunn]] afirmou que, ainda que a experiência de Paulo com a ressurreição foi ''"de caráter visionário"'' e ''"não física e não material"'', os relatos nos evangelhos são de outra natureza..<ref>James D.G. Dunn, ''Jesus and the Spirit: A Study of the Religious and Charismatic Experience of Jesus and the First Christians as Reflected in the New Testament.'' Eerdmans, 1997. p. 115, 117.</ref>
nre|[[Robert M. Price]] indica os relatos de [[Adônis]], [[Apolônio de Tiana]], [[Asclépio]], [[Átis]], [[Empédocles]], [[Hércules]], [[Osíris]], [[Édipo]], [[Rômulo]], [[Tamuz]] e outros.<ref>[[Robert M. Price]], "The Empty Tomb: Introduction; The Second Life of Jesus." In {{citar livro|título=The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave|editor-nome1=Robert M.|editor-sobrenome1=Price|editor1-link=Robert M. Price|editor-nome2=Jeffrey Jay|editor-sobrenome2=Lowder|ano=2005|editora=Prometheus Books|local=Amherst|isbn=1-59102-286-X|páginas=14–15}}</ref>
}} De acordo com Peter Kirby, ''"muitos estudiosos duvidam da historicidade do túmulo vazio"''<ref>Peter Kirby, "The Case Against the Empty Tomb", In {{citar livro|título=The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder|ano=2005|editora=Prometheus Books|local=Amherst|isbn=1-59102-286-X|página=233}}</ref>{{
nre|Numa nota, Kirby escreve: ''"Uma lista muito abreviada de escritores sobre o Novo Testamento do século XX que não acreditam que o túmulo vazio é historicamente confiável: [[Marcus Borg]], [[Günther Bornkamm]], [[Gerald Bostock|Gerald Boldock Bostock]], [[Rudolf Bultmann]], [[Peter Carnley]], [[John Dominic Crossan]], Stevan Davies, [[Maurice Goguel]], [[Michael Goulder]], Hans Grass, Charles Guignebert, [[Uta Ranke-Heinemann]], Randel Helms, Herman Hendrikx, Roy Hoover, [[Helmut Koester]], [[Hans Küng]], [[Alfred Loisy]], [[Burton L. Mack]], Willi Marxsen, [[Gerd Lüdemann]], [[Norman Perrin]], [[Robert M. Price]], Marianne Sawicki, [[John Shelby Spong]], Howard M. Teeple e T. Theodore.".<ref>{{citar livro|título=The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1=Robert M.|editor-sobrenome1=Price|editor1-link= Robert M. Price|editor-nome2=Jeffrey Jay|editor-sobrenome2=Lowder|ano=2005|editora=Prometheus Books|local=Amherst|isbn=1-59102-286-X|páginas=256–257}}</ref>
}}. Porém, de acordo com uma pesquisa realizada por Gary Habermas, 75% de todos os estudiosos do Novo Testamento, conservadores ou não, aceitam argumentos a favor do evento.<ref>Gary Habermas Experiences of the Risen Jesus [http://www.garyhabermas.com/articles/dialog_rexperience/dialog_rexperiences.htm Link]</ref> [[Robert M. Price]] alega que se a ressurreição pudesse, de fato, ser comprovada por evidências científicas ou históricas, o evento perderia suas qualidades milagrosas.<ref name="RMB 14"/> Helmut Koester escreveu que as teorias sobre a ressurreição foram originalmente [[epifania]]s e que os relatos mais detalhados do evento são de fontes secundárias e não se baseiam em registros históricos.<ref>Helmut Koester, ''Introduction to the New Testament, Vol. 2: History and Literature of Early Christianity.'' Walter de Gruyter, 2000. p. 64-65.</ref>

De acordo com Richard. A. Burridge, o consenso majoritário entre os acadêmicos bíblicos é que o gênero literário dos evangelhos é uma forma de biografia antiga e não uma narrativa mitológica.<ref>Burridge, R. A. (2006). Gospels. In J. W. Rogerson & Judith M. Lieu (Eds) ''The Oxford Handbook of Biblical Studies.'' Oxford: Oxford University Press. p. 437</ref> E.P. Sanders argumenta que uma conspiração para fomentar a crença na ressurreição provavelmente resultaria numa história mais consistente e que algumas das pessoas envolvidas nos eventos deram suas vidas para defender essa crença.<ref>"Jesus Christ." Encyclopædia Britannica, 2007. Encyclopædia Britannica Online. 10 janeiro de 2007</ref> James D.G. Dunn afirmou que, ainda que a experiência de Paulo com a ressurreição foi ''"de caráter visionário"'' e ''"não física e não material"'', os relatos nos evangelhos são de outra natureza..<ref>James D.G. Dunn, ''Jesus and the Spirit: A Study of the Religious and Charismatic Experience of Jesus and the First Christians as Reflected in the New Testament.'' Eerdmans, 1997. p. 115, 117.</ref>


== Importância teológica ==
== Importância teológica ==
Na [[teologia cristã]], a ressurreição de Jesus é o fundamento da fé cristã. Os cristãos, {{citar bíblia|Colossenses|2|12|citação = pela fé no poder de Deus}}, serão corporalmente ressuscitados com Jesus na sua segunda vinda [[Parúsia]] {{citar bíblia|1 Tessalonicenses|4|14}} e são [[redenção (cristianismo)|redimidos]] para que {{citar bíblia|Romanos|6|4|citação=vivam uma nova vida}}. Como [[Paulo de Tarso|Paulo]] afirmou: {{citar bíblia|I Coríntios|15|4|citação = Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.}}.<ref>{{citar livro |título= The Resurrection: History and Myth |sobrenome= Vermes|nome= Geza|ano= 2008|editora= Doubleday|local= Nova Iorque|isbn= 978-0-7394-9969-6|página= xv}}.</ref>
Na [[teologia cristã]], a ressurreição de Jesus é o fundamento da fé cristã. Os cristãos, {{citar bíblia|Colossenses|2|12|citação=pela fé no poder de Deus}}, serão corporalmente ressuscitados com Jesus na sua segunda vinda ([[Parúsia]]) porque {{citar bíblia|1 Tessalonicenses|4|14|citação=Jesus morreu e ressuscitou e assim acontecerá com os que são dele|livro=1 Tessalonicenses|capítulo=4|verso=14}}, do mesmo modo, os cristãos são [[redenção|redimidos]] para que {{citar bíblia|Romanos|6|4|citação=vivam uma nova vida}}. Como [[Paulo de Tarso|Paulo]] afirmou: {{citar bíblia|I Coríntios|15|4|citação=Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.}}.<ref>{{citar livro|título=The Resurrection: History and Myth|sobrenome=Vermes|nome=Geza|ano=2008|editora=Doubleday|local=Nova Iorque|isbn=978-0-7394-9969-6|página=xv}}.</ref>
[[Imagem:Jouarre Saint-Pierre-et-Saint-Paul110235.JPG|esquerda|thumb|230px|"Ressurreição".<br /><small>[[Vitral]] na Igreja de São Pedro e São Paulo em [[Jouarre]], na França.</small>]]
[[Imagem:Jouarre Saint-Pierre-et-Saint-Paul110235.JPG|esquerda|thumb|upright|"Ressurreição".<br><small>[[Vitral]] na Igreja de São Pedro e São Paulo em [[Jouarre]], na França.</small>]]
Diversos estudiosos já apontaram que, na discussão sobre a ressurreição, Paulo ecoa um estilo de transmissão de conhecimento rabínica parte de uma tradição autoritativa antiga que ele recebeu e passou adiante para a igreja de [[Corinto]]. Por esta e por outras razões, é amplamente aceito que esta crença na ressurreição é de origem pré-paulina.<ref>Neufeld, ''The Earliest Christian Confessions'' (Grand Rapids: Eerdmans, 1964) p. 47; Reginald Fuller, ''The Formation of the Resurrection Narratives'' (New York: Macmillan, 1971) p. 10; Wolfhart Pannenberg, ''Jesus—God and Man'' translated Lewis Wilkins and Duane Pribe (Philadelphia: Westminster, 1968) p. 90; Oscar Cullmann, ''The Earlychurch: Studies in Early Christian History and Theology'', ed. A. J. B. Higgins (Philadelphia: Westminster, 1966) p. 64; Hans Conzelmann, ''1 Corinthians'', translated James W. Leitch (Philadelphia: Fortress 1969) p. 251; Bultmann, ''Theology of the New Testament'' vol. 1 pp. 45, 80–82, 293; R. E. Brown, ''The Virginal Conception and Bodily Resurrection of Jesus'' (New York: Paulist Press, 1973) pp. 81, 92</ref><ref name="autogenerated1">A maior parte dos membros do [[Jesus Seminar]] concluiu que esta tradição é anterior à [[conversão de Paulo]] ({{ca.}} 43. [[Robert W. Funk|Funk, Robert W.]] e o [[Jesus Seminar]]. ''The acts of Jesus: the search for the authentic deeds of Jesus.'' HarperSanFrancisco. 1998. "Empty Tomb, Appearances & Ascension" p. 449-495.</ref> [[Geza Vermes]] afirma que esta crença é ''"uma tradição que Paulo herdou dos que eram maiores que ele na fé na morte, sepultamento e ressurreição de Jesus"'' ([[#Epístolas paulinas|vide acima]])<ref>Geza Vermes (2008) ''The Resurrection''. London, Penguin: 121-2</ref> e sua origem foi a comunidade apostólica de Jerusalém, onde ela foi formalizada e passada adiante apenas alguns poucos anos depois da ressurreição.<ref>see Wolfhart Pannenberg, ''Jesus—God and Man'' translated Lewis Wilkins and Duane Pribe (Philadelphia: Westminster, 1968) p. 90; Oscar Cullmann, ''The Early church: Studies in Early Christian History and Theology'', ed. A. J. B. Higgins (Philadelphia: Westminster, 1966) p. 66–66; R. E. Brown, ''The Virginal Conception and Bodily Resurrection of Jesus'' (New York: Paulist Press, 1973) pp. 81; Thomas Sheehan, ''First Coming: How the Kingdom of God Became Christianity'' (New York: Random House, 1986) pp. 110, 118; Ulrich Wilckens, ''Resurrection'' translated A. M. Stewart (Edinburgh: Saint Andrew, 1977) p. 2; Hans Grass, ''Ostergeschen und Osterberichte'', Second Edition (Gottingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1962) p. 96; Grass favors the origin in Damascus.</ref> Paul Barret escreve que este tipo de credo é uma variante de ''"uma tradição primitiva básica que Paulo 'recebeu' em [[Damasco]] de [[Ananias de Damasco|Anananias]] por volta de 34 d.C."'' após a [[Conversão de Paulo|sua conversão]].<ref name="Paul Barnett 2009">Paul Barnett, ''Finding the Historical Christ'' (After Jesus Volume 3), Eerdmans, 2009. 182.</ref>
Diversos estudiosos já apontaram que, na discussão sobre a ressurreição, Paulo ecoa um estilo de transmissão de conhecimento rabínica parte de uma tradição autoritativa antiga que ele recebeu e passou adiante para a igreja de [[Corinto]]. Por esta e por outras razões, é amplamente aceito que esta crença na ressurreição é de origem pré-paulina.<ref>Neufeld, ''The Earliest Christian Confessions'' (Grand Rapids: Eerdmans, 1964) p. 47; Reginald Fuller, ''The Formation of the Resurrection Narratives'' (New York: Macmillan, 1971) p. 10; Wolfhart Pannenberg, ''Jesus—God and Man'' translated Lewis Wilkins and Duane Pribe (Philadelphia: Westminster, 1968) p. 90; Oscar Cullmann, ''The Earlychurch: Studies in Early Christian History and Theology'', ed. A. J. B. Higgins (Philadelphia: Westminster, 1966) p. 64; Hans Conzelmann, ''1 Corinthians'', translated James W. Leitch (Philadelphia: Fortress 1969) p. 251; Bultmann, ''Theology of the New Testament'' vol. 1 pp. 45, 80–82, 293; R. E. Brown, ''The Virginal Conception and Bodily Resurrection of Jesus'' (New York: Paulist Press, 1973) pp. 81, 92</ref><ref name="autogenerated1">A maior parte dos membros do [[Jesus Seminar]] concluiu que esta tradição é anterior à [[conversão de Paulo]] ({{DC|43|c=c}} [[Robert W. Funk|Funk, Robert W.]] e o [[Jesus Seminar]]. ''The acts of Jesus: the search for the authentic deeds of Jesus.'' HarperSanFrancisco. 1998. "Empty Tomb, Appearances & Ascension" p. 449-495.</ref> Geza Vermes afirma que esta crença é ''"uma tradição que Paulo herdou dos que eram maiores que ele na fé na morte, sepultamento e ressurreição de Jesus"'' ([[#Epístolas paulinas|vide acima]])<ref>Geza Vermes (2008) ''The Resurrection''. London, Penguin: 121-2</ref> e sua origem foi a comunidade apostólica de Jerusalém, onde ela foi formalizada e passada adiante apenas alguns poucos anos depois da ressurreição.<ref>see Wolfhart Pannenberg, ''Jesus—God and Man'' translated Lewis Wilkins and Duane Pribe (Philadelphia: Westminster, 1968) p. 90; Oscar Cullmann, ''The Early church: Studies in Early Christian History and Theology'', ed. A. J. B. Higgins (Philadelphia: Westminster, 1966) p. 66–66; R. E. Brown, ''The Virginal Conception and Bodily Resurrection of Jesus'' (New York: Paulist Press, 1973) pp. 81; Thomas Sheehan, ''First Coming: How the Kingdom of God Became Christianity'' (New York: Random House, 1986) pp. 110, 118; Ulrich Wilckens, ''Resurrection'' translated A. M. Stewart (Edinburgh: Saint Andrew, 1977) p. 2; Hans Grass, ''Ostergeschen und Osterberichte'', Second Edition (Gottingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1962) p. 96; Grass favors the origin in Damascus.</ref> Paul Barret escreve que este tipo de credo é uma variante de ''"uma tradição primitiva básica que Paulo 'recebeu' em [[Damasco]] de [[Ananias de Damasco|Anananias]] por volta de 34 d.C."'' após a [[Conversão de Paulo|sua conversão]].<ref name="Paul Barnett 2009">Paul Barnett, ''Finding the Historical Christ'' (After Jesus Volume 3), Eerdmans, 2009. 182.</ref>


A visão de Paulo era contrária aos ensinamentos dos filósofos gregos, para quem a ressurreição dos mortos significava uma nova prisão num corpo, que era o que eles queriam evitar, uma vez que para eles o corpóreo e o material aprisionavam o espírito.<ref>''Meditation and Piety in the Far East'' by Karl Ludvig Reichelt, Sverre Holth 2004 ISBN 0-227-17235-3 page 30</ref> Ao mesmo tempo, Paulo acreditava que o corpo recém-ressuscitado seria também um corpo celestial, imortal, glorificado, poderoso e [[pneuma|pneumático]], bem diferente do corpo terreno, que é mortal, desonrado, fraco e psíquico ({{lang-el|''psyche''}}).<ref>{{citar bíblia|I Coríntios|15|42|49}}, comentado por Dale B. Martin, ''The Corinthian Body'', Yale University Press, 1999. ISBN 0-300-08172-3 p. 126 in particular.</ref> De acordo com o teólogo [[Peter Carnley]], a ressurreição de Jesus é bem diferente da [[ressurreição de Lázaro]] pois ''"no caso de Lázaro, a pedra foi rolada para que ele pudesse sair... o Cristo ressuscitado não precisou que lhe rolassem a pedra, pois ele foi transformado e pode parecer onde quiser, quando quiser"''.<ref>[http://www.abc.net.au/rn/nationalinterest/stories/2000/121991.htm National Interest - Archbishop Peter Carnley]</ref>
A visão de Paulo era contrária aos ensinamentos dos filósofos gregos, para quem a ressurreição dos mortos significava uma nova prisão num corpo, que era o que eles queriam evitar, uma vez que para eles o corpóreo e o material aprisionavam o espírito.<ref>''Meditation and Piety in the Far East'' by Karl Ludvig Reichelt, Sverre Holth 2004 ISBN 0-227-17235-3 page 30</ref> Ao mesmo tempo, Paulo acreditava que o corpo recém-ressuscitado seria também um corpo celestial, imortal, glorificado, poderoso e [[pneuma|pneumático]], bem diferente do corpo terreno, que é mortal, desonrado, fraco e psíquico ({{lang-el|''psyche''}}).<ref>{{citar bíblia|I Coríntios|15|42|49}}, comentado por Dale B. Martin, ''The Corinthian Body'', Yale University Press, 1999. ISBN 0-300-08172-3 p. 126 in particular.</ref> De acordo com o teólogo Peter Carnley, a ressurreição de Jesus é bem diferente da [[ressurreição de Lázaro]] pois ''"no caso de Lázaro, a pedra foi rolada para que ele pudesse sair... o Cristo ressuscitado não precisou que lhe rolassem a pedra, pois ele foi transformado e pode parecer onde quiser, quando quiser"''.<ref>[http://www.abc.net.au/rn/nationalinterest/stories/2000/121991.htm National Interest - Archbishop Peter Carnley]</ref>


Terry Miethe, um filósofo cristão da [[Universidade de Oxford]], afirmou: ''"'Jesus ressuscitou dos mortos?' é a pergunta mais importante sobre os que alegam professar a fé cristã"''.<ref>Terry Miethe in Did Jesus Rise from the Dead? The Resurrection Debate, ed. Terry Miethe (San Francisco: Harper and Rw,1987), xi. Quoted by [[Michael Martin (philosopher)|Michael Martin]], "The Resurrection as Initially Improbable." In {{citar livro |título= The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder| ano= 2005|editora= Prometheus Books|local= Amherst|isbn= 1-59102-286-X|página= 44}}</ref>
Terry Miethe, um filósofo cristão da [[Universidade de Oxford]], afirmou: ''"'Jesus ressuscitou dos mortos?' é a pergunta mais importante sobre os que alegam professar a fé cristã"''.<ref>Terry Miethe in Did Jesus Rise from the Dead? The Resurrection Debate, ed. Terry Miethe (San Francisco: Harper and Rw,1987), xi. Quoted by [[Michael Martin]], "The Resurrection as Initially Improbable." In {{citar livro|título=The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave|editor-nome1=Robert M.|editor-sobrenome1=Price|editor1-link=Robert M. Price|editor-nome2=Jeffrey Jay|editor-sobrenome2=Lowder|ano=2005|editora=Prometheus Books|local=Amherst|isbn=1-59102-286-X|página=44}}</ref>


Alguns acadêmicos modernos se utilizam da crença dos seguidores de Jesus na ressurreição como um ponto de partida para estabelecer a continuidade entre o [[Jesus histórico]] e a proclamação (''[[kerigma]]'') da [[Igreja antiga]].<ref>Reginald H. Fuller, ''[[The Foundations of New Testament Christology]]'' (New York: Scribners, 1965), p. 11.</ref>
Alguns acadêmicos modernos se utilizam da crença dos seguidores de Jesus na ressurreição como um ponto de partida para estabelecer a continuidade entre o [[Jesus histórico]] e a proclamação (''[[kerigma]]'') da [[Igreja antiga]].<ref>Reginald H. Fuller, ''The Foundations of New Testament Christology'' (New York: Scribners, 1965), p. 11.</ref>


== Tradição cristã ==
== Tradição cristã ==
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=== Páscoa ===
=== Páscoa ===
{{AP|Páscoa}}
{{AP|Páscoa}}
A Páscoa é a mais importante e também a mais antiga festa cristã e celebra a ressurreição de Jesus.<ref>''Foundations of Christian Worship'' by Susan J. White 2006 ISBN 0-664-22924-7 page 55</ref> Desde a [[cristianismo primitivo|era apostólica]], seu objetivo tem sido o foco no [[redenção (cristianismo)|ato de redenção]] de Deus na morte e ressurreição de Cristo.<ref>''Mercer dictionary of the Bible'' by Watson E. Mills, Roger Aubrey Bullard 1998 ISBN 0-86554-373-9 page 224</ref>
A Páscoa é a mais importante e também a mais antiga festa cristã e celebra a ressurreição de Jesus.<ref>''Foundations of Christian Worship'' by Susan J. White 2006 ISBN 0-664-22924-7 page 55</ref> Desde a [[cristianismo primitivo|era apostólica]], seu objetivo tem sido o foco no ato de [[redenção]] de Deus na morte e ressurreição de Cristo.<ref>''Mercer dictionary of the Bible'' by Watson E. Mills, Roger Aubrey Bullard 1998 ISBN 0-86554-373-9 page 224</ref>
[[Imagem:Francesco Buoneri, called Cecco del Caravaggio - The Resurrection - Google Art Project.jpg|thumb|direita|220px|"Ressurreição de Jesus".<br /><small>1619–20. Por [[Francesco Buoneri]], atualmente no [[Art Institute of Chicago]].</small>]]
[[Imagem:Francesco Buoneri, called Cecco del Caravaggio - The Resurrection - Google Art Project.jpg|thumb|upright|"Ressurreição de Jesus".<br><small>1619–20. Por Francesco Buoneri, atualmente no [[Art Institute of Chicago]].</small>]]
Sua origem está ligada à [[Páscoa judaica]] (''[[Pessach]]'') e ao [[O Êxodo|Êxodo]] narrado no [[Antigo Testamento]], principalmente através da [[Última Ceia]] e à crucificação, eventos que precederam a ressurreição. De acordo com o Novo Testamento, Jesus deu novo significado à ceia de Páscoa (judaica) quando ele [[Jesus profetiza sua morte|preparou seus discípulos]] para sua morte no cenáculo durante a Última Ceia. Ao [[Instituição da Eucaristia|instituir a Eucaristia]], Jesus ligou o significado do pedaço de pão e da taça de vinho com [[Corpo de Cristo|seu corpo]], que seria sacrificado, e com [[Sangue de Cristo|seu sangue]], que seria derramado. Paulo pede em [[I Coríntios]]: {{citar bíblia|I Coríntios|5|7|citação=Purificai [Livra-te do] o velho fermento, para que sejais uma nova massa, assim como sois sem fermento. Pois, na verdade, Cristo, que é nossa páscoa, foi [[:wikt:imolar|imolado]]}}. Assim, ele relaciona [[Interpretação alegórica da Bíblia|alegoricamente]] o [[cordeiro de Páscoa]] judaico (''Korban Pesach''), que é sacrificado neste dia, com Jesus, que se tornou o [[Cordeiro de Deus]]. Além disso, Paulo faz referência ao requisito judaico de se comer o [[pão ázimo]] (sem fermento) neste dia.<ref>{{citar livro|editor=Barker, Kenneth|título=Zondervan NIV Study Bible|editora=[[Zondervan]]|local=[[Grand Rapids]]|ano=2002|isbn=0-310-92955-5|página=1520}}</ref>
Sua origem está ligada à [[Páscoa judaica]] (''[[Pessach]]'') e ao [[O Êxodo|Êxodo]] narrado no [[Antigo Testamento]], principalmente através da [[Última Ceia]] e à crucificação, eventos que precederam a ressurreição. De acordo com o Novo Testamento, Jesus deu novo significado à ceia de Páscoa (judaica) quando ele [[Jesus profetiza sua morte|preparou seus discípulos]] para sua morte no cenáculo durante a Última Ceia. Ao [[Instituição da Eucaristia|instituir a Eucaristia]], Jesus ligou o significado do pedaço de pão e da taça de vinho com [[Corpo de Cristo|seu corpo]], que seria sacrificado, e com [[Sangue de Cristo|seu sangue]], que seria derramado. Paulo pede em [[I Coríntios]]: {{citar bíblia|I Coríntios|5|7|citação=Purificai [Livra-te do] o velho fermento, para que sejais uma nova massa, assim como sois sem fermento. Pois, na verdade, Cristo, que é nossa páscoa, foi [[:wikt:imolar|imolado]]}}. Assim, ele relaciona [[Interpretação alegórica da Bíblia|alegoricamente]] o cordeiro de Páscoa judaico (''Korban Pesach''), que é sacrificado neste dia, com Jesus, que se tornou o [[Cordeiro de Deus]]. Além disso, Paulo faz referência ao requisito judaico de se comer o [[pão ázimo]] (sem fermento) neste dia.<ref>{{citar livro|editor=Barker, Kenneth|título=Zondervan NIV Study Bible|editora=[[Zondervan]]|local=[[Grand Rapids]]|ano=2002|isbn=0-310-92955-5|página=1520}}</ref>


=== Ressurreição e redenção ===
=== Ressurreição e redenção ===
{{AP|Redenção (cristianismo)}}
{{AP|Redenção}}
Durante a [[era apostólica]], a ressurreição era vista como a inauguração de um novo tempo. A tarefa de formar uma teologia da ressurreição coube a [[Paulo de Tarso]], para quem não era suficiente repetir de forma simplória doutrinas elementares, mas sim continuar, como ele mesmo afirma em [[Epístola aos Hebreus|Hebreus]], {{citar bíblia|Hebreus|6|1|citação = deixando a doutrina dos princípios elementares de Cristo, passemos à perfeição.}} Assim, a conexão entre a ressurreição de Cristo e a redenção é fundamental na teologia de Paulo,<ref>''The creed: the apostolic faith in contemporary theology'' by Berard L. Marthaler 2007 ISBN 0-89622-537-2 page 361</ref> pois ele entendia a primeira como a causa e a base da esperança de todos os cristãos de experimentar algo similar:
Durante a [[era apostólica]], a ressurreição era vista como a inauguração de um novo tempo. A tarefa de formar uma teologia da ressurreição coube a [[Paulo de Tarso]], para quem não era suficiente repetir de forma simplória doutrinas elementares, mas sim continuar, como ele mesmo afirma em [[Epístola aos Hebreus|Hebreus]], {{citar bíblia|Hebreus|6|1|citação=deixando a doutrina dos princípios elementares de Cristo, passemos à perfeição.}} Assim, a conexão entre a ressurreição de Cristo e a redenção é fundamental na teologia de Paulo,<ref>''The creed: the apostolic faith in contemporary theology'' by Berard L. Marthaler 2007 ISBN 0-89622-537-2 page 361</ref> pois ele entendia a primeira como a causa e a base da esperança de todos os cristãos de experimentar algo similar:
{{citação2|{{citar bíblia|I Coríntios|15|20|22|citação = Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem [o primeiro a ser ressuscitado]. Pois desde que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois assim como em [[Adão e Eva|Adão]] todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados.}}}}
{{citação2|{{citar bíblia|I Coríntios|15|20|22|citação=Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem [o primeiro a ser ressuscitado]. Pois desde que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois assim como em [[Adão e Eva|Adão]] todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados.}}}}


Os ensinamentos de Paulo se tornaram um elemento chave da tradição e da teologia cristãs. Ele ensinava que assim como os cristãos compartilham da morte de Jesus no batismo, eles também compartilharão de sua ressurreição.<ref name="Ehrman 2006">Ehrman, Bart. Peter, Paul, and Mary Magdalene: The Followers of Jesus in History and Legend. Oxford University Press, USA. 2006. ISBN 0-19-530013-0</ref>
Os ensinamentos de Paulo se tornaram um elemento chave da tradição e da teologia cristãs. Ele ensinava que assim como os cristãos compartilham da morte de Jesus no batismo, eles também compartilharão de sua ressurreição.<ref name="Ehrman 2006">Ehrman, Bart. Peter, Paul, and Mary Magdalene: The Followers of Jesus in History and Legend. Oxford University Press, USA. 2006. ISBN 0-19-530013-0</ref>


Os [[Padres Apostólicos]] discutiram a morte e a ressurreição de Jesus, incluindo [[Inácio de Antioquia]] (50-115),<ref>Inácio faz várias referências ''en passant'', mas duas discussões mais extensas podem ser encontradas em [[Epístola aos Trálios]] e na [[Epístola aos Esmirniotas]].</ref> [[Policarpo de Esmirna]] (69-155) e [[Justino Mártir]] (100-165). Depois da [[conversão de Constantino]] e do [[Édito de Milão]] (313), os [[Sete primeiros concílios ecumênicos|primeiros concílios ecumênicos]] até o século VI, que se focaram na [[cristologia]], ajudaram a formatar o entendimento cristão sobre a natureza redentora da ressurreição, influenciando tanto a [[liturgia]] quanto a [[iconografia]].<ref>''The Resurrection and the icon'' by Michel Quenot 1998 ISBN 0-88141-149-3 page 72</ref>
Os [[Padres Apostólicos]] discutiram a morte e a ressurreição de Jesus, incluindo [[Inácio de Antioquia]] (50-115),<ref>Inácio faz várias referências ''en passant'', mas duas discussões mais extensas podem ser encontradas em [[Epístola aos Trálios]] e na [[Epístola aos Esmirniotas]].</ref> [[Policarpo de Esmirna]] (69-155) e [[Justino Mártir]] (100-165). Depois da [[Batalha da Ponte Mílvia#Visão de Constantino|conversão de Constantino]] e do [[Édito de Milão]] (313), os [[Sete primeiros concílios ecumênicos|primeiros concílios ecumênicos]] até o século VI, que se focaram na [[cristologia]], ajudaram a formatar o entendimento cristão sobre a natureza redentora da ressurreição, influenciando tanto a [[liturgia]] quanto a [[iconografia]].<ref>''The Resurrection and the icon'' by Michel Quenot 1998 ISBN 0-88141-149-3 page 72</ref>


A crença na ressurreição dos corpos foi uma constante na [[Igreja antiga]] e em nenhum outro lugar ela foi defendida mais fortemente do que no [[norte da África]]. [[Agostinho de Hipona]] acreditava nisso quando se converteu em 386.<ref>''Augustine: ancient thought baptized'' by John M. Rist 1996 ISBN 0-521-58952-5 page 110</ref> Ele defendia a ressurreição e argumentava que como Cristo havia ressuscitado, haveria uma [[ressurreição dos mortos]].<ref>''Augustine and the Catechumenate'' by William Harmless 1995 ISBN 0-8146-6132-7 page 131</ref><ref>''Augustine De doctrina Christiana'' by Saint Augustine, R. P. H. Green 1996 ISBN 0-19-826334-1 page 115</ref> Além disso, ele defendia que a morte e a ressurreição de Jesus era para a salvação do homem ao afirmar que ''"para conseguir a ressurreição de cada um de nós, o Salvador pagou com sua única vida, e ele decretou previamente e apresentou sua única e singular vida na forma de sacramento e modelo"''.<ref>''The Trinity'' by Saint Augustine (Bishop of Hippo.), Edmund Hill, John E. Rotelle 1991 ISBN 0-911782-96-6 page 157</ref>
A crença na ressurreição dos corpos foi uma constante na [[Igreja antiga]] e em nenhum outro lugar ela foi defendida mais fortemente do que no [[norte da África]]. [[Agostinho de Hipona]] acreditava nisso quando se converteu em 386.<ref>''Augustine: ancient thought baptized'' by John M. Rist 1996 ISBN 0-521-58952-5 page 110</ref> Ele defendia a ressurreição e argumentava que como Cristo havia ressuscitado, haveria uma [[ressurreição dos mortos]].<ref>''Augustine and the Catechumenate'' by William Harmless 1995 ISBN 0-8146-6132-7 page 131</ref><ref>''Augustine De doctrina Christiana'' by Saint Augustine, R. P. H. Green 1996 ISBN 0-19-826334-1 page 115</ref> Além disso, ele defendia que a morte e a ressurreição de Jesus era para a salvação do homem ao afirmar que ''"para conseguir a ressurreição de cada um de nós, o Salvador pagou com sua única vida, e ele decretou previamente e apresentou sua única e singular vida na forma de sacramento e modelo"''.<ref>''The Trinity'' by Saint Augustine (Bishop of Hippo.), Edmund Hill, John E. Rotelle 1991 ISBN 0-911782-96-6 page 157</ref>
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=== Representações artísticas da ressurreição ===
=== Representações artísticas da ressurreição ===
Nas [[catacumbas de Roma]], os primeiros artistas cristãos apenas insinuavam a ressurreição utilizando imagens do Antigo Testamento, como a caldeira fumegante ou [[Daniel na cova dos leões]]. Representações anteriores ao século VII geralmente se valem de eventos secundários, como as [[Três Marias]] no túmulo para transmitir o conceito da ressurreição. Um dos primeiros símbolos da ressurreição foi o Chi Ro cingido, cuja origem remonta à vitória de [[Constantino I]] na [[Batalha da Ponte Mílvia]] (312), que ele atribuiu ao uso da cruz no escudo dos seus soldados. Constantino utilizava o Chi Ro como seu [[estandarte]] e suas moedas mostravam um [[:wikt:lábaro|lábaro]] com o Chi Ro matando uma serpente.<ref>''Understanding early Christian art'' by Robin Margaret Jensen 2000 ISBN 0-415-20454-2 page 149</ref>
{{AP|Ressurreição de Jesus na arte}}
Nas [[catacumbas de Roma]], os primeiros artistas cristãos apenas insinuavam a ressurreição utilizando imagens do Antigo Testamento, como a [[caldeira fumegante]] ou [[Daniel na cova dos leões]]. Representações anteriores ao século VII geralmente se valem de eventos secundários, como as [[Três Marias]] no túmulo para transmitir o conceito da ressurreição. Um dos primeiros símbolos da ressurreição foi o [[Chi Ro]] cingido, cuja origem remonta à vitória de [[Constantino I]] na [[Batalha da Ponte Mílvia]] (312), que ele atribuiu ao uso da cruz no escudo dos seus soldados. Constantino utilizava o Chi Ro como seu [[estandarte]] e suas moedas mostravam um [[:wikt:lábaro|lábaro]] com o Chi Ro matando uma serpente.<ref>''Understanding early Christian art'' by Robin Margaret Jensen 2000 ISBN 0-415-20454-2 page 149</ref>


O uso da [[:wikt:grinalda|grinalda]] à volta do Chi Ro simboliza a vitória da ressurreição sobre a morte e é uma representação primitiva da conexão entre a [[crucificação de Jesus]] e a sua triunfal ressurreição, como pode ser vista no [[sarcófago de Domitila]] (século IV) em [[Roma]]. Nele, num Chi Ro envolto em uma grinalda (cingido), a morte e a ressurreição de Cristo são representados como inseparáveis e esta não é vista apenas como meramente um "final feliz" ao final da vida de Jesus na terra. Dado o uso de símbolos similares no [[Áquila (Roma)|estandarte romano]], esta representação também transmitia outra vitória, a da fé cristã: os soldados romanos, que um dia [[prisão de Jesus|prenderam Jesus]] e o [[Jesus carregando a cruz|levaram até Calvário]], agora marchavam sob o estandarte do Cristo ressuscitado.<ref>''The passion in art'' by Richard Harries 2004 ISBN 0-7546-5011-1 page 8</ref>
O uso da [[:wikt:grinalda|grinalda]] à volta do Chi Ro simboliza a vitória da ressurreição sobre a morte e é uma representação primitiva da conexão entre a [[crucificação de Jesus]] e a sua triunfal ressurreição, como pode ser vista no sarcófago de Domitila (século IV) em [[Roma]]. Nele, num Chi Ro envolto em uma grinalda (cingido), a morte e a ressurreição de Cristo são representados como inseparáveis e esta não é vista apenas como meramente um "final feliz" ao final da vida de Jesus na terra. Dado o uso de símbolos similares no estandarte romano, esta representação também transmitia outra vitória, a da fé cristã: os soldados romanos, que um dia [[prisão de Jesus|prenderam Jesus]] e o [[Jesus carregando a cruz|levaram até Calvário]], agora marchavam sob o estandarte do Cristo ressuscitado.<ref>''The passion in art'' by Richard Harries 2004 ISBN 0-7546-5011-1 page 8</ref>


O significado cósmico da ressurreição na teologia ocidental remonta a [[Ambrósio de Milão]], que, no século IV, afirmou que ''"Em Cristo, o mundo ascendeu, o céu ascendeu, a terra ascendeu"''. Porém, este tema só se desenvolveu posteriormente na teologia e na arte ocidentais. Entretanto, algo completamente se deu no oriente, onde a ressurreição estava ligada à redenção, à renovação e ao renascimento do mundo todo desde muito antes. Na arte, este fato foi demonstrado pela combinação das representações da ressurreição com as da [[Descida de Cristo ao inferno]] nos ícones e nas pinturas. Um bom exemplo aparece na [[Igreja de Chora]] em [[Istambul]], na qual [[João Batista]], [[Salomão]] e outras figuras estão presentes, mostrando que Cristo não ressuscitou sozinho.<ref>''Images of redemption: art, literature and salvation'' by Patrick Sherry 2005 ISBN 0-567-08891-X page 73</ref>
O significado cósmico da ressurreição na teologia ocidental remonta a [[Ambrósio de Milão]], que, no século IV, afirmou que ''"Em Cristo, o mundo ascendeu, o céu ascendeu, a terra ascendeu"''. Porém, este tema só se desenvolveu posteriormente na teologia e na arte ocidentais. Entretanto, algo completamente se deu no oriente, onde a ressurreição estava ligada à redenção, à renovação e ao renascimento do mundo todo desde muito antes. Na arte, este fato foi demonstrado pela combinação das representações da ressurreição com as da [[Descida de Cristo ao inferno]] nos ícones e nas pinturas. Um bom exemplo aparece na [[Igreja de Chora]] em [[Istambul]], na qual [[João Batista]], [[Salomão]] e outras figuras estão presentes, mostrando que Cristo não ressuscitou sozinho.<ref>''Images of redemption: art, literature and salvation'' by Patrick Sherry 2005 ISBN 0-567-08891-X page 73</ref>


[[Imagem:Resurrection Pilon Louvre RF2292 MR1592 MR1593.jpg|thumb|centro|600px|"Cristo ressuscitado e soldados".<br /><small>{{ca.}} 1572. Por [[Germain Pilon]], atualmente no [[Louvre]].</small>]]
[[Imagem:Resurrection Pilon Louvre RF2292 MR1592 MR1593.jpg|thumb|centro|600px|''Cristo ressuscitado e soldados'', de [[Germain Pilon]], {{ca.|1572}}, atualmente no [[Museu do Louvre]]]]


== Visões não cristãs ==
== Visões não cristãs ==


=== Gnósticos ===
=== Gnósticos ===
[[Gnósticos]] não acreditam na ressurreição no sentido literal, físico: ''"Para o gnóstico, qualquer ressurreição dos mortos foi descartada desde o início; a carne ou a substância está destinada a perecer. 'Não há ressurreição da carne, somente da alma', afirmam os [[Arcônticos]], um grupo gnóstico tardio da Palestina"''.<ref>Kurt Rudolph, ''Gnosis: The Nature & History of Gnosticism'', page 190 (T & T Clark Ltd, 1970, second and expanded edition, 1980; 1998). ISBN 0-567-08640-2</ref>
Os [[gnósticos]] não acreditam na ressurreição no sentido literal, físico: ''"Para o gnóstico, qualquer ressurreição dos mortos foi descartada desde o início; a carne ou a substância está destinada a perecer. 'Não há ressurreição da carne, somente da alma', afirmam os [[Arcônticos]], um grupo gnóstico tardio da Palestina"''.<ref>Kurt Rudolph, ''Gnosis: The Nature & History of Gnosticism'', page 190 (T & T Clark Ltd, 1970, second and expanded edition, 1980; 1998). ISBN 0-567-08640-2</ref>
[[Imagem:Signorelli Resurrection.jpg|thumb|thumb|350px|[[Ressurreição dos mortos]].<br /><small>1499-1502. Por [[Luca Signorelli]], no [[Catedral de Orvieto|Domo de Orvieto]], na Itália.</small>]]
[[Imagem:Signorelli Resurrection.jpg|thumb|thumb|[[Ressurreição dos mortos]].<br><small>1499-1502. Por [[Luca Signorelli]], no [[Catedral de Orvieto|Domo de Orvieto]], na Itália.</small>]]


=== Judaísmo ===
=== Judaísmo ===
Jesus era judeu, mas o cristianismo teve berço no judaísmo do século I e as duas ideologias se diferenciaram em suas teologias desde então. De acordo com o ''[[Toledot Yeshu]]'', o corpo de Jesus foi removido na mesma noite por um jardineiro de Juda quando ele soube que os discípulos planejavam roubá-lo.<ref>Michael J. Cook, "Jewish Perspectives on Jesus", in Delbert Burkett (editor), ''The Blackwell Companion to Jesus'', pages 221-223 (Blackwell Publishing Ltd., 2011). ISBN 978-1-4051-9362-7</ref><ref>Gary R. Habermas, ''The Historical Jesus: Ancient Evidence for the Life of Christ'', page 205 (Thomas Nelson, Inc., 2008). ISBN 0-89900-732-5</ref> Contudo, o ''Toledot Yeshu'' não é considerada uma obra canônica ou normativa na [[literatura rabínica]].<ref>Dan, Joseph (2006). "Toledot Yeshu". In Michael Berenbaum and Fred Skolnik. Encyclopaedia Judaica. 20 (2nd ed.) pp. 28–29</ref> Van Voorst afirma que a obra é um documento medieval organizado sem uma forma fixa e que é "muito improvável" que contenha qualquer informação confiável sobre Jesus.<ref>Van Voorst, Robert E (2000). ''Jesus Outside the New Testament: An Introduction to the Ancient Evidence'' WmB Eerdmans Publishing. ISBN 0-8028-4368-9 page 128</ref> A obra "The Blackwell Companion to Jesus" afirma que ''Toledot Yeshu'' não apresenta seus fatos como históricos e que o texto foi criado como uma ferramenta para tentar impedir a conversão de judeus ao cristianismo.<ref>Michael J. Cook ''Jewish Perspectives on Jesus'' Chapter 14 in the "The Blackwell Companion to Jesus" edited by Delbert Burkett 2011 ISBN 978-1-4443-2794-6</ref>
{{AP|Jesus no Judaísmo}}
Jesus era Judeu, mas o cristianismo teve berço no judaísmo do século I e as duas ideologias se diferenciaram em suas teologias desde então. De acordo com o ''[[Toledot Yeshu]]'', o corpo de Jesus foi [[Hipótese do roubo do corpo|removido]] na mesma noite por um jardineiro de Juda quando ele soube que os discípulos planejavam roubá-lo.<ref>Michael J. Cook, "Jewish Perspectives on Jesus", in Delbert Burkett (editor), ''The Blackwell Companion to Jesus'', pages 221-223 (Blackwell Publishing Ltd., 2011). ISBN 978-1-4051-9362-7</ref><ref>Gary R. Habermas, ''The Historical Jesus: Ancient Evidence for the Life of Christ'', page 205 (Thomas Nelson, Inc., 2008). ISBN 0-89900-732-5</ref> Contudo, o ''Toledot Yeshu'' não é considerada uma obra canônica ou normativa na [[literatura rabínica]].<ref>Dan, Joseph (2006). "Toledot Yeshu". In Michael Berenbaum and Fred Skolnik. Encyclopaedia Judaica. 20 (2nd ed.) pp. 28–29</ref> Van Voorst afirma que a obra é um documento medieval organizado sem uma forma fixa e que é "muito improvável" que contenha qualquer informação confiável sobre Jesus.<ref>Van Voorst, Robert E (2000). ''Jesus Outside the New Testament: An Introduction to the Ancient Evidence'' WmB Eerdmans Publishing. ISBN 0-8028-4368-9 page 128</ref> A obra "The Blackwell Companion to Jesus" afirma que ''Toledot Yeshu'' não apresenta seus fatos como históricos e que o texto foi criado como uma ferramenta para tentar impedir a conversão de judeus ao cristianismo.<ref>Michael J. Cook ''Jewish Perspectives on Jesus'' Chapter 14 in the "The Blackwell Companion to Jesus" edited by Delbert Burkett 2011 ISBN 978-1-4443-2794-6</ref>


No século I a.C., controvérsias dividiam os diversos grupos judaicos. Os [[fariseus]] acreditavam na [[ressurreição dos mortos]] enquanto que os [[saduceus]], não. Estes não acreditavam na [[vida após a morte]], enquanto que os fariseus defendiam uma ressurreição literal dos corpos.<ref>{{citar web | sobrenome = Pecorino | nome = Philip | título = Section 3. The Resurrection of the Body | publicado = Philosophy of Religion | editora = Dr. Philip A. Pecorino | ano = 2001 | url = http://www2.sunysuffolk.edu/pecorip/SCCCWEB/ETEXTS/PHIL_of_RELIGION_TEXT/CHAPTER_7_SOULS/Resurrection.htm | acessodata = 13 de setembro de 2007 | arquivourl = https://web.archive.org/web/20130602050928/http://www2.sunysuffolk.edu/pecorip/SCCCWEB/ETEXTS/PHIL_of_RELIGION_TEXT/CHAPTER_7_SOULS/Resurrection.htm | arquivodata = 2013-06-02 | urlmorta = yes }}</ref> Os saduceus, líderes religiosos poderosos, rejeitavam também anjos, demônios e a lei oral dos fariseus. Contudo, os fariseus, cujas crenças evoluíram para o [[judaísmo rabínico]], eventualmente venceram a disputa (ou, ao menos, foram os sobreviventes). A promessa de uma ressurreição futura aparece na [[Torá]] e também em certas obras judaicas, como a [[Vida de Adão e Eva]] ({{ca.}} 100 a.C.) e no livro farisaico [[II Macabeus]] ({{ca.}} 124 a.C.).<ref name="Harris">[[Stephen L Harris|Harris, Stephen L.]], Understanding the Bible. Palo Alto: Mayfield. 1985.</ref>
No século I a.C., controvérsias dividiam os diversos grupos judaicos. Os [[fariseus]] acreditavam na [[ressurreição dos mortos]] enquanto que os [[saduceus]], não. Estes não acreditavam na [[vida após a morte]], enquanto que os fariseus defendiam uma ressurreição literal dos corpos.<ref>{{citation|sobrenome=Pecorino|nome=Philip|capítulo=Section 3. The Resurrection of the Body|título=Philosophy of Religion|editor-last=Pecorino|editor-first=Philip A. |ano=2001|url=http://www2.sunysuffolk.edu/pecorip/SCCCWEB/ETEXTS/PHIL_of_RELIGION_TEXT/CHAPTER_7_SOULS/Resurrection.htm|acessodata=13-9-2007|wayb=20130602050928|urlmorta=yes}}</ref> Os saduceus, líderes religiosos poderosos, rejeitavam também anjos, demônios e a lei oral dos fariseus. Contudo, os fariseus, cujas crenças evoluíram para o [[judaísmo rabínico]], eventualmente venceram a disputa (ou, ao menos, foram os sobreviventes). A promessa de uma ressurreição futura aparece na [[Torá]] e também em certas obras judaicas, como a [[Vida de Adão e Eva]] ({{AC|100|c=c}}) e no livro farisaico {{lknb|II|Macabeus}} ({{AC|c=c|124}}).<ref>Harris, Stephen L., Understanding the Bible. Palo Alto: Mayfield. 1985.</ref>


=== Islã ===
=== Islã ===
Os [[muçulmanos]] acreditam que Jesus, filho de Maria, era um profeta sagrado que proclamava uma mensagem divina. A perspectiva islâmica é a de que Jesus não foi crucificado e irá retornar no fim dos tempos: ''"Outrossim, Deus fê-lo ascender até Ele, porque é Poderoso, Prudentíssimo."''.<ref>[[Sura]] [http://myciw.org/modules.php?mop=modload&name=Alcorao&file=index&action=display 4:158].</ref> O [[Corão]] afirma, em [[Sura]] 4:157: '' "E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de [[Alá|Deus]], embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram, senão que isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam, quanto a isso, estão na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente em conjecturas; porém, o fato é que não o mataram.".<ref>[[Sura]] [http://myciw.org/modules.php?mop=modload&name=Alcorao&file=index&action=display 4:157].</ref>
{{main|Morte de Jesus no islã}}
Os [[muçulmanos]] acreditam que [[Jesus no islã|ʿĪsā]] (Jesus), filho de [[Maria no islã|Mariam]] (Maria), era um profeta sagrado que proclamava uma mensagem divina. A perspectiva islâmica é a de que Jesus não foi crucificado e irá retornar no fim dos tempos: ''"Outrossim, Deus fê-lo ascender até Ele, porque é Poderoso, Prudentíssimo."''.<ref>[[Sura]] [http://myciw.org/modules.php?mop=modload&name=Alcorao&file=index&action=display 4:158].</ref> O [[Corão]] afirma, em [[Sura]] 4:157: '' "E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de [[Alá|Deus]], embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram, senão que isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam, quanto a isso, estão na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente em conjecturas; porém, o fato é que não o mataram.".<ref>[[Sura]] [http://myciw.org/modules.php?mop=modload&name=Alcorao&file=index&action=display 4:157].</ref>


== Notas ==
== Notas ==
{{Reflist-nre|colwidth=32em}}
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{{Referências}}
{{Note label2|a}} Numa nota, Kirby escreve: ''"Uma lista muito abreviada de escritores sobre o Novo Testamento do século XX que não acreditam que o túmulo vazio é historicamente confiável: [[Marcus Borg]], [[Günther Bornkamm]], [[Gerald Bostock|Gerald Boldock Bostock]], [[Rudolf Bultmann]], [[Peter Carnley]], [[John Dominic Crossan]], Stevan Davies, [[Maurice Goguel]], [[Michael Goulder]], Hans Grass, Charles Guignebert, [[Uta Ranke-Heinemann]], Randel Helms, Herman Hendrikx, Roy Hoover, [[Helmut Koester]], [[Hans Küng]], [[Alfred Loisy]], [[Burton L. Mack]], Willi Marxsen, [[Gerd Lüdemann]], [[Norman Perrin]], [[Robert M. Price]], Marianne Sawicki, [[John Shelby Spong]], Howard M. Teeple e T. Theodore.".<ref>{{citar livro |título= The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder| ano= 2005|editora= Prometheus Books|local= Amherst|isbn= 1-59102-286-X| páginas= 256–257}}</ref>
{{Note label2|b}} [[Robert M. Price]] indica os relatos de [[Adônis]], [[Apolônio de Tiana]], [[Asclépio]], [[Átis]], [[Empédocles]], [[Hércules]], [[Osíris]], [[Édipo]], [[Rômulo]], [[Tamuz]] e outros.<ref>[[Robert M. Price]], "The Empty Tomb: Introduction; The Second Life of Jesus." In {{citar livro |título= The Empty Tomb: Jesus Beyond the Grave |editor-nome1 = Robert M.|editor-sobrenome1 = Price|editor1-link= Robert M. Price |editor-nome2 = Jeffrey Jay|editor-sobrenome2 = Lowder| ano= 2005|editora= Prometheus Books|local= Amherst|isbn= 1-59102-286-X| páginas= 14–15}}</ref>
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== Bibliografia ==
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Revisão das 04h04min de 22 de abril de 2024

Ressurreição, de Perugino, 1499-1500

A Ressurreição de Jesus é a fé cristã de que Jesus Cristo retornou à vida no domingo seguinte à sexta-feira na qual ele foi crucificado. É uma doutrina central da fé e da teologia cristã e parte do Credo Niceno: "Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme as Escrituras".[1][2] O acontecimento e especialmente a sua representação artística é conhecido como anástase (do grego: αναστασις; romaniz.: anastasis; "ato de elevar")[3]

No Novo Testamento, depois de ser crucificado pelos romanos, Jesus é ungido e sepultado num túmulo novo por José de Arimateia, ressuscita dos mortos[4] e aparece para muitas pessoas durante um período de quarenta dias, quando então ascende ao Céu para se sentar à direita do Pai. Os cristãos celebram a ressurreição no Domingo de Páscoa, o terceiro dia depois da Sexta-feira Santa, o dia da crucificação. A data da Páscoa correspondeu, a grosso modo, com a Páscoa judaica, o dia de observância dos judeus associado com o Êxodo, que é calculado como sendo a noite da primeira lua cheia depois do equinócio.[5]

A história da ressurreição aparece em mais de cinco diferentes locais na Bíblia. Em diversos episódios nos evangelhos canônicos, Jesus profetiza sua morte e posterior ressurreição, que ele afirma ser o plano de Deus Pai.[6] Os cristãos veem a ressurreição de Jesus como parte do plano de salvação e redenção através da expiação pelos pecados do homem.[7]

Estudiosos céticos questionaram a historicidade da ressurreição por séculos; por exemplo, "...o consenso acadêmico do século XIX e início do século XX descarta as narrativas sobre a ressurreição como sendo relatos tardios e lendários".[8] Diversos estudiosos modernos expressaram suas dúvidas sobre a historicidade dos relatos sobre a ressurreição e continuam debatendo suas origens,[9] enquanto que outros consideram os relatos bíblicos sobre o episódio como sendo derivados das experiências dos seguidores de Jesus e, particularmente, do apóstolo Paulo.[10][11]

Narrativa bíblica

Epístolas paulinas

Os mais antigos registros escritos da morte e ressurreição de Jesus são as cartas de Paulo, que foram escritas por volta de duas décadas após a morte de Jesus[12][13] e mostram que, neste período, os cristãos acreditavam firmemente no evento. Alguns estudiosos acreditam que elas tenham incorporado credos e hinos primitivos, escritos apenas uns poucos anos após a morte de Jesus e originados na comunidade cristã de Jerusalém.[14] Estes credos, mesmo inseridos nos textos do Novo Testamento, são uma fonte importante sobre este período do cristianismo primitivo (vide abaixo):

  • «acerca de seu Filho (que veio da descendência de Davi quanto à carne, e que foi com poder declarado Filho de Deus quanto ao espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos), Jesus Cristo nosso Senhor» (Romanos 1:3–4).[15]
  • «Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu Evangelho» (II Timóteo 2:8).[16]
  • «Pois eu vos entreguei primeiramente o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que foi ressuscitado ao terceiro dia segundo as Escrituras e que apareceu a Cefas e então aos doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte permanece até agora, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos;» (I Coríntios 15:3–7).
Ressurreição, de El Greco, 1569–1600, Museu do Prado, Madrid

Estas aparições neste último credo incluem aquelas aos membros mais proeminentes entre os seguidores de Jesus e, posteriormente, da igreja de Jerusalém, incluindo Tiago, irmão de Jesus, e os apóstolos, nomeando apenas Pedro (Cefas). O credo também faz referências a aparições para pessoas cujo nome não é citado. Hans Von Campenhausen e A. M. Hunter afirmaram, separadamente, que o texto deste credo cumpre os rigorosos critérios de historicidade e confiabilidade de origem.[17][18]

Evangelhos

Marcos

Logo após o nascer do sol no dia seguinte ao sabbath, três mulheres, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé, foram ungir o corpo de Jesus imaginando como é que conseguiriam rolar a pesada pedra que fechava o túmulo. Porém, elas a encontraram já rolada e viram um jovem sentado no túmulo que lhes contou que Jesus havia ressuscitado e que elas deveriam contar para Pedro e os apóstolos que Ele iria se encontrar com eles na Galileia, "como havia prometido". As mulheres correram e não contaram para ninguém (Marcos 16).

Mateus

Logo após o nascer do sol no dia seguinte ao sabbath, Maria Madalena e "a outra Maria" foram espiar o túmulo. Acompanhado de um terremoto, um anjo desceu dos céus e rolou a pedra na entrada. Ele diz para elas não terem medo e pede que elas contem aos discípulos que Jesus ressuscitou e que irá encontrá-los na Galileia. As mulheres se regojizaram e correram para contar as novidades aos discípulos, mas Jesus apareceu e repetiu o que foi dito pelo anjo. Os discípulos então foram para a Galileia e lá viram Jesus. Os soldados que guardavam o túmulo ficaram aterrorizados com o anjo e informaram aos sumo-sacerdotes. Furiosos, eles pagaram para que eles espalhassem a informação mentirosa de que os discípulos de Jesus haviam roubado o corpo "e esta notícia se há divulgado entre os judeus até o dia de hoje" (Mateus 28).

Lucas

Logo após o nascer do sol no dia seguinte ao sabbath algumas mulheres (Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago) foram ungir o corpo de Jesus. Elas encontraram a pedra já rolada e o túmulo vazio. Repentinamente, dois homens apareceram atrás delas e disseram que Jesus havia ressuscitado. As mulheres contaram aos discípulos, que não acreditaram nelas, com exceção de Pedro, que correu até a tumba. Ele descobriu a mortalha no túmulo e foi embora imaginando o que poderia ter acontecido.

No mesmo dia, Jesus apareceu para dois seguidores na estrada para Emaús. Eles só o reconheceram quando ele partiu o pão e deu graças, desaparecendo em seguida. Os dois imediatamente seguiram para Jerusalém, onde encontraram os discípulos excitados com a aparição de Jesus a Pedro. Quando eles começaram a contar a história, Jesus apareceu para todos eles, que ficam assustados, mas ele os convidou a tocarem no seu corpo, comerem com ele e explicou que nele as profecias se realizaram (Lucas 24).

João

Bem cedo no dia após o sabbath, antes do nascer do sol, Maria Madalena visitou o túmulo de Jesus e encontrou a pedra já rolada. Ela contou a Pedro e ao "discípulo amado", que correram para lá, encontraram apenas a mortalha e foram para casa. Maria viu dois anjos e Jesus, que ela não reconheceu de imediato. Ele pediu a ela que contasse aos discípulos que Jesus irá ascender ao Pai, o que ela se apressou para fazer.

Naquela tarde, Jesus apareceu entre eles, mesmo as portas estando trancadas, e lhes conferiu o poder sobre o pecado e o de perdoar. Uma semana depois, ele apareceu para Tomé, que não tinha acreditado até então. Quando ele tocou as chagas de Jesus, disse "Meu senhor, meu Deus", ao que Jesus respondeu "Creste, porque me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram" (João 20).

Atos dos Apóstolos

Na continuação do relato de Lucas, Jesus apareceu para diversas pessoas por quarenta dias, dando muitas provas de sua ressurreição e instruindo os apóstolos a não deixarem Jerusalém antes de serem batizados pelo Espírito Santo (Atos 1).

Principais temas

Jesus na Sepultura; James Tissot (século XIX)
Descida de Cristo ao inferno; Andrea de Bonaiuto (século XIV)
Jesus aparece para as mulheres; James Tissot (século XIX)

No Novo Testamento há três grupos de eventos relacionados à morte e ressurreição de Jesus: crucificação e sepultamento, no qual Jesus é colocado num novo túmulo após a sua morte, descoberta do túmulo vazio e as aparições após a ressurreição.

Sepultamento

Ver artigo principal: Sepultamento de Jesus

Todos os quatro evangelhos afirmam que, no final da tarde do dia da crucificação, José de Arimateia pediu a Pilatos permissão para levar o corpo de Jesus e que, após ter sido atendido, José retirou o corpo da cruz, envolveu-o numa mortalha de linho e o colocou no túmulo.[19] Este ritual estava de acordo com a Lei Mosaica (Deuteronômio 21:22–23), que afirmava que uma pessoa enforcada numa árvore não deve ficar lá à noite e deve ser enterrada antes do pôr-do-sol.[20]

Em Mateus, José de Arimateia foi identificado como sendo «...também discípulo de Jesus» (Mateus 27:57); Marcos acrescenta que ele era um «...ilustre membro do sinédrio, que também esperava o reino de Deus» (Marcos 15:43). Lucas diz que ele era «...membro do sinédrio, homem bom e justo (que não anuíra ao propósito e ato dos outros), de Arimateia, cidade dos judeus, o qual esperava o reino de Deus.» (Lucas 23:50–51). Finalmente, João apenas identifica-o como «discípulo de Jesus» (João 19:38).

O Evangelho de Marcos afirma que, quando José pediu o corpo de Jesus, Pilatos ficou espantado por Jesus já estar morto e enviou um centurião para confirmar a morte antes de entregar a José o corpo. João relata que José teve o auxílio de Nicodemos, que trouxe uma mistura de mirra e aloés, misturando os perfumes na mortalha, como era o costume dos judeus.

Morte de Jesus durante os três dias

Os trechos em itálico abaixo, do Novo Testamento, comentam sobre a morte e ressurreição de Jesus e o período no qual ele esteve no túmulo:

O apóstolo Pedro dá um sermão cinquenta dias após a ressurreição no qual ele afirma: «Irmãos, é-me permitido dizer-vos ousadamente acerca do patriarca David, que ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo está entre nós até hoje. Sendo, pois, profeta, e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes seria colocado sobre o seu trono; prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que nem foi deixado no Hades, nem o seu corpo viu a corrupção.» (Atos 2:29–31)

Pedro, agora em sua primeira epístola, diz: «Assim também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus, sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no Espírito, no qual também foi pregar aos espíritos em prisão (I Pedro 3:18–20)

Estas passagens formam a base teológica que sustenta a frase "Ele desceu ao inferno" que consta no Credo dos Apóstolos e deu origem à tradição da Descida de Cristo aos infernos. De acordo com a fé católica, Jesus foi à Mansão dos mortos para libertar os espíritos dos justos que lá estavam presos, e que ainda não podiam entrar na glória celeste.

Descoberta do túmulo vazio

Ver artigos principais: Túmulo vazio, Três Marias e Noli me tangere

Embora nenhum evangelho apresente um relato que inclua todos os episódios sobre a Ressurreição e as aparições, eles concordam em quatro pontos[21]:

  1. A atenção dada à pedra que fechava a entrada do túmulo.
  2. A ligação da tradição do túmulo vazio com a visita das mulheres "no primeiro dia da semana".
  3. Que Jesus ressuscitado escolheu aparecer pela primeira vez para mulheres (ou mulher) e pedir-lhes (ou lhe) que proclamassem este importante fato para os discípulos, incluindo Pedro e os demais apóstolos;
  4. A proeminência de Maria Madalena;[22][23][24]

Já as diferenças aparecem em torno da hora precisa da visita ao túmulo, o número e identidade das mulheres; o propósito da visita; a aparição de outros mensageiros - angélicos ou humanos, a mensagem deles para as mulheres e a resposta delas.[22]

Os quatro evangelhos relatam que as mulheres foram as primeiras a encontrar o túmulo vazio, embora o número varie de uma (Maria Madalena) até um número não especificado. De acordo com Marcos e Lucas, o "anúncio" da ressurreição de Jesus foi feito primeiro às mulheres, enquanto que em Mateus e João, Jesus de fato "apareceu" primeiro para elas.[22] Especialmente nos evangelhos sinóticos, as mulheres tiveram um papel central como testemunhas da morte, sepultamento e na descoberta do túmulo vazio.[25]

Aparições após a ressurreição

Após a descoberta do túmulo vazio, os evangelhos relatam que Jesus apareceu diversas vezes para os discípulos. Entre elas estão a aparição para os discípulos no cenáculo, onde Tomé não acreditou até ser convidado a por seus dedos nas chagas de Jesus, a aparição na estrada para Emaús e no Mar da Galileia para encorajar Pedro a servir seus seguidores. Sua aparição final ocorreu quarenta dias após a ressurreição, quando Jesus ascendeu ao céu, onde ele está com o Pai e o Espírito Santo até o dia do seu retorno.

Logo depois, na estrada para Damasco, Saulo de Tarso se converteu ao cristianismo (e trocou seu nome para Paulo) com base numa visão que teve de Jesus e se tornou um dos mais importantes missionários e teólogos da religião nascente.

Historicidade e origem da narrativa

Chi Ro representando Jesus ressuscitado, 350 d.C., Museus Vaticanos (Museu Pio-Cristão)

Géza Vermes, que considera a ressurreição como um dos conceitos fundamentais da fé cristã, apresentou oito possíveis teorias para explicá-la. Estas teorias abrangem todo um espectro que vai da negação completa do evento até a fé absoluta nele. As seis outras variantes incluem o roubo do corpo, a recuperação de um estado de coma e uma ressurreição espiritual, não corporal[26][27] Vermes descarta as duas extremas, afirmando que elas "não são suscetíveis ao julgamento racional".[27]

Diversos argumentos contra a historicidade da Ressurreição também foram apresentados, como, por exemplo, o número de outras figuras históricas ou deuses sobre os quais existem relatos de morte e ressurreição semelhantes.[28][a] De acordo com Peter Kirby, "muitos estudiosos duvidam da historicidade do túmulo vazio"[30][b]. Porém, de acordo com uma pesquisa realizada por Gary Habermas, 75% de todos os estudiosos do Novo Testamento, conservadores ou não, aceitam argumentos a favor do evento.[32] Robert M. Price alega que se a ressurreição pudesse, de fato, ser comprovada por evidências científicas ou históricas, o evento perderia suas qualidades milagrosas.[28] Helmut Koester escreveu que as teorias sobre a ressurreição foram originalmente epifanias e que os relatos mais detalhados do evento são de fontes secundárias e não se baseiam em registros históricos.[33]

De acordo com Richard. A. Burridge, o consenso majoritário entre os acadêmicos bíblicos é que o gênero literário dos evangelhos é uma forma de biografia antiga e não uma narrativa mitológica.[34] E.P. Sanders argumenta que uma conspiração para fomentar a crença na ressurreição provavelmente resultaria numa história mais consistente e que algumas das pessoas envolvidas nos eventos deram suas vidas para defender essa crença.[35] James D.G. Dunn afirmou que, ainda que a experiência de Paulo com a ressurreição foi "de caráter visionário" e "não física e não material", os relatos nos evangelhos são de outra natureza..[36]

Importância teológica

Na teologia cristã, a ressurreição de Jesus é o fundamento da fé cristã. Os cristãos, «pela fé no poder de Deus» (Colossenses 2:12), serão corporalmente ressuscitados com Jesus na sua segunda vinda (Parúsia) porque «Jesus morreu e ressuscitou e assim acontecerá com os que são dele» (1 Tessalonicenses 4:14), do mesmo modo, os cristãos são redimidos para que «vivam uma nova vida» (Romanos 6:4). Como Paulo afirmou: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.» (I Coríntios 15:4).[37]

"Ressurreição".
Vitral na Igreja de São Pedro e São Paulo em Jouarre, na França.

Diversos estudiosos já apontaram que, na discussão sobre a ressurreição, Paulo ecoa um estilo de transmissão de conhecimento rabínica parte de uma tradição autoritativa antiga que ele recebeu e passou adiante para a igreja de Corinto. Por esta e por outras razões, é amplamente aceito que esta crença na ressurreição é de origem pré-paulina.[38][39] Geza Vermes afirma que esta crença é "uma tradição que Paulo herdou dos que eram maiores que ele na fé na morte, sepultamento e ressurreição de Jesus" (vide acima)[40] e sua origem foi a comunidade apostólica de Jerusalém, onde ela foi formalizada e passada adiante apenas alguns poucos anos depois da ressurreição.[41] Paul Barret escreve que este tipo de credo é uma variante de "uma tradição primitiva básica que Paulo 'recebeu' em Damasco de Anananias por volta de 34 d.C." após a sua conversão.[42]

A visão de Paulo era contrária aos ensinamentos dos filósofos gregos, para quem a ressurreição dos mortos significava uma nova prisão num corpo, que era o que eles queriam evitar, uma vez que para eles o corpóreo e o material aprisionavam o espírito.[43] Ao mesmo tempo, Paulo acreditava que o corpo recém-ressuscitado seria também um corpo celestial, imortal, glorificado, poderoso e pneumático, bem diferente do corpo terreno, que é mortal, desonrado, fraco e psíquico (em grego: psyche).[44] De acordo com o teólogo Peter Carnley, a ressurreição de Jesus é bem diferente da ressurreição de Lázaro pois "no caso de Lázaro, a pedra foi rolada para que ele pudesse sair... o Cristo ressuscitado não precisou que lhe rolassem a pedra, pois ele foi transformado e pode parecer onde quiser, quando quiser".[45]

Terry Miethe, um filósofo cristão da Universidade de Oxford, afirmou: "'Jesus ressuscitou dos mortos?' é a pergunta mais importante sobre os que alegam professar a fé cristã".[46]

Alguns acadêmicos modernos se utilizam da crença dos seguidores de Jesus na ressurreição como um ponto de partida para estabelecer a continuidade entre o Jesus histórico e a proclamação (kerigma) da Igreja antiga.[47]

Tradição cristã

A ressurreição de Jesus é de importância central para a fé cristã e aparece em diversos elementos da tradição, como festas, representações artísticas e relíquias religiosas. Na doutrina cristã, os sacramentos derivam seu poder salvador da Paixão e ressurreição de Cristo, da qual a salvação do mundo inteiro depende.[48]

Um exemplo da interconexão entre ensinamentos sobre a ressurreição e as relíquias é a aplicação do conceito da "formação milagrosa da imagem" no momento da ressurreição no Sudário de Turim. Autores cristãos afirmam sua crença de que o corpo que estava embrulhado pelo sudário não era simplesmente humano, mas divino, e que a imagem no sudário foi produzida milagrosamente no momento da ressurreição.[49][50] Citando o papa Paulo VI, de que o sudário é "um documento maravilhoso sobre Sua Paixão, Morte e Ressurreição, escrito para nós em letras de sangue", o autor Antonio Cassanelli argumenta que o sudário é um registro divino deliberado dos cinco estágios da Paixão, criado no momento da ressurreição.[51]

Páscoa

Ver artigo principal: Páscoa

A Páscoa é a mais importante e também a mais antiga festa cristã e celebra a ressurreição de Jesus.[52] Desde a era apostólica, seu objetivo tem sido o foco no ato de redenção de Deus na morte e ressurreição de Cristo.[53]

"Ressurreição de Jesus".
1619–20. Por Francesco Buoneri, atualmente no Art Institute of Chicago.

Sua origem está ligada à Páscoa judaica (Pessach) e ao Êxodo narrado no Antigo Testamento, principalmente através da Última Ceia e à crucificação, eventos que precederam a ressurreição. De acordo com o Novo Testamento, Jesus deu novo significado à ceia de Páscoa (judaica) quando ele preparou seus discípulos para sua morte no cenáculo durante a Última Ceia. Ao instituir a Eucaristia, Jesus ligou o significado do pedaço de pão e da taça de vinho com seu corpo, que seria sacrificado, e com seu sangue, que seria derramado. Paulo pede em I Coríntios: «Purificai [Livra-te do] o velho fermento, para que sejais uma nova massa, assim como sois sem fermento. Pois, na verdade, Cristo, que é nossa páscoa, foi imolado» (I Coríntios 5:7). Assim, ele relaciona alegoricamente o cordeiro de Páscoa judaico (Korban Pesach), que é sacrificado neste dia, com Jesus, que se tornou o Cordeiro de Deus. Além disso, Paulo faz referência ao requisito judaico de se comer o pão ázimo (sem fermento) neste dia.[54]

Ressurreição e redenção

Ver artigo principal: Redenção

Durante a era apostólica, a ressurreição era vista como a inauguração de um novo tempo. A tarefa de formar uma teologia da ressurreição coube a Paulo de Tarso, para quem não era suficiente repetir de forma simplória doutrinas elementares, mas sim continuar, como ele mesmo afirma em Hebreus, «deixando a doutrina dos princípios elementares de Cristo, passemos à perfeição.» (Hebreus 6:1) Assim, a conexão entre a ressurreição de Cristo e a redenção é fundamental na teologia de Paulo,[55] pois ele entendia a primeira como a causa e a base da esperança de todos os cristãos de experimentar algo similar:

«Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem [o primeiro a ser ressuscitado]. Pois desde que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados.» (I Coríntios 15:20–22)

Os ensinamentos de Paulo se tornaram um elemento chave da tradição e da teologia cristãs. Ele ensinava que assim como os cristãos compartilham da morte de Jesus no batismo, eles também compartilharão de sua ressurreição.[56]

Os Padres Apostólicos discutiram a morte e a ressurreição de Jesus, incluindo Inácio de Antioquia (50-115),[57] Policarpo de Esmirna (69-155) e Justino Mártir (100-165). Depois da conversão de Constantino e do Édito de Milão (313), os primeiros concílios ecumênicos até o século VI, que se focaram na cristologia, ajudaram a formatar o entendimento cristão sobre a natureza redentora da ressurreição, influenciando tanto a liturgia quanto a iconografia.[58]

A crença na ressurreição dos corpos foi uma constante na Igreja antiga e em nenhum outro lugar ela foi defendida mais fortemente do que no norte da África. Agostinho de Hipona acreditava nisso quando se converteu em 386.[59] Ele defendia a ressurreição e argumentava que como Cristo havia ressuscitado, haveria uma ressurreição dos mortos.[60][61] Além disso, ele defendia que a morte e a ressurreição de Jesus era para a salvação do homem ao afirmar que "para conseguir a ressurreição de cada um de nós, o Salvador pagou com sua única vida, e ele decretou previamente e apresentou sua única e singular vida na forma de sacramento e modelo".[62]

A teologia do século V de Teodoro de Mopsuéstia nos dá uma pista sobre o desenvolvimento do entendimento dos cristãos sobre a natureza redentora da ressurreição. O papel crucial dos sacramentos na mediação da salvação era bem aceito na época. Na representação da Eucaristia da época - e no entendimento de Teodoro - os elementos sacrificiais e salvíficos eram combinados "N'Aquele que nos salvou e nos libertou através de Seu sacrifício". Porém, ele se concentra muito mais em seu triunfo sobre o poder da morte (salvação) na ressurreição do que na redenção (sacrifício).[63]

Esta ênfase na natureza salvadora da ressurreição continuou na teologia cristã dos séculos seguintes. No século VIII, João Damasceno escreveu que: "... quando ele libertou aqueles que estavam presos desde o princípio dos tempos, Cristo retornou novamente dos mortos, abrindo para nós o caminho para a ressurreição" (vide Descida de Cristo ao inferno) e iconografia cristã nos anos seguintes é um retrato desta ênfase.[64]

Representações artísticas da ressurreição

Nas catacumbas de Roma, os primeiros artistas cristãos apenas insinuavam a ressurreição utilizando imagens do Antigo Testamento, como a caldeira fumegante ou Daniel na cova dos leões. Representações anteriores ao século VII geralmente se valem de eventos secundários, como as Três Marias no túmulo para transmitir o conceito da ressurreição. Um dos primeiros símbolos da ressurreição foi o Chi Ro cingido, cuja origem remonta à vitória de Constantino I na Batalha da Ponte Mílvia (312), que ele atribuiu ao uso da cruz no escudo dos seus soldados. Constantino utilizava o Chi Ro como seu estandarte e suas moedas mostravam um lábaro com o Chi Ro matando uma serpente.[65]

O uso da grinalda à volta do Chi Ro simboliza a vitória da ressurreição sobre a morte e é uma representação primitiva da conexão entre a crucificação de Jesus e a sua triunfal ressurreição, como pode ser vista no sarcófago de Domitila (século IV) em Roma. Nele, num Chi Ro envolto em uma grinalda (cingido), a morte e a ressurreição de Cristo são representados como inseparáveis e esta não é vista apenas como meramente um "final feliz" ao final da vida de Jesus na terra. Dado o uso de símbolos similares no estandarte romano, esta representação também transmitia outra vitória, a da fé cristã: os soldados romanos, que um dia prenderam Jesus e o levaram até Calvário, agora marchavam sob o estandarte do Cristo ressuscitado.[66]

O significado cósmico da ressurreição na teologia ocidental remonta a Ambrósio de Milão, que, no século IV, afirmou que "Em Cristo, o mundo ascendeu, o céu ascendeu, a terra ascendeu". Porém, este tema só se desenvolveu posteriormente na teologia e na arte ocidentais. Entretanto, algo completamente se deu no oriente, onde a ressurreição estava ligada à redenção, à renovação e ao renascimento do mundo todo desde muito antes. Na arte, este fato foi demonstrado pela combinação das representações da ressurreição com as da Descida de Cristo ao inferno nos ícones e nas pinturas. Um bom exemplo aparece na Igreja de Chora em Istambul, na qual João Batista, Salomão e outras figuras estão presentes, mostrando que Cristo não ressuscitou sozinho.[67]

Cristo ressuscitado e soldados, de Germain Pilon, c. 1572, atualmente no Museu do Louvre

Visões não cristãs

Gnósticos

Os gnósticos não acreditam na ressurreição no sentido literal, físico: "Para o gnóstico, qualquer ressurreição dos mortos foi descartada desde o início; a carne ou a substância está destinada a perecer. 'Não há ressurreição da carne, somente da alma', afirmam os Arcônticos, um grupo gnóstico tardio da Palestina".[68]

Ressurreição dos mortos.
1499-1502. Por Luca Signorelli, no Domo de Orvieto, na Itália.

Judaísmo

Jesus era judeu, mas o cristianismo teve berço no judaísmo do século I e as duas ideologias se diferenciaram em suas teologias desde então. De acordo com o Toledot Yeshu, o corpo de Jesus foi removido na mesma noite por um jardineiro de Juda quando ele soube que os discípulos planejavam roubá-lo.[69][70] Contudo, o Toledot Yeshu não é considerada uma obra canônica ou normativa na literatura rabínica.[71] Van Voorst afirma que a obra é um documento medieval organizado sem uma forma fixa e que é "muito improvável" que contenha qualquer informação confiável sobre Jesus.[72] A obra "The Blackwell Companion to Jesus" afirma que Toledot Yeshu não apresenta seus fatos como históricos e que o texto foi criado como uma ferramenta para tentar impedir a conversão de judeus ao cristianismo.[73]

No século I a.C., controvérsias dividiam os diversos grupos judaicos. Os fariseus acreditavam na ressurreição dos mortos enquanto que os saduceus, não. Estes não acreditavam na vida após a morte, enquanto que os fariseus defendiam uma ressurreição literal dos corpos.[74] Os saduceus, líderes religiosos poderosos, rejeitavam também anjos, demônios e a lei oral dos fariseus. Contudo, os fariseus, cujas crenças evoluíram para o judaísmo rabínico, eventualmente venceram a disputa (ou, ao menos, foram os sobreviventes). A promessa de uma ressurreição futura aparece na Torá e também em certas obras judaicas, como a Vida de Adão e Eva (c. 100 a.C.) e no livro farisaico II Macabeus (c. 124 a.C.).[75]

Islã

Os muçulmanos acreditam que Jesus, filho de Maria, era um profeta sagrado que proclamava uma mensagem divina. A perspectiva islâmica é a de que Jesus não foi crucificado e irá retornar no fim dos tempos: "Outrossim, Deus fê-lo ascender até Ele, porque é Poderoso, Prudentíssimo.".[76] O Corão afirma, em Sura 4:157: "E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Deus, embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram, senão que isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam, quanto a isso, estão na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente em conjecturas; porém, o fato é que não o mataram.".[77]

Notas

  1. Robert M. Price indica os relatos de Adônis, Apolônio de Tiana, Asclépio, Átis, Empédocles, Hércules, Osíris, Édipo, Rômulo, Tamuz e outros.[29]
  2. Numa nota, Kirby escreve: "Uma lista muito abreviada de escritores sobre o Novo Testamento do século XX que não acreditam que o túmulo vazio é historicamente confiável: Marcus Borg, Günther Bornkamm, Gerald Boldock Bostock, Rudolf Bultmann, Peter Carnley, John Dominic Crossan, Stevan Davies, Maurice Goguel, Michael Goulder, Hans Grass, Charles Guignebert, Uta Ranke-Heinemann, Randel Helms, Herman Hendrikx, Roy Hoover, Helmut Koester, Hans Küng, Alfred Loisy, Burton L. Mack, Willi Marxsen, Gerd Lüdemann, Norman Perrin, Robert M. Price, Marianne Sawicki, John Shelby Spong, Howard M. Teeple e T. Theodore.".[31]

Referências

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  2. Tradução para o português em «Credo Niceno-Constantinopolitano». Ekklesia.com. Consultado em 13 de janeiro de 2012 
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  39. A maior parte dos membros do Jesus Seminar concluiu que esta tradição é anterior à conversão de Paulo (c. 43 d.C. Funk, Robert W. e o Jesus Seminar. The acts of Jesus: the search for the authentic deeds of Jesus. HarperSanFrancisco. 1998. "Empty Tomb, Appearances & Ascension" p. 449-495.
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  41. see Wolfhart Pannenberg, Jesus—God and Man translated Lewis Wilkins and Duane Pribe (Philadelphia: Westminster, 1968) p. 90; Oscar Cullmann, The Early church: Studies in Early Christian History and Theology, ed. A. J. B. Higgins (Philadelphia: Westminster, 1966) p. 66–66; R. E. Brown, The Virginal Conception and Bodily Resurrection of Jesus (New York: Paulist Press, 1973) pp. 81; Thomas Sheehan, First Coming: How the Kingdom of God Became Christianity (New York: Random House, 1986) pp. 110, 118; Ulrich Wilckens, Resurrection translated A. M. Stewart (Edinburgh: Saint Andrew, 1977) p. 2; Hans Grass, Ostergeschen und Osterberichte, Second Edition (Gottingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1962) p. 96; Grass favors the origin in Damascus.
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  57. Inácio faz várias referências en passant, mas duas discussões mais extensas podem ser encontradas em Epístola aos Trálios e na Epístola aos Esmirniotas.
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Bibliografia

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