Zezé Macedo
Maria José de Macedo, conhecida artisticamente como Zezé Macedo (Silva Jardim, 6 de maio de 1916 – Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1999), foi uma comediante e atriz brasileira de rádio, cinema e televisão. Foi a recordista feminina no Brasil em participações de cinema, tendo feito 108 filmes. Seu tipo físico, magra e baixa, sempre lhe garantiu papéis cômicos, apesar de ter sempre afirmado que também gostaria de representar papéis dramáticos em novelas. Oscarito dizia que ela era a maior comediante do cinema brasileiro. Grande Otelo chamava-a de Carlitos de saia; e Ivan Cardoso, de primeira-dama do cinema brasileiro. Na época das chanchadas, também ficou conhecida como a empregadinha do Brasil, numa referência aos inúmeros papéis de empregada doméstica que interpretou ao longo de sua carreira.
Zezé Macedo | |
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A atriz, em 1957
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Nome completo | Maria José de Macedo |
Nascimento | 6 de maio de 1916 Silva Jardim, RJ |
Morte | 8 de outubro de 1999 (83 anos) Rio de Janeiro, RJ |
Nacionalidade | brasileira |
Estatura | 1,50 m |
Cônjuge | Alcides Manhães (1931-1933) Ronaldo Magalhães (1950-1960) Victor Zambito (1961-1999) |
Ocupação | Comediante, atriz e poetisa |
Período de atividade | 1950–1999 |
Principais trabalhos | Madame Frou-Frou em De Vento em Popa Cleci/Dioclécia Fortuna em O Homem do Sputnik Augusta em Esse Milhão é Meu Rina em As Sete Vampiras Dona Carochinha em Sítio do Picapau Amarelo Biscoito em Chico Anysio Show Dona Bela em Escolinha do Professor Raimundo |
Prêmios | Lista |
Também se destacou como poetisa, tendo publicado quatro livros de poemas seus.
Biografia
editarJuventude e início de carreira
editarNasceu no município fluminense de Capivari, hoje chamado Silva Jardim. Seu padrasto, Columbano Santos (Posse, Rio Bonito - RJ, 22 de dezembro de 1879 - São Domingos, Niterói - RJ, 27 de julho de 1977), tabelião e prefeito da cidade, era partidário dos atores.
Estreou no teatro aos quatro anos de idade, interpretando a protagonista na peça As Pastorinhas. Na época, como não sabia ler, decorava os textos ao ouvi-los lidos por seu padrasto, o qual lhe encorajava bastante. Também desde cedo manifestou inclinação pela poesia.
Aos quinze anos de idade, casou-se com o mecânico e eletricista Alcides Manhães, desistindo de ser atriz e mudando-se para Niterói. Com ele teve seu único filho, Hércules, morto com apenas um ano de idade ao cair do colo da avó paterna e fraturar o crânio. Ao saber da morte do filho deu um imenso grito e calou-se por muito tempo, devido ao estado de choque que a acometeu. Quando voltou a falar a voz havia mudado e permaneceu assim por toda sua vida. O casal separou-se pouco depois. Zezé passou a trabalhar como escriturária e funcionária pública, antes de voltar a ser atriz.
Através das amizades de seu padrasto, começou a ler poemas seus no Grande Jornal Fluminense, transmitido aos domingos pela Rádio Tamoio. O diretor artístico da emissora, Paulo de Grammont, gostou de suas declamações e contratou-a, sem salário, para o setor de radioteatro. No entanto, como não havia vagas, tornou-se secretária de Dias Gomes e Rodolfo Mayer, permanecendo três anos nesta função. Aos poucos, porém, foi começando a fazer pontas nos programas de rádio, substituindo atrizes, lendo poemas, e, por conta disso, publicou seu primeiro livro de poesias, Coração Profano, em 1954, um grande êxito de vendas. Publicou ainda mais três livros de poesia.
Por essa época, participou do programa Lar, Doce Lar substituindo a atriz que fazia a empregada doméstica, agradando bastante o público, e, logo no dia seguinte, foi convidada por Paulo Porto e Olavo de Barros a se transferir para a Rádio Tupi (tanto a Rádio Tamoio quanto a Tupi faziam parte da rede de Assis Chateaubriand), o que lhe possibilitou o ingresso para a televisão.
Cinema
editarFoi através da sua poesia e participações em rádio e televisão que Watson Macedo a conheceu e convidou-a para estrelar em Aviso aos Navegantes (1950) e O Petróleo É Nosso (1954).[1] A partir de então, Zezé tornou-se presença marcante no cinema, atuando primeiramente para diversas produtoras como a Watson Macedo Produções Cinematográficas, Cinelândia Filmes, Cinedistri, Brasil Vita Filmes, Flama Filmes, UCB, celebrizando-se como comediante. Dentre os vários filmes de que participou nessa época, merecem destaque De Vento em Popa (1957), de Carlos Manga, no qual interpreta uma cantora de ópera, fugindo da imagem estereotipada de empregada doméstica; O Homem do Sputnik (1959), considerado pelos cinéfilos como um das melhores chanchadas;[2] e Esse Milhão É Meu (1959). Nesses três filmes, atuou ao lado de Oscarito, o qual exigiu sua presença neles.
Com o declínio da chanchada no começo da década de 1960, Zezé passou a se dedicar mais ao teatro e à televisão, mas sem se afastar do cinema. A partir de 1965, tornou-se contratada da Rede Globo de Televisão, onde atuaria até o fim de sua vida. No cinema, estrelou, dentre outros, Lana - Königin der Amazonen (1964), filme alemão feito no Brasil em parceria com a Atlântida, e Macunaíma (1968).
Na década de 1970, sua carreira no cinema foi impulsionada com o surgimento da pornochanchada. Chegava a fazer três filmes por ano. Enquanto isso, na televisão, dava início à parceria com Chico Anysio, que lhe rendeu seus dois personagens mais emblemáticos: Biscoito, a esposa feia, porém rica, do bêbado Tavares; e Dona Bela, uma aluna da Escolinha do Professor Raimundo que, acreditando ser pornografia tudo que o mestre lhe perguntava, jogava-se ao chão histérica e acusava-o: "Só pensa naquilo!". Outra participação marcante dessa época na televisão foi no Sítio do Picapau Amarelo, no qual interpretou a Dona Carochinha.[1]
Últimos anos
editarNos anos seguintes, passou a diminuir seu ritmo de trabalho, dedicando-se cada vez mais à televisão. Em 1983, estrelou como a protagonista em Eteia, a Extraterrestre em Sua Aventura no Rio, de Roberto Mauro, uma sátira ao E.T., de Steven Spielberg. Três anos depois, ganhou um prêmio especial do júri no Festival de Gramado por sua atuação em As Sete Vampiras, de Ivan Cardoso. Seu último filme longa-metragem foi O Escorpião Escarlate, de Ivan Cardoso, em 1990, mais uma vez interpretando uma secretária do lar. Todavia, voltou às telas de cinema quatro anos depois, no curta-metragem Jaguardarte, de André Klotzel, no qual aparece declamando versos de Lewis Carroll.
Dedicou seus últimos anos a programas humorísticos na televisão, tendo atuado até pouco antes de falecer.
Vida particular
editarZezé começou a namorar o ator e dublador Vasco Lino "Ronaldo" Magalhães em 1950, o quem a ajudava a ir para a televisão. Separaram-se dez anos depois.
Voltou a se casar, em 1961, com o ator e cantor Victor Zambito, dez anos mais novo, o qual conheceu enquanto atuava no Teatro Recreio. Válter Pinto e Virgínia Lane foram seus padrinhos. Os dois não tiveram filhos e permaneceram juntos por 38 anos, até o falecimento de Zezé.
Morte
editarEm 26 de agosto de 1999, Zezé sofreu um derrame cerebral e foi internada na Clínica Bambina, no bairro carioca do Botafogo. De acordo com os médicos, ela tinha um aneurisma cerebral que havia se rompido. Ela seria operada, mas devido ao seu estado fragilizado, os médicos optaram por lhe fazer uma drenagem de coágulo. Depois de 46 dias de internação, a atriz morreu às 2h55min de 8 de outubro, aos 83 anos. Seu corpo foi cremado no Cemitério do Caju.[3]
Legado
editarEm 2012, a vida de Macedo foi retratada na peça A Vingança do Espelho: a História de Zezé Macedo, escrita por Flávio Marinho e estrelada por Betty Gofman.[4] Gofman consequentemente foi chamada para interpretar a Dona Bela no revival da Escolinha do Professor Raimundo, em 2015.[5]
Prêmios
editar- 1996: Prêmio Especial do Júri, Kikito de Ouro, por sua atuação em As Sete Vampiras
Carreira
editarCinema
editarTelevisão
editarAno | Título | Papel | Notas |
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1999 | Zorra Total | Dona Bela | (quadro: Escolinha do Professor Raimundo) |
1996 | Chico Total | Biscoito | |
1992 | Os Trapalhões | Olívia Palito (Quadro: Agência Trapa Tudo) | Participação especial |
1991 | Estados Anysios de Chico City | Vários Personagens | |
1990-1993 | Escolinha do Professor Raimundo | Dona Bela | |
1986 | Cambalacho | Camareira | Participação especial[12] |
1983-1990 | Chico Anysio Show | Biscoito / Dona Bela / Vários Personagens | |
1977-1982 | Sítio do Pica Pau Amarelo | Dona Carochinha | |
1973-1976 | Chico City | Vários Personagens | |
1973 | João da Silva | — | |
1972 | O Primeiro Amor | Astúria | |
1968-1970 | Balança Mas Não Cai | Vários Personagens | |
1965 | Padre Tião | Jacqueline | |
A Moreninha | Zezé | ||
Bairro Feliz | Vários Personagens | 1965-1966[13] | |
1953 | Mesa Quadrada | — |
Obras publicadas
editarReferências
- ↑ a b Como 'a mulher mais feia do Brasil' se tornou a inesquecível Dona Bela
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 2 de novembro de 2010. Arquivado do original em 28 de setembro de 2007
- ↑ «Morre Zezé Macedo aos 83 anos no Rio». Folha UOL. 9 de outubro de 1999
- ↑ A Vingança do Espelho homenageia Zezé Macedo
- ↑ Betty Gofman integra o elenco da nova versão da “Escolinha do Professor Raimundo”
- ↑ «Fogo e Paixão». Cinemateca Brasileira. Consultado em 14 de janeiro de 2022
- ↑ «Ele, Ela, Quem?». Cinemateca Brasileira. Consultado em 6 de setembro de 2022
- ↑ «Sete Mulheres Para Um Homem Só». Cinemateca Brasileira. Consultado em 15 de março de 2017. Arquivado do original em 24 de setembro de 2016
- ↑ «As Loucuras de um Sedutor». Cinemateca Brasileira. Consultado em 15 de março de 2017
- ↑ «Mais ou Menos Virgem». Cinemateca Brasileira. Consultado em 15 de março de 2017 [ligação inativa]
- ↑ «Cambalacho». teledramaturgia.com.br. Consultado em 6 de julho de 2022
- ↑ «Bairro Feliz». Memória Globo. Consultado em 9 de abril de 2018