Planejamento familiar natural

O planejamento familiar natural (português brasileiro) ou planeamento familiar natural (português europeu) é um método de planejamento familiar que exclui o uso de contraceptivos químicos e mecânicos, como a pílula, a esterilização e o preservativo. Os principais métodos naturais para a prevenção da gravidez são a infertilidade causada pelo aleitamento e a abstinência sexual periódica: esta última, com o auxílio de vários métodos de monitorização da fertilidade, tais como o método de Billings, o método sintotérmico, o método rítmico e o método da temperatura corporal basal.

Monitorização da fertilidade

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 Ver artigo principal: Monitorização da fertilidade

A monitorização da fertilidade não chega propriamente a ser um método contraceptivo mas um meio de identificação dos períodos férteis ou inférteis da mulher para se tentar obter ou evitar a gravidez. Se uma mulher não quiser engravidar, então abstém-se de ter relações sexuais durante o seu período fértil.[1] Atualmente, existem, ainda, equipamentos auxiliares, tais como os monitores eletrónicos de fertilidade, que facilitam muito a monitorização da fertilidade. Estes monitores analisam, de forma automática, mudanças da concentração de certas hormonas na urina, na saliva [2], da temperatura corporal basal e da composição dos fluidos vaginais. Estima-se que as taxas de falhas reais destes monitores, se forem usados corretamente, variam entre 0,6% (marca LadyComp) e 6% (marca Persona).[3][4]

Eficácia

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Segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde publicado em 2004, os métodos naturais baseados na monitorização da fertilidade, se forem usados correta e consistentemente, são eficazes e as suas taxas de falha em um ano de uso são entre 1% a 9%. Para alcançar estes valores, é preciso o envolvimento, motivação, obediência e participação do casal e um especialista/instrutor experiente e especificamente treinado.[5] O método sintotérmico, se usado corretamente, pode evitar a gravidez em 97,2% dos casos[6] e o método de Billings entre 96,8% e 99,5% dos casos.[7][1] Em relação à infertilidade causada pelo aleitamento, a sua taxa de falhas em um ano varia entre 0,5% e 2%. Mas este método acaba com o fim do aleitamento do recém-nascido.[5]

Porém, a eficácia real dos métodos naturais pode ser significativamente mais baixa do que a eficácia do método em si — alguns estudos encontraram taxas de falhas reais de 25% por ano.[8][9][10] Mas as taxas de falhas reais têm grandes variações dependendo da população que está sendo estudada e do método usado — pelo menos um estudo encontrou uma taxa de falhas real de menos de 1% por ano,[11] e diversos estudos encontraram taxas de falhas reais de 2-3% por ano.[12][13][14][15] O fato de a eficácia real ser mais baixa pode ser devido a erros por parte dos instrutores ou dos usuários, mas também à desobediência consciente do usuário,[14][16] com a realização do ato sexual durante o período fértil. É preciso, também, salientar o facto de estes métodos não serem eficazes na prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis como a SIDA, com a óbvia exceção da abstinência sexual total.

Aspectos ético-religiosos

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Posição católica

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A Igreja Católica aceita que o desejo pelo prazer sexual faz parte da natureza humana, mas defende que a felicidade e o prazer não são sinônimos. O prazer como objetivo é uma forma de uso do parceiro, transformando-o em um meio, uma ferramenta para obter prazer. Seria, portanto, um ato egoísta, sobrepondo-se às oportunidades de verdadeiro conhecimento do parceiro e doação a ele (amor), verdadeira fonte de felicidade.

De acordo com a doutrina de comportamento sexual da Igreja Católica, o planejamento familiar natural não é um método contraceptivo. Para o cristão católico, a fertilidade é uma condição natural e bem-vinda do homem e da mulher. Qualquer instrumento utilizado com a intenção de negar a fertilidade é uma atitude com a intenção de negar a realidade.[17] A contracepção se torna, assim, a recusa da fertilidade do cônjuge e da abertura à vida.[18] Quando o prazer sexual mútuo tem, como fim, atender desejos instintivos mútuos, sem se estar aberto à procriação, a relação sexual é vista como irresponsável com a realidade. Um casal que não está aberto à procriação como resultado daquela união não está se doando na totalidade pessoal, o que resulta numa falsificação da verdade interior do amor entre os cônjuges.[18]

Segundo a doutrina católica, os métodos naturais são os únicos permitidos; são formas mais humanistas e responsáveis de viver a responsabilidade procriadora; fortalecem a comunicação e o amor entre os cônjuges; promovem o autoconhecimento do corpo; e não têm efeitos colaterais no organismo. Tais métodos promoveriam a ideia de que a fertilidade é uma riqueza e dádiva natural, podendo e devendo ser utilizada em momento oportuno.

 
Tabela mostrando os dias férteis (em roxo) e inférteis (em verde e vermelho) do ciclo menstrual da mulher
 
Commons
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Ver também

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Referências

  1. a b Planeamento familiar natural, Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar da Diocese de Coimbra
  2. «Período fértil pode ser detectado pela saliva. Saiba como!». Terra. Consultado em 1 de junho de 2020 
  3. http://www.epigee.org/guide/computers.html
  4. James Trussell, LL Wynn (janeiro de 2008). «Reducing unintended pregnancy in the United States» (PDF). Contraception (PDF). 77 (1): 1–5. PMID 18082659. doi:10.1016/j.contraception.2007.09.001 
  5. a b Contraception - Issues in Adolescent Health and Development, Organização Mundial de Saúde, Genebra, 2004; págs. 34-35
  6. Guia para a prestação de serviços de PFN. OMS. Genebra, 1989.
  7. HILGERS et al., Journal of Reproductive Medicine, Junho de 1998.
  8. Wade ME, McCarthy P, Braunstein GD; et al. (outubro de 1981). «A randomized prospective study of the use-effectiveness of two methods of natural family planning». American journal of obstetrics and gynecology. 141 (4): 368-376. PMID 7025639 
  9. Medina JE, Cifuentes A, Abernathy JR; et al. (dezembro de 1980). «Comparative evaluation of two methods of natural family planning in Colombia». American journal of obstetrics and gynecology. 138 (8): 1142-1147. PMID 7446621 
  10. Marshall J (agosto de 1976). «Cervical-mucus and basal body-temperature method of regulating births: field trial». Lancet. 2 (7980): 282-283. PMID 59854 
  11. Evaluation of the Effectiveness of a Natural Fertility Regulation Programme in China Arquivado em 27 de abril de 2007, no Wayback Machine.: Shao-Zhen Qian, et al. Reproduction and Contraception (English edition), in press 2000.
  12. Frank-Herrmann P, Freundl G, Baur S; et al. (dezembro de 1991). «Effectiveness and acceptability of the sympto-thermal method of natural family planning in Germany». American journal of obstetrics and gynecology. 165 (6 Pt 2): 2052-2054. PMID 1755469 
  13. Clubb EM, Pyper CM, Knight J (1991). «A pilot study on teaching natural family planning (NFP) in general practice». Proceedings of the Conference at Georgetown University, Washington, DC 
  14. a b «European Natural Family Planning Study Groups. Prospective European multi-center study of natural family planning (1989-1992): interim results». Advances in Contraception. 9 (4): 269-283. Dezembro de 1993. PMID 8147240 
  15. Frank-Herrmann P, Freundl G, Gnoth C; et al. (junho–setembro de 1997). «Natural family planning with and without barrier method use in the fertile phase: efficacy in relation to sexual behavior: a German prospective long-term study». Advances in Contraception. 13 (2-3): 179-189. PMID 9288336 
  16. Howard, M.P. and Stanford, J.B. (1999) "Pregnancy probabilities during use of the Creighton Model Fertility Care System", Archives of Family Medicine 8(5):391-402
  17. YOUCAT Brasil. Catecismo Jovem da Igreja Católica. São Paulo: Paulus. 2011. p. 218-232. 303 páginas. ISBN 978-85-349-3324-7 
  18. a b João Paulo II, Familiaris consortio, n° 32: Na visão integral do homem e sua vocação.

Ligações externas

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