Leucemia linfoblástica aguda
Leucemia linfoblástica aguda (LLA) é um cancro da linha linfoide das células sanguíneas caracterizado pelo desenvolvimento de elevado número de linfócitos imaturos (linfoblastos).[1] Os sintomas mais comuns são cansaço, palidez, febre, facilidade em ferir-se e contrair nódoas negras, aumento de volume dos gânglios linfáticos e dor óssea.[1] Tal como todas as leucemias agudas, a LLA evolui de forma agressiva e é mortal no prazo de semanas ou meses se não for tratada.[10]
Leucemia linfoblástica aguda | |
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Amostra de medula óssea de uma pessoa com células precursoras B. As células maiores roxas são linfoblastos. | |
Sinónimos | Leucemia linfoide aguda, leucemia linfocítica aguda |
Especialidade | Hematologia, oncologia |
Sintomas | Cansaço, palidez, febre, facilidade em ferir-se e contrair nódoas negras, dor óssea, aumento de volume dos gânglios linfáticos[1] |
Complicações | Infeção, síndrome da lise tumoral[2][3] |
Início habitual | 2–5 anos de idade[4] |
Tipos | LLA de percursores B, LLA de percursores T[2] |
Causas | Geralmente desconhecidas[5] |
Fatores de risco | Gémeos verdadeiros com LLA, síndrome de Down, anemia de Fanconi, ataxia telangiectasia, síndrome de Klinefelter, elevado peso à nascença, exposição significativa à radiação[6][5][1] |
Método de diagnóstico | Análises ao sangue e análise da medula óssea[3] |
Condições semelhantes | Mononucleose infecciosa, leucemia mieloide aguda, linfoma linfoblástico, anemia aplástica[3] |
Tratamento | Quimioterapia, transplante de medula óssea, radioterapia, terapia dirigida[1] |
Prognóstico | Crianças: taxa de sobrevivência a cinco anos de 90%[2] Adultos: taxa de sobrevivência a cinco anos de 35%[7] |
Frequência | 1 em 1750 crianças[4][8] |
Mortes | 111 000 (2015)[9] |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | C91.0 |
CID-9 | 204.0 |
CID-ICD-O | M9835/3 |
CID-11 | 1241029957 |
OMIM | 247640, 613065 |
DiseasesDB | 195 |
MedlinePlus | 000541 |
eMedicine | med/3146 ped/2587 |
MeSH | D054198 |
Leia o aviso médico |
Na maior parte dos casos a causa é desconhecida.[2] Entre os fatores de risco genéticos estão a síndrome de Down, síndrome de Li-Fraumeni ou neurofibromatose tipo I.[1] Entre os fatores de risco ambientais estão exposição significativa à radiação ou antecedentes de quimioterapia.[1] As evidências de que a exposição a campos eletromagnéticos ou pesticidas seja um fator de risco não são claras.[4][6] Alguns cientistas defendem a hipótese de que a LLA possa ser desencadeada por uma resposta imunitária anormal a uma infeção comum.[4] O mecanismo subjacente envolve diversas mutações genéticas que causam uma acelerada divisão celular.[2] A quantidade excessiva de linfócitos imaturos na medula óssea interfere com a produção de novos glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.[1] O diagnóstico geralmente tem por base análises ao sangue e uma análise da medula óssea.[3]
O tratamento inicial de LLA consiste em quimioterapia com o objetivo de remitir a doença.[2] Ao tratamento inicial seguem-se novas sessões de quimioterapia, geralmente ao longo de vários anos.[2] Nos casos em que a doença se tenha disseminado para o cérebro pode ser necessária quimioterapia intratecal ou radioterapia.[2] Nos casos de doença recorrente após o tratamento padrão, pode ser necessário um transplante de medula óssea.[2] Estão atualmente a ser estudadas novas formas de tratamento, como a imunoterapia.[2]
Em 2015, a LLA afetava cerca de 876 000 pessoas em todo o mundo e foi a causa de 111 000 mortes.[11][9] A doença é mais comum em crianças, sobretudo entre os dois e cinco anos de idade.[12][4] Nos Estados Unidos, é a causa mais comum de cancro e morte por cancro entre crianças.[2] A LLA foi o primeiro cancro disseminado a conseguir ser curado.[13] A taxa de sobrevivência entre crianças aumentou de menos de 10% na década de 1960 para mais de 90% em 2015.[2] No entanto, a taxa de sobrevivência é menor em bebés (50%)[14] e em adultos (35%).[7]
Sinais e sintomas
editarSintomas iniciais não são específicos. Os sinais e sintomas da LLA são resultantes de uma produção anormal das células sanguíneas (leucócitos). Tais células tornam-se muito numerosas, porém imaturas e malignas. Os sinais são variados. Podem aparecer os seguintes sintomas:
- Fadiga e fraqueza generalizada decorrentes de anemia
- Febre e/ou outros sintomas de infecções
- Perda de peso e/ou perda de apetite
- Sangramentos
- Dores ósseas e nas juntas
- Aumento dos linfonodos (linfonodomegalias)
- Aumento do baço e/ou fígado (esplenomegalia e/ou hepatomegalia)
Classificação
editar- Estabelecida na década de 1970,[15] a classificação FAB (French American British) baseia-se exclusivamente na análise morfológica e citoquímica das células malignas. Compreende os subtipos:
- L1: presença predominante de linfoblastos pequenos com núcleo regular e cromatina homogênea. Representa de 25-30% dos casos.
- L2: presença predominante de linfoblastos de tamanho médio à grande com núcleo irregular e cromatina heterogênea. Representa aproximadamente 70% dos casos, sendo a mais comum dos três tipos.
- L3: presença de linfoblastos de tamanho médio a grande com característico citoplasma hiperbasofílico e presença de múltiplos vacúolos. Representa aproximadamente 1-3% dos casos.
- A classificação EGIL (European Group for the Immunological Characterization of Leukemias) baseia-se nos imunofenótipos celulares e permite a diferenciação em subtipos imunológicos.[16] Através desta é possível classificar a linhagem celular (B ou T) e caracterizar o estágio maturativo da mesma.
- A classificação OMS (Organização Mundial de Saúde), baseando-se em dados de imunofenótipo, cariótipo e biologia molecular, permite a classificação de acordo com a linhagem B ou T.[17] A OMS classifica a LLA como leucemia de células B precursoras, leucemia de células T precursoras ou neoplasia de células B maduras, subtipo Linfoma/Leucemia de Burkitt.
Etiologia
editarAs causas precisas do desenvolvimento desta patologia são desconhecidas. Apenas uma pequena porcentagem dos casos (<5%) está associada com a presença de alguma síndrome genética (Síndrome de Down, Síndrome de Bloom, ataxia-teleangectasia, Síndrome de Nijmegen), com exposição à radiação ionizante ou drogas quimioterápicas.[18]
Diagnóstico
editar- Exame físico
- Exames laboratoriais:
- Hemograma: a maioria dos pacientes com LLA apresentam linfoblastos no sangue periférico. A anemia e a trombocitopenia podem ser de graus variados. Hiperleucocitose é vista em 10-16% dos casos (leucócitos >100.000/microlitro). Linfoblastos são vistos em 90% dos casos.
- Punção da Medula óssea (Mielograma) : Via de regra é realizada análise da medula óssea, mesmo na presença de linfoblastos no sangue periférico.
- Imunofenotipagem: para diferenciar se o linfoblasto tem origem células B ou célula T.
- Cariótipo: para detecção de alterações cromossômicas.
Tratamento
editarÉ realizado com poliquimioterapia (múltiplas drogas quimioterápicas) e radioterapia, com objetivo de eliminar as células malignas.
O uso de drogas anticâncer são combinadas ao longo de anos de tratamento. Agentes utilizados para ALL incluem: [19]
- Vincristina (Oncovin)
- Esteroides (prednisona, dexametasona)
- L-asparaginace (Elspar) ou PEG-L-asapraginase (Oncaspar)
- Teniposido (Vumon)
- Citarabina (Cytosar)
- Daunorrubicina (Cerubidine) ou doxorrubicina (adriamicina)
- Etoposide (VP-16)
- 6-mercaptopurina (6-MP, Purinethol)
- Metotrexato
- Ciclofosfamida (Cytoxan)
À exceção dos pacientes que apresentam LLA de células B maduras, os quais são tratados com ciclos curtos e intensivos, o tratamento normalmente consiste de uma fase de indução da remissão, fase de consolidação (ou intensificação) e fase de manutenção.
Em alguns casos pode ser necessário o transplante de medula óssea.
Tratamento com Imunoterapia
editarA primeira terapia com CAR-T usa Tisagenlecleucel e também foi a primeira terapia gênica a receber a aprovação do FDA americano (Food and Drug Administration) em 2017, indicada para pacientes pediátricos e adultos jovens com leucemia linfoblástica aguda recidivante ou refratária (r / r), "seguida de aprovação em maio de 2018 para uma segunda indicação em pacientes adultos com linfoma difuso de grandes células B r / r. Seguida de aprovações na União Europeia, Suíça e Canadá" [20].
Galeria
editar-
Sangue periférico de uma criança com leucemia linfoide aguda, coloração Pappenheim, magnificação x100
-
Amostra da medula óssea (grande magnificação) de um paciente com leucemia linfoide aguda
-
Amostra da medula óssea de um paciente com leucemia linfoide aguda
Referências
- ↑ a b c d e f g h «Childhood Acute Lymphoblastic Leukemia Treatment». National Cancer Institute (em inglês). 8 de dezembro de 2017. Consultado em 20 de dezembro de 2017
- ↑ a b c d e f g h i j k l Hunger, Stephen P.; Mullighan, Charles G. (14 de outubro de 2015). «Acute Lymphoblastic Leukemia in Children». New England Journal of Medicine (em inglês). 373 (16): 1541–1552. PMID 26465987. doi:10.1056/nejmra1400972
- ↑ a b c d Ferri, Fred F. (2017). Ferri's Clinical Advisor 2018 E-Book: 5 Books in 1 (em inglês). [S.l.]: Elsevier Health Sciences. p. 743. ISBN 9780323529570
- ↑ a b c d e Inaba H, Greaves M, Mullighan CG (junho de 2013). «Acute lymphoblastic leukaemia.». Lancet. 381 (9881): 1943–55. PMC 3816716 . PMID 23523389. doi:10.1016/S0140-6736(12)62187-4
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- ↑ Leucemia Linfoide Aguda - Causas, Sintomas e Tratamento in Índice de Saúde, 24 de Junho de 2013
- ↑ Ittershagen, Stacie; Ericson, Solveig; Eldjerou, Lamis; Shojaee, Ali; Bleickardt, Eric; Patel, Manisha; Taran, Tetiana; Anak, Oezlem; Hall, Charlene (1 de fevereiro de 2019). «Industry's Giant Leap Into Cellular Therapy: Catalyzing Chimeric Antigen Receptor T Cell (CAR-T) Immunotherapy». Current Hematologic Malignancy Reports (em inglês). 14 (1): 47–55. ISSN 1558-822X. doi:10.1007/s11899-019-0498-6