Hinduísmo

religião indiana e darma, ou modo de vida
(Redirecionado de Hinduismo)

Hinduísmo é uma religião indiana ou darma, uma ordem religiosa e universal ou modo de vida seguido por seus adeptos. É a terceira maior religião do mundo, com mais de 1,2–1,35 bilhão de seguidores conhecidos como hindus, o que representa entre 15% e 16% da população global.[3][1][2] A palavra hindu é um exônimo[4][5] e embora o hinduísmo seja considerado a religião mais antiga do mundo, muitos praticantes se referem à sua religião como Sanātana Dharma (sânscrito: सनातन धर्म, lit. o Dharma Eterno), um uso moderno, que se refere a ideia de que suas origens estão além da história humana, conforme revelado nos textos hindus.[6][7][8][9] Outro endônimo é Vaidika Dharma,[10][11][12][13] o dharma relacionado aos Vedas.[14]

Hinduísmo
Hinduísmo
Om, um importante mantra do hinduísmo
Hinduísmo
O Templo de Kashi Vishwanath, em Varanasi, um dos lugares mais sagrados do hinduísmo
Divindade Deus no hinduísmo
Origem 500-200 a.C., Subcontinente Indiano
Ramificações shaktismo, xivaísmo, vixenuísmo
Tipo Politeísta, panteísta
Religiões relacionadas Dármicas
Número de adeptos 1,2–1,35 bilhão de pessoas[1][2]
Membros Hindus
Escrituras Vedas, Upanixade, Vedanga, Purana, Itihāsas, Sutra
Lugares sagrados Varanasi, Puri, Rishikesh, Matura, Conjiverão, Ujaim, Vrindavan, Aiódia, etc
Língua litúrgica Sânscrito
Templos Mandir
Clero guru, swami, brâmane
Cisma Religião védica
Predominância geográfica Subcontinente indiano e Sudeste asiático
Mapa dos países com predominância de hindus

O hinduísmo é um sistema diverso de pensamento marcado por uma variedade de filosofias e conceitos compartilhados, rituais, sistemas cosmológicos, locais de peregrinação e fontes textuais compartilhadas que discutem teologia, metafísica, mitologia, yajna védico, ioga, rituais agâmicos e construção de templos, entre outros assuntos.[15] Temas proeminentes nas crenças hindus incluem os quatro Puruṣārthas, os objetivos da vida humana; ou seja, dharma (ética/deveres), artha (prosperidade/trabalho), kama (desejos/paixões) e moksha (libertação/liberdade das paixões e do ciclo de morte e renascimento),[16][17] bem como karma (ação, intenção e consequências) e saṃsāra (ciclo de morte e renascimento).[18][19] O hinduísmo prescreve os deveres eternos, como honestidade, abster-se de ferir os seres vivos (Ahiṃsā), paciência, tolerância, autocontrole, virtude e compaixão, entre outros.[20] As práticas hindus incluem adoração (puja), rituais de fogo (homa/havan), recitações (pravachan), devoção (bhakti), canto (japa), meditação (dhyāna), sacrifício (yajna), caridade (dāna), serviço altruísta (sevā), homenagem aos ancestrais (śrāddha), ritos de passagem voltados para a família, festivais anuais e peregrinações ocasionais (yatra). Juntamente com as várias práticas associadas ao ioga, alguns hindus deixam seu mundo social e posses materiais e se envolvem ao longo da vida em Sannyasa (monasticismo) para alcançar o moksha.[21]

Os textos hindus são classificados em Shruti ("ouvido") e Smriti ("lembrado"), cujas principais escrituras são os Vedas, os Upanixade, os Purānas, o Mahābhārata, o Rāmāyana e os Āgamas.[18][22] Existem seis escolas āstika de filosofia hindu que reconhecem a autoridade dos Vedas: Sânquia, Yoga, Niaia, Vaisesica, Mimansa e Vedanta.[23][24][25] Enquanto a cronologia purânica apresenta uma genealogia em milhares de anos, começando com os rishis védicos, os estudiosos consideram o hinduísmo como uma fusão ou síntese[26] da ortopraxia bramânica com várias culturas indianas,[27] tendo diversas raízes[28] e nenhum fundador específico.[29] Esta síntese hindu surgiu após o período védico, entre c. 500[30]–200[31] a.C. e c. 300 d.C.,[30] no início do período clássico do hinduísmo, quando os épicos e os primeiros Puranas foram compostos.[30][31] Floresceu no período medieval, com o declínio do budismo na Índia.[32]

Atualmente, as quatro principais denominações do hinduísmo são o vixenuísmo, o xivaísmo, o shaktismo e a tradição smarta.[33][34][35][36] Fontes de autoridade e verdades eternas nos textos hindus desempenham um papel importante, mas também há uma forte tradição hindu de questionar a autoridade para aprofundar a compreensão dessas verdades e desenvolver ainda mais a tradição.[37] O hinduísmo é a fé mais amplamente professada na Índia, Nepal, Ilhas Maurício e em Bali, Indonésia.[38] Números significativos de comunidades hindus são encontrados em outros países do sul da Ásia, no sudeste da Ásia, no Caribe, nos Estados do Golfo, América do Norte, América do Sul, Europa, Oceania, África e outras regiões.[39][40]

Etimologia

editar

Hindū é o nome em persa do rio Indo, encontrado pela primeira vez na palavra Hindu (həndu) do persa antigo, correspondente ao sânscrito védico Sindhu.[41] O Rigveda chama a terra dos indo-arianos como Sapta Sindhu ("Sete rios sagrados no noroeste da Ásia Meridional, um deles o Indo), que corresponde ao Hapta Həndu no Avestá (Vendidade, 1.18), escritura sagrada do zoroastrismo. O termo foi utilizado para designar aqueles que viviam no subcontinente indiano, ou para além do "Sindhu".[42]

O termo persa (persa médio Hindūk, persa moderno Hindū) entrou na Índia pelo Sultanato de Déli e aparece nos textos do sul da Índia, bem como da Caxemira, a partir de 1323 d.C.,[43] e a partir daí é cada vez mais utilizado, especialmente durante o período da Índia britânica (Raj britânico). Desde o fim do século XVIII a palavra passou a ser usada no Ocidente como um termo que abrange a maioria das tradições religiosas, espirituais e culturais do subcontinente, com a exceção do siquismo, budismo e jainismo que são religiões distintas.[44]

Divisões

editar

O hinduísmo pode ser subdividido em diversas correntes principais. Dos seis darshanas ou divisões históricas originais, apenas duas escolas, a vedanta e a raja ioga, sobrevivem. As principais divisões do hinduísmo hoje em dia são o vixnuísmo, o xivaísmo, o smartismo e shaktismo. A imensa maioria dos hindus atuais podem ser categorizados sob um destes quatro grupos, embora ainda existam outros, cujas denominações e filiações variam imensamente.

Alguns estudiosos dividem as correntes do hinduísmo moderno em seus "tipos":[45]

Definições

editar
 
Templo hinduísta em Mysore, Índia

O hinduísmo não tem um "sistema unificado de crenças, codificado numa declaração de fé ou um credo",[46] mas sim é um termo abrangente, que engloba a pluralidade de fenômenos religiosos que se originaram e são baseados nas tradições védicas.[47][48][49][50]

Hindu é originalmente um termo persa, em uso desde os tempos do Sultanato de Déli, e que se referia a qualquer tradição nativa da Índia, em contraste com o islã. Hindu é usado no inglês no sentido de "pagão indiano" desde o século XVII,[51] porém a noção do hinduísmo como uma tradição religiosa identificável, qualificando uma das religiões do mundo, surgiu apenas durante o século XIX.

A característica da tolerância compreensiva às diferenças de credo e a abertura dogmática do hinduísmo o torna difícil de ser definido como uma religião de acordo com o conceito ocidental tradicional.[52] Muitas pessoas manifestam algum tipo de problema ao tentar chegar a uma definição do termo, principalmente devido à ampla gama de tradições e ideias incorporadas ou cobertas por ele.[46] Embora seja descrito como uma religião, o hinduísmo costuma ser definido com mais frequência como uma 'tradição religiosa'.[53] É descrito como a mais antiga das religiões mundiais, e mais diversa em tradições religiosas.[54][55][56][57]

A maior parte das tradições hindus reverenciam um corpo de literatura sagrada ou religiosa, os Vedas, embora existem exceções; algumas tradições religiosas acreditam que certos rituais específicos sejam essenciais para a salvação, mas diversos pontos de vista sobre o assunto podem coexistir. Algumas filosofias hindus postulam uma ontologia teística da criação, sustento e destruição do universo, enquanto outros hindus são ateus. O hinduísmo por vezes é caracterizado pela crença na reencarnação (samsara), determinada pela lei do karma (karma), e que a salvação é a liberdade deste ciclo de sucessivos nascimentos e mortes; outras religiões da região, no entanto, como o budismo e o jainismo, também acreditam nisto, mesmo estando fora do escopo do hinduísmo.[46] O hinduísmo é visto como a mais complexa de todas as religiões históricas vivas do mundo,[58] porém a despeito desta complexidade é não apenas numericamente a maior delas, como também a mais antiga tradição em existência na Terra, com raízes que se estendem até a pré-história.[59]

Uma definição do hinduísmo dada pelo primeiro vice-presidente da Índia, o reputado teólogo Sarvepalli Radhakrishnan, diz que ele não é "apenas uma fé", mas que, por estar ele próprio relacionado à união da razão e intuição, não pode ser definido, apenas experimentado.[60] De maneira similar, alguns acadêmicos sugerem que o hinduísmo pode ser visto como uma categoria com seus limites pouco definidos, e não uma entidade rígida e bem-definida. Algumas formas de expressão religiosa são centrais ao hinduísmo, enquanto outras não são tão centrais, porém ainda enquadram-se dentro da categoria; com base nisto desenvolveram-se algumas teorias acerca da definição do hinduísmo, como a 'teoria dos protótipos'.[61]

Os problemas com uma única definição do que realmente se quer dizer pelo termo 'hinduísmo' frequentemente são atribuídas ao fato de que o hinduísmo não tem um fundador histórico único ou comum. O hinduísmo ou, como alguns dizem, 'hinduísmos', não tem um sistema único de salvação, e apresenta diferentes metas de acordo com a seita ou denominação. As formas da religião vêdica são vistos não como uma alternativa ao hinduísmo, mas como a sua forma mais antiga, e praticamente não há justificativa para as divisões estabelecidas pela maior parte dos acadêmicos ocidentais entre o vedismo, o bramanismo e o próprio hinduísmo.[62]

Uma possível definição de hinduísmo é ainda mais complicada pelo uso frequente do termo "" como sinônimo para "religião".[46] Alguns acadêmicos[63] e diversos praticantes se referem ao hinduísmo com uma definição nativa, como 'Sanātana Dharma', uma frase em sânscrito que significa "a eterna lei" ou "eterno caminho".[64] Num sentido mais abrangente, o hinduísmo engloba o bramanismo, isto é, a crença na "Alma Universal", Brâman; num sentido mais específico, o termo é empregado para designar apenas o sistema cultural e religioso da Índia medieval e posterior. De acordo com o livro História das Grandes Religiões, "o hinduísmo é um estado de espírito, uma atitude mental dentro de seu quadro peculiar, socialmente dividido, teologicamente sem crença, desprovido de veneração em conjunto e de formalidades eclesiásticas ou de congregação: e ainda substitui o nacionalismo".[65][66]

Crenças

editar
 
Escultura no templo de Hoysaleswara representando a Trimúrti: Brama, Xiva e Vixnu

O hinduísmo é uma corrente religiosa que evoluiu organicamente através de um grande território marcado por uma diversidade étnica e cultural significativa. Esta corrente evoluiu tanto através da inovação interior quanto pela assimilação de tradições ou cultos externos ao próprio hinduísmo. O resultado foi uma variedade enorme de tradições religiosas, que vai de cultos pequenos e pouco sofisticados aos principais movimentos da religião, que contam com milhões de aderentes espalhados por todo o subcontinente indiano e outras regiões do mundo. A identificação do hinduísmo como uma religião independente, separada do budismo e do jainismo, depende muitas vezes da afirmação dos próprios fiéis de que ela o é.[67]

Temas proeminentes nas (porém não restritos às) crenças hinduístas incluem o darma (dharma, ética hindu), samsara (samsāra, o contínuo ciclo do nascimento, morte e renascimento), carma (karma, ação e consequente reação), mocsa (moksha, libertação do samsara), e as diversas iogas (caminhos ou práticas).

Conceito de Deus

editar
 Ver artigo principal: Deus no hinduísmo
 
Brama, uma das principais divindades do hinduísmo

O hinduísmo é um sistema diversificado de pensamento, com crenças que abrangem o monoteísmo, politeísmo,[68] panenteísmo, panteísmo, monismo e ateísmo, e o seu conceito de Deus é complexo, e está vinculado a cada uma das suas tradições e filosofias. Por vezes é tido como uma religião henoteísta (isto é, que envolve a devoção a um único deus, embora aceite a existência de outros), porém o termo é visto, da mesma maneira que os outros, como uma generalização excessiva.[69]

A maior parte dos hindus acredita que o espírito ou a alma - o "eu" verdadeiro de cada pessoa, chamado de ātman — é eterno.[70] De acordo com as teologias monistas/panteístas do hinduísmo (tais como a escola Advaita Vedânta), este Atman não pode ser distinguido, em última instância, do Brâman, o espírito supremo; estas escolas são, portanto, chamadas de não dualistas.[71] A meta da vida, de acordo com a escola Advaita, é chegar à conclusão que o seu ātman é idêntico ao Brâman, a alma suprema.[72] Os Upanixades afirmam que quem que tome consciência do ātman como o âmago de si próprio estabelece uma identidade com Brâman, atingindo assim o moksha ("liberação" ou "liberdade").[70][73]

Escolas dualísticas (Ver Dvaita e Bhakti) compreendem Brâman como um Ser Supremo que possui personalidade, e o/a veneram como Vixnu, Brama, Xiva ou Shákti, dependendo da seita. O ātman é dependente de Deus, enquanto o moksha depende do amor a Deus e da graça de Deus.[74] Quando Deus é visto como um ser supremo pessoal (em lugar do princípio infinito), Deus é chamado de Ishvara ("O Senhor"[75]), Bhagavan ("O Auspicioso"[75]) ou Parameshwara ("O Senhor Supremo"[75]).[71] As interpretações de Ishvara variam, no entanto, da não crença no Ishvara dos seguidores do Mimamsakas, até a sua identificação com Brâman, pelo Advaita.[71] Na maior parte das tradições do vixenuísmo Deus é Vixnu, e o texto das escrituras desta denominação identifica este Ser como Krishna, por vezes chamado de svayam bhagavan. Também existem escolas, como o Sânquia, que têm tendências ateias.[76]

Devas e avatares

editar
 
Ao centro, Críxena - a oitava encarnação (avatar) de Vixnu, ou svaym bhagavan - com sua consorte, Rada - venerada como Radha Krishna em diversas tradições. Pintura tradicional do século XVII

As escrituras hindus se referem a entidades celestiais chamadas devas (ou devī, na sua forma feminina; devatā é usado como sinônimo de Deva em hindi), "os brilhantes", que pode ser traduzido como "deuses" ou "seres celestiais".[77] Os devas são uma parte integrante da cultura hindu, e foram retratados na sua arte, arquitetura, e através de ícones, e histórias mitológicas sobre eles foram relatadas nas escrituras da religião, particularmente na poesia épica indiana e nos Puranas. Frequentemente são, no entanto, dissociados de Ishvara, um deus pessoal supremo que muitos hindus veneram de uma forma particular, como seu iṣṭa devatā, ou "ideal escolhido".[78][79] A escolha é uma questão de preferência individual[80] e tradições regionais e familiares.[80]

Os épicos hindus e os Puranas relatam diversos episódios da descida de Deus à Terra em sua forma corpórea para restaurar o darma da sociedade e guiar os humanos ao moksha. Tal encarnação é chamada de avatar. Os avatares mais são os de Vixnu, e incluem Rama (protagonista do Ramáyana) e Krishna (figura central do épico Mahabárata).

Karma e samsara

editar
 Ver artigo principal: Karma

Karma pode ser traduzido literalmente como "ação", "obra" ou "feito"[81] e pode ser descrito como a "lei moral de causa e efeito".[82] De acordo com os Upanixades um indivíduo, conhecido como o jiva-atma, desenvolve samskaras (impressões) a partir das ações, sejam elas físicas ou mentais. O linga sharira, um corpo mais sutil que o físico, porém menos sutil que a alma, armazena as impressões, e lhes carrega à vida seguinte, estabelecendo uma trajetória única para o indivíduo.[83] Assim, o conceito de um carma infalível, neutro e universal, relaciona-se intrinsecamente à reencarnação, assim como à personalidade, característica e família de cada um. O carma une os conceitos de livre-arbítrio e destino.

O ciclo de ação, reação, nascimento, morte e renascimento é um contínuo, chamado de samsara. A noção de reencarnação e carma é uma premissa forte do pensamento hindu. O Bagavadguitá afirma que:

A samsara dá prazeres efêmeros, que levam as pessoas a desejarem o renascimento para gozar dos prazeres de um corpo perecível. No entanto, acredita-se que escapar do mundo da samsara através do moksha assegura felicidade e paz duradouras.[85][86] Acredita-se que depois de diversas reencarnações um atman eventualmente procura a união com o espírito cósmico (Brâman/Paramatman).

A meta final da vida, referida como moksha, nirvana ou samādhi, é compreendida de diversas maneiras diferentes: como uma realização da união de alguém com Deus; como a realização da relação eterna de alguém com Deus; realização da unidade de toda a existência; abnegação total e conhecimento perfeito do próprio Eu; como o alcance de uma paz mental perfeita; e como o desprendimento dos desejos mundanos. Tal realização libera o indivíduo da samsara e termina com o ciclo de renascimentos.[87][88]

A conceitualização do moksha difere entre as várias escolas de pensamento hindu. O Advaita Vedanta, por exemplo, sustenta que após alcançar o moksha um atman não mais identifica a si próprio como um indivíduo, mas sim como sendo idêntico a Brâman em todos os aspectos. Os seguidores das escolas Dvaita (dualísticas) se identificam como parte de Brâman, e, após atingir o moksha, esperam passar a eternidade num loka (céu),[89] na companhia de sua forma escolhida de Ishvara. Assim, diz-se os seguidores do Dvaita desejam "provar o açúcar", enquanto os seguidores do Advaita querem "se tornar açúcar".[90]

Purusharthas

editar
 Ver artigo principal: Purusharthas

O pensamento hindu clássico aceita os seguintes objetivos da vida humana, conhecidos como os puruṣārthas ou "quatro objetivos da vida": darma "retidão", "ethikos", artha "sustento", "riqueza", kāma "prazer sensual", mokṣa "liberação", "liberdade" [do samsara]".[91][92]

No hinduísmo, acredita-se que todos os homens seguem o kama e o artha, mas brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos com o darma, ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior seria o infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou liberação (também conhecida como mukti, samadhi, nirvana, etc.) do samsara, o ciclo da vida, morte, e da existência dual.

 Ver artigo principal: Ioga
 
Estátua de Xiva em meditação iogue

Qualquer que seja a maneira na qual o hindu defina a meta de sua vida, existem diversos métodos (yôgas) que os sábios ensinaram para se atingir aquela meta. Textos dedicados ao ioga incluem o Bagavadgitá (Bhagavad Gita), os Ioga Sutras, o Hatha Yoga Pradipika, a Gheranda Samhita, entre outros, e, como sua base filosófico-histórica, os Upanixades. Os caminhos que um indivíduo pode seguir para atingir a meta espiritual da vida (moksha ou samadhi) incluem, entre outros:

Um indivíduo pode preferir um ou alguns iogas sobre os outros, de acordo com a sua inclinação e entendimento. Algumas escolas devocionais ensinam que o bhakti é, para a maior parte das pessoas, a único caminho prático para se alcançar a perfeição espiritual, com base em sua crença de que o mundo atualmente estaria no Kali Yuga (uma das quatro épocas que formam o ciclo Yuga).[94] A prática de um ioga não exclui as outras, e muitos estudiosos acreditam que os diferentes yogas se misturam naturalmente e auxiliam na prática das outros yogas. Por exemplo, acredita-se que a prática da Jñana Yoga inevitavelmente leve ao amor puro (a meta do bacti-ioga), e vice-versa.[95] Alguém que pratica a meditação profunda (como no raja-ioga) deve incorporar os princípios centrais do karma-ioga, do jnana-ioga e do bacti-ioga, seja direta ou indiretamente.[93][96]

Práticas

editar
 
A cerimônia visarjan do Senhor Ganexa, durante o festival Chaturthi

As práticas hinduístas geralmente envolvem a procura da consciência de Deus, e por vezes também a procura de bênçãos dos devas. Assim, o hinduísmo desenvolveu muitas destas práticas como forma de ajudar o indivíduo a pensar na divindade em meio à vida cotidiana. Os hindus podem praticar a pūjā (culto ou veneração)[75] tanto em casa como num templo. Em seus próprios lares os hindus frequentemente costumam criar um altar, com ícones dedicados às suas formas escolhidas de Deus. Os templos costumam ser dedicados a uma divindade primária e às divindades subordinadas que lhe são associadas, embora alguns templos sejam dedicados a mais de uma divindade. A visita a templos não é obrigatória,[97] e muitos os visitam apenas durante os festivais religiosos. Os hindus realizam seu culto através dos murtis, ícones; o ícone serve como uma ligação tangível entre o fiel e Deus.[98] A imagem costuma ser considerada uma manifestação de Deus, já que Ele é imanente. O Padma Purana afirma que o mūrti não deve ser visto como apenas pedra ou madeira, mas sim como uma forma manifesta da Divindade.[99] Algumas seitas hindus, como o Ārya Samāj, não acreditam em venerar Deus através de ícones.

O hinduísmo possui um sistema desenvolvido de simbolismo e iconografia para representar o sagrado na arte, arquitetura, literatura e em seu culto. Estes símbolos ganham seu significado das escrituras, mitologia ou tradições culturais. A sílaba Om (que representa o Parabrahman) e o sinal da suástica (que simboliza auspiciosidade) acabaram passando a representar o próprio hinduísmo, enquanto outros símbolos, como a tilaka, identificam um seguidor da fé. O hinduísmo ainda apresenta diversos símbolos que são costumeiramente associados a divindades específicas, como o lótus, chakra e veena.

Os mantras são invocações, louvores e orações que, através de seu significado, som e estilo de canto, ajudam um devoto a focar a sua mente nos pensamentos sagrados ou exprimir devoção a Deus ou às divindades. Muitos devotos realizam abluções matinais às margens de um rio sagrado, enquanto cantam o Gayatri Mantra ou os mantras Mahamrityunjaya. O poema épico Maabárata exalta o japa (canto ritualístico) como o maior dever durante o Kali Yuga (que os hindus acreditam ser a era presente), e muitos adotam o japa como sua prática espiritual primordial.[carece de fontes?]

Rituais

editar
 
Tradicionais diyas e outros itens usados em orações durante uma cerimônia de casamento hindu

A imensa maioria dos hindus praticam rituais religiosos diariamente,[100] porém a observância destes rituais varia enormemente de acordo com as regiões, cidades ou aldeias e indivíduos. A maior parte dos hindus segue estes rituais religiosos em seus lares.[101] Os hindus mais devotos também executam tarefas diárias, como venerar durante a alvorada, depois de se banhar (normalmente num santuário familiar, num ritual que também envolve o acendimento de uma lâmpada e a colocação de oferendas de alimentos diante de imagens das divindades), recitar os escritos religiosos, cantar hinos devocionais, meditar, cantar mantras, entre outros.[101] Um fator de destaque nos rituais religiosos é a divisão entre o puro e o impuro (ou poluído). Atos religiosos pressupõem algum grau de impureza ou poluição para o seu praticamente, que devem ser anulados ou neutralizados antes ou durante o decorrer do ritual. A purificação, feita geralmente com água, é portanto um aspecto típico da maior parte dos atos religiosos do hinduísmo.[101] Outras características incluem a crença na eficácia do sacrifício e do conceito de mérito, ganho através da realização da caridade ou de bons atos, que acumulam com o tempo e reduzem o sofrimento no próximo mundo.[101] Os ritos védicos da oblação pelo fogo (yajna) são atualmente apenas práticas ocasionais, embora sejam altamente reverenciadas na teoria. Nas cerimônias de casamentos e funerais hindus, no entanto, o yajña e o entoamento de mantras védicos ainda são a norma.[102] Os rituais, upacharas, mudam com o tempo; por exemplo, nas últimas centenas de anos alguns rituais, como as danças sagradas e as oferendas musicais nos tradicionais conjuntos de Upacharas Sodasa, recomendados pelo Agama Shastra, foram substituídos por oferendas de arroz e doces.

Ocasiões como nascimentos, casamentos e mortes envolvem o que são frequentemente conjuntos elaborados de costumes religiosos. No hinduísmo, os rituais que tratam do ciclo da vida incluem o Annaprashan (a primeira ingestão de comida sólida por um bebê), Upanayanam ("cerimônia do fio sagrado" pela qual passam as crianças de castas elevadas em sua iniciação na educação formal) e Shraadh (ritual de conceder banquetes em nome dos falecidos).[103][104] Para a maior parte das pessoas na Índia, o noivado de um jovem casal e a data e hora exatas do casamento são questões decididas pelos pais, em consultas com astrólogos.[103] Na morte, a cremação, que é considerada obrigatória para todos, com a exceção de sanyasis, hijra e crianças abaixo de cinco anos,[carece de fontes?] costuma ser executada envolvendo-se o corpo em algum tecido e queimando-o sobre uma pira.

Peregrinação e festivais

editar
 Ver artigo principal: Festivais hindus
 
Diwali, o festival das luzes, é o festival principal do hinduísmo. Aqui são mostradas as tradicionais Diyas, que frequentemente são acesas durante o Diwali

A peregrinação não é obrigatória no hinduísmo, embora muitos de seus seguidores as realizem. Os hindus reconhecem diversas cidades sagradas na Índia, incluindo Allahabad, Haridwar, Varanasi e Vrindavan. Entre as cidades que possuem templos famosos está Puri, que abriga um dos principais templos vixnuísta de Jagannath e a comemoração de Rath Yatra; Tirumala - Tirupati, lar do Templo Tirumala Venkateswara; e Katra, onde se localiza o templo de Vaishno Devi. Os quatro locais sagrados de Puri, Rameswaram, Dwarka e Badrinath (ou, alternativamente, as cidades de Badrinath, Kedarnath, Gangotri e Yamunotri, no Himalaia) compõem o circuito de peregrinação de Char Dham (quatro moradas). O Kumbh Mela (o "festival das jarras") é uma das peregrinações hindus mais sagradas, realizada a cada quatro anos; a localização é alternada entre Allahabad, Haridwar, Nashik e Ujjain. Outro importante grupo de peregrinações são os Shakti Peethas, onde a Deusa Mãe é cultuada, da qual as duas principais são Kalighat e Kamakhya.

O hinduísmo apresenta diversos festivais ao longo do ano. O calendário hindu costuma prescrever estas datas. Estes festivais tipicamente celebram eventos da mitologia hindu, e coincidem muitas vezes com as mudanças de estação. Existem festivais que são celebrados principalmente por seitas específicas ou em certas regiões do Subcontinente Indiano. Alguns dos festivais mais importantes são o Maha Shivaratri, Holi, Ram Navami, Krishna Janmastami, Ganesh Chaturthi, Dussera e Durga Puja, além do Diwali.

Escrituras

editar
 
O Rig Veda é um dos mais antigos textos religiosos. Este manuscrito do Rig Veda em particular esta no alfabeto devanágari

O hinduísmo baseia-se no "tesouro acumulado de leis espirituais descobertas por diferentes pessoas em diferentes tempos".[105][106] As escrituras foram transmitidas oralmente, na forma de versos - para auxiliar na sua memorização, muitos séculos antes de serem escritos.[107] Ao longo dos séculos diversos sábios refinaram estes ensinamentos e expandiram o cânone. Na crença hindu pós-védica e moderna a maior parte das escrituras não costuma ser interpretadas literalmente; dá-se mais importância aos significados éticos e metafóricos derivados deles.[108] A maior parte dos textos sagrados está em sânscrito, e os textos se dividem em duas classes: Shruti e Smriti.

Shruti

editar
 Ver artigo principal: Śruti

Shruti (lit: "aquilo que é ouvido")[109] refere-se primordialmente aos Vedas, que compõem o mais antigo registro das escrituras hindus. Enquanto muitos hindus veneram os Vedas como verdades eternas reveladas aos antigos sábios (Ṛṣis),[106] alguns devotos não associam a criação deles com qualquer divindade ou pessoa, acreditando serem leis do mundo espiritual, que existiriam mesmo se não tivessem sido reveladas aos sábios.[105][110][111] Os hindus acreditam que, como as verdades espirituais dos Vedas são eternas, eles estão sendo expressos continuamente, de diferentes maneiras.[112]

 Ver artigo principal: Vedas

Os Vedas são os textos mais antigos do hinduísmo, e também influenciaram o budismo, o jainismo e o siquismo. Os Vedas contêm hinos, encantamentos e rituais da Índia antiga. Juntamente com o Livro dos Mortos, com o Enuma Elish, I Ching e o Avestá, eles estão entre os mais antigos textos religiosos existentes. Além de seu valor espiritual, eles também oferecem uma visão única da vida cotidiana na Índia antiga. Enquanto a maioria dos hindus provavelmente nunca leram os Vedas, a reverência por mais uma noção abstrata de conhecimento (Veda significa "conhecimento" em sânscrito) está profundamente impregnada no coração daqueles que seguem o Veda Darma.

Existem quatro Vedas: Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda, Atarvaveda. O Rig Veda é o primeiro e mais importante deles.[113] Cada Veda se divide em quatro partes: a primeira, o Veda propriamente dito, é o Saṃhitā, que contém mantras sagrados. As outras três partes formam um conjunto em três camadas de comentários, costumeiramente em prosa, tidos como feitos numa data um pouco posterior ao Saṃhitā. São os Brâmanas (Brāhmaṇas), Āraṇyakas e os Upanixades. As primeiras duas partes foram chamadas posteriormente de Karmakāṇḍa (parte ritualística), enquanto as últimas duas formam a Jñānakāṇḍa (parte do conhecimento).[114] Embora os Vedas tenham como foco os rituais, os Upanixades se concentram numa abordagem espiritual e em ensinamentos filosóficos, discutindo Brâman e a reencarnação.[108][115][116]

Upanixades

editar
 Ver artigo principal: Upanixades

Os Upanixades são denominados Vedanta, porque eles contêm uma exposição da essência espiritual dos Vedas. Entretanto é importante observar que os Upanixades são textos e Vedanta é uma filosofia. A palavra Upanishad significa "sentar-se próximo ou perto", pois os estudantes costumavam sentar-se no solo, próximos a seus mestres.

Os Upanixades organizaram mais precisamente a doutrina védica de auto-realização, ioga, e meditação, karma e reencarnação, que eram veladas no simbolismo da antiga religião de mistérios. Os mais antigos Upanixades são geralmente associados a um Veda em particular, através da exposição de uma brâmana ou Aranyaka, enquanto os mais recentes não.

Formando o coração da Vedanta (Final dos Vedas), eles contêm a técnica de adoração aos deuses védicos e capturam a essência do dito do Rig Veda "A Verdade é Uma". Eles colocam a filosofia hindu separada e acolhendo uma única e transcendente força imanente e inata na alma de cada ser humano, identificando o microcosmo e o macrocosmo como Um. Podemos dizer que enquanto o hinduísmo primitivo é fundamentado nos quatro Vedas, o hinduísmo clássico, a ioga e vedanta, e correntes tântricas do Bhakti foram modelados com base nos Upanixades.

Smritis

editar
 Ver artigo principal: Smriti
 
O Naradeya Purana descreve a mecânica do universo; neste retrato vê-se Vixnu, com sua consorte, Lakshmi, descansando em Shesha Nag. Narada e Brama também aparecem

Textos hindus além dos shrutis são chamados coletivamente de smritis ("memória"). Os mais célebres dentre os smritis são os poemas épicos, que consistem no Maabárata (Mahābhārata) e do Ramáiana (Rāmāyaṇa). O Bagavadguitá (Bhagavad Gītā), parte integral do Maabárata, e um dos mais populares textos sacros do hinduísmo, contém ensinamentos filosóficos de Krishna, uma encarnação de Vixnu, narradas ao príncipe Arjuna às vésperas de uma grande guerra. O Bhagavad Gītā, narrado por Krishna, é descrito como a essência dos Vedas.[117] O Gītā, no entanto, por vezes também chamado de Gitopanishad ("Guitopanixade"), costuma ser categorizado com maior frequência entre os shrutis, por ter um conteúdo de natureza upanixádica.[118] Os smritis também incluem os Puranas (Purāṇas), que ilustram ideias hindus através de narrativas vívidas. Também existem textos de natureza sectária, como o Devi Mahatmya (Devī Mahātmya), os Tantras, os Yoga Sutras, Tirumantiram, Shiva Sutras e Agamas (Āgamas). Um texto mais controverso, o Manusmriti, é o livro de leis que epitomiza os códigos sociais do sistema de castas.[carece de fontes?]

Puranas

editar
 Ver artigo principal: Purana

Os Puranas são considerados smriti; ensinamentos não escritos passados oralmente de uma geração a outra. Eles são distintos dos shrutis ou ensinamentos em escritos tradicionais. Existem um total de 18 Puranas maiores, todos escritos em forma de versos. Acredita-se que estes textos foram escritos muito anteriormente ao Ramayana e ao Mahabarata. Acredita-se que o mais antigo Purana provém de cerca de 300 a.C., e os mais recentes de 1300-1400. Apesar de terem sido compostos em diferentes períodos, todos os Puranas parecem ter sido revisados. Tal pode ser notado quando se observa que todos eles comentam que o número de Puranas é 18. Os Puranas variam muito: o Skanda Purana é o mais longo com 81 000 versos, enquanto o Brahma Purana e o Vamana Purana são os mais curtos com 10 000 versos cada. O número total de versos em todos os 18 Puranas é 400 000.

Ramayana e Mahabarata

editar
 Ver artigo principal: Ramayana e Ramayana

O Ramayana e o Mahabarata são os livros épicos nacionais da Índia. São provavelmente os poemas mais longos escritos em todo o mundo. A obra conta a história de um príncipe, Rama de Ayodhya, cuja esposa Sita é abduzida pelo demônio Rāvana, rei de Lanka.

O Mahabarata é atribuído ao sábio Vyasa, e foi escrito no período entre 540 e 300 a.C.. A obra, que conta a lenda dos báratas, uma das tribos arianas, discute o tri-varga ou as três metas da vida humana: kama ou desfrute sensorial, artha ou desenvolvimento econômico e darma a religiosidade mundana que se resume em códigos de conduta moral e ritual.

O Ramayana é atribuído ao poeta Valmiki, e foi escrito no século I, apesar de ser baseado em tradições orais que datam de seis ou sete séculos antes de Cristo.

Bhagavad Gita

editar
 Ver artigo principal: Bhagavad Gita

A Bhagavad Gita (Bagavadguitá em português) é considerado parte do Maabárata (escrito em 400 a.C. ou 300 a.C., é um texto central do hinduísmo, um diálogo filosófico entre o deus Krishna e o guerreiro Arjuna. Este é um dos mais populares e acessíveis textos do hinduísmo, e é de essencial importância para a religião. O Gita discute altruísmo, dever, devoção, meditação, integrando diferentes partes da filosofia hindu.

As Leis de Manu

editar

Manu é o homem lendário, o "Adão" dos hindus. As leis de Manu, ou Manusmriti, são uma coleção de textos atribuídos a ele.

História

editar
 Ver artigo principal: História do hinduísmo
 
O monte Kailash, no Tibete, é tido como a morada espiritual de Xiva

A mais antiga evidência de uma religião pré-histórica na Índia data do fim do Neolítico, no período harapano inicial (5500- ).[108][119] As crenças e práticas do período pré-clássico (1500-500 a.C.) são chamadas coletivamente de "religião histórica védica". O hinduísmo moderno cresceu a partir dos Vedas, dos quais o mais antigo é o Rig Veda, que data de 1700-1100 a.C.[120] Os Vedas centralizam o culto em divindades como Indra, Varuna e Agni, e no ritual do soma [desambiguação necessária]. Sacrifícios de fogo eram realizados, chamados de yagna (yajña), e entoavam mantras védicos, porém não construíam templos nem ícones.[carece de fontes?] As tradições védicas mais antigas mostram fortes semelhanças com o zoroastrismo e outras religiões indo-europeias.[121]

Os principais épicos em sânscrito, o Ramáiana e o Maabárata, foram compilados durante um período extenso que abrangeu os últimos séculos antes de Cristo, e os primeiros da Era Comum, e contêm histórias mitológicas sobre os governantes e as guerras da antiga Índia, intercaladas com tratados religiosos e filosóficos. Os Puranas posteriores recontam histórias sobre os devas e devis, suas interações com os humanos e suas batalhas contra demônios (rakshasas).

Origens históricas e aspectos sociais

editar

Pouco é conhecido sobre a origem do hinduísmo, já que a sua existência antecede os registros históricos. É dito que o hinduísmo deriva das crenças dos arianos, que residiam nos continentes sub-indianos, ('nobres' seguidores dos Vedas), dravidianos, e harapanos. Alguns dizem que o hinduísmo nasceu com o budismo e o jainismo, mas Heinrich Zimmer e outros indólogos afirmam que o jainismo é muito anterior ao hinduísmo, e que o budismo deriva deste e do Sankhya que em consequência afetaram o desenvolvimento de sua religião mãe. Diversas são as ideias sobre as origens dos Vedas e a compreensão se os arianos eram ou não nativos ou estrangeiros na Índia. A existência do hinduísmo data de 6 mil a 4 mil anos a.C.

Historicamente, a palavra hindu antecede o hinduísmo como religião; o termo é de origem persa e primeiramente referia-se ao povo que residia no outro lado (do ponto de vista persa) do Sindhu ou rio Indo. Foi utilizado para expressar não somente a etnicidade mas a religião védica desde o século XV e século XVI, por personalidades como Guru Nanak (fundador do siquismo). Durante o Império Britânico, a utilização do termo tornou-se comum, e posteriormente, a religião dos hindus védicos foi denominada "hinduísmo". Na verdade, foi meramente uma nova vestimenta para uma cultura que vinha prosperando desde a mais remota Antiguidade.

Distribuição geográfica atual

editar

A Índia, a Maurícia, e o Nepal, assim como a ilha indonésia de Bali têm como religião predominante o hinduísmo; importantes minorias hindus existem em Bangladesh (11 milhões), Myanmar (7,1 milhões), Sri Lanka (2.5 milhões), Estados Unidos (2,5 milhões), Paquistão (4,3 milhões), África do Sul (1,2 milhão), Reino Unido (1,5 milhão), Malásia (1,1 milhão), Canadá (1 milhão), Ilhas Fiji (500 mil), Trindade e Tobago (500 mil), Guiana (400 mil), Países Baixos (400 mil), Singapura (300 mil) e Suriname (200 mil).

Filosofia hindu: as seis escolas védicas

editar

As seis escolas filosóficas ortodoxas hindus (Astika, que aceitam a autoridade dos Vedas) são Nyaya, Vaisheshika, Sankhya, Yoga, Purva Mimamsa (também denominada Mimamsa) e Uttara Mimamsa (também denominada Vedanta). As escolas não védicas são denominadas Nastika, ou heterodoxas, e referem-se ao budismo, jainismo e Lokayata. As escolas que continuam a influenciar o hinduísmo hoje são Purva Mimamsa, Yoga, e Vedanta.

 Ver artigo principal: Nyaya

A escola Nyaya é de importância ímpar no desenvolvimento da filosofia indiana devido ao seu papel na construção de um sistema lógico e analítico, do qual nasceu todo o resto da filosofia lógica indiana, além de influenciar o desenvolvimento paralelo em diversas outras áreas do pensamento.

O Nyaya foi fundado por Aksapada Gautama, conhecido como Aksapada ("o de olhos fixos nos pés"), que escreveu o texto de maior importância dessa escola, o Nyaya Sutra, por volta do século II a.C.

Inicialmente vista com suspeita pelo clero hindu, passou logo depois a ser promovido por este como ferramenta de debate contra os heterodoxos (materialistas, budistas e jainistas). A escola teve seu prestígio incrementado, e o seu sistema passou a ser visto como um dos meios para se levar à salvação.

Vaisheshika

editar
 Ver artigo principal: Vaisheshika

A escola Vaisheshika representa uma linha de pensamento intimamente associada com a da Nyaya, e originalmente proposta pelo sábio Kanada (ou Kana-bhuk, literalmente, comedor de átomos), em torno do século II a.C.

Basicamente, a Vaisheshika expressa uma forma de atomismo e postula que todos os objetos do universo físico são redutíveis a um número finito de átomos.

Sânquia

editar
 Ver artigo principal: Sankhya
 
H. Zimmer

A filosofia Sânquia é anterior ao bramanismo, filosofia que deu origem ao hinduísmo, como coloca o indólogo Heinrich Zimmer em seu clássico Filosofias da Índia. Patânjali, monge do sul da Índia, onde até hoje a tradição tâmil preserva elementos das filosofias pré-védicas, tinha formação no sistema Saámkhya-yoga, indissociável. O Sámkhya foi compilado bem antes de Patânjali (que viveu no século II, por Kapila, que viveu pouco tempo antes de Buda. Uma diferença importante entre o sânquia e o bramanismo é que o primeiro é dualista, e o segundo monista, mas ambos veem o espírito, ou Deus, como imanente e transcendente ao mesmo tempo.

Inicialmente vista com suspeita pelo clero hindu, passou logo depois a ser promovido por este como ferramenta de debate contra os heterodoxos (materialistas, budistas e jainistas). A escola teve seu prestígio incrementado, e o seu sistema passou a ser visto como um dos meios para se levar à salvação.

A diferença mais significante do sânquia é que a escola de yoga não somente incorpora o conceito do Ishvara (ou "Deus pessoal") numa visão do mundo metafísica mas também sustenta Ishvara como um ideal sobre o qual meditar. A razão é que Ishvara é o único aspecto de purusha (do infinito Terreno Divino) que não foi mesclado com prakrti (forças criativas temporárias). Também utiliza as terminologias Brahman/Atman e conceitos profundos dos Upanixades, adotando uma visão vedântica monista. A realização do objetivo do ioga é conhecido como moksha ou samadhi. E como nos Upanixades, busca o despertar ou a compreensão de Atman como sendo nada mais que o infinito brâmane, através da (mente) ética, (corpo) físico e meditação (alma), o único alvo de suas práticas é a "verdade suprema".

Purva Mimamsa

editar
 Ver artigo principal: Purva Mimamsa

A escola Purva Mimamsa (ou "investigação anterior") estabeleceu as bases para a formulação de regras de interpretação dos Vedas. O principal questionamento da Purva Mimamsa se refere à natureza das leis naturais (ou darma). Segundo esta linha de pensamento, a natureza do darma não é acessível à razão ou observação, e deve ser inferida a partir da autoridade da revelação contida nos Vedas. Este método empírico e eminentemente sensível de aplicação religiosa é a chave para Sanatana Darma e foi especialmente desenvolvido por racionalistas como Sankaracharya e Swami Vivekananda.

A Purva Mimamsa, sendo fortemente ligada à exegese textual dos Vedas, deu origem ao estudo da filologia, ou da filosofia linguagem na Índia. A introdução da noção de shabda ("discurso") como unidade indivisível de som e significado é devido ao sábio Bhartrhari (século VII).

 Ver artigo principal: Ioga

O sistema do ioga é geralmente considerado como tendo surgido a partir da filosofia Sankhya. Entretanto o ioga referido aqui, é especialmente o raja-ioga (Raja Yoga, ou união através da meditação). E é baseada em um texto (que exerceu grande influência) de Patânjali intitulado Ioga Sutras, e é essencialmente uma compilação e sistematização da filosofia do Ioga meditacional. Os Upanixades e o Bhagavad Gita também são textos indispensáveis ao estudo da ioga.

Uttara Mimamsa ou Vedanta

editar
 Ver artigo principal: Vedanta

A escola Uttara Mimamsa (ou "investigação posterior"), também conhecida como Vedanta, é talvez a pedra angular dos movimentos do hinduísmo, e certamente foi responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa, renovação da fé, e reformas culturais. A maior parte da atual filosofia hindu está relacionada a mudanças que foram influenciadas pelo pensamento vedanta, o qual é focalizado na meditação, moralidade e centralização no Eu uno, ao invés de rituais ou distinções sociais como as castas.

Primeiramente associada com os Upanixades e seus comentários por Badaraiana, e Vedanta Sutra, o pensamento vedanta dividiu-se em três grupos, descritos a seguir.

Puro monismo: Advaita Vedânta

editar
 Ver artigo principal: Advaita Vedânta

Advaita literalmente significa "não dois"; isto é o que referimos como monoteístico, ou sistema não dualístico, que enfatiza a unidade. Seu consolidador foi Shankaracharya (788-820). Shankara expôs suas teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanixades e de seu guru Gaudapada. Através da análise da consciência experimental, ele expôs a natureza relativa do mundo e estabeleceu a realidade não dual ou Brahman no qual Atman (a alma individual) ou Brahman (a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação, direcionadas a obtenção da paz e compreensão da verdade. Sankaracharya acusou as castas e rituais como tolos, e em sua própria maneira carismática, suplicou aos verdadeiros devotos a meditarem no amor de Deus e alcançarem a verdade.

Monismo qualificado: Vixistadevaita Vedanta

editar
 Ver artigo principal: Vishishtadvaita

Ramanuja (1040 - 1137) foi o principal proponente do conceito de Sriman Narayana como Brahman o supremo. Ele ensinou que a realidade última possui três aspectos: Ishvara (Vixnu), cit ("alma") e acit ("matéria"). Vixnu é a única realidade independente, enquanto alma e material são dependentes de Deus para sua existência. Devido a esta qualificação da realidade última, o sistema de Ramanuja é conhecido como não dualístico.

Dualismo: Dvaita Vedanta

editar
 Ver artigo principal: Dvaita

Madhva (1199 - 1278) identificou deus com Vixnu, mas a sua visão da realidade era puramente dualista, pois ele compreendeu uma diferenciação fundamental entre o Deus supremo e a alma individual, e o sistema consequentemente foi denominado Dvaita (dualístico) Vedanta.

Filosofia hindu: as escolas não védicas

editar

As principais escolas não védicas ou heterodoxas (Nastika) do pensamento hindu são o budismo, o jainismo e Lokayata (ou Carvaka).

Culturas alternativas de adoração

editar

As escolas Bhakti

editar

A escola devocional Bhakti tem seu nome derivado do termo hindu que evoca a ideia de "amor prazeroso, abnegado e estupefante de Deus como Pai, Mãe, Filho Amados", ou qualquer outra forma de relacionamento que encontre apelo no coração do devoto. A filosofia de Bhakti procura usufruto pleno da divindade universal através da forma pessoal, o que explica a proliferação de tantas divindades na Índia, frequentemente refletindo as inclinações particulares de pequenas áreas ou grupos de pessoas. Vista como uma forma de Ioga ou união, ele preconiza a necessidade de se dissolver o ego em Deus, na medida em que a consciência do corpo e a mente limitada, como individualidade, seriam fatores contrários à realização espiritual. Essencialmente, é Deus que promove toda mudança, que é a fonte de todos os trabalhos. Os movimentos Bhakti rejuvenesceram o hinduísmo ao longo da sua intensa expressão de fé e receptividade às necessidades emocionais e filosóficas da Índia. Pode-se dizer corretamente que influenciaram a maior onda de mudança em orações e rituais hindus desde tempos remotos.

A mais popular forma de expressão de amor a Deus na tradição hindu é através do puja, ou ritual de devoção, frequentemente utilizando o auxílio de murti (estátua) juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em forma de mantras. Canções devocionais denominadas bhajan (escritas primeiramente nos séculos XIV-XVII), kirtan (elogio), e arti (uma forma filtrada do ritual de fogo Védico) são algumas vezes cantados juntamente com a realização do puja. Este sistema orgânico de devoção tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com Deus através de meios simbólicos. Entretanto, é dito que bhakta, através de uma crescente conexão com Deus, é eventualmente capaz de evitar todas as formas externas e é inteiramente imerso na bênção do indiferenciado amor a Verdade.

Tantrismo

editar

A palavra tantra significa "tratado" ou "série continua", e é aplicada a uma variedade de trabalhos místicos, ocultos, médicos e científicos bem como aqueles que agora nós consideramos como "tântricos". A maioria dos tantras foram escritos no final da Idade Média e surgiram da cosmologia hindu.

Temas e simbolismos importantes no hinduísmo

editar

Ahimsa e as vacas

editar
 
Ahimsa

É vital uma nota sobre o elemento ahimsa no hinduísmo para compreender a sociedade que se formou à volta de alguns dos seus princípios. Enquanto o jainismo, à medida que era praticado, era certamente uma grande influência sobre a sociedade indiana - que dizer da sua exortação do veganismo e da não violência como ahimsa - o termo primeiro apareceu nos Upanixades. Assim, uma influência internamente enraizada e externamente motivada levou ao desenvolvimento de uma grande quantidade de hindus que acabaram por abraçar o vegetarianismo numa tentativa de respeitar formas superiores de vida, restringindo a sua dieta a plantas e vegetais. Cerca de 30% da população hindu actual, especialmente em comunidades ortodoxas no sul da Índia, em alguns estados do norte como o Guzerate e em vários enclaves brâmanes à volta do subcontinente, é vegetariana. Portanto, enquanto o vegetarianismo não é um dogma, é recomendado como sendo um estilo de vida sátvico (purificador).

 
Escultura de pedra representando Nandi

Os hindus abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão tão longe quanto evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o largamente pastoral povo Védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e combustível para fertilizante, que o seu estatuto de "cuidadora" espontânea da humanidade cresceu ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal. Assim, enquanto a maioria dos hindus não adora a vaca, e as instruções escriturais contra o consumo de carne surgiram muito depois dos Vedas terem sido escritos, está ainda ocupa um lugar de honra na sociedade hindu. Diz-se que Krishna é tanto Govinda (pastor de vacas) como Gopala (protector de vacas), e que o assistente de Xiva é Nandi, o touro. Com a força no vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias religiosos ou ocasiões especiais até por hindus comedores de carne) e a natureza sagrada da vaca, não admira que a maior parte das cidades santas e áreas na Índia tenham uma proibição sobre a venda de produtos de carne e haja um movimento entre os hindus para banir a matança de vacas não só em regiões específicas como em toda a Índia.

Formas de adoração: murtis e mantras

editar

O hinduísmo prático é simultaneamente politeísta e enoteísta, pois professa a crença na existência de 33 milhões deuses que dividem graus hierárquicos, crendo na existência um deus supremo uma infinidade de deuses secundários. Segundo algumas interpretações de caráter monoteísta a variedade de deuses e avatares que são adorados pelos hindus são compreendidos como diferentes formas da Verdade Única, algumas vezes vistos como mais do que um mero Deus e um último terreno Divino (Brahman), relacionado mas não limitado ao monismo, ou um princípio monoteístico como Vixnu ou Xiva.

Acreditando na origem única como sem forma (nirguna brahman, sem atributos) ou como um Deus pessoal (saguna Brahman, com atributos), os Hindus compreendem que a verdade única pode ser vista de forma variada por pessoas diferentes. O hinduísmo encoraja seus devotos a descreverem e desenvolverem um relacionamento pessoal com sua deidade pessoal escolhida (ishta devata) na forma de Deus ou Deusa.

Enquanto alguns censos sustentam que os adoradores de uma forma ou outra de Vixnu (conhecido como Vaishnavs) são 80% dos hindus e aqueles de Xiva (chamados Shaivaites) e Shakti compõem o restante dos 20%, tais estatísticas provavelmente são enganadoras. A maioria dos hindus adora muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma da Verdade. Entre os mais populares estão Vixnu (como Krishna ou Rama), Xiva, Devi (a Mãe de muitas deidades femininas, como Lakshmi, Sarasvati, Cali e Durga), Ganexa, Escanda e Hanuman.

 
Estátua Lakshmi

A adoração das deidades é geralmente expressa através de fotografias ou imagens (murti) que são ditas não serem o próprio Deus mas condutos para a consciência dos devotos, marcas para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do amor e grandiosidade de Deus. Eles são símbolos do princípio maior, representado mas nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a maneira hindu de adoração de imagens as toma apenas como símbolos da divindade, opostos à idolatria, geralmente imposta (erroneamente) aos hindus.

Mantra

editar

Recitação e mantras originaram-se no hinduísmo e são técnicas fundamentais praticadas até os dias de hoje. Muito da chamada Mantra Yoga, é realizada através de japa ("repetições"). Dizem que os mantras, através de seus significados, sons e recitação melódica, auxiliam o sadhaka (aquele que prática) na obtenção de concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma expressão de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária para a compreensão de murti. Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são utilizados para a obtenção de auxílio ou para 'invocar' a força espiritual interior. As últimas palavras de Mahatma Gandhi enquanto morria foi um mantra ao Senhor Rama: "Hey Ram!"

O mais representativo de todos os mantras hindus é o famoso Gayatri Mantra:

ॐ भूर्भुवस्व: | तत् सवितूर्वरेण्यम् | भर्गो देवस्य धीमहि | धियो यो न: प्रचोदयात्
Aum bhūrbhuvasvah | tat savitūrvareṇyam | bhargo devasya dhīmahi | dhiyo yo naha pracodayāt

Significa, literalmente: "Om! Terra, Universo, Galáxias (invocação aos três mundos). Que nós alcancemos a excelente glória de Savitr, o Deus. Que ele estimule os nossos pensamentos/meditações."

O mantra Gayatri é considerado o mais universal, o mais importante (maha mantra) de todos os mantras hindus, e invoca o Brâman universal como um princípio de conhecimento e iluminação do sol primordial, mas somente em seu aspecto feminino. Muitos hindus até os dias de hoje, seguindo uma tradição que permanece viva por pelo menos 5 000 anos, realizam abluções matinais às margens do rio sagrado (especialmente do rio Ganges. Conhecido como um mantra sagrado, é reverenciado como sendo a forma mais condensada do "Conhecimento Divino" (Veda). E governado pelo princípio, Ma ("Mãe") Gayatri, também conhecido como Veda Mata ("mãe dos Vedas") e intimamente associado à deusa do aprendizado e iluminação, Sarasvati.

O maior objetivo da religião védica é alcançar moksha, ou liberação, através da constante dedicação a Satya (Verdade) e uma eventual realização de Atman (Alma Universal). Não importa se atingido através de meditação ou puro amor, este objetivo universal é alcançado por todos. Deve ser observado que o hinduísmo é uma fé prática, e é incorporado em cada aspecto da vida. Acredita igualmente no temporal e no infinito, e somente encoraja perspectivas destes princípios. Os grandes rishis (sábios, considerados espécies de santos hindus) e também denominados como samsárico (aquele que vive no samsara, i.e. plano temporal ou terrestre) aquele que segue um meio de vida honesto e amável (dhármico) é um jivanmukta (alma vivente liberta). As verdades fundamentais do hinduísmo são melhores compreendidas na frase dos Upanixades, Tat Twam Asi (Assim És Tu), e na última aspiração como segue:

Aum Asato ma sad gamaya, tamaso ma jyotir gamaya, mrityor ma aamritaam gamaya
"Aum Conduza-me da ignorância para a verdade, das trevas para a luz, da morte para a imortalidade."

Ver também

editar

Referências

  1. a b «The Global Religious Landscape – Hinduism». A Report on the Size and Distribution of the World's Major Religious Groups. Pew Research Foundation. 18 de dezembro de 2012. Consultado em 31 de março de 2013 
  2. a b «Christianity 2015: Religious Diversity and Personal Contact» (PDF). gordonconwell.edu. Janeiro de 2015. Consultado em 29 de maio de 2015. Cópia arquivada (PDF) em 25 de maio de 2017 
  3. «Hindu Countries 2021». World Population Review (em inglês). 2021. Consultado em 2 de junho de 2021 
  4. Siemens & Roodt 2009, p. 546.
  5. Leaf 2014, p. 36.
  6. Knott 1998, pp. 3, 5.
  7. Hatcher 2015, pp. 4–5, 69–71, 150–152.
  8. Bowker 2000.
  9. Harvey 2001, p. xiii.
  10. Smith, Brian K. (1998). «Questioning Authority: Constructions and Deconstructions of Hinduism». International Journal of Hindu Studies. 2 (3): 313–339. ISSN 1022-4556. JSTOR 20106612. doi:10.1007/s11407-998-0001-9 
  11. Sharma & Sharma 2004, pp. 1–2.
  12. Klostermaier 2014, p. 2.
  13. Klostermaier 2007b, p. 7.
  14. «View Dictionary». sanskritdictionary.com. Consultado em 19 de novembro de 2021 
  15. Michaels 2004.
  16. Bilimoria 2007; ver também Koller 1968.
  17. Flood 1997, p. 11.
  18. a b Klostermaier 2007, pp. 46–52, 76–77.
  19. Brodd 2003.
  20. Dharma, Samanya; Kane, P. V. History of Dharmasastra. 2. [S.l.: s.n.] pp. 4–5 ; ver também Widgery 1930
  21. Ellinger, Herbert (1996). Hinduism. [S.l.]: Bloomsbury Academic. pp. 69–70. ISBN 978-1-56338-161-4 
  22. Zaehner, R. C. (1992). Hindu Scriptures. [S.l.]: Penguin Random House. pp. 1–7. ISBN 978-0-679-41078-2 
  23. Clarke, Matthew (2011). Development and Religion: Theology and Practice. [S.l.]: Edward Elgar Publishing. p. 28. ISBN 978-0-85793-073-6. Consultado em 11 de fevereiro de 2015. Cópia arquivada em 29 de dezembro de 2020 
  24. Holberg, Dale, ed. (2000). Students' Britannica India. 4. [S.l.]: Encyclopædia Britannica India. p. 316. ISBN 978-0-85229-760-5 
  25. Nicholson, Andrew (2013). Unifying Hinduism: Philosophy and Identity in Indian Intellectual History. [S.l.]: Columbia University Press. pp. 2–5. ISBN 978-0-231-14987-7 
  26. Samuel 2008, p. 193.
  27. Hiltebeitel 2007, p. 12; Flood 1996, p. 16; Lockard 2007, p. 50
  28. Narayanan 2009, p. 11.
  29. Fowler 1997, pp. 1, 7.
  30. a b c Hiltebeitel 2007, p. 12.
  31. a b Larson 2009.
  32. Larson 1995, pp. 109–111.
  33. Bhandarkar 1913.
  34. Tattwananda n.d.
  35. Flood 1996, pp. 113, 134, 155–161, 167–168.
  36. Lipner 2009, pp. 377, 398.
  37. Frazier, Jessica (2011). The Continuum companion to Hindu studies. London: Continuum. pp. 1–15. ISBN 978-0-8264-9966-0 
  38. «Peringatan». sp2010.bps.go.id 
  39. Vertovec, Steven (2013). The Hindu Diaspora: Comparative Patterns. [S.l.]: Routledge. pp. 1–4, 7–8, 63–64, 87–88, 141–143. ISBN 978-1-136-36705-2 
  40. Lipner, Julius (1998), Hindus: Their Religious Beliefs and Practices, Routledge, ISBN 0-415-05181-9, visitado em 24-07-2008.
  41. Ver Leis sonoras do indo-europeu para uma discussão sobre a transição de Sindhu para Hindu.
  42. David Lorenzen, Who Invented Hinduism? Nova Déli, 2006, pgs. 24-33; Rajatarangini de Yonaraja: "Hinduka"
  43. "…that many-sided and all-enfolding culture which we in the West have chosen to call Hinduism" Jan Gonda, Visnuism and Sivaism, Munshiram Manoharlal. 1996, ISBN 81-215-0287-X p. 1. citado por Welbon, G.R. «Love of God According to Saiva Siddhanta: A Study in the Mysticism and Theology of Saivism». Journal of the American Academy of Religion, Vol. 43, No. 1, 98+100. Mar., 1975. 
  44. J. McDaniel Hinduism, in John Corrigan, The Oxford Handbook of Religion and Emotion, 2007, Oxford University Press, pgs. 52-53 ISBN 0-19-517021-0
  45. a b c d Flood 2001, Defining Hinduism
  46. Smith, W.C. (1962) The Meaning and End of Religion. San Francisco, Harper and Row. p. 65
  47. Stietencron, on, Hinduism: On the Proper Use of A Deceptive Term, pp.1-22
  48. Halbfass, (1991) Tradition and Reflection. Albany, SUNY Press. pp. 1-22
  49. Smart, (1993) The Formation Rather than the Origin of a Tradition,in DISKUS: A Disembodied Journal of Religious Studies, vol. 1, no. 1, p. 1
  50. O OED cita J. Davies, trad. Mandelslo's Trav. 74 (1662) The King of Cambaya, who was a Hindou, or Indian, that is, a Pagan. ("O rei de Cambaya, que era um hindu, ou indiano, isto é, um pagão.") e sir T. Roe, em Voy. E. Ind. P. della Valle's Trav. E. Ind. 374 (1665) The Inhabitants in general of Indostan were all anciently Gentiles, called in general Hindoes. ("Geralmente os habitantes do Indostão eram todos gentis desde os tempos antigos, e chamados em geral de hindus.")
  51. Turner, Bryan S. Essays on the Sociology of Fate, p. 275
  52. O hinduísmo é definido de diversas maneiras, como "religião", "grupo de crenças e práticas religiosas", "tradição religiosa" etc. O tópico é discutido em Establishing the boundaries, de Gavin Flood (2003), pgs. 1-17.
  53. Merriam-Webster's Collegiate Encyclopedia. [S.l.]: Merriam-Webster. 2000. 751 páginas 
  54. Merriam-Webster's Encyclopedia of World Religions, p. 434
  55. Vaz, P. (2001), «Coexistence of Secularism and Fundamentalism in India», Handbook of Global Social Policy, consultado em 26 de junho de 2008, Hinduism is the oldest of all the major world religions. 
  56. Eastman, R. (1999). The Ways of Religion: An Introduction to the Major Traditions. [S.l.]: Oxford University Press, USA 
  57. Joel Beversluis (2000). Sourcebook of the World's Religions: An Interfaith Guide to Religion and Spirituality (Sourcebook of the World's Religions, 3ª ed). Novato, Calif: New World Library. 50 páginas. ISBN 1-57731-121-3 
  58. Weightman & Klostermaier 1994, p. 1
  59. Bhagavad Gita, Sarvepalli Radhakrishnan: "Hinduism is not just a faith. It is the union of reason and intuition that can not be defined but is only to be experienced."
  60. Ferro-Luzzi,(1991)The Polythetic-Prototype Approach to Hinduism in G.D. Sontheimer and H. Kulke (ed.) Hinduism Reconsidered. Déli: Manohar. pp. 187-95
  61. «JSTOR: Philosophy East and West, Vol. 34, No. 2 (April, 1984 ), pp. 234-236». www.jstor.org 
  62. Knott, Kim. Hinduism in Britain (2000) "The South Asian Religious Diaspora in Britain, Canada, and a United States".
  63. The Concise Oxford Dictionary of World Religions. ed. John Bowker. Oxford University Press, 2000; o uso moderno do termo remonta aos movimentos de reforma do hinduísmo do fim do século XIX (J. Zavos, Defending Hindu Tradition: Sanatana Dharma as a Symbol of Orthodoxy in Colonial India, Religion (Academic Press), Volume 31, Número 2, abril de 2001, pgs. 109-123; ver também R. D. Baird, "Swami Bhaktivedanta and the Encounter with Religions," Modern Indian Responses to Religious Pluralism, editado por Harold Coward, State University of New York Press, 1987); pode ser traduzido também, de maneira menos literal, como "caminho eterno" (Harvey, Andrew (2001). Teachings of the Hindu Mystics. Boulder: Shambhala. pp. xiii. ISBN 1-57062-449-6 ). Ver também René Guénon, Introduction to the Study of the Hindu Doctrines (1921 ed.), Sophia Perennis, ISBN 0-900588-74-8, parte III, capítulo 5 "The Law of Manu", p. 146. Sobre o significado da palavra "Dharma", ver também Guénon, Studies in Hinduism, Sophia Perennis, ISBN 0-900588-69-3, cap. 5, p. 45
  64. Encyclopædia Britannica, verbetes "Hinduism" e "Saint"
  65. Harvey, Andrew (2001). Teachings of the Hindu Mystics. Boulder: Shambhala. xiii. ISBN 1-57062-449-6 
  66. Weightman 1998, pp. 262–264 "It is Hindu self-awareness and self-identity that affirm Hinduism to be one single religious universe, no matter how richly varied its contents, and make it a significant and potent force alongside the other religions of the world."
  67. «Polytheism». Encyclopædia Britannica. Encyclopædia Britannica Online. 2007. Consultado em 5 de julho de 2007 
  68. Ver Michaels 2004, p. xiv e Gill, N.S. «"Henotheism"». About.com. Consultado em 5 de julho de 2007. Arquivado do original em 17 de março de 2007 
  69. a b Monier-Williams 1974, pp. 20–37
  70. a b c & Bhaskarananda 1994
  71. Vivekananda 1987
  72. Werner 1994, p. p37
  73. Werner 1994, p. 7
  74. a b c d Monier-Williams 2001
  75. Sen Gupta 1986, p. viii
  76. Para uma tradução de deva na sua forma singular como "uma divindade, deus", e em sua forma plural como "os deuses" ou "os celestiais e brilhantes", ver: Monier-Williams 2001, p. 492. Na realidade existem diferentes escalões entre os devas; os mais importantes são os mahadevas [desambiguação necessária] imortais, como Xiva, Vixnu, etc.; logo a seguir vêm os devas de segundo escalão, como Ganexa, descritos como seus descendentes: eles "nasceram" e seu "tempo de vida" é um tanto limitado (no Movimento Hare Krishna a palavra é traduzida como "semideuses", embora este termo também possa se referir a outros ambientes celestiais, como gandharvas; ver: «Vedic cosmology». Vedic Knowledge Online. VEDA - Bhaktivedanta Book Trust. Consultado em 25 de junho de 2007 ). Para uma tradução de devatā como "divindade", ver: Monier-Williams 2001, p. 495.
  77. Werner 1994, p. 80
  78. Renou 1961, p. 55
  79. a b Harman 2004, pp. 104–106
  80. * Apte, Vaman S(1997), escrito(a) em Déli,«The Student's English-Sanskrit Dictionary» (em inglês)  (New ed.), Motilal Banarsidas, ISBN 8120803000
  81. Smith 1991, p. 64
  82. Radhakrishnan 1996, p. 254
  83. Bagavadguitá 2.22
  84. Bagavadguitá XVI.8-20
  85. Vivekananda, Swami(2005),«Jnana Yoga» (em inglês)  , Kessinger Publishing, ISBN 1-425482-88-0 301-02 (8ª impressão 1993)
  86. Rinehart 2004, pp. 19–21
  87. Bhaskarananda 1994, pp. 79–86
  88. Os conceitos cristãos de Céu e Inferno não podem ser traduzidos diretamente para o hinduísmo; reinos espirituais como o Vaikunta (residência de Vixnu) ou loka são as analogias mais próximas a um eterno Reino de Deus.
  89. Nikhilananda 1992
  90. como discutido no Maabárata (Mahābhārata) 12.161; Bilimoria et al. (eds.), Indian Ethics: Classical Traditions and Contemporary Challenges (2007), p. 103; ver também Werner 1994, Bhaskarananda 1994, p. 7
  91. The Philosophy of Hinduism : Four Objectives of Human Life ; Dharma (Right Conduct), Artha (iRght Wealth), Kama (Rght Desire), Moksha (Right Exit (Liberation)). [S.l.]: Pustak Mahal. 2006. ISBN 81-223-0945-3 
  92. a b Bhaskarananda 1994
  93. Ver, por exemplo, a tradução do Bagavadguitá 11.54: "My dear Arjuna, only by undivided devotional service can I be understood as I am, standing before you, and can thus be seen directly. Only in this way can you enter into the mysteries of My understanding.", Bhaktivedanta 1997, ch. 11.54 ("Meu caro Arjuna, apenas através do serviço devocional pleno posso ser compreendido como sou, diante de você, e assim ser visto diretamente. Apenas desta maneira você poderá entrar nos mistérios da Minha compreensão.")
  94. "One who knows that the position reached by means of analytical study can also be attained by devotional service, and who therefore sees analytical study and devotional service to be on the same level, sees things as they are.", Bhaktivedanta 1997, ch. 5.5. ("Aquele que sabe que a posição alcançada através do estudo analítico também pode ser atingido pelo serviço devocional, e que portanto vê o estudo analítico e o serviço devocional no mesmo patamar, vê as coisas como elas são.")
  95. Monier-Williams 1974, p. 116
  96. Bhaskarananda 1994, p. 157
  97. Bhaskarananda 1994, p. 137
  98. arcye viṣṇau śīlā-dhīr. . . narakī saḥ.
  99. «Religious Life». Religions of India. Global Peace Works. Consultado em 19 de abril de 2007. Arquivado do original em 8 de outubro de 2007 
  100. a b c d «Domestic Worship». Country Studies. The Library of Congress. Setembro de 1995. Consultado em 19 de abril de 2007 
  101. «Hindu Marriage Act, 1955». Consultado em 25 de junho de 2007. Arquivado do original em 5 de junho de 2007 
  102. a b «Life-Cycle Rituals». Country Studies: India. Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Setembro de 1995. Consultado em 19 de abril de 2007 
  103. Banerjee, Suresh Chandra. «Shraddha». Banglapedia. Sociedade Asiática de Bangladesh. Consultado em 20 de abril de 2007 
  104. a b Vivekananda 1987, pp. 6–7 Vol I
  105. a b Vivekananda 1987, pp. 118–120 Vol III
  106. Sargeant & Chapple 1984, p. 3
  107. a b c Nikhilananda 1990, pp. 3–8
  108. Ver, por exemplo, René Guénon Man and His Becoming According to the Vedanta (1925 ed.), Sophia Perennis, ISBN 0-900588-62-4, chapter 1, "General remarks on the Vedanta, p.7.
  109. Obs.: Nyaya-Vaisheshika acredita que os Vedas foram criados por Deus, e não são eternos.
  110. Harshananda, Swami(1989), escrito(a) em Mylapore,«A Bird's Eye View of the Vedas, in "Holy Scriptures: A Symposium on the Great Scriptures of the World"» (em inglês)  (2ª ed.), Sri Ramakrishna Math, ISBN 81-7120-121-0
  111. Vivekananda 1987, p. 374 Vol II
  112. O Rig Veda não apenas é o mais antigo dos Vedas, mas também um dos textos indo-europeus mais antigos.
  113. «Swami Shivananda's mission». Consultado em 25 de junho de 2007 
  114. Werner 1994, p. 166
  115. Monier-Williams 1974, pp. 25–41
  116. Sarvopaniṣado gāvo, etc. (Gītā Māhātmya 6). Gītā Dhyānam, citado em Introduction to Bhagavad-gītā As It Is Arquivado em 1 de março de 2014, no Wayback Machine..
  117. Coburn, Thomas B. Scripture" in India: Towards a Typology of the Word in Hindu Life, Journal of the American Academy of Religion, Vol. 52, No. 3 (setembro de 1984), pp. 435-459
  118. "Hindu History", BBC.
  119. Oberlies T. Die Religion des Rgveda, Viena 1998. p. 158
  120. A divindade rigvédica Dyaus, tida como pai dos outros deuses, está relacionada, linguisticamente - é um cognato - com Zeus, pai dos deuses na mitologia grega, Jove (Iovis), rei dos deuses na mitologia romana, e Tiu/Ziu na mitologia germânica. [1], cf. inglês 'Tues-day', "terça-feira". Outras divindades védicas também apresentam cognatos com outras encontradas nas mitologias dos povos que falavam o indo-europeu; ver religião proto-indo-europeia.

Bibliografia

editar

Ligações externas

editar
 
Wikiquote
O Wikiquote possui citações de ou sobre: Hinduísmo