Igreja Católica em Angola
A Igreja Católica em Angola é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé. O país costuma respeitar a liberdade religiosa, e as igrejas têm total liberdade para evangelizar, catequizar e gerir meios de comunicação, como por exemplo estações de rádio e imprensa escrita. Alguns grupos religiosos minoritários queixam-se de que a Igreja Católica é favorecida pelo governo.[7] A Igreja angolana, apesar de muitos desafios que enfrenta no país, vem cobrando de seu clero que construam um laicado forte. Dom Emílio Sumbelelo, bispo de Viana, apelou aos dirigentes e gestores católicos do país a não se deixarem levar pela corrupção e a preservarem a integridade.[8]
Angola | |
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Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, em Luanda, capital de Angola | |
Santo padroeiro | Imaculado Coração de Maria[1][2] |
Ano | 2010[3] |
População total | 19.080.000 |
Cristãos | 17.270.000 (90,5%) |
Católicos | 8.640.000 (45,3%) |
Paróquias | 355[4][nota 1][nota 2] |
Presbíteros | 1.068[4][nota 1] |
Seminaristas | 1.328[4][nota 1] |
Religiosos | 1.189[4][nota 1] |
Religiosas | 1.929[4][nota 1] |
Presidente da Conferência Episcopal | Filomeno do Nascimento Vieira Dias[5] |
Núncio apostólico | Kryspin Witold Dubiel[6] |
Códice | AO |
“ | Num momento em que o homem quer pôr de parte Deus, quer prescindir Deus da sua história, e construir a sua história sem Deus, a Igreja Católica quer contar com um laicado forte que possa levar para as realidades temporais Deus e a sua mensagem de justiça e paz | ” |
— Dom Emílio Sumbelelo, bispo de Viana, sobre a participação dos leigos na vida da Igreja Católica angolana[8].
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História
editarOs portugueses começaram a explorar a costa do atual território angolano em 1483, levando os primeiros missionários católicos à região em 1491.[9] Enquanto isso, em 1506, o primeiro reino cristão ao sul do Saara foi estabelecido pelos portugueses na região para a evangelização. O fundador e primeiro rei foi Dom Afonso I Mbemba-a-Nzinga, que viveu até 1543. O reino, cuja população era composta por dois grupos étnicos, os bantus e os lusos, conseguiu, entre eventos alternativos, durar até o século XVIII.[10] O primeiro assentamento permanente foi construído em Luanda em 1575. Enquanto Portugal estendia seu domínio sobre a região — entre 1575 e 1680 —, jesuítas, franciscanos, dominicanos e um poucos padres seculares, inauguraram uma atividade missionária católica eficaz. Contanto, seus esforços acabavam muito prejudicados pelo comércio escravagista, a região tinha cerca de 20.000 católicos em 1590. A Diocese de São Salvador foi erigida em 1596 e transferida para Luanda em 1676.[9]
Em 1640, a Prefeitura do Congo foi criada e confiada aos capuchinhos italianos, que trabalhavam no norte do território. A missão foi a mais florescente da África nos séculos XVII e início do XVIII; depois declinou por um século. Portugal expulsou os jesuítas em 1759 e suprimiu todas as ordens em 1834. Entre 1826 e 1852, a diocese ficou vacante. O renascimento da influência católica em Angola só retornou no ano 1866, quando chegaram os padres espiritanos franceses. Apesar das dificuldades entre o governo português e os missionários franceses, a Prefeitura Apostólica de Cimbebasia foi criada em 1879, e abrangia a metade sul de Angola. Levantes feitos por nativos entre 1902 e 1907 fizeram com que autoridades portuguesas dificultassem seriamente a missão, fechando estações missionárias. Em 1910 o mesmo voltou a ocorrer, com a alegação de que os missionários estavam dando apoio a atividades pró-independência. Percebeu-se melhora na situação da Igreja após a chegada dos beneditinos em 1933.[9]
Após a assinatura de uma concordata entre Portugal e a Santa Sé, em 1940, a Igreja adquiriu força, por exemplo, a educação primária confiada pelo governo. Nesse mesmo ano, Luanda tornou-se uma arquidiocese e sé metropolitana para o país. No mesmo período, a atividade missionária protestante aumentou no interior do país.[9] A Caritas Angola iniciou suas atividades em 1957, mas na época ainda dependente Caritas Portugal, obtendo sua autonomia em 20 de agosto de 1970 pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé. Foi filiada à Caritas Internacionalis em Roma, em 1971.[11] Tensões entre forças militares portuguesas e agitadores nacionalistas eclodiram em 1961, resultando em mais de uma década de violência antes de Angola conquistar a independência de Portugal em 11 de novembro de 1975. José Eduardo dos Santos, primeiro presidente que implantou um regime marxista, e iniciou uma guerra civil que duraria até o próximo século. Enquanto isso, sob a doutrina marxista, as escolas e clínicas da Igreja logo foram nacionalizadas, os líderes católicos foram perseguidos e a maioria dos missionários estrangeiros expulsos do país. Apesar de tais ações, o governo tolerou a prática da religião e, em 1978, criou um registro de todas as religiões "legítimas", o qual incluía o catolicismo. As políticas repressivas afrouxaram na década de 1980, quando o governo se deu conta de que os líderes religiosos não dirigiam oposição política. Na década de 1990, feriados religiosos foram restabelecidos e políticas ateístas encerradas. Após os acordos de paz assinados em 1991, os missionários foram novamente autorizados a entrar na região costeira de Angola, e a Igreja se tornou uma força importante para uma estabilidade política duradoura. Em 1994, houve tentativas frustradas de pôr fim aos combates, e líderes da Igreja e fiéis se tornaram alvo de violência. Em um esforço para pôr fim à violência contínua, o Vaticano estabeleceu relações diplomáticas formais com Angola em 1997, atendendo a um pedido feito pelo presidente em 1992. Em 1999, o Papa São João Paulo II se manifestou contra a guerra em Angola, e pediu para que os países deixassem de comercializar armamentos com os países da África em guerra. Apesar disso, os combates continuaram. Em 6 de janeiro de 1999, o padre Albino Saluhaku e dois catequistas foram assassinados no Huambo.[9]
Atualmente
editarEm 2000, Angola tinha 246 paróquias, e seus fiéis eram atendidos por 220 padres diocesanos e 283 religiosos. Os irmãos que trabalhavam nas missões eram 85, enquanto 1.538 irmãs atendiam às necessidades educacionais, médicas e de outras atividades sociais do país, incluindo 177 escolas primárias e 55 secundárias. Uma estação de rádio católica, a Rádio Ecclesia, transmite missas semanais da Igreja e outras programações religiosas.[9] Sexta-feira Santa e Natal são feriados públicos nacionais.[7] Uma lei promulgada em 2004 obriga todos os grupos religiosos a se registrarem junto aos Ministérios da Justiça e da Cultura. Os requisitos são: ter ao menos 100 mil membros e estarem presentes em pelo menos 12 das 18 províncias do país. Essa política resultou em uma recusa do reconhecimento de alguns grupos minoritários, incluindo os muçulmanos e de pequenas igrejas evangélicas. Ainda assim, esses grupos podem realizar atos de culto públicos.[7]
Em julho de 2000, 34 católicos foram sequestrados da missão suíça de Nossa Senhora de La Salette em Dunde, e mais tarde foram libertados pelos rebeldes da UNITA. O sequestro ocorreu no primeiro dia do Congresso pela Paz, uma sessão de negociação planejada organizada pela Igreja na tentativa de reunir o governo e os rebeldes da União Nacional para a Independência Total de Angola. Na primavera de 2001, os bispos católicos ofereceram-se para mediar um esforço adicional pela paz.[9]
Em janeiro de 2018, o presidente João Lourenço autorizou a emissora católica Rádio Ecclesia a ampliar suas emissões para todo o território nacional. Até então, essa estação de rádio apenas podia difundir emissões na capital, Luanda. O porta-voz da Conferência Episcopal de Angola, Dom José Manuel Imbamba, considerou a decisão como "o fim de uma grande injustiça" e felicitou o presidente pela "sua coragem".[7] Um acordo assinado em 13 de setembro de 2019, reconhecendo a personalidade jurídica da Igreja Católica e de suas principais instituições, o livre exercício de evangelização e sua contribuição específica nas diversas áreas da vida do país. Manuel Augusto, ministro das relações exteriores angolano, reconheceu o "inestimável e grandioso contributo da Igreja Católica para o desenvolvimento social do país, particularmente nos domínios da Educação, Saúde e Cultura, bem como na busca da consolidação da Paz no período do conflito armado em Angola".[12] Também foi um marco o início das negociações entre o governo e a Igreja para a devolução do patrimônio católico confiscado pelo governo socialista.[13] Em 3 de março de 2020, Dom Filomeno do Nascimento Vieira Dias, presidente da Conferência Episcopal, comentou que a política de combate à corrupção e repatriamento de capitais ilícitos resultam de "desejos de justiça e impulso de vingança que se parecem confusos". O bispo também expressou preocupação com os casos de abandono de mulheres.[14]
Em 2019, Dom Francisco Viti, então arcebispo de Huambo, terminou a tradução do Catecismo para o umbundu, uma das principais línguas nativas do país.[15]
“ | A tradução foi muito difícil porque implicava terminologia filosófica, teológica, científica até o problema da Bioética. | ” |
— Dom Francisco Viti, então arcebispo de Huambo, sobre a tradução do Catecismo da Igreja Católica para a língua umbundo[15].
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Organização eclesiástica
editarO catolicismo está presente no país com cinco arquidioceses e 15 dioceses de rito romano, todas estão listadas abaixo:[4][16]
- Arquidiocese de Luanda, tendo como sufragâneas as seguintes dioceses: Diocese de Cabinda, Diocese de Caxito, Diocese de Mabanza Congo, Diocese de Sumbe e Diocese de Viana
- Arquidiocese do Huambo, tendo como sufragâneas as seguintes dioceses: Diocese de Benguela, Diocese do Cuíto-Bié e Diocese de Ganda
- Arquidiocese de Lubango, tendo como sufragâneas as seguintes dioceses: Diocese de Menongue, Diocese do Namibe e Diocese de Ondijiva
- Arquidiocese de Malanje, tendo como sufragâneas as seguintes dioceses: Diocese de Nadalatando e Diocese do Uíge
- Arquidiocese de Saurimo, tendo como sufragâneas as seguintes dioceses: Diocese de Dundo e Diocese de Luena
Há também a Eparquia da Anunciação de Ibadan, sediada na Nigéria e presente em diversos países africanos, incluindo Angola, e é voltada para os fiéis católicos que seguem o rito maronita.[17]
Conferência Episcopal
editarO bispos angolanos e os são-tomenses fazem parte da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, que foi criada em 1967.[5]
Nunciatura Apostólica
editarA Delegação Apostólica de Angola foi criada em 1975,[6] e com o estabelecimento de relações diplomáticas entre o país e a Santa Sé, em 8 de julho de 1997,[13] esta foi elevada a Nunciatura Apostólica em 1º de setembro do mesmo ano.[6]
Visitas papais
editarAngola foi vistada duas vezes por papas: a primeira viagem foi feita pelo Papa São João Paulo II, entre 4 e 10 de junho de 1992, e também incluiu São Tomé e Príncipe.[18][19] A segunda viagem foi feita pelo Papa Bento XVI entre 20 e 23 de março de 2009.[20][21] Na cerimônia de despedida de Bento XVI, realizada no dia 23 de março, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro de Luanda, o Pontífice afirmou sobre a Igreja angolana:[22]
“ | Estou grato a Deus por ter encontrado uma Igreja viva e, apesar das dificuldades, cheia de entusiasmo, que soube carregar a sua cruz e a dos outros, testemunhar perante todos a força salvífica da mensagem evangélica. Ela continua a anunciar que chegou o tempo da esperança, empenhando-se na pacificação dos ânimos e convidando ao exercício duma caridade fraterna que saiba abrir-se ao acolhimento de todos, no respeito das ideias e sentimentos de cada um. É hora de me despedir para voltar a Roma, triste por vos deixar, mas feliz por ter conhecido de perto um povo corajoso e decidido a renascer. Não obstante as resistências e os obstáculos, este povo pretende construir o seu futuro caminhando por sendas de perdão, justiça e solidariedade. | ” |
Notas
- ↑ a b c d e Os números não incluem a Eparquia Maronita da Anunciação de Ibadan, por estar sediada na Nigéria, e abranger os territórios de diversos países africanos.
- ↑ Os números não incluem a Diocese de Luena, que não divulgou o número de paróquias em seu território.
Referências
- ↑ «Patron Saints of places». Catholic Tradition. Consultado em 11 de novembro de 2018
- ↑ «Padroeiros de Países». Boletim Padre Pelágio. Consultado em 11 de novembro de 2018
- ↑ «Angola». Pew Forum. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ a b c d e f «Catholic Dioceses in Angola». GCatholic. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ a b «Conferência Episcopal de Angola e São Tomé». GCatholic. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ a b c «Apostolic Nunciature - Angola». GCatholic. Consultado em 9 de julho de 2024
- ↑ a b c d «Angola». Fundação ACN. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ a b Anastácio Sasembele (4 de fevereiro de 2020). «Angola. Bispo aos dirigentes e gestores católicos: não se deixem levar pela corrupção». Vatican News. Consultado em 9 de junho de 2020
- ↑ a b c d e f g «ANGOLA, THE CATHOLIC CHURCH IN». Encyclopedia.com. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ Giulio Albanese, Avvenire, 22 de março de 2009.
- ↑ «História». Caritas Angola. Consultado em 9 de junho de 2020
- ↑ «Governo reconhece os imóveis da Igreja Católica». Jornal de Angola. 14 de setembro de 2019. Consultado em 9 de junho de 2020
- ↑ a b João Marcos (1 de junho de 2020). «Devolução do património da Igreja Católica apreendido pelo Governo angolano continua por decidir». Voa Português. Consultado em 9 de junho de 2020
- ↑ «Igreja Católica alerta que Angola vive "desejos de justiça e impulso de vingança confusos"». RTP. 3 de março de 2020. Consultado em 9 de junho de 2020
- ↑ a b Anastácio Sasembele (4 de dezembro de 2019). «Angola. Catecismo da Igreja Católica já disponível em língua Umbundo». Vatican News. Consultado em 9 de junho de 2020
- ↑ «Catholic Dioceses in Angola». Catholic-Hierarchy. Consultado em 28 de abril de 2020
- ↑ «Maronite Diocese of Annunciation of Ibadan». GCatholic. Consultado em 30 de abril de 2020
- ↑ «Special Celebrations in a.d. 1992». GCatholic. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ «Viagem Apostólica a Angola e São Tomé e Príncipe». Vatican.va. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ «Special Celebrations in a.d. 2009». GCatholic. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ «Viagem Apostólica a Camarões e Angola». Vatican.va. Consultado em 25 de maio de 2020
- ↑ a b Papa Bento XVI (23 de março de 2009). «CERIMÓNIA DE DESPEDIDA DE ANGOLA - DISCURSO DO PAPA BENTO XVI». Vatican.va. Consultado em 25 de maio de 2020