Cristina da Suécia: diferenças entre revisões
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| sucessor = [[Carlos X Gustavo da Suécia|Carlos X Gustavo]]
| casa = [[Dinastia de Vasa|Vasa]]
| nome completo = Cristina Augusta{{small|(nascimento)}}
Cristina Alexandra Maria{{small|(católico)}}
| pai = [[Gustavo II Adolfo da Suécia]]
| mãe = [[Maria Leonor de Brandemburgo]]
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| brasão = Greater coat of arms of Kings of Sweden.svg
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'''Cristina''' ([[Estocolmo]], [[18 de dezembro]] de [[1626]] – [[Roma]], [[19 de abril]] de [[1689]]) - com o nome de nascimento ''Kristina Augusta''
<ref>{{citar livro |título=Lello Universal: dicionário enciclopédico em 2 volumes |ano=1981 |volume=1 |capítulo=Cristina |citacao=Cristina, filha de Gustavo Adolfo, n. em Estocolmo (1626-1689), rainha da Suécia (1634-1654). Abdicou em 1654 em favor de Carlos Gustavo, seu primo, depois de se ter convertido ao catolicismo. |pagina=664 |isbn= |editora=Lello Editores |local=Porto |acessodata=}}</ref>
<ref>{{Citar livro |sobrenome=Svensson|nome=Alex|coautor=|título=Sveriges Regenter|subtítulo=Under 1000 år |idioma=sueco|local=Estocolmo|editora=Svenskt militärhistoriskt bibliotek|ano=2010|páginas=159|página=92-93 |capítulo=Vasaätten |isbn=9789185789696|acessodata=}}</ref>
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<ref>{{citar web|url=http://www.popularhistoria.se/artiklar/drottning-kristina-visionar-i-nytt-ljus/|título=Drottning Kristina – visionär i nytt ljus|publicado=Populär historia, 2007|autor=Marie-Louise Rodén|língua=sueco|acessodata=28 de Abril de 2016|data=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
<ref name="kristina1">{{citar web|url=https://sok.riksarkivet.se/Sbl/Presentation.aspx?id=11773|título=Kristina|publicado=Svenskt biografiskt lexikon (Riksarkivet) - ''[[Dicionário Biográfico Sueco]]'' (''[[Arquivo Nacional Sueco]]'')|autor=Curt Weibull|língua=sueco|acessodata=3 de Abril de 2017|data=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
<ref>{{citar web |url=https://www.infopedia.pt/artigos/$cristina-da-suecia |título=Cristina da Suécia |citacao= Membro da monarquia sueca, nascida em 1626 e falecida em 1689… Abdicou
Sendo a filha de um defensor do protestantismo na [[Guerra dos Trinta Anos]], Cristina causou escândalo ao abdicar em 1654 e converter-se ao catolicismo, aos 27 anos.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45252893 |título=A rainha sueca que se converteu ao catolicismo, foi reinar em Roma e virou ícone LGBT |acessodata=2023-01-20 |periódico=BBC News Brasil |lingua=pt-BR}}</ref> Ela passou os seus anos restantes em Roma, tornando-se a líder da vida musical e teatral local. Como ex-rainha
Cristina era mal-humorada, inteligente e interessada em livros e manuscritos, religião, alquimia e ciência. Ela queria que Estocolmo se transformasse na
== Primeiros anos ==
[[Ficheiro:Axel Oxenstierna 3.jpg|thumb|left|200px|[[Axel Oxenstierna]], chanceler da Suécia.]]
O nascimento de Cristina aconteceu durante um conjuntura astrológica rara que causou grande especulação sobre a influência que a criança, que se esperava que fosse um rapaz, teria na política mundial.<ref>{{Citar web|url=http://www.sweden.se/templates/cs/BasicFactsheet____4403.aspx|titulo=Sweden.se|acessodata=19 de Janeiro de 2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20060615001101/http://sweden.se/templates/cs/BasicFactsheet____4403.aspx|arquivodata=15 de Junho de 2006|urlmorta=yes|data=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> O rei já tinha tido duas filhas: uma princesa sem nome conhecido nascida em 1620, e depois a primeira princesa Cristina, que nasceu em 1623 e morreu no ano seguinte.<ref>Ambas foram enterradas em Riddarholmskyrkan, Estocolmo.</ref> Assim, havia grande expectativa quando a rainha Maria Leonor engravidou pela terceira vez em 1626, e o castelo encheu-se de gritos de alegria quando nasceu um bebé, que primeiro se pensava ser um varão já que era peludo e chorava com uma voz forte e enrouquecida.<ref>Zirpolo Lilian H., [http://www.jstor.org/pss/3566533 Queen Christina's Patronage of Bernini]</ref> Na sua autobiografia, Cristina escreveu: "''Espalhou-se um grande embaraço pelas mulheres quando descobriram o erro que tinham cometido''." O rei ficou muito feliz, afirmando que "''Vai ser esperta, já que nos enganou a todos!''"<ref>Elisabeth Aasen: ''Barokke damer'', Pax, Oslo 2003, ISBN 82-530-2817-2</ref> A sua mãe continuou indiferente à criança, desiludida por não ter um herdeiro varão. Até Cristina acreditava que uma dama-de-leite a tinha deixado cair ao chão quando era bebé, fazendo com que partisse um ombro. Em consequência, teve um ombro maior do que o outro o resto da vida.<ref>[http://royalwomen.tripod.com/id4.html Kristina of Sweden]</ref><ref>B. Guilliet e outros autores também sugeriram que esta característica poderia estar relacionada com a suposta [[intersexualidade]] da rainha.</ref>
Antes de Gustavo II Adolfo partir para a Alemanha para defender o [[Protestantismo]] durante a [[Guerra dos Trinta Anos]], assegurou que a sua filha era a herdeira legítima do trono, caso não regressasse, e deu ordens para que Cristina fosse criada como um príncipe.<ref>[http://en.wikisource.org/wiki/Catholic_Encyclopedia_(1913)/Christina_Alexandra "Christina Alexandra"], Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. 1913.</ref> A sua mãe, uma [[Casa de Hohenzollern|Hohenzollern]], era uma mulher dada a depressões e
Cristina
Gustavo II Adolfo tinha decidido, de forma sensata que, caso morresse, a sua filha deveria ser criada pela sua meia-irmã, a princesa [[Catarina da Suécia]].<ref>Catarina era casada com [[João Casimiro de Zweibrücken-Kleeburg|João Casimiro, conde palatino de Kleeburg]] e voltou à Suécia depois do rebentar da Guerra dos Trinta Anos.</ref> Esta solução não agradou a Maria Leonor, que expulsou a cunhada do castelo. Em 1636, o chanceler Oxenstierna achou que a melhor solução seria exilar a rainha viúva no [[Castelo de Gripsholm]], deixando que fosse o Conselho de Regência a decidir quando
A 15 de Março de 1633, Cristina tornou-se rainha aos seis anos de idade, recebendo a alcunha de "''Menina Rei''". Cristina foi educada como uma criança do Estado. O teólogo [[Johannes Matthiae Gothus]] foi o seu tutor, dando-lhe lições sobre religião, filosofia, grego e latim. O chanceler Oxenstierna ensinou-lhe política e discutia [[Públio Cornélio Tácito|Tácito]] com ela. Cristina parecia gostar de estudar dez horas por dia. Além de sueco, aprendeu alemão, dinamarquês, francês e italiano, e o seu talento para aprender línguas era considerado único.<ref>Ainda existem cartas escritas por Cristina em alemão para o pai quando ela tinha apenas cinco anos de idade. Quando o embaixador francês, Pierre Hector Chanut, chegou a Estocolmo em 1645, disse com admiração: "''Fala francês como se tivesse nascido no Louvre!''" De facto, testemunhos dizem que falava uma espécie de dialecto de Liège.</ref> Oxenstierna escreveu com orgulho sobre a adolescente de catorze anos, dizendo que "''ela não é nada parecida com uma mulher''", e que tinha "''uma inteligência brilhante''". A partir de 1638, Oxenstierna
== Reinado ==
[[Ficheiro:Queenchristine.jpg|thumb|right|200px|A rainha Cristina quando subiu ao trono.]]
A coroa da Suécia era hereditária na [[dinastia de Vasa]], mas desde o tempo do rei [[Carlos IX da Suécia|Carlos IX]], os príncipes de Vasa descendiam de um irmão deposto e de um sobrinho dele. Os irmãos mais novos de Gustavo II Adolfo tinham morrido alguns anos antes e o único que lhe restava era fruto de um caso extraconjugal do pai e, por isso, só havia herdeiras femininas. Não havia descendentes femininas elegíveis vivas descendentes do rei [[Gustavo I da Suécia|Gustavo I]], por isso Cristina era a herdeira presumível. Desde seu nascimento, o rei Gustavo II Adolfo a reconhecera como herdeira legitima e, apesar de ser chamada de
Entre 1636 e 1637, [[Peter Minuit]] e [[Samuel Blommaert]] negociaram com o governo a fundação da [[Nova Suécia]], a primeira colónia sueca no Novo Mundo. Em 1638, Minuit ergueu o Forte Cristina em Wilmington, no [[Delaware]], [[Estados Unidos|EUA.]] O rio Cristina também recebeu
O Conselho Nacional sugeriu que Cristina se juntasse ao governo quando completasse dezesseis anos, mas ela pediu para esperar até completar dezoito, visto que tinha sido com essa idade que o seu pai se tinha tornado rei. Em 1644, Cristina subiu oficialmente ao trono, embora a sua coroação fosse adiada devido à guerra com a Dinamarca. O seu primeiro grande desafio foi concluir as negociações de paz com
O chanceler Oxenstierna não demorou a descobrir que Cristina tinha visões políticas diferentes
Em 1649, foram levados setecentos e sessenta quadros, cento e setenta estátuas de mármore, cem estátuas de bronze, trinta e três mil moedas e medalhões, seiscentos pedaços de cristal, trezentos instrumentos científicos, manuscritos, incluindo o ''Sanctae Crucis laudibus'' de [[Rabáno Mauro]], o [[Códice Argênteo]] e o [[Codex Gigas]]<ref>[http://www.kb.se/codex-gigas/eng/ Codex Gigas]</ref> para Estocolmo. Estas obras de arte pertenciam ao sacro-imperador [[Rodolfo II do Sacro Império Romano-Germânico|Rodolfo II]] e foram saqueadas em parte por [[Hans Christoff von Königsmarck]], durante a Batalha de Praga
Com a ajuda do seu tio, o conde palatino [[João Casimiro do Palatinado-Zweibrücken-Kleeburg]], e dos primos, Cristina tentou reduzir a influência de Oxenstierna e declarou o primo [[Carlos X da Suécia|Carlos Gustavo]] seu sucessor em 1640. A rainha resistiu
=== Visita de Descartes, intelectuais e músicos ===
[[Ficheiro:René Descartes i samtal med Sveriges drottning, Kristina.jpg|thumb|left|200px|Cristina (à esquerda) numa discussão com Descartes.]]
Em 1645, Cristina convidou [[Hugo Grócio]] para se tornar seu bibliotecário, mas o holandês morreu na viagem para [[Rostock]]. Depois contratou Benedito Nemias de Castro, um judeu de origem portuguesa residente em [[Hamburgo]], para seu médico pessoal.<ref>Kruse, Sabine (1992). "Rodrigo de Castro (um 1585-1640)". In Sabine Kruse and Bernt Engelmann. Mein Vater war portugiesischer Jude …: Die sefardische Einwanderung nach Norddeutschland um 1600 und ihre Auswirkungen auf unsere Kultur. Göttingen: Steidl. pp. 73ff..</ref> Em 1647, foi nomeado Johann Freinsheim. A ''[[Semíramis]] do Norte'' (nome pelo qual Cristina era conhecida) trocava correspondência com [[Pierre Gassendi]]. [[Blaise Pascal]] ofereceu-lhe um exemplar da calculadora mecânica de sua invenção, [[La pascaline]]. Pediu a [[Nikolaes Heinsius|Heinsius]] e a [[Isaac Vossius]] que fossem à Suécia para catalogar a sua nova colecção. Estudou Neo-Estoicismo, [[Padres da Igreja]], [[Islão]] e leu o ''Tratado dos Três Impostores'', um trabalho que questionava todas as religiões organizadas
Em 1646, o embaixador Chanut, um grande amigo de Cristina, enviou uma carta ao filósofo [[René Descartes]], pedindo-lhe que enviasse uma cópia das suas ''[[Meditações sobre Filosofia Primeira|Meditações]]''. Cristina interessou-se o suficiente para começar a trocar correspondência com Descartes sobre ódio e amor. Apesar de estar muito ocupada, convidou-o a visitar a Suécia e o filósofo chegou a 4 de Outubro de 1649. Viveu na residência de Chanut e teve de esperar até 18 de Dezembro para começar as suas lições privadas com Cristina, dando-lhe uma visão mais profunda do [[Catolicismo]]. Devido ao horário ocupado da rainha, Descartes era convidado a estar no castelo às cinco da manhã para discutir religião e filosofia. As salas eram frias e, a 1 de Fevereiro de 1650, Descartes adoeceu de pneumonia, da qual faleceu dez dias depois. Cristina sentiu-se culpada pela morte do filósofo. Convidou ainda [[Claude Saumaise]], [[Pierre Daniel Huet]], [[Gabriel Naudé]], [[Christian Ravis]], [[Samuel Bochart]]. Dedicou-se ao [[ceticismo]] e tornou-se indiferente à religião.
Cristina gostava de teatro e de ''ballet''. Também era actriz amadora e o teatro amador teve muito sucesso na corte sueca durante o seu reinado.<ref name="ReferenceA"/><ref name="Lars Löfgren: Svensk teater"/> As peças sempre tinham despertado o interesse de Cristina, principalmente as de [[Pierre Corneille]]. Em 1647, Antonio Brunati construiu um teatro dentro do palácio.<ref>Marker, Frederick J.; Marker, Lise-Lone. ''A history of Scandinavian Theatre.''</ref> O poeta da corte, [[Georg Stiernhielm]], escreveu várias peças em sueco, tais como ''Den fångne Cupido eller Laviancu de Diane'' que foi representada na corte com Cristina a desempenhar o papel de [[Diana (mitologia)|Diana]]. Também convidava companhias estrangeiras para actuar em Bollhuset, tais como a trupe de ópera italiana com Vincenzo Albrici em 1652, e uma trupe de teatro dinamarquesa com [[Ariana Nozeman]] e [[Susanna van Lee]] em 1653. Entre as artistas francesas que empregava na corte contava-se [[Anne Chabanceau de La Barre]], que se tornou a cantora da corte.<ref name="ReferenceA"/>
=== Decisão de não se casar ===
Apesar de Cristina ter um desenvolvimento prematuro e ser claramente adversa a todas as coisas
[[Ficheiro:Ebba Sparre.jpg|thumb|200px|Condessa Ebba Sparre]]
Dormia três a quatro horas por noite e ocupava-se principalmente com os seus estudos. Esquecia-se de pentear o cabelo, vestia-se à pressa e usava sapatos de homem por serem mais convenientes. Contudo, dizia-se que tinha o seu charme e o cabelo rebelde tornou-se uma imagem de marca que lhe assentava. A sua melhor amiga
Carlos Gustavo continuava apaixonado por Cristina e esperou por ela durante cinco anos, mas, a 26 de Fevereiro de 1649, Cristina tornou publica a sua decisão de não se casar e declarou que o seu primo seria o herdeiro do trono. Ao anunciar a sua decisão ao Rikstag, declarou: "Estou-vos a dizer que é para mim impossível casar. Tenho a certeza absoluta. O meu carácter não se adequa ao casamento. Rezei fervorosamente para que a minha inclinação mudasse, mas simplesmente não me posso casar."<ref name="Lewis, pág. 153"/> A nobreza opôs-se a esta decisão, enquanto outras classes sociais (o clero, a burguesia e o povo) aceitaram.
=== Religião e opiniões pessoais ===
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Sendo uma rainha jovem, Cristina sentia grande pressão ao governar o país. Em Agosto de 1651, pediu a permissão do Conselho para abdicar, mas cedeu aos seus pedidos para que continuasse. Teve uma longa conversa com [[António de Sousa de Macedo]], o intérprete do embaixador de [[Portugal]].<ref>[http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=26222 Converts, Conversion, and the Confessionalization Thesis, Once Again]</ref> António era um jesuíta e, em Agosto de 1651, levou consigo uma carta secreta de Cristina para o [[Superior Geral da Companhia de Jesus]] em Roma. Como resposta, dois jesuítas viajaram para a Suécia numa missão secreta na Primavera de 1652, disfarçados de nobres do campo e utilizando nomes falsos. [[Paolo Casati]] teve de testemunhar a sinceridade das intenções da rainha em tornar-se católica. Cristina teve longas conversas com eles, querendo saber mais sobre a visão católica em assuntos como o pecado, a imortalidade da alma, a racionalidade e a livre-vontade. Apesar de ter sido educada na religião luterana, por volta de Maio de 1652, Cristina decidiu que queria se converter ao catolicismo. Os dois jesuítas transmitiram os planos da rainha a [[Fabio Chigi]] e ao rei [[Filipe IV de Espanha]] que enviou o diplomata António Pimental de Prado a Estocolmo.<ref>Garstein, O. (1992) ''Rome and the Counter-Reformation in Scandinavia: The age of Gustavus Adolphus and Queen Christina of Sweden (1662-1656). Studies in history of Christian thought''. Leiden.</ref><ref>Von Ranke, Leopold. ''The ecclesiastical and political history of the popes of Rome [...]'', Vol. 3.</ref>
Depois reinar durante quase vinte anos, a trabalhar pelo menos dez horas por dia, parecia que Cristina estava a passar por um esgotamento nervoso, ou então terá chegado a um ponto de decisão na sua vida. Sofria de pressão arterial alta, queixava-se de ver mal e de dores no pescoço. Em Fevereiro de 1652, o médico francês [[Pierre Bourdelot]] chegou a Estocolmo. Ao contrário da maioria dos médicos da época, não acreditava na sangria e, em vez disso, ordenou que a rainha dormisse tempo suficiente, tomasse banhos quentes e começasse a tomar refeições mais saudáveis, uma mudança completa no estilo de vida que Cristina sempre conhecera. Tinha apenas vinte e cinco anos de idade e devia aproveitar mais a vida. Bourdelot pediu-lhe também que não estudasse e trabalhasse tanto<ref>Lanoye, D. (2001) ''Christina van Zweden : Koningin op het schaakbord Europa 1626 - 1689'', p. 24.</ref> e que fossem retirados todos os livros dos seus aposentos. Bourdelot, que era muito divertido, mostrou-lhe os dezasseis sonetos de [[Pietro Aretino]], que tinha sempre em segredo na sua mala. Durante vários anos Cristina soube os sonetos de cor e era especialista nos trabalhos de [[Marcus Valerius Martialis]].<ref>Quilliet, B. (1987). ''Christina van Zweden : een uitzonderlijke vorst'', pp. 79-80.</ref> Muito subtilmente, Bourdelot foi mudando os princípios da rainha que agora se declarava [[Epicurismo|epicurista]].<ref>[http://www.freefictionbooks.org/books/f/2947-famous-affinities-of-history-%C3%A2%E2%82%AC%E2%80%9D-volume-1-by-orr?start=32 Famous Affinities of History — Volume 1 by Orr]</ref> A sua mãe e la Gardie eram contra as acções de Bourdelot e tentaram virar Cristina contra ele. O médico regressou a França em 1653.
== Abdicação ==
[[Ficheiro:Drottning Kristina av Sverige.jpg|thumb|left|200px|[[Retrato da Rainha Cristina]] (1650, David Beck).]]
Em 1654, Cristina disse aos seus conselheiros que precisava
Em 1653, Cristina criou a ordem militar de Amaranten. António Pimental foi o primeiro cavaleiro a ser armado. Todos os membros que se juntassem à ordem tinham de prometer que nunca se casariam, ou voltariam a casar.<ref>Woodhead, Door Henry. ''Memoirs of Christina, Queen of Sweden'' (2 volumes).</ref> Em Fevereiro de 1654, a rainha confessou de forma muito directa ao Conselho a sua intenção de abdicar do trono. Oxenstierna respondeu que Cristina iria arrepender-se da decisão em poucos meses. Em Maio, o [[Riksdag]] discutiu a proposta. A rainha tinha pedido 200 000 rikstalers por ano, mas, em vez disso, recebeu terras. Financeiramente, a rainha estava segura devido aos rendimentos da cidade de [[Norrköping]] e das ilhas de [[Gotlândia]], [[Olândia]] e [[Saaremaa]], e as suas propriedades em [[Mecklemburgo]] e na [[Pomerânia]]. As duas dívidas foram pagas pelo tesouro do Estado.
Por isso, o seu plano para se converter ao catolicismo não foi a única razão para abdicar, visto que havia um descontentamento cada vez mais evidente com os seus modos arbitrários e dissipadores. Em dez anos, Cristina tinha criado dezassete condes, quarenta e seis barões e quatrocentos e vinte e oito nobres menores. Para financiar estes novos aristocratas com apanágios apropriados, teve de vender ou penhorar
Cristina abdicou do trono a 5 de Junho de 1654 a favor do seu primo Carlos Gustavo. Durante a cerimónia de abdicação no Castelo de Uppsala, Cristina usou as suas [[Regalia|regalias]] que lhe foram sido retiradas uma a uma. [[Per Brahe]], que devia ter sido responsável por lhe retirar a coroa, não se mexeu, por isso teve de ser ela a tirá-la sozinha. Vestida com um simples vestido branco de tafetá, fez o seu discurso de despedida com a voz vacilante, agradecendo a todos e deixou o trono para Carlos
== Partida e exílio ==
[[Ficheiro:Antonio Pimentel.jpg|thumb|right|200px|António Pimentel de Prado.]]
No Verão de 1654, Cristina deixou a Suécia vestida com roupa de homem com a ajuda de [[Bernardino de Rebolledo]] e chegou à Dinamarca usando o nome [[Christopher Delphicus zu Dohna|conde Dohna]]. As relações políticas entre os dois países ainda estavam tão tensas que teria sido impossível para Cristina viajar com segurança usando a sua verdadeira identidade. A
Cristina visitou [[Johann Friedrich Gronovius]] e [[Anna Maria van Schurman]] quando passou pela [[República Holandesa]]. Em Agosto chegou ao sul dos [[Países Baixos]] e ficou a viver em [[Antuérpia]]. Durante quatro meses, Cristina viveu na mansão de um mercador judaico, onde recebeu a visita do arquiduque [[Leopoldo Guilherme da Áustria]], do [[príncipe de Condé]], do embaixador Chanut e do antigo governador da Noruega, Hannibal Sehested. De tarde ia sempre dar uma volta a cavalo e à noite dava festas com peças de teatro e música. Cristina ficou sem dinheiro muito depressa e teve
Em Setembro,
== Vida em Roma ==
[[Ficheiro:Alexander VII.jpg|thumb|left|200px|Papa Alexandre VII]]
A viagem da
A entrada oficial em Roma aconteceu a 23 de Dezembro, quando Cristina
Quando chegou à [[Basílica de São Pedro]], ajoelhou-se em frente ao altar e, no dia de Natal, recebeu os sacramentos do próprio Papa. Foi em sua honra que escolheu os nomes Alexandra Maria<ref>{{citar livro|título=Cristina, Rainha da Suécia|ultimo=Buckley|primeiro=Veronica|editora=Objetiva|ano=2006|local=Rio de Janeiro}}</ref> quando foi baptizada - Alexandra não tinha sido escolhido apenas em honra do Papa, mas também em honra do seu herói, [[Alexandre, o Grande]]. O seu estatuto de convertida ao catolicismo mais famosa da sua época, bem como de mulher mais conhecida da época, faziam com que fosse ignoradas certas exigências da fé católica. Até Cristina declarou que a sua fé católica não era comum. De facto, antes de se converter, a ex-rainha tinha perguntado aos oficiais da igreja até que ponto esperavam que obedecesse aos comandos da igreja e estes garantiram-lhe que não se teria de preocupar. Embora respeitasse a posição do Papa na igreja, não respeitava necessariamente as suas atitudes como indivíduo. Uma vez comentou isso mesmo com um dos seus criados. Na altura, a residência papal de Verão era o [[Monte Quirinal|Palácio de Quirinal]], que se situava no Monte Cavallo. Cristina afirmou que mais valia o monte chamar-se Monte do Burro, visto que nunca encontrou o Papa com todo o seu sentido comum quando o visitava lá, durante os trinta anos que passou em Roma.<ref>Åmodt, Ola (2007). Roma - legender og merkverdigheter. Oslo: Fritt forlag. ISBN 978-8281790124.</ref> A visita de Cristina a Roma foi um triunfo para o Papa Alexandre VII e uma ocasião para grandes celebrações barrocas. Durante vários meses, Cristina foi a única preocupação que o Papa tinha na sua corte. Os nobres rivalizavam uns com os outros para chamar a sua atenção, recebendo-a sempre com fogos-de-artíficio, duelos falsos, acrobatas e óperas. No [[Palazzo Barberini|Palácio Barberini]], onde foi recebida por uma multidão de seis mil pessoas, observou com admiração uma procissão de camelos e elefantes vindos do Oriente, com toalhas nas costas.
=== Palácio Farnésio ===
[[Ficheiro:Christina barberini.jpg|thumb|right|200px|Celebrações da chegada da Rainha Cristina a Itália.]]
Cristina passou a viver no [[Palácio Farnésio (Roma)|Palácio Farnésio]], que pertencia ao duque de Parma,<ref>Esta foi uma reviravolta impressionante, tendo em conta que Farnese tinha estado em conflito aberto com o Papado sete anos antes, no final das Guerras de Castro. Agora a convidada de honra da Igreja era convidada da família contra a qual a Igreja tinha lutado.</ref> e que ficava do lado oposto à [[Igreja de Santa Brígida]], [[Santa Brígida da Suécia|outra sueca]] que havia vivido em [[Roma]]. Cristina abriu uma academia no palácio, a 24 de Janeiro de 1656, chamada [[Academia da Arcádia]], onde os participantes desfrutavam de música, teatro, literatura e línguas. Todas as Quartas-feiras abria o palácio a visitantes de classes altas que podiam observar as suas obras de arte. Um dos participantes do círculo Arcádia, Francesco Negri, um franciscano de [[Ravena]] que era considerado o primeiro
Contudo, o [[apanágio]] arranjado pela Suécia não chegou a cumprir-se. Cristina vivia de empréstimos e doações. Os seus criados queimavam madeira das portas para aquecer os quartos e os irmãos Santinelli venderam obras de arte que estavam no palácio. Os estragos foram justificados com o facto de os criados não serem pagos.<ref name="Elisabeth Aasen: Barokke damer"/>
Cristina, de vinte e nove anos, gerou muitos rumores na sociedade quando começou a socializar livremente com homens da sua idade. Um deles era o cardeal [[Decio Azzolino]] que tinha sido secretário do embaixador em Espanha e responsável pela correspondência do Vaticano com as cortes europeias. Era também líder do ''Esquadrão Voante (''Squadrone Volante,
Por vezes a situação descontrolava-se. Numa ocasião, o casal tinha combinado encontrar-se na [[Villa Medici em Roma|Villa Medici]] perto do [[Monte Pincio]], mas o cardeal não apareceu. Cristina apressou-se a ir ao [[Castelo de Santo Ângelo]] e disparou um dos canhões. A marca no portão de bronze em frente da Villa Medici ainda é visível.<ref>Ola Åmodt: Roma - legender og merkverdigheter</ref>
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Numa altura em que ficou sem dinheiro e sofria de um excesso de pompa, Cristina resolveu, no espaço de dois anos, visitar França. Lá foi tratada com respeito pelo rei [[Luís XIV de França|Luís XIV]], mas as senhoras da corte ficaram chocadas com a sua aparência e comportamento masculino e pela liberdade das suas conversas.
=== Assassinato de Monaldeschi ===
[[Ficheiro:Jacob Ferdinand Voet - Queen Christina of Sweden.jpg|thumb|left|200px|Cristina por Jacob Ferdinand Voet em 1670-75.]]
Na altura, o rei de Espanha governava [[Milão]] e o reino de [[Nápoles]] e da [[Sicília]]. O político francês [[Jules Mazarin|Mazarin]], que também era italiano, tinha tentado libertar Nápoles do domínio espanhol, contra o qual os habitantes locais tinham lutado, mas uma expedição militar realizada em 1654 não tinha conseguido cumprir esse objectivo. Mazarin estava agora a considerar escolher Cristina para rainha de Nápoles. Os habitantes não queriam um duque italiano no trono, preferindo um príncipe francês. No Verão de 1656, Cristina partiu de barco para Marselha, e daí foi até Paris para discutir o assunto.
A 22 de Setembro de 1656, o acordo entre o rei Luís XIV e ela estava pronto. O rei iria recomendar Cristina para rainha dos napolitanos e servir de
Cristina suspeitou que Monaldeschi era desleal e lhe lia a correspondência em segredo durante dois meses, o que revelava que ele tinha traído os seus interesses e culpou um membro ausente da corte. Convocou Monaldeschi para uma galeria do palácio e discutiu o assunto com ele. Monaldeschi insistiu que a traição devia ser punida com morte. Cristina tinha a prova da traição dele na mão e insistiu que fosse ele a pronunciar a sua própria sentença de morte. Le Bel, um padre que ficou no castelo, foi recebido devia ouvir a sua confissão na Galerie des Cerfs. O condenado pediu misericórdia, mas foi esfaqueado por dois criados da ex-rainha - mais notavelmente, Ludovico Santinelli - num quarto ao lado do qual Cristina se encontrava. Como o condenado tinha vestido uma cota de malha(que se encontra actualmente em exposição do lado de fora da galeria), foi perseguido pelo quarto durante horas até que os seus executores conseguiram apunhalá-lo fatalmente. O padre Le Bel, que tinha suplicado de joelhos para que Cristina poupasse o homem, foi obrigado a enterrá-lo dentro da igreja e a ex-rainha, aparentemente pouco perturbada, pagou à abadia para perdoar a alma de Masses. "''Tinha pena por ter sido forçada a tomar esta medida, mas dizia que se tinha feito justiça pelo seu crime e traição. Pediu a Deus que o perdoasse''," escreveu Le Bel.
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Cristina era estranha para o seu tempo por preferir vestir-se com roupas masculinas e também por ter alguns traços masculinos. É difícil saber se a rainha escolhia a sua roupa por se considerar masculina ou simplesmente por razões práticas.
Segundo alguns testemunhos históricos referentes ao aspecto físico de Cristina, alguns investigadores acreditam que
== Legado e cultura popular ==
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[[Categoria:Católicos da Suécia]]
[[Categoria:Suecos do século XVII]]
[[Categoria:Filósofas]]
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