Visigodos: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m ajustes usando script
Futurahokage (discussão | contribs)
m
Etiquetas: Editor Visual Edição via dispositivo móvel Edição feita através do sítio móvel Edição móvel avançada
 
(Há 44 revisões intermédias de 31 utilizadores que não estão a ser apresentadas)
Linha 1:
{{Mais notas|data=abril de 2020}}
{{História PT-ES|imagem=[[Ficheiro:Reino de los visigodos-pt.svg|200px]]|legenda=O reino visigodo na sua máxima extensão, cerca de [[500]] d.C..}}
{{Short description|Povo germânico do final da Antiguidade e início da Idade Média}}
{{Info/Grupo étnico
| group = Visigoths
| native_name =
| native_name_lang =
| image = Visigothic - Pair of Eagle Fibula - Walters 54421, 54422 - Group.jpg
| image_caption = The eagles represented on these [[Fibula (brooch)|fibulae]] from the 6th century, and found in [[Tierra de Barros]] ([[Badajoz]]), were a popular symbol among the Goths in Spain.{{efn|[http://art.thewalters.org/detail/77441 Pair of Eagle Fibula] [[Walters Art Museum]]}}
| total = <!-- total population worldwide -->
| total_year = <!-- year of total population -->
| total_source = <!-- source of total population; may be ''census'' or ''estimate'' -->
| total_ref = <!-- references supporting total population -->
| genealogy =
| regions = <!-- for e.g. a list of regions (countries), especially if regionN etc below not used -->
| languages =
| philosophies =
| religions = [[Gothic paganism]], [[Arianism]], [[Nicene Creed|Nicene Christianity]], [[Roman paganism]]
| related_groups =
| footnotes =
| grupo = Visigodos
| línguas = [[Língua gótica|Gótico]]
| religiões = [[Paganismo Gótico]], [[Arianismo]], [[Cristianismo de Nicene]], [[Paganismo Romano]]
| relacionados = [[Ostrogodos]], [[Góticos da Crimeia]], [[Vândalos]], [[Gépidos]]
{{História PT-ES|imagem=[[Ficheiroimagem:Reino de los visigodos-pt.svg|200px]]|legenda=O reino[[Reino visigodoVisigótico]] na sua máxima extensão, cerca de [[500]] d.C..}}
 
Os '''visigodos''' foram um de dois ramos em que se dividiram os [[godos]], um povo [[Germânia|germânico]] originário do leste europeu, sendo o outro os [[ostrogodos]]. Ambos pontuaram entre os [[Povo bárbaro|bárbaros]] que penetraram o [[Império Romano]] tardio no período das [[migrações dos povos bárbaros|migrações]]. Após a queda do Império Romano do Ocidente, os visigodos tiveram um papel importante na Europa nos 250 anos que se seguiram, particularmente na [[Invasões bárbaras da península Ibérica|península Ibérica]], onde substituíram o domínio romano na [[Hispânia]], reinando de [[418]] até [[711]], data da [[invasão muçulmana da Península Ibérica|invasão muçulmana]].
 
}}
Alguns autores defendem a origem do nome "visigodo" na palavra ''Visi'' ou ''Wesa'' ("bom") e do nome ''Ostro'', de ''astra'' (resplandescente).<ref>''Marquês de Lozoya, ''Historia de España'', Salvat Editores S.A., 1967</ref> Mas a opinião mais consagrada considera a origem da palavra na denominação de "godos do oeste", do alemão "''Westgoten''", "''Wisigoten''" ou "''Terwingen''", por comparação com os [[ostrogodos]] ou "godos do leste" — em alemão "''Greutungen''", "''Ostrogoten''" ou "''Ostgoten''"<ref>Compare-se o paralelismo com o nome "Áustria" em alemão, que é "''Österreich''" ou "reino do este" com "''Ostrogoten''", "Godos do Este".</ref>
[[File:Corona de (29049230050).jpg|thumb|upright=1.3|Detalhe da coroa votiva de [[Recceswinth]] do Tesouro de Guarrazar (Toledo, Espanha), exposto em Madri. As letras penduradas soletram '''''[R]ECCESVINTHVS REX OFFERET''''' [O Rei R. oferece isso].{{Efn|The first R is held at the [[Musée de Cluny]], Paris.}}]]
 
Os '''visigodos''' foram um de dois ramos em que se dividiram os [[godos]], um povo [[GermâniaGermanos|povo germânico]] originário do leste europeu,<ref>{{Citar web |ultimo=M. A. |primeiro=Medieval Studies |ultimo2=B. A. |primeiro2=Medieval Studies |url=https://www.thoughtco.com/the-visigoths-1221623 |titulo=Who Were the Visigoths, and What Were Their Contributions to History? |acessodata=2020-10-01 |website=ThoughtCo |lingua=en}}</ref> sendo o outro os [[ostrogodos]]. Ambos pontuaram entre os [[Povo bárbaro|bárbaros]] que penetraram o [[Império Romano]] tardio no período das [[migrações dos povos bárbaros|migrações]]. Após a queda[[Queda do Império Romano do Ocidente|queda do Império Romano]] no Ocidente, os visigodos tiveram um papel importante na Europa nos 250 anos que se seguiram, particularmente na [[Invasões bárbaras da penínsulaPenínsula Ibérica|penínsulaPenínsula Ibérica]], onde substituíram o domínio romano na [[Hispânia]], reinando de [[418]] até [[711]], data da [[invasão muçulmana da Península Ibérica|invasão muçulmana]].
Os vestígios visigóticos em [[Portugal]] e [[Espanha]] incluem várias igrejas e descobertas arqueológicas crescentes, mas destaca-se também a notável quantidade de nomes próprios e apelidos que deixaram nestas e noutras línguas românicas. Os visigodos foram o único povo a fundar cidades na Europa ocidental após a queda do Império Romano e antes do pontuar dos [[Dinastia carolíngia|carolíngios]]. Contudo o maior legado dos visigodos foi o [[direito visigótico]], com o ''[[Liber iudiciorum]]'', código legal que formou a base da legislação usada na generalidade da Ibéria cristã medieval durante séculos após o seu reinado, até ao [[século XV]], já no fim da [[Idade Média]].
 
Alguns autores defendem a origem do nome "visigodo" na palavra ''Visi'' ou ''Wesa'' ("bom") e do nome ''Ostro'', de ''astra'' (resplandescente).<ref>''Marquês de Lozoya, ''Historia de España'', Salvat Editores S.A., 1967</ref> Mas a opinião mais consagrada considera a origem da palavra na denominação de "godos do oeste", do alemão "''Westgoten''", "''Wisigoten''" ou "''Terwingen''", por comparação com os [[ostrogodos]] ou "godos do leste" — em alemão "''Greutungen''", "''Ostrogoten''" ou "''Ostgoten''".<ref>Compare-se o paralelismo com o nome "Áustria" em alemão, que é "''Österreich''" ou "reino do este" com "''Ostrogoten''", "Godos do Este".</ref>
 
Os vestígios visigóticos em [[Portugal]] e [[Espanha]] incluem várias igrejas e descobertas arqueológicas crescentes, mas destaca-se também a notável quantidade de nomes próprios e apelidos que deixaram nestas e noutras línguas românicas. Os visigodos foram o único povo a fundar cidades na Europa ocidental após a queda do Império Romano e antes do pontuar dos [[Dinastia carolíngia|carolíngios]]. Contudo o maior legado dos visigodos foi o [[direito visigótico]], com o ''[[LiberCódigo iudiciorumVisigótico]]'', código legal que formou a base da legislação usada na generalidade da Ibéria cristã medieval durante séculos após o seu reinado, até ao [[século {{séc|XV]]}}, já no fim da [[Idade Média]].
 
== História ==
=== Origem e migrações dos visigodos ===
{{Ver artigos principaisAP|[[migrações dos povos bárbaros]] e [[|Invasões bárbaras da penínsulaPenínsula Ibérica]]}}
 
[[Ficheiroimagem:Visigoth migrations.jpg|thumb|250px|leftesquerda|Migrações visigóticas com percurso e datas.]]
Os visigodos emergiram como um povo distinto no [[século IV]], inicialmente nos [[Bálcãs]] onde participaram em várias guerras com os romanos, e por fim avançando por [[península Itálica|Itália]] e saqueando Roma sob o comando de [[Alarico I]], no ano [[410]]. Este povo conquistou no [[século III]] a [[Dácia]], [[província romana]] situada na [[Europa]] centro-oriental. No [[século IV]], antes da ameaça dos [[hunos]], o imperador [[Império Bizantino|bizantino]] [[Valente (imperador)|Valente]] concedeu refúgio aos visigodos ao sul do [[Danúbio]], mas a arbitrariedade dos funcionários romanos levou-os à revolta. Penetraram nos [[Bálcãs|Balcãs]] e, em [[378]], esmagaram o exército do imperador Valente nas proximidades da cidade de [[Adrianópolis (Trácia)|Adrianópolis]] <ref>{{citar livro
 
Os visigodos emergiram como um povo distinto no [[século {{séc|IV]]}}, inicialmente nos [[Bálcãs]] onde participaram em várias guerras com os romanos, e por fim avançando por [[península Itálica|Itália]] e saqueando Roma sob o comando de [[Alarico I]], no ano [[410]]. Este povo conquistou no [[século {{séc|III]]}} a [[Dácia]], [[província romana]] situada na [[Europa]] centro-oriental. No [[século {{séc|IV]]}}, antes da ameaça dos [[hunos]], o imperador [[Império Bizantino|bizantino]] [[Valente (imperador)|Valente]] concedeu refúgio aos visigodos ao sul do [[rio Danúbio]], mas a arbitrariedade dos funcionários romanos levou-os à revolta. Penetraram nos [[Bálcãs|Balcãs]] e, em [[378]], esmagaram o exército do imperador Valente na [[Trácia]], nas proximidades da cidade de [[Adrianópolis (Trácia)|Adrianópolisatual [[Edirne]] ).<ref>{{citar livro
|autor= KULIKOWSKI, Michael
|título= Guerras Góticas de Roma
| Subtítuloedição = 1
| Edição = 1
|local-publicação= São Paulo
|editora= Madras
|ano= 2008
|páginas= 246
| Volumesvolume = 1
|isbn= 978-85-370-0437-1}}</ref>. Quatro anos depois, o imperador [[Teodósio I]], o Grande conseguiu estabelecê-los nos confins da [[Mésia Secunda]], província situada ao norte dados [[península balcânica]]Balcãs. Tornou-os [[federados (Roma Antiga)|federados]] do império e deu-lhes posição proeminente na defesa. Os visigodos prestaram uma ajuda eficaz a [[Império Romano|Roma]] até [[395]], quando começaram a mudar-se para oeste. Em [[401]], chefiados por [[Alarico I]], que rompera com os romanos, entraram na Itália e invadiram a planície do [[rio Pó|Pó]], mas foram repelidos. Em [[408]], atacaram pela segunda vez e chegaram às portas de [[Roma]], que foi tomada e [[Saque de Roma (410)|saqueada]] em [[410]].
| Volume = 1
|isbn= 978-85-370-0437-1}}</ref>. Quatro anos depois, o imperador [[Teodósio I]], o Grande conseguiu estabelecê-los nos confins da [[Mésia Secunda]], província situada ao norte da [[península balcânica]]. Tornou-os [[federados (Roma Antiga)|federados]] do império e deu-lhes posição proeminente na defesa. Os visigodos prestaram uma ajuda eficaz a [[Império Romano|Roma]] até [[395]], quando começaram a mudar-se para oeste. Em [[401]], chefiados por [[Alarico I]], que rompera com os romanos, entraram na Itália e invadiram a planície do [[rio Pó|Pó]], mas foram repelidos. Em [[408]] atacaram pela segunda vez e chegaram às portas de [[Roma]], que foi tomada e [[Saque de Roma (410)|saqueada]] em [[410]].
 
=== Corte em Tolosa ===
{{AP|Reino Visigótico}}
[[Ficheiroimagem:Fíbula aquiliforme (M.A.N. Madrid) 01.jpg|thumb|right|[[Fíbula]] (fivela de cinto) visigótica. Bronze e pasta vítrea, [[Século VI]]. <br><small>[[Alovera]], Espanha.século VI</small>]]
 
Nos anos seguintes ao [[Saque de Roma (410)|saque de Roma]], o rei [[AtaúlfoAtaulfo]] estabeleceu-se com seu povo no sul da [[Gália]] e na [[Hispânia]] e, em [[418]], firmou com o futuro imperador [[Flávio {{lknb|Constâncio]]|III}} um tratado pelo qual os visigodos se fixavam como federados na província de [[Aquitânia Segunda]], na Gália. A [[monarquia]] visigoda consolidou-se com Teodorico I, que enfrentou os [[hunos]] de [[Átila]] na [[Batalha dos Campos Cataláunicos]]. Em [[475]], [[Eurico]] declarou-se monarca independente do Reino Visigodo de Tolosa, que incluía a maior parte da [[Gália Aquitânia]] e a [[Hispânia]]. Seu reinado foi extremamente benéfico para o povo visigodo: além da obra [[política]] e [[militar]], Eurico cumpriu uma monumental tarefa legislativa ao reunir as leis dos visigodos, pela primeira vez, no [[Código de Eurico]], conservado num [[palimpsesto]] em [[Paris]]. Seu filho [[{{lknb|Alarico |II]]}} codificou, em [[506]], o direito de seus súbditos romanos, na "''[[Lex romana visigothorum]]''", mas carecia dos dotes políticos do pai e perdeu quase todos os domínios da Gália em [[507]], quando foi derrotado e morto pelos [[francos]] de [[Clóvis I|Clóvis]], na [[batalhaBatalha de Vouillé]], perto de [[Poitiers]]. Desmoronou então o reino de Tolosa e os visigodos foram obrigados a transferir-se para a [[Hispânia]].
 
=== Corte em Toledo ===
[[Imagem:Reyes visigodos Codex Vigilanus.jpg|thumb|300px|leftesquerda|Os reis visigodos [[ChindasvintoQuindasvinto]], [[Recesvinto]] e [[Égica]] segundo o ''[[Codex Vigilanus]].']]
 
O [[Reino Visigótico]] na [[penínsulaPenínsula Ibérica]] esteve durante algum tempo sob o domínio dos [[ostrogodos]] da [[Península Itálica|Itália]], mas logo recuperou a sua velha autonomia. Até conquistar o domínio sobre toda a [[penínsulaPenínsula Ibérica]], os visigodos enfrentaram [[suevos]], [[alanos]] e [[vândalos]], grupos de guerreiros [[bárbaros|germânicosgermanos]] que haviam ocupado a região desde antes de sua chegada. A unidade do reino teria sido completa já durante o reinado de [[Leovigildo]], mas ficou comprometida por, dentre outros problemas, uma questão religiosa: os visigodos professavam o [[arianismo]] e os hispano-romanos eram [[Catolicismo|católicos]]. O próprio filho de Leovigildo, [[São Hermenegildo|Hermenegildo]], chegou a sublevar-se contra o pai, depois de converter-se ao [[Catolicismocatolicismo]]. Mas esse obstáculo para a fusão com os hispano-romanos resolveu-se em [[589]], ano em que o rei [[Recaredo I]] proclamou o Catolicismocatolicismo religião oficial da [[Hispânia]] visigótica. Na realidade, as aristocracias goda e hispano -romana se encontravam de tal forma entrelaçadas, que a existência da diferença religiosa e de leis específicas para cada um dos grupos era naquele momento apenas uma barreira formal: na prática, os casamentos mistos eram comuns, e a própria divergência religiosa podia ser matizada, como se pode comprovar pelo facto de a [[Igreja Católica]] na região nunca ter passado por perseguições sistemáticas por parte da monarquia visigoda, até o reinado de [[Leovigildo]].
 
Outro indício de que a diferença religiosa entre godos e hispano -romanos já não era um elemento de distinção fundamental (se algum dia o foi), é o facto de a própria rebelião do filho católico de [[Leovigildo]] ter sido apoiada também por aristocratas arianos. A conversão de [[Recaredo I|Recarredo I]], no [[IIITerceiro Concílio de Toledo]], em [[589]], marcamarcou o início de uma estreita aliança entre a monarquia visigoda e a Igreja católicaCatólica ibérica, desenvolvida marcadamente ao longo do [[século {{séc|VII]]}}, a qual ganharia uma expressão peculiar em textos de intelectuais eclesiásticos da época, cujo ícone mais famoso é [[Isidoro de Sevilha]]. A monarquia visigoda foi destruída em 711 pela [[invasão muçulmana da Península Ibérica|invasão muçulmana]] procedente do [[norte de África]], que substituiria o Reino Visigótico por [[Alandalus]].{{clear}}
A [[monarquia]] visigoda foi destruída em [[711]] pela [[invasão muçulmana da Península Ibérica|invasão muçulmana]] procedente do [[norte de África]], que substituiria o Reino Visigótico por [[Al-Andaluz]].<br clear=all>
 
=== Fim da monarquia, invasões e resistência (711-722) ===
{{Ver artigo principal|[[Invasão muçulmana da penínsulaPenínsula Ibérica]]}}
 
[[Ficheiroimagem:Wittizacoinbracara.jpg|thumb|Moeda de ouro do rei [[Vitiza]], em [[Bracara]]]]
A monarquia dos visigodos era electiva. Com a morte do rei [[Vitiza]] em c. 710, as [[Cortes (política)|cortes]] reuniram-se para eleger o seu sucessor, constituindo-se duas facções em disputa pela eleição: o grupo do seu filho [[Ágila II]] e o de [[Rodrigo]], o último [[Reino Visigótico de Toledo|rei visigodo de Toledo]]. Rodrigo foi eleito em Cortescortes muito disputadas, provavelmente na Primaveraprimavera de 710, mas a facção que apoiava o filho de Vitiza não aceitou a sua eleição e iniciou-se um período de [[guerra civil]].
 
Os partidários de Ágila solicitaram, então, apoio ao governador muçulmano de [[África]], [[Tárique]], abrindo-lhe as portas de [[Ceuta]] e incitando-o a enviar uma expedição militar à penínsulaPenínsula, já que, desde o final do [[século {{séc|VI]]}}, os [[judeus]] vinham sendo perseguidos naquela região e, de acordo com a [[xariá]], a lei islâmica, é obrigação do [[muçulmano]] defender os [[adeptos dos livros]] ([[judeus]] e [[cristãos]]) <ref name=mackenzie>Portal Mackenzie [http://www4.mackenzie.com.br/6936.html O cristianismo e o islamismo no Ocidente medieval]</ref>. Esta defesa era sustentada pelo facto de, desde [[612]], os regentes terem decretado o [[batismo]] compulsório de [[judeu]]sjudeus, por decreto real, sob pena de confisco dos bens ou expulsão daquela terra.
[[Ficheiro:Covadonga.jpg|thumb|left|Santuário de [[Covadonga]], gruta que foi quartel-general de [[Pelágio das Astúrias]]]]
 
[[Ficheiroimagem:Covadonga.jpg|thumb|leftesquerda|Santuário de [[Covadonga]], gruta que foi quartel-general de [[Pelágio das Astúrias]]]]
Em [[711]], sob o comando do próprio Tárique, tropas muçulmanas atravessaram o [[Estreito de Gibraltar]] e venceram os partidários de [[Rodrigo]] na [[batalha de Guadalete]]. Contudo, após a vitória, os muçulmanos não colocaram Ágila no trono e foram alargando as suas conquistas pela península Ibérica, território designado em [[língua árabe]] como ''[[Al-Andalus]]'', da qual, por fim, ficaram senhores, colocando sob tutela [[cristãos]] e [[judeus]], pois ambos sofriam ataques e combatiam-se mutuamente<ref name=revistajudaica>Revista Judaica [http://www.judaica.com.br/materias/019_14e15.htm Nº 19 "Sefarad" por Yerushalmi"]</ref>.
 
Em [[711]], sob o comando do próprio Tárique, tropas muçulmanas atravessaram o [[Estreitoestreito de Gibraltar]] e venceram os partidários de [[Rodrigo]] na [[batalhaBatalha de Guadalete]]. Contudo, após a vitória, os muçulmanos não colocaram Ágila no trono e foram alargando as suas conquistas pela penínsulaPenínsula Ibérica, território designado em [[língua árabe]] como ''[[Al-AndalusAlandalus]]'', da qual, por fim, ficaram senhores, colocando sob tutela [[Cristão|cristãos]] e [[judeus]], pois ambos sofriam ataques e combatiam-se mutuamente.<ref name=revistajudaica>Revista Judaica [http://www.judaica.com.br/materias/019_14e15.htm Nº 19 "Sefarad" por Yerushalmi"]</ref>.
[[Abdulaziz]] (ou [[Abdul-el-Aziz]]), primeiro [[Lista dos Walis do Al-Andalus|walis]] (governador muçulmano) do Al-Andalus, subjugou a [[Lusitânia]] e a [[Cartaginense]], saqueando as cidades do Norte que lhe abriam as portas e atacando aqueles que lhe tentaram resistir. Às suas investidas escapou, porém, uma parte das [[Astúrias]], no Norte, onde se refugiou um grupo de visigodos sob o comando de [[Pelágio das Astúrias|Pelágio]]. Uma [[caverna]] nas montanhas servia simultaneamente de [[paço]] ao rei e de templo de [[Cristo]]. Por vezes, Pelágio e seus companheiros desciam das montanhas em surtidas para atacar os acampamentos islâmicos ou as aldeias despovoadas de cristãos. Um desses ataques, a designada [[batalha de Covadonga]], travada em [[722]], marcou, segundo muitos historiadores, o início do longo processo de retomada dos territórios ocupados ao qual se deu o nome de [[Reconquista Cristã]].
 
[[AbdulazizAbdalazize ibne Muça]] (ou [[''Abdul-el-Aziz]]''), primeiro ''[[Lista dos Walis do Al-Andalus|walis]]'' (governador muçulmano) do Al-Andalus, subjugou a [[Lusitânia]] e a [[Hispânia Cartaginense]], saqueando as cidades do Nortenorte que lhe abriam as portas e atacando aqueles que lhe tentaram resistir. Às suas investidas escapou, porém, uma parte das [[Astúrias]], no Nortenorte, onde se refugiou um grupo de visigodos sob o comando de [[Pelágio das Astúrias|Pelágio]]. Uma [[caverna]] nas montanhas servia simultaneamente de [[paço]] ao rei e de templo de [[Cristo]]cristão. Por vezes, Pelágio e seus companheiros desciam das montanhas em surtidas para atacar os acampamentos islâmicos ou as aldeias despovoadas de cristãos. Um desses ataques, a designada [[batalhaBatalha de Covadonga]], travada em [[722]], marcou, segundo muitos historiadores, o início do longo processo de retomada dos territórios ocupados ao qual se deu o nome de [[Reconquista Cristã]].
A partir do pequeno território que Pelágio designou como [[Reino das Astúrias]], os cristãos (hispano-[[godos]] e [[Lusitanos|lusitano]]-[[suevos]]), acantonados nas serranias do Norte e Noroeste da península, foram, gradualmente, formando novos reinos, que se estenderam para o Sul. Surgiram, assim, os reinos de [[Reino de Castela|Castela]], [[Reino de Leão|Leão]] (de onde derivou, mais tarde, o [[Condado Portucalense]] e, subsequentemente, [[Portugal]]), [[Reino de Navarra|Navarra]] e [[Reino de Aragão|Aragão]]. O reino das Astúrias durou de [[718]] a [[925]], quando o rei asturiano [[Fruela II]] ascendeu ao trono do [[Reino de Leão]], unificando os dois reinos.<br clear=all>
 
A partir do pequeno território que Pelágio designou como [[Reino das Astúrias]], os cristãos (hispano-[[godos]] e [[Lusitanos|lusitano]]-[[suevos]]), acantonados nas serranias do Nortenorte e Noroestenoroeste da penínsulaPenínsula, foram, gradualmente, formando novos reinos, que se estenderam para o Sulsul. Surgiram, assim, os reinos de [[Reino de Castela|Castela]], [[Reino de Leão|Leão]] (de onde derivou, mais tarde, o [[Condado Portucalense]] e, subsequentemente, [[Portugal]]), [[Reino de Navarra|Navarra]] e [[Reino de Aragão|Aragão]]. O reino das Astúrias durou de [[718]] a [[925]], quando o rei asturiano [[Fruela II das Astúrias e Leão|Fruela II]] ascendeu ao trono do [[Reino de Leão]], unificando os dois reinos.<br {{clear=all>}}
 
== Cultura visigótica ==
 
[[Ficheiroimagem:CoronaRecesvinto01.JPG|thumb|Detalhe da coroa votiva do rei visigodo [[Recesvinto]] († 672), em ouro e pedras preciosas. Parte do [[Tesouro de Guarrazar]] oferecido pelos reis visigodos à igrejaIgreja católicaCatólica, como gesto de ortodoxia da sua fé e de respeito pela hierarquia eclesiástica da Hispânia.]]
 
=== Religião ===
 
Os visigodos, assim como outros [[Germanos|povos germânicos|povos Germânicos]], originalmente seguiam o que é hoje conhecido como [[paganismo germânico]]. No início da [[Idade Média]], os germânicos foram lentamente se convertendo ao [[cristianismo]], mas muitos elementos da cultura pré-cristã permaneceram firmes após o processo de conversão.
 
Os visigodos, [[Ostrogodosostrogodos]] e [[vândalos]] foram cristianizados enquanto ainda viviam fora dos limites do [[Império Romano]];. noNo entanto, adotaram o [[arianismo]], uma visão [[Cristologia|cristológica]] da [[igreja primitiva]], considerada [[heréticoHeresia|herética]] pelopela [[catolicismo]]Igreja [[ortodoxoCatólica]], desde o [[Primeiro Concílio de Niceia]], em [[325]].
 
Existia, portanto, uma diferença religiosa entre os povos [[catolicismo|católicos]] da Hispânia e os visigodos, que professavam o arianismo. Os visigodos ibéricos mantiveram-se arianistasarianos até [[589]].<ref>sobre o papel desta religião veja-se a entrada sobre [[Leovigildo]].</ref> Existiam também divisões profundas entre a população católica da Península, anteriores à chegada dos visigodos. Logo no início do pontificados do [[Papa Leão I]], nos anos 444-447, TurribiusTurríbio, Bispo de Astorga, enviou a Roma um memorando avisando sobre a sobrevivência do [[Prisciliano|priscilianismo]], uma corrente ascética, pedindo auxilio à [[Santa Sé]].<ref>Pouco depois, o [[Papa Simplício]] ({{nwrap|r.|468 - |483)}} nomeou como vigário papal ZenoZenão, o bispo católico de [[Sevilha]], de modo que as prerrogativas da Santa Sé pudessem ser melhor exercidas para um culto mais disciplinado.</ref> Leão interveio, enviando um conjunto de normas que cada bispo deveria assinar: todos o fizeram. Contudo, um segmento significativo das comunidades cristãs ibéricas afastava-se da hierarquia ortodoxa e considerava bem vinda a tolerância dos Visigodosvisigodos arianos.
 
Os visigodos evitavam interferir entre os católicos mas estavam interessados no ''decorum'' e na ordem pública.<ref>Pelo menos um visigodo notável, [[Zerezindo]], [[duque]] da [[Bética]], era católico em meados do [[século {{séc|VI]]}}.</ref> Em [[589]], o rei [[Recaredo I]] converteu o seu povo ao catolicismo. Com a conversão dos reis visigodos, os bispos católicos aumentaram o seu poder até, no [[quartoQuarto Concílio de Toledo]], em [[633]], tomaram para si o direito dos nobres, de escolher um rei entre a família real. A perseguição visigótica aos judeus começou após a conversão de RecarredoRecaredo, quando em 633 este mesmo sínodo de bispos declarou que todos deveriam ser batizados.
 
=== Direito visigótico e legado ===
{{Ver artigo principalAP|[[Direito visigótico]]}}
 
[[Ficheiroimagem:Bréviaire d'Alaric Vème siècle.jpg|thumb|right|[[Breviário de Alarico]], compilação de [[Direito romano|leis romanas]] do reino de Tolosa sob [[{{lknb|Alarico |II]]}} ({{nwrap|r.|487-|507 d.C.).}}]]
 
Os visigodos caracterizaram-se pela imensa influência que receberam da cultura e da mentalidade política romana, realizando um importante trabalho de compilação cultural e jurídica. Destaca-se o [[Direito visigótico]], com figuras como [[Santo Isidoro de Sevilha]] e obras jurídicas como o [[Código de Eurico]], a ''[[Lex romana visigothorum]]'' e o ''[[Liber iudiciorum]]'', [[código visigótico]] que forneceu as bases da estrutura jurídica medieval na [[Península Ibérica]], que expressam o grau de desenvolvimento cultural que o [[Reino Visigótico]] alcançou. Os visigodos influenciaram também formas artísticas originais, como o [[arco (arquitectura)|arco]] de ferradura e a [[Planta (geometria descritiva)|planta]] [[cruz|cruciforme]] das [[igreja]]sigrejas.
[[Ficheiro:Bréviaire d'Alaric Vème siècle.jpg|thumb|right|[[Breviário de Alarico]], compilação de [[Direito romano|leis romanas]] do reino de Tolosa sob [[Alarico II]] (487-507 d.C.).]]
Os visigodos caracterizaram-se pela imensa influência que receberam da cultura e da mentalidade política romana, realizando um importante trabalho de compilação cultural e jurídica. Destaca-se o [[Direito visigótico]], com figuras como [[Santo Isidoro de Sevilha]] e obras jurídicas como o [[Código de Eurico]], a ''[[Lex romana visigothorum]]'' e o ''[[Liber iudiciorum]]'', [[código visigótico]] que forneceu as bases da estrutura jurídica medieval na [[Península Ibérica]], que expressam o grau de desenvolvimento cultural que o [[Reino Visigótico]] alcançou. Os visigodos influenciaram também formas artísticas originais, como o [[arco (arquitectura)|arco]] de ferradura e a [[Planta (geometria descritiva)|planta]] [[cruz|cruciforme]] das [[igreja]]s.
 
=== Arquitetura ===
{{Ver artigo principal|[[Arte visigótica]]}}
 
Os poucos exemplares sobreviventes da arquitetura visigótica do [[século {{séc|VI]]}} são a igreja de San Cugat del Vallés em [[Barcelona]], a ermida e igreja de Santa Maria de Lara, a [[Capela de São Frutuoso]] em [[Braga]], a [[Igreja de São Gião]] na [[Nazaré (Portugal)|Nazaré]] e alguns vestígios da Igreja de Cabeça de Grego, em [[Cuenca (CuencaEspanha)|Cuenca]]. Contudo o seu estilo propagou-se nos séculos seguintes, embora os exemplos mais notáveis sejam rurais e estejam na maioria em ruínas. Os visigodos influenciaram formas artísticas originais, como o [[arco (arquitectura)|arco]] de ferradura e a [[Planta (geometria descritiva)|planta]] [[cruz|cruciforme]] das [[igreja]]sigrejas.
 
Algumas das características da arquitetura visigótica são: Planta de [[basílica]], e por vezes cruciforme, podendo ser uma combinação de ambas, com espaços bem compartimentados; [[Arco (arquitectura)|Arcos]] em forma de ferradura sem pedras de fecho; [[Abside]] rectangular exterior; Uso de [[coluna]]s e pilares com [[capitel|capitéis]] coríntios de desenho particular; [[Abóboda]]s com [[cúpula]]s nos cruzamentos; Paredes em blocos alternando com tijolos; Decoração com motivos vegetais e animais. Exemplares sobreviventes de arquitectura visigótica: [[Capela de São Frutuoso]] ([[Braga]]), [[Igreja de São Gião]] ([[Nazaré (Portugal)|Nazaré]]), [[:Imagem:San Juan de Baños .jpg|San Juan de Baños de Cerrato]] ([[PalenciaPalência]]), [[Cripta de San Antolín (Palência)|Cripta de San Antolín]] de [[PalenciaPalência]], [[Igreja de San Pedro de la Mata|San Pedro de la Mata]] ([[Toledo (província)|Toledo]]), [[Igreja de Santa Comba (Bande)|Santa Comba de Bande]] ([[Ourense]]), [[Igreja de San Pedro de la Nave|San Pedro de la Nave]] ([[ZamoraSamora (Espanha)|Samora]]), [[:Imagem:QuintanillaViñas-1.jpg|Santa María de Quintanilla de las Viñas]] ([[Burgos]]), Santa María de Melque ([[Toledo (província)|Toledo]]).
 
== Assentamentos e cidades ==
 
O assentamento visigótico foi concentrado junto do [[rio Garona]] entre [[Bordéus]] e [[Toulouse|Tolosa]] na [[Aquitânia]], e depois na [[Espanha]] e [[Portugal]] entre o rio [[rio Ebro]], no entorno da cidade de Mérida, entre os trechos superiores do [[rio Douro]], na [[Comarca de Tierra de Campos]] também conhecida como Campo Gótico ({{langx|la|Campi Gothorum}}) em [[Castela e Leão]], Astúrias e Toledo, e junto do [[rio Tejo]] e norte de [[Lisboa]]. Pequenos assentamentos visigóticos existiram em outras partes do reino.{{harvref|Marshall Cavendish Corporation|2010|p=603}}
<center>
<gallery>
Imagem:Wisi San Pedro de la Nave bSilves_Castle_XIII_century_artefacts.jpg|<small>Igreja de [[SanCapitel]] Pedrovisigodo deencontrado lano Nave-Almendra|San Pedro[[Castelo de la NaveSilves]], [[ZamoraSilves (Portugal)|Silves]].</small>
Imagem:Wisi San Pedro de la Nave b.jpg|<small>Igreja de [[San Pedro de la Nave-Almendra|San Pedro de la Nave]], [[Samora (Espanha)|Samora]].</small>
Imagem:Sanfruktuoso oinplanta.jpg|<small>Planta cruciforme da [[Capela de São Frutuoso]].</small>
Imagem:Cripta Visigoda Palencia.JPG|<small>Restos visigóticos (com arcos em ferradura) na cripta da Catedral de [[PalenciaPalência]].</small>
Imagem:Wisi San Pedro de la Nave e chapiteau a.jpg|<small>[[Capitel]] da igreja visigótica de San Pedro de la Nave. [[ZamoraSamora (Espanha)|Samora]], Espanha.</small>
</gallery>
</center>