Crise financeira de 2007–2008: diferenças entre revisões

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{{Grande Recessão}}
{{Desatualizado}}
'''Crise financeira de 2007–2008'''<ref name="wsj_2010-04-08">{{citar jornal |último=Wessel |primeiro=David |url=http://online.wsj.com/article/SB10001424052702303591204575169693166352882.html |título=Did 'Great Recession' Live Up to the Name? |data=2010-04-08 |obra=The Wall Street Journal}}</ref> é uma conjuntura [[Economia internacional|económica global]] que se sentiu durante [[crise financeira]] internacional, e precipitada pela falência do tradicional banco de investimento [[norte-americano]] [[Lehman Brothers]], fundado em [[1850]]. Em [[efeito dominó]], outras grandes [[instituições financeiras]] quebraram, no processo também conhecido como [[Crise do subprime|Crise do ''subprime'']].<ref>{{citar jornal| url=http://www.telegraph.co.uk/finance/financetopics/financialcrisis/8000561/IMF-fears-social-explosion-from-world-jobs-crisis.html |local=London |obra=The Daily Telegraph |título=IMF fears 'social explosion' from world jobs crisis |primeiro =Ambrose |último =Evans-Pritchard |data=2010-09-13}}</ref><ref>{{citar jornal|url=http://www.usnews.com/opinion/mzuckerman/articles/2011/06/20/why-the-jobs-situation-is-worse-than-it-looks |local= New York |obra= US News |título= Why the jobs situation is worse than it looks |primeiro = Mortimer |último = Zuckerman |data= 2011-06-20}}</ref>
[[Imagem:GDP Real Growth in 2009.svg|thumb|400px|Um [[mapa-múndi]] com taxas de crescimento real do [[Produto interno bruto|PIB]] para [[2009]] <small>(''países em marrom estavam em [[Recessão|recessão econômica]]'')</small>]]
{{Crise financeira}}
A '''crise econômica de 2007–2008'''<ref name="wsj_2010-04-08">*{{citar jornal| url=http://online.wsj.com/article/SB10001424052702303591204575169693166352882.html |obra=The Wall Street Journal |título=Did 'Great Recession' Live Up to the Name? |primeiro =David |último =Wessel |data=2010-04-08}}</ref> é uma conjuntura econômica global que se sentiu durante [[crise financeira]] internacional precipitada pela falência do tradicional banco de investimento [[Estados Unidos|estadunidense]] [[Lehman Brothers]], fundado em [[1850]]. Em [[efeito dominó]], outras grandes [[instituições financeiras]] quebraram no processo também conhecido como "[[crise dos subprimes|crise dos ''subprimes'']]".<ref>{{citar jornal| url=http://www.telegraph.co.uk/finance/financetopics/financialcrisis/8000561/IMF-fears-social-explosion-from-world-jobs-crisis.html |local=London |obra=The Daily Telegraph |título=IMF fears 'social explosion' from world jobs crisis |primeiro =Ambrose |último =Evans-Pritchard |data=2010-09-13}}</ref><ref>{{citar jornal|url=http://www.usnews.com/opinion/mzuckerman/articles/2011/06/20/why-the-jobs-situation-is-worse-than-it-looks |local= New York |obra= US News |título= Why the jobs situation is worse than it looks |primeiro = Mortimer |último = Zuckerman |data= 2011-06-20}}</ref>
 
Para evitar um colapso, o [[Governo dos Estados Unidos|governo norte-americano]] reestatizourenacionalizou as agências de [[Crédito (finança)|crédito]] imobiliário [[Fannie Mae]] e [[Freddie Mac]], privatizadas em [[1968]], que ficarão sob controle governamental por tempo indeterminado, injetando US$ 200 bilhões de [[Dólar dos Estados Unidos|dólares]] nas duas agências, considerada a maior operação de socorro financeiro feita pelo governo norte-americano até então.<ref name=FREDDIE>[http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/09/08/governo_americano_assume_controle_da_fannie_mae_freddie_mac-548126194.asp ''Governo americano assume o controle da Fannie Mae e Freddie Mac.'' O Globo, Valor Online, 8 de setembro de 2008, 8:19]</ref>
 
Em outubro de [[2008]], a [[Alemanha]], a [[França]], a [[Áustria]], os [[Países Baixos]] e a [[Itália]] anunciaram pacotes que somavam 1,17 trilhão de [[euro]]s ([[Dólar|US$]] 1,58 trilhão /≈[[Real (moeda)|R$]] 2,76 trilhões, em valores correntes na época) em ajuda ao seus sistemas financeiros. O [[PIB]] da [[Zona do Euro]] teve uma queda de 1,5% no quarto trimestre de 2008, em relação ao trimestre anterior, a maior contração da história da economia da zona.<ref>[{{Citar web|url=http://economia.uol.com.br/ultnot/reuters/2009/03/05/ult29u66132.jhtm]|titulo=PIB da zona do euro tem queda recorde no 4o tri, de 1,5% - 05/03/2009 - Reuters - Economia|acessodata=2022-09-15|website=economia.uol.com.br}}</ref>
 
== História ==
 
Segundo [[George Soros]], a crise atual foi precipitada por uma "bolha" no mercado de residências e, em certos aspectos, é muito similar às crises que ocorreram desde a [[Segunda Guerra Mundial]], em intervalos de quatro a 10 anos. Entretanto, Soros faz uma importante distinção entre essa crise e as anteriores, considerando a crise atual como o clímax de uma superexpansão ("''super-boom''") que ocorreu nos últimos 60 anos. Segundo Soros, os processos de expansão-contração ("''boom-bust''") giram ao redor do crédito, e envolvem uma concepção errônea, que consiste na incapacidade de se reconhecer a conexão circular reflexiva entre o desejo de emprestar e o valor das garantias colaterais. Crédito fácil cria uma demanda que aumenta o valor das propriedades, o que por sua vez aumenta o valor do crédito disponível para financiá-las. As bolhas começam quando as pessoas passam a comprar casas na expectativa de que sua valorização permitirá a elas refinanciar suas hipotecas, com lucros. Isso foi o que aconteceu nessa última crise.<ref name=SOROS2>[http://www.georgesoros.com/?q=worst_in_60years SOROS, George. ''The worst market crisis in 60 years'', Londres: Financial Times, 23 de janeiro de 2008, 02:00 GMT, ''in'' GerogeSoros.com]</ref>
 
=== Origem ===
[[Imagem:Lehman Brothers Times Square by David Shankbone.jpg|thumb|upright|Antiga sede do [[Lehman Brothers]] em [[Manhattan]], [[Nova Iorque]].]]
 
Alguns economistas consideram que a crise dos ''[[subprime]]s'' tem sua causa primeira no estouro da "[[Bolha da internet|bolha da Internet]]" (em [[língua inglesa|inglês]], ''dot-com bubble''), em [[2001]], quando o índice [[Nasdaq]] (que mede a variação de preço das ações de empresas de informática e telecomunicações) despencou. Segundo Paul Krugman, ''"para combater a recessão, o [[Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos]] (Fed) precisava de mais do que uma recuperação rápida; precisava aumentar dramaticamente as despesas das famílias para compensar o moribundo investimento das empresas. E, para fazer isso, como Paul McCulley da [[:en:PIMCO|PIMCO]] coloca, [[Alan Greenspan]], presidente do Fed, precisava criar uma [[bolha imobiliária]] para substituir a [[bolha do Nasdaq]], orientando os investimentos para o setor imobiliário.<ref name=bolha>''Crises financières à répétition: quelles explications? quelles réponses'', Fondation Res Publica, Paris, 2008</ref><ref>[http://www.nytimes.com/2002/08/02/opinion/dubya-s-double-dip.html?scp=4&sq=krugman%20mcculley%20bubble&st=csee Dubya's Double Dip? Dubya's Double Dip?] [[Paul Krugman]] [[The New York Times]], 2 de agosto de 2002 {{en}} "''Dubya''" é um dos apelidos do ex-presidente dos Estados Unidos, [[George W. Bush]], derivado da pronúncia [[Texas|texana]] da letra [[W]]: "''dubya''". [[:en:Double dip|''Double dip'']] refere-se ao padrão da curva de evolução do [[PIB]], em que uma [[recessão]] é seguida de uma curta recuperação e de nova recessão.</ref>
 
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Num passo seguinte, os bancos que criaram essas hipotecas criaram derivativos negociáveis no mercado financeiro, instrumentos sofisticados para securitizá-las, isto é, transformá-las em títulos livremente negociáveis - por elas lastreados - que passaram a ser vendidos para outros bancos, instituições financeiras, companhias de seguros e fundos de pensão pelo mundo afora. Por uma razão que se desconhece, as agências mundiais de crédito deram a chancela de ''AAA'' - a mais alta - a esses títulos.
 
Além da facilitação do crédito, outro aspecto que contribuiu para o endividamento familiar foi a estagnação da renda de muitas famílias norte-americanas a partir da década de 1980, sendo essa estagnação associada a um processo de [[Concentração de renda nos Estados Unidos|concentração de renda]]. Nesse contexto, o endividamento médio das famílias, que, em 1980, correspondia a 72% da renda disponível, chegou, em 2006, a representar 140% da renda disponível.<ref>[http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6241/1/RTM_v3_n3_Investiga%C3%A7%C3%A3o.pdf UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A DESIGUALDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E O ENDIVIDAMENTO DOS TRABALHADORES NORTE-AMERICANOS DOS ANOS 1980 AOS ANOS 2000], acesso em 19 de abril de 2019.</ref>.
 
Quando a Reserva Federal, em [[2005]], aumentou a taxa de juros para tentar reduzir a [[inflação]], desregulou-se a máquina; o preço dos imóveis caiu, tornando impossível seu refinanciamento para os clientes ''ninja'', que se tornaram inadimplentes em massa, e esses títulos derivativos se tornaram impossíveis de ser negociados, a qualquer preço, o que desencadeou um efeito dominó, fazendo balançar o sistema bancário internacional, a partir de agosto de [[2007]].
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=== A superexpansão (''superboom'') de 60 anos ===
[[Imagem:GDP Real Growth in 2009.svg|thumb|400px|esquerda|Mapa-múndi mostrando taxas de crescimento real do [[PIB]] para 2009. (Países em marrom estavam em [[recessão econômica]].)]]
 
Nos últimos 60 anos, cada vez que a expansão do crédito entrou em crise as autoridades financeiras agiram injetando liquidez no sistema financeiro e adotando medidas para estimular a economia. Isso criou um sistema de 'incentivos assimétricos', conhecido nos [[Estados Unidos]] como ''moral hazard'', que encorajava uma expansão de crédito cada vez maior. [[George Soros]] comenta: ''"O sistema foi tão bem sucedido que as pessoas passaram a acreditar naquilo que o então presidente [[Ronald Reagan|Reagan]] chamava de "a mágica dos livres-mercados" e que eu chamo de [[fundamentalismo de livre mercado]]. Os fundamentalistas de livre mercado acreditam que os mercados tendem a um equilíbrio natural e que os interesses de uma sociedade serão alcançados se cada indivíduo puder buscar livremente seus próprios interesses. Essa é uma concepção obviamente errônea porque foi a intervenção nos mercados, não a ação livre dos mercados, que evitou que os sistemas financeiros entrassem em colapso. Não obstante, o fundamentalismo de livre mercado emergiu como a [[ideologia]] econômica dominante na década de 1980, quando os mercados financeiros começaram a ser [[globalização|globalizados]], e os Estados Unidos passaram a ter um déficit em conta-corrente"''.<ref name="SOROS2"/>
 
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[[Imagem:Birmingham Northern Rock bank run 2007.jpg|thumb|Em [[Birmingham]], no início de [[2007]], fila de clientes diante do Banco Northern Rock, o primeiro banco a sofrer intervenção no [[Reino Unido]], desde [[1860]].]]
 
A [[crise do subprime|crise do ''subprime'']] foi desencadeada em [[20062007]], a partir da [[falência|quebra]] de [[instituição financeira|instituições]] de [[crédito]] dos [[Estados Unidos]] que concediam empréstimos [[hipoteca|hipotecários]] de alto [[Risco (administração)|risco]] (em [[língua inglesa|inglês]]: ''[[subprime]] loan'' ou ''subprime mortgage''), arrastando vários [[banco]]s para uma situação de [[insolvência]] e repercutindo fortemente sobre as [[Bolsa de valores|bolsas de valores]] de todo o mundo. ''Subprimes'' são créditos bancários de alto risco, que incluem desde empréstimos hipotecários até cartões de créditos e aluguéis de carros, eram concedidos, nos Estados Unidos, a clientes sem comprovação de renda e com histórico ruim de crédito – a chamada clientela ''subprime''. As taxas de [[juros]] eram pós-fixadas, isto é, determinadas no momento do pagamento das dívidas. Por esta razão, com a disparada dos juros nos Estados Unidos, muitos mutuários ficaram inadimplentes, isto é, sem condições de pagar as suas dívidas aos bancos.
 
A crise foi revelada ao público a partir de fevereiro de [[2007]], culminando na crise de 2008.<ref>{{Citar web |url=http://www.msia.org.br/assuntos-asuntos-estrat-gicos/367.html |titulo=Instituto europeu vê agravamento da crise sistêmica |acessodata=2009-04-04 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20090502171229/http://www.msia.org.br/assuntos-asuntos-estrat-gicos/367.html |arquivodata=2009-05-02 |urlmorta=yes }}</ref><ref>[http://www.leap2020.eu/LEAP-2020-Annonce-Speciale-Crise-Systemique-Globale-Septembre-2008_a2140.html?PHPSESSID=d74a3cfd26cda6d16bf957ad516a15dc LEAP/2020 : Annonce Spéciale Crise Systémique Globale Septembre 2008]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }}</ref>
 
A quebra do banco de investimento sediado em [[Nova Iorque]] [[Lehman Brothers]] em 2008 foi seguida, no espaço de poucos dias, pela falência técnica da maior empresa [[seguradora]] dos [[Estados Unidos da América]], a [[American International Group]] ([[AIG]]).
 
Outras importantes instituições financeiras do mundo, como [[Citigroup]] e [[Merrill Lynch]], nos Estados Unidos; [[Northern Rock]], no [[Reino Unido]]; [[Swiss Re]] e [[UBS]], na [[Suíça]]; [[Société Générale]], na [[França]] declararam ter tido perdas colossais em seus balanços, o que agravou ainda mais o clima de desconfiança, que se generalizou. No [[Brasil]], as empresas [[Sadia]],<ref name=SADIA>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u449171.shtml ''Ações da Sadia despencam quase 30% com perdas milionárias'', Folha Online, 26 de setembro de 2008, 11h21]</ref> [[Aracruz Celulose]]<ref name=ARACRUZ>[http://portalexame.abril.com.br/ae/negocio/m0168643.html BIANCONI, Cesar. ''Aracruz: perdas poderiam ser de R$ 1,95 bi em setembro.'' São Paulo: Agência Estado, 3 de outubro de 2008, 07h48]</ref> e [[Votorantim S/A|Votorantim]]<ref name=VOTORANTIM>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u454722.shtml ''Votorantim admite perdas de R$ 2,2 bi com operações de câmbio.'' São Paulo, Folha Online, 10 de outubro de 2008, 12h51]</ref> anunciaram perdas bilionárias.
 
Temendo que a crise tocasse a esfera da chamada "[[Economia monetária|economia real]]", os [[Banco Central|bancos centrais]] foram conduzidos a injetar [[liquidez]] no mercado interbancário, para evitar o [[efeito dominó]], com a quebra de outros bancos, em cadeia, e que a crise se ampliasse em escala mundial.<ref>[http://www.alternatives-economiques.fr/la-crise---apres-les-banques--l-economie-reelle_fr_art_633_40463.html La crise : après les banques, l'économie réelle] {{Wayback|url=http://www.alternatives-economiques.fr/la-crise---apres-les-banques--l-economie-reelle_fr_art_633_40463.html |date=20160130080519 }}, por Guillaume Duval, 17/10/2008. {{fr}}</ref>
 
Segundo o [[FMI]] declarou em 7 de outubro de 2008, as perdas decorrentes de [[hipoteca]]s do mercado imobiliário ''subprime'' já realizadas contabilizavam 1,4 trilhão de dólares e o valor total dos créditos ''subprime'' ainda em risco se elevava a 12,3 trilhões, o que corresponde a 89% do [[PIB]] estadunidense.
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[[Imagem:Dowjones crash 2008.svg|thumb|esquerda|280px|Queda da [[Dow Jones Industrial Average|média Dow Jones]] de produção industrial em 2008. A crise levou à falência muitas instituições financeiras nos [[EUA]] e na [[Europa]].]]
 
O governo norte-americano, que se recusararecusou a oferecer garantias para que o banco [[Inglaterra|inglês]] [[Barclays]] adquirisse o controle do cambaleante Lehman Brothers,<ref name=CEO>[http://www.cnbc.com/id/27048313 ''Lehman CEO Fuld: Where Was Our Bailout?'', Agência REUTERS, 6 de outubro de 2008, 15:57 ET]</ref> alarmado com o [[risco sistêmico|efeito sistêmico]] que a falência dessa tradicional e poderosa instituição financeira - abandonada às "soluções de mercado" - provocou nos mercados financeiros mundiais, resolveu, em vinte e quatro horas, injetar oitenta e cinco bilhões de [[dólar]]es de dinheiro público na [[AIG]] para salvar suas operações. Mas, em poucas semanas, a crise norte-americana já atravessava o [[Atlântico]]: a [[Islândia]] estatizou o segundo maior banco do país, que passava por sérias dificuldades.<ref name=ISLANDIA>[http://www.abril.com.br/noticias/economia/islandia-nacionaliza-maior-banco-pais-122716.shtml FRANCE-PRESSE, ''Islândia nacionaliza segundo maior banco do país.'', 7 de outubro de 2008, 09:21]</ref> Mesmo os bancos que não trabalhavam com os chamados "créditos podres" foram atingidos. O banco [[Grã-Bretanha|britânico]] Northern Rock, por exemplo, não tinha hipoteca-lixo em seus livros. Porém, adotava uma estratégia arriscada - tomar dinheiro emprestado a curto prazo (a cada três meses) às instituições financeiras, para emprestá-lo a longo prazo (em média, vinte anos), aos compradores de imóveis. O Northern Rock acabou por se tornar o primeiro banco britânico a sofrer intervenção governamental, desde 1860.<ref>[http://www.marxist.com/financial-panic-where-are-we-now-portuguese.htm "Economia mundial em crise – Onde estamos agora?" por Mick Brooks", 25.01.2008]</ref>
 
Um pacote, aprovado às pressas pelo congresso estadunidense, destinou setecentos bilhões de dólares de dinheiro do contribuinte americano a socorro dos banqueiros. Desde a quebra do [[Bear Stearns]]<ref name=BEAR>[http://www.businessweek.com/bwdaily/dnflash/content/jun2007/db20070612_748264.htm GOLDSTEIN, Matthew. ''Bear Stearns' Subprime Bath.'' Business Week, June 12, 2007, 6:15PM EST]</ref> até outubro de [[2008]], o governo estadunidense e a Reserva Federal já haviam despendido cerca de dois trilhões de dólares na tentativa de salvar instituições financeiras. Os países da [[UE]] também despenderam várias centenas de bilhões de [[euro]]s na tentativa de salvar seus próprios bancos. Em abril de 2009, o [[G20 maiores economias|G-20]], reunido em [[Londres]], anunciou a injeção de 1 trilhão de dólares na economia mundial de maneira a combater a crise financeira global.
 
== Análises e prognósticos ==
Os países da [[UE]] também despenderam várias centenas de bilhões de [[euro]]s na tentativa de salvar seus próprios bancos.
 
=== Soros ===
Em abril de [[2009]], o [[G20 maiores economias|G-20]], reunido em [[Londres]], anunciou a injeção de [[US$]] 1 [[trilhão]] na economia mundial de maneira a combater a crise financeira global.
[[George Soros]], em seu livro ''The New Paradigm for Financial Markets'' (2008), diz que "estamos em meio a uma crise financeira não vista desde a crise de 1929"<ref name=SOROS1>[http://www.nybooks.com/articles/21352 SOROS, George e WOODRUFF, Judy. ''The Financial Crisis: An Interview with George Soros.'' New York: ''The New York Review of Books'', Volume 55, N° 8, maio de 2008]</ref> e declara que essa crise poderia, em tese, ter sido evitada:
 
== Consequências ==
[[Imagem:Subprime Mortgage Offer.jpeg|thumb|Oferta de empréstimos sem comprovação de renda, nos [[EUA]]]]
As demissões decorrentes da crise geraram reações desesperadas na [[França]]. Em março de 2009, em três oportunidades trabalhadores franceses fizeram reféns devido a demissões: dia 13, funcionários da [[Sony]] detiveram o presidente da empresa no país por uma noite, forçando o pagamento de indenizações maiores pelas demissões; no dia 25, o diretor de operação da [[3M]] foi detido por um dia, sendo libertado após aceitar oferecer melhores condições aos 110 empregados demitidos; e no dia 31, os funcionários da [[Caterpillar]] fizeram quatro diretores da empresa reféns, após o anúncio do plano de cortar 733 empregos na unidade.<ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u543401.shtml Folha Online - Funcionários da Caterpillar na França mantêm diretores como reféns]</ref>
 
Se estima que em 2016 os custos da dívida universitária estudantil ultrapassou a da [[guerra do Iraque]].<ref>[https://www.theatlantic.com/international/archive/2016/09/cost-wars-iraq-afghanistan/499007/ Fighting Terrorism With a Credit Card]</ref> A [[Oxfam]] divulgou [[relatório]] em 2018 onde afirma que o número de [[bilhão|bilionários]] (em [[dólar dos Estados Unidos]]) dobrou desde a deflagração da crise.<ref name=oxfam>{{citar jornal|url=https://www.nsctotal.com.br/noticias/26-bilionarios-concentram-tanta-riqueza-quanto-metade-da-humanidade|wayb=20190312045959|titulo=26 bilionários concentram tanta riqueza quanto metade da humanidade|publicado=[[NSC Comunicação]]|autor=AFP|autorlink=Agence France-Presse|data=2019-01-21|acessodata=2019-03-11}}</ref>
 
Por outro lado, as emissões de [[Dióxido de carbono|CO²]] na [[União Europeia]] foram reduzidas em 6% em [[2008]] em decorrência da crise, de acordo com o instituto de pesquisa Point Carbon, sediado em [[Oslo]].<ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u544633.shtml Emissões de dióxido de carbono na União Europeia caíram 6% com a crise]</ref> Em 2017, o comércio internacional voltou a crescer<ref>[https://www.wto.org/english/news_e/pres17_e/pr800_e.htm PRESS/800: PRESS RELEASE]</ref> apesar de haver uma queda generalizada dos salários.<ref>[http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/---publ/documents/publication/wcms_537846.pdf Global Wage Report 2016 / 17 Wage inequality in the workplace]</ref>
 
=== Brasil ===
{{VT|Crise econômica no Brasil desde 2014}}
[[Imagem:Ibovespa.png|thumb|250px|esquerda|Evolução do índice [[Ibovespa]] entre [[1994]] e julho de [[2009]]. É possível observar a forte queda do Ibovespa durante o auge da crise.]]
 
Alguns [[economista]]s defendiam que a [[crise do subprime]] não afetaria significativamente o Brasil.<ref>[[Stephen Kanitz|KANITZ, Stephen]] [http://brasil.melhores.com.br/2009/02/vamos-definir-crise-corretamente-.html "Vamos Definir Crise Corretamente". 15 de fevereiro de 2009.]</ref> De todo modo, segundo a maioria dos analistas, todos os países do mundo foram tocados, em algum momento, em maior ou menor grau, pelos efeitos da crise deflagrada nos [[Estados Unidos]], devido à globalização dos negócios entre países.
 
No [[Brasil]], o efeito mais imediato foi a baixa das cotações das [[Ação (finanças)|ações]] em [[bolsas de valores]], provocada pela venda maciça de ações de [[especulador]]es estrangeiros, que se atropelaram para repatriar seus [[capital|capitais]] a fim de cobrir suas perdas nos países de origem. Em razão disso, ocorreu também uma súbita e expressiva alta do dólar, que só seria superado pela alta em recorde histórico no início de 2016. Posteriormente, grandes empresas brasileiras exportadoras sentiram o baque da falta de crédito no mercado mundial para concretizar seus negócios com parceiros estrangeiros. A recessão que atingiu uma grande parte dos países desenvolvidos também afetou o comércio externo. Empresas como ''[[Embraer]]'' e ''[[Cummins]]'' por exemplo, que têm seus faturamentos altamente dependentes de vendas ao exterior, tiveram que cortar postos de trabalho e reduzir drasticamente o ritmo de produção. Grandes empresas siderúrgicas no Brasil também desligaram alguns fornos. Em efeito cascata, empresas menores fornecedoras desses grandes conglomerados também foram atingidas.
 
Como o Brasil realizou profundas reformas econômicas durante o [[Governo Fernando Henrique Cardoso|governo]] [[Fernando Henrique Cardoso]], como o ''[[Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional|PROER]]'', implementando sistemas mais rígidos de controle ao sistema financeiro doméstico, o Brasil ficou menos exposto ao cerne da crise, que foi a contaminação sistêmica do mercado financeiro internacional. Além disso, a economia brasileira encontra-se numa posição bem mais confortável para enfrentar essa tempestade mundial do que em crises anteriores. O modelo econômico adotado pelo país desde fins dos anos [[1990]] - metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal - fez com que um colchão de proteção, através da obtenção consistentes reservas cambiais e de forte credibilidade internacional, salvaguardasse a economia. Não obstante, por estar incluso no comércio mundial, o país ainda assim sentiu efeitos colaterais pesados.
 
De imediato entretanto, os maiores prejuízos com a crise foram das empresas que especulavam com [[derivativo]]s de [[Taxa de câmbio|câmbio]]- e fizeram a aposta errada.<ref name="SADIA"/><ref name="ARACRUZ"/><ref name="VOTORANTIM"/> O governo anunciou que não pretende cobrir, com dinheiro público, as milionárias perdas privadas, decorrentes de apostas malsucedidas.
 
A alta do dólar, embora possa eventualmente causar alguma [[inflação|pressão inflacionária]], tende a aumentar a [[competitividade]] internacional das exportações do país, já que o preço dos produtos brasileiros, em dólares, cai. No entanto, para os setores da economia brasileira que dependem de importações de produtos industrializados sem similar nacional (máquinas e equipamentos, sobretudo produtos de [[alta tecnologia]]) ou mesmo de algumas [[commodities]], como o [[trigo]], o dólar alto é um problema.
 
No mercado interbancário, houve uma paralisação quase total dos empréstimos normalmente concedidos pelos grandes bancos aos menores. Num primeiro momento, o [[Banco Central do Brasil]] decidiu isentar os grandes bancos de uma parte do [[depósito compulsório]], a qual deveria ser destinada a empréstimos aos bancos menores. Mas, devido ao clima de quase pânico que se instaurou nos mercados financeiros em geral, tal medida não se revelou suficiente: os grandes bancos continuavam não concedendo empréstimos aos menores. Assim, o Banco Central decidiu adquirir as carteiras de [[crédito]] de que os bancos pequenos desejassem se desfazer, desde que oferecessem garantias. Houve pressão ainda para que os bancos estatais comprassem bancos menores em dificuldades. Assim, o Banco do Brasil comprou 49% das ações do banco Votorantim, injetando liquidez, mas não ficando com o controle acionário da instituição.
 
Para evitar a falta de liquidez (falta de dólares) nos mercados de [[Taxa de câmbio|câmbio]], o Banco Central tem realizado leilões de venda de ''[[swap]]s'' cambiais e, para evitar especulações, em outubro de [[2008]], realizou até mesmo vários leilões de venda de dólar físico à vista (moeda), utilizando as reservas internacionais do Brasil, o que não era feito desde [[2003]]. Com isto, o BC não pretendia derrubar as cotações do dólar, nem lhes impor um teto, mas somente aumentar a liquidez do mercado.<ref name=DOLARVISTA>[http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/10/10/materia.2008-10-10.6597673771/view OLIVEIRA, Kelly. ''Banco Central volta a vender dólar à vista.'' Brasília: Agência Brasil, 10 de Outubro de 2008, 11h14, última modificação 10 de Outubro de 2008, 11h29]</ref>
 
Por outro lado, o Banco Central tem-se mostrado atento a quaisquer indícios de falta de liquidez no sistema bancário brasileiro, tendo liberado, por mais de uma vez, várias dezenas de bilhões de reais dos depósitos compulsórios, especialmente para os bancos médios e pequenos, preferindo dessa forma irrigar o sistema bancário, em vez de reduzir os juros básicos ([[taxa selic|taxa Selic]]), o que ainda poderia provocar pressões inflacionárias. Se a economia mundial entrar em uma conjuntura de [[deflação]], o que não é impossível, só então os juros poderão ser reduzidos sem medo.
 
Em setembro de [[2009]], a agência Moody's informou sobre a elevação de ''[[rating]]'' da dívida do governo para grau de investimento, desde a deflagração da crise econômica de 2008/2009. A classificação também foi dada pelas agências Fitch Ratings e a Standard & Poor's, em 2008. Assim, o Brasil foi o primeiro país a receber a elevação de categoria.<ref>{{citar notícia|url=http://www.estadao.com.br/noticias/economia,brasil-recebeu-grau-de-investimento-pela-capacidade-em-superar-a-crise-diz-mantega,439378,0.htm|titulo=Brasil recebeu grau de investimento pela capacidade em superar a crise, diz Mantega|ultimo=Estadão|acessodata=23/09/2009}}</ref>
 
== Análises e prognósticos ==
; Soros
[[George Soros]], em seu livro ''The New Paradigm for Financial Markets'' (2008), diz que "estamos em meio a uma crise financeira não vista desde a crise de 1929"<ref name=SOROS1>[http://www.nybooks.com/articles/21352 SOROS, George e WOODRUFF, Judy. ''The Financial Crisis: An Interview with George Soros.'' New York: ''The New York Review of Books'', Volume 55, N° 8, maio de 2008]</ref> e declara que essa crise poderia, em tese, ter sido evitada:
 
{{quote1|desgraçadamente temos a ideia de [[fundamentalismo de livre mercado]], que hoje é a [[ideologia]] dominante, e que pressupõe que os mercados se corrigem; e isso é falso porque geralmente é a intervenção das autoridades que salvam os mercados quando eles se atrapalham. Desde 1980 tivemos cinco ou seis crises: a crise bancária internacional de [[1982]], a falência do banco Continental Illinois em [[1984]] e a falência do ''Long-Term Capital Management'', em 1998, para citar três. A cada vez, são as autoridades que salvam os mercados, ou organizam empresas para fazê-lo. As autoridades têm precedentes nos quais se basear. Mas, de alguma maneira, essa ideia de que os mercados tendem ao equilíbrio e que seus desvios são aleatórios ganhou aceitação geral e todos estes instrumentos sofisticados de investimentos foram baseados nela.<ref name="SOROS1"/>}}
 
=== Luigi Zingales ===
; Walter Williams
O professor e economista americano Walter Williams, em entrevista ao programa de televisão ''Milênio'', do canal Globo News, fez a seguinte análise:
{{quote1|Mas isto (a crise) foi causado pelo governo, pela Fannie Mae, Freddie Mac e outros, e pelas regulamentações do governo americano, que obrigam os bancos a concederem empréstimos a quem eles não concederiam de outra maneira. Foi a chamada Lei de Reinvestimento Comunitário que possibilitou aos pobres comprarem casa própria. Obrigaram os bancos a fazer empréstimos. [...] Eles disseram aos bancos: "Se quiser abrir outra agência, tem que nos mostrar que concedeu empréstimos a pobres, negros ou minorias." E fizeram chantagem com os bancos. [...] Foi causada (a crise) pelo governo. |Economista [[Walter Wililams]], em entrevista ao programa ''Milênio'', da Globo News}}
 
; Luiz Inácio Lula da Silva
O presidente [[Luiz Inácio Lula da Silva|Lula]], falando na abertura da reunião do [[G20 (países industriais)|G20 financeiro]], que se realizou em novembro de 2008, em São Paulo, para debater alternativas para a crise internacional, ecoando [[George Soros]], também criticou a crença dogmática na autorregulação dos mercados:
{{quote1|Ela (a crise) é consequência da crença cega na capacidade de autorregulação dos mercados e, em grande medida, na falta de controle sobre as atividades de agentes financeiros. Por muitos anos, especuladores tiveram lucros excessivos, investindo o dinheiro que não tinham em negócios mirabolantes. Todos estamos pagando por essa aventura. Esse sistema ruiu como um castelo de cartas e com ele veio abaixo a fé dogmática no princípio da não intervenção do Estado na economia. Muitos dos que antes abominavam um maior papel do Estado na economia passaram a pedir desesperadamente sua ajuda. |Presidente [[Luiz Inácio Lula da Silva]], na abertura da reunião do [[G20 (países industriais)|G20]]}}
 
; Paulo Vicente dos Santos
Doutor em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, é professor na Fundação Dom Cabral, falando em sua palestra sobre a estratégia de crescimento. Santos afirma que a crise brasileira de 2015 entre outros fatores foi provocada por uma política que se mantém a 30 anos, sem obtenção de resultados por não priorizar um plano de longo prazo para o país. Acredita que a pior fase da crise ainda está por vir, e que poderá ocorrer em meados de dezembro de 2016. E que medidas imediatistas não irão gerar melhorias para a economia a longo prazo, pelo contrário irá prejudicar; o melhor a se fazer nesta situação de acordo com Santos é um planejamento que fortaleça a economia a longo prazo. Santos afirma que a economia brasileira ainda é "muito protegida" dos grandes investidores estrangeiros, e que quando essa proteção diminuir ou cessar o país irá crescer, estima que isso ocorrerá entre cinco e dez anos.<ref>{{Citar web|título = Crise econômica continuará e terá pior momento em dezembro de 2016, analisa Paulo Vicente dos Santos|URL = http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/economia/negocios/noticia/2015/05/crise-economica-continuara-e-tera-pior-momento-em-dezembro-de-2016-analisa-paulo-vicente-dos-santos-4770289.html|acessadoem = 2015-06-28}}</ref>
 
; Luigi Zingales
Em seu livro [[Luigi Zingales]] o atual sistema financeiro se arruinou graças a sua falta de coordenação e comunicação, essa falta de estrutura gera uma falha no sistema que as indústrias usam para evitar a regulamentação.
 
Para o autor, a ''alternativa de centralização'' representa problemas quanto a sua eficiência e a''proximação funcional'' possui problemas quanto a sua abrangência em situações intercambiáveis (por exemplo o caso de aumento dos empréstimos [[Citibank]], qual era de natureza de segurança de preços e financeira), esse modelo também apresenta problemas quando deve nomear uma agência por tomar responsabilidade por uma má administração, tornando um “jogo de culpa” no qual nenhuma das agências está disposta a tomar a responsabilidade.<ref>[http{{Citar web|url=https://www.publishersweeklypubishersweekly.com/9789780465029471|titulo=A Capitalism for the People: Recapturing the Lost Genius of American Prosperity by Luigi Zingales|data=|acessodata=2022-009-465-02947-1]15|website=www.pubishersweekly.com}}</ref>
 
=== Nassim Nicholas Taleb ===
Sua sugestão de reforma se inicia considerando os três gols primários do sistema financeiro; estabilidade de preços; proteção de investidores de pequeno e médio porte e estabilidade do sistema. Zingales sugere a criação de uma instituição para cada um desses objetivos, qual a eficiência seria facilmente mensurada via [[inflação]], confiança dos investidores no mercado e outras instituições financeira e o preço de ''credit default swaps'' (CDS). Uma das principais preocupações a respeito desse sistema seria restringir as funções entre elas, bem como a ter uma preocupação especial na comunicação interagências. Para solucionar esse problema Zingales sugere que tais agências sejam compostas de pequenos números de representantes nomeados pelo estado, que se ocupariam de uma nova agenda qual deverá ser transparente ao público, similar ao que acontece no atual ''Conselho de Supervisão para Estabilidade Financeira''.
 
Quanto a estabilidade de preços: O principal agente envolvido é o ''[[Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos|Federal Reserve]]'', que está responsável por articular a política monetária e promover a estabilidade de preços, a independência dessa agência é importante pois evita fraudes para simulação de uma economia forte. No entanto, com a crise de 2008 o ''Federal Reserve'' ultrapassou seus limites iniciais interferindo no sistema monetário para garantir a estabilidade financeira, daí a importância de autoridades independentes no setor monetário e um conselho de estabilidade financeira politicamente responsáveis.
 
A respeito da proteção do consumidor e inovação financeira: uma das razões pela qual a ''inovação financeira'' se faz necessária é a importância de aumentar o as partes que dividem o risco, bem como diminuir os atritos que dificultam as finanças. A inovação financeira de modo geral cria valor, mas também há inovações que são feitas para reduzir impostos e/ou enganar os investidores. No entanto, regular essas inovações seria ineficiente e poderia inibir avanços significativos nas finanças, a melhor forma para lidar com esse problema é consertar os problemas que geram a inovação fraudulenta. Para isso, seria necessário a classificação de investidores em ''investidores menos sofisticados'' (quais estariam envolvidos com taxas fixas de hipoteca e index funds), ''investidores moderadamente sofisticados'' (quais estariam aptos para trabalhar com hipotecas ajustáveis e individual stocks) e, por fim, ''investidores sofisticados'' ( aptos a lidar com double short exchange traded funds e hipotecas de amortização negativa). A classificação desses investidores pode evitar que os investidores sejam enganados. A classificação das operações de gerência é igualmente importante, sendo feitas apenas por pessoal autorizado, para evitar abusos.
 
A estabilidade liberdade dos mercados é outro fator crucial, indivíduos participantes do mercado podem se beneficiar de restrição de competição, a liberdade sem regras pode condenar o mercado à estagnação, através de restrições, no entanto, no mercado público há um risco de transformação de leis obrigatórias em opcionais. Para o autor o ideal é desregular os mercados públicos e aplicar algumas práticas de transparência nos mercados privados, pois mercados anônimos a reputação não pode evitar a fraude ou praticas abusivas.
 
O autor aponta para o problema da esfera política de "[[Too Big to Fail|Grande demais para falir]]" (do inglês “too big to fail”) e como esta dificulta a [[análise de risco]]. Segundo Zingales o real motivo para o [[Bailout|resgate]] dos bancos, não foi o tamanho das empresas em si, mas sim as suas importantes ''interconexões'' com outras [[instituições financeiras]]. Assim, o "calote" dado por uma empresa pode gerar um efeitos em cascata, de modo que várias outras são prejudicadas. Para o autor a solução é criar duas camadas de capital: a primeira, para proteger obrigações sistemáticas relevantes, pois essas operações geram um efeito cascata mais intenso; a segunda destinada à cobertura de dívidas menores, que não têm tanto impacto sobre o [[sistema financeiro]]. A vantagem desse sistema é dar prioridade ao pagamento das dividas sistemáticas, que, uma vez liquidadas, dariam espaço para a resolução de dívidas menores.
 
; Nassim Nicholas Taleb
[[Nassim Taleb]], ex-corretor de [[derivativos]] e atual professor de engenharia de risco do ''Polytechnic Institute'' da [[New York University]], descreve o mundo socioeconômico como pouco influenciado por ações cotidianas. Segundo o autor, o que realmente muda o curso da história são eventos imprevisíveis, que abalam todo o sistema. Sua proposta se concentra no que ele denomina de ''antifragilidade'', ou seja, a capacidade de instituições de resistir a tais eventos, que ele chama "cisnes negros". Taleb propõe cinco regras que podem ajudar a estabelecer a antifragilidade como um princípio da nossa vida socioeconômica.<ref>[http://online.wsj.com/article/SB10001424127887324735104578120953311383448.html Learning to Love Volatility.] Por Nassim Nicholas Taleb. ''[[Wall Street Journal]]'', 16 de novembro de 2012.</ref>
 
# ''Pense na economia mais como um gato do que como uma lavadora''. Segundo Taleb, a economia funciona como um organismo vivo, com capacidades próprias, e não como um objeto inanimado que, para ser reparado, precisa da ajuda de um terceiro.
# ''Favoreça os negócios que se beneficiam dos próprios erros e não aqueles em que os erros se infiltram por dentro do sistema''. As linhas aéreas e os restaurantes, por exemplo, aprendem com os erros e buscam aprimoramento, como na [[teoria da evolução]]. No entanto, os bancos não funcionam dessa maneira. Se houvesse esses aprendizado, a [[falência]] de um banco não afetaria todo o sistema financeiro, pois o sistema saberia evitar o [[efeito dominó]] e proteger-se do [[risco sistêmico]] decorrente de falhas individuais.
# ''Pequeno é bonito e também é eficiente''. Quanto maior o projeto ou a instituição, mais frágil será e maiores serão os riscos. O tamanho, quando excede um certo limite, produz fragilidade e pode anular todos os [[economia de escala|ganhos de escala]]. Quanto maior o número de partes envolvidas (e quanto menores forem essas partes) melhor. O autor também acredita que a descentralização do governo e a processos decisórios que fluem de baixo para cima ajudariam a reduzir os [[déficit público|déficits públicos]]. Ele compara o sucesso das decisões tomadas nos [[cantões da Suíça]] (de baixo para cima) com as falhas de regimes autoritários, onde as decisões são tomadas de cima para baixo, como no caso da extinta [[União Soviética]]) .
# ''O método de tentativa e erro supera o conhecimento acadêmico''. Mas, segundo Taleb, isso se aplica quando os erros têm baixo custo, e os acertos têm um alto benefício. Nesse caso, o método de tentativa e erro se mostra mais eficiente do que o conhecimento acadêmico. Por isso a inovação deve ser feita por pessoas com amplo conhecimento prático.
# ''Tomadores de decisões devem sofrer as consequências''. Para garantir que o sistema financeiro funcione de forma eficiente, deve existir um sistema sanções financeiras para aqueles que escondem riscos para debaixo do tapete, isto é, deve haver algo que afete diretamente seus ganhos.
 
== Crise das dívidas soberanas ==
{{Artigo principal|Crise do limite de dívida dos Estados Unidos de 2011|Crise da dívida pública da Zona Euro}}
O desdobramento mais recente da crise financeira e econômica internacional de 2008-2009 foi o da [[insolvência]] das [[País desenvolvido|nações desenvolvidas]]. O grande acúmulo da [[dívida governamental]] fez estourar a capacidade de endividamento dessas nações e causou uma enorme turbulência financeira ao provocar o temor de que essas nações não pudessem honrar com seus compromissos e decretassem o calote da dívida.<ref>{{citar web |url=http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201107291854_BBB_79995353 |título=Juros sobre dívida brasileira são os maiores entre o G20 |acessodata=3 de agosto de 2011 |publicado=Portal Terra}}</ref> A principal consequência da crise das [[Dívida soberana|dívidas soberanas]] foi a grande instabilidade social causada pelos cortes dos benefícios sociais.<ref>{{citar web |url=http://jornaldeangola.sapo.ao/19/49/salvar_o_euro_ou_evitar_a_crise_social |título=Salvar o euro ou evitar a crise social |acessodata=3 de agosto de 2011 |publicado=Jornal de Angola Online}}</ref>
 
Em nações como o [[Japão]] - que detém o maior percentual de endividamento - a relação [[Dívida soberana|dívida]]-[[PIB]] já ultrapassa os 200%.<ref>{{citar web |url=http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2011/04/27/sp-baixa-nota-da-divida-japonesa.jhtm |título=S&P baixa nota da dívida japonesa |acessodata=5 de agosto de 2011 |publicado=Uol Notícias|data=27 de abril de 2011}}</ref><ref>{{citar web |url=http://veja.abril.com.br/noticia/economia/moody-s-estuda-rebaixar-nota-da-divida-do-japao |título=Moody's estuda rebaixar nota da dívida do Japão |acessodata=5 de agosto de 2011 |publicado=Veja.com}}</ref> Nos Estados Unidos, entretanto, está a maior dívida bruta entre todas as nações do mundo, que já supera os 14,3 trilhões de dólares.<ref>{{citar web |url=http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,obama-precisa-de-acordo-com-o-congresso-para-evitar-moratoria,732972,0.htm |título=Obama precisa de acordo com o Congresso para evitar moratória |acessodata=5 de agosto de 2011 |publicado=Estadão}}</ref> Nesse ponto, aliado às recentes crises de insolvência na [[Grécia]], [[Irlanda]] e [[Portugal]], e ao temor de que a [[Espanha]], a [[Itália]] e o [[Reino Unido]]<ref>{{citar web |url=http://www.jb.com.br/economia/noticias/2011/08/03/ue-defende-acao-em-crise-da-divida-que-afeta-italia-e-espanha/ |título=UE defende ação em crise da dívida que afeta Itália e Espanha |acessodata=5 de agosto de 2011 |publicado=Jornal do Brasil}}</ref> também não consigam honrar seus compromissos, o mercado financeiro sofreu um forte abalo.<ref>{{citar web |url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2011/08/110805_entendacrisemercadoebc.shtml |título=Entenda a crise global dos mercados |acessodata=6 de agosto de 2011 |publicado=BBC Brasil}}</ref>
 
Porém, o estopim da segunda crise - que já vem sendo chamada de "''[[déjà vu]]'' de 2008",<ref>{{citar web |url=http://economia.ig.com.br/mercados/com+tensao+generalizada+mercado+tem+dejavu+de+2008/n1597117617505.html |título=Com tensão generalizada, mercado tem déjà-vu de 2008 |acessodata=5 de agosto de 2011 |publicado=iG economia}}</ref> por acontecer exatamente três anos depois do primeiro estouro da [[crise do subprime]] - se deu pela desconfiança de que talvez os [[EUA]] não conseguissem honrar seus compromissos. A crise do limite de dívida dos EUA, que levou a um longo processo negocial e de debate no Congresso Americano sobre se o país deveria aumentar o limite de dívida, e, caso afirmativo, em que montante, fez crescer a [[Especulação financeira|especulação]] internacional sobre a real capacidade de solvência americana.<ref>{{citar web |url=http://correiodobrasil.com.br/bolsas-afundam/278826/ |título=Bolsas afundam |acessodata=5 de agosto de 2011 |publicado=Jornal Correio do Brasil |arquivourl=https://web.archive.org/web/20121115171024/http://correiodobrasil.com.br/bolsas-afundam/278826/ |arquivodata=2012-11-15 |urlmorta=yes }}</ref> A crise forjou um fim quando um acordo complexo entre ambas as partes conseguiu elevar o limite de gastos em 31 de julho de 2011. Após a sua aprovação no Congresso e Senado, foi ratificado pelo [[Presidente dos Estados Unidos|Presidente]] [[Barack Obama]], ficando o acordo conhecido como ''Budget Control Act of 2011'' em [[2 de agosto]], data limite para o acordo.<ref>{{citar web |url=http://abcnews.go.com/Politics/wireStory?id=14228242 |título=The Next Deficit Deal: There's a Rough Road Ahead |acessodata=5 de agosto de 2011 |publicado=abc News}}</ref> Porém o mercado não reagiu positivamente ao acordo, e nos dias que se seguiram, a maior parte das [[bolsas de valores]] mundiais fecharam em forte queda.<ref>{{citar web |url=http://economia.ig.com.br/mercados/ibovespa+tem+pior+queda+entre+principais+bolsas+globais/n1597116714677.html |título=Ibovespa tem pior queda entre principais bolsas globais |acessodata=5 de agosto de 2011 |publicado=iG economia}}</ref>
 
Diante do quadro da crise, a agência de classificação de notas de crédito [[Standard & Poor's]] (S&P) rebaixou pela primeira vez na sua história a nota da dívida pública dos Estados Unidos de AAA para AA+, devido à crescente dívida e ao pesado déficit de orçamento.<ref>{{citar web |url=http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,rebaixamento-de-nota-dos-eua-derruba-bolsas-asiaticas,79150,0.htm |título=Rebaixamento de nota dos EUA derruba bolsas asiáticas |acessodata=29 de agosto de 2011 |publicado=Estadão}}</ref> Imediatamente ao rebaixamento da nota de crédito dos EUA, as bolsas de valores mundiais calcularam altíssimas perdas. Seguiu-se ainda que os dados divulgados no mês de agosto apontavam que as economias da [[Zona do Euro]] haviam crescido menos do que o previsto, sendo que algumas já estavam em profunda recessão.<ref>{{citar web |url=http://economia.publico.pt/Noticia/comissao-europeia-preve-recessao-de-um-por-cento-do-pib-em-2011_1468619 |título=Comissão Europeia prevê recessão de um por cento do PIB em 2011 |acessodata=29 de agosto de 2011 |publicado=Publico Portugal}}</ref> Depois de inúmeras perdas, algumas ações de bancos se recuperaram nas semanas seguintes de agosto, com os mercados acionários globais, em parte, recuperados após o rebaixamento da nota da dívida estadunidense.<ref>{{citar web |url=http://www.cartacapital.com.br/internacional/a-crise-da-divida-da-zona-do-euro-entra-em-nova-fase |título=A crise da dívida da Zona do Euro em nova fase |acessodata=29 de agosto de 2011 |publicado=Carta Capital}}</ref>
 
== Ver também ==
Linha 156 ⟶ 89:
* [[Plano de resgate econômico de 2008]]
* [[Sistema bancário livre]]
* [[Sobreacumulação]]
* [[Subprime]]
* [[Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos]]
Linha 162 ⟶ 94:
* [[Trabalho Interno]] (documentário)
 
{{Referências|col=2}}
 
== Ligações externas ==
Linha 180 ⟶ 112:
* [http://www.economist.com/finance/displayStory.cfm?story_id=12286340&source=features_box1 "Financial crisis : Carping about the TARP : Congress wrangles over how best to avoid financial Armageddon"], [[The Economist]], September 23rd 2008
* [http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=12263158 "What next? Global finance is being torn apart; it can be put back together again"], The Economist, September 18th, 2008
* [http://mises.org/story/3128 "The Bailout Reader"], uma coletânea de artigos, elaborada pelo Mises Institute, contendo os antecedentes e a história da crise, em seus vários aspectos.
* {{citar jornal|primeiro = Joe |último = Nocera |coautor= Andrew Ross Sorkin, Diana B. Henriques, Edmund L. Andrews |título= 36 Hours of Alarm and Action as Crisis Spiraled |data= 2008-10-01 |publicado= | url = http://www.nytimes.com/2008/10/02/business/02crisis.html?hp=&pagewanted=all |obra= New York Times|páginas= |acessodata= 2008-10-02 }} (antecedentes da proposta do Tesouro dos EUA ao Congresso americano)
* Barry Eichengreen; Kevin H O’Rourke (2010). [http://www.voxeu.org/article/tale-two-depressions-what-do-new-data-tell-us-february-2010-update#jun09 What do the new data tell us?]. Comparação da atual crise global com a [[Grande Depressão]].
 
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