Pouco depois do amanhecer de sábado, centenas de homens armados do Hamas romperam as barricadas entre Gaza e Israel, correram pela área rural na zona fronteiriça, e chegaram atirando à queima roupa em um festival de música eletrônica que havia começado na noite anterior. Mais de cem pessoas, a maioria jovens, foram mortas.
— Vi fumaça, chamas e tiros — disse Andrey Peairie, sobrevivente de 35 anos, ao New York Times. — Tenho formação militar, mas nunca estive numa situação como esta.
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Dias após o ataque surpresa do Hamas, que matou mais de 1.200 israelenses e deixou milhares de feridos, as provas que emergem dos locais que foram alvo mostram um lastro de crueldade e morte, e refazem o caminho dos terroristas ao atacarem civis israelenses em lugares comuns de uma manhã de sábado: um festival de música ao ar livre, em kibutzs, em suas próprias casas, ou nas ruas e estradas do sul do país.
Festival Universo Paralello
Os terroristas invadiram o festival — que acontecia no deserto de Negev, perto de Re-im, a cerca de cinco quilômetros da fronteira de Gaza —, sequestraram um número desconhecido de pessoas e mataram a tiros vários outros à queima roupa. Pelo menos dois brasileiros que participavam da rave, Bruna Valeanu e Ranani Glazer, ambos de 24 anos, foram assassinados.
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Um vídeo mostra uma pessoa — no chão perto de um carro, mas em movimento — sendo baleada por um homem com um rifle, e depois sendo levada, já imóvel. Outro vídeo verificado pelo New York Times exibe membros do Hamas dirigindo uma moto com uma mulher israelense espremida entre eles, gritando enquanto seu namorado é levado a pé, com o braço torcido nas costas.
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Algumas pessoas conseguiram se abrigar em um bunker, mas o local acabou atingido por uma bomba. O brasileiro Ranani Glazer chegou a gravar um vídeo de dentro do local, antes de morrer: "Foi cena de filme", disse em imagens postadas em suas redes sociais.
Ele precisou correr quilômetros para achar um lugar seguro para se esconder. "No meio da rave a gente parou num bunker, começou uma guerra em Israel, pelo menos a gente está num bunker agora, seguro", disse antes de o local ser atingido pela bomba.
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A namorada de Ranani, Rafaela Treistman, conseguiu sair, e sobreviveu depois que a polícia pediu que ela fosse para o hospital, onde os feridos estavam sendo atendidos. Outra brasileira, Karla Stelzer Mendes, de 41 anos, estava no festival com o namorado e está até agora desaparecida.
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"Pelos áudios dela a gente ouve os tiros. Graças a Deus os tiros estavam longe, mas ela viu os terroristas correndo e dá para sentir o desespero dela e o desespero de todas as pessoas que estavam lá", afirmou Patrícia Hallak, amiga de Karla, em um vídeo publicado no Instagram.
Kibutz Be'eri
Autoridades e trabalhadores de emergência encontraram mais de 100 pessoas mortas, incluindo crianças, no Kibutz Be'eri. O ataque ao local começou por volta das 6h de sábado, quando câmeras de segurança no portão do kibutz mostram dois homens armados tentando entrar. Quando um carro para na estrada, os dois homens disparam contra eles e entram no abrigo.
Por volta das 7h, pelo menos oito homens armados já estavam dentro do local. Cerca de duas horas depois, os terroristas do Hamas podem ser vistos em um vídeo retirando três corpos do carro emboscado. Outro vídeo mostra vários israelenses sendo capturados — mais tarde, são aparentemente assassinado na rua.
Equipes de emergência removeram os corpos de mais de 100 pessoas mortas no kibutz, disse Moti Bukjin, porta-voz da organização humanitária Zaka.
— Foi um trabalho horrível, havia crianças foram mortas lá — contou Bukjin, acrescentando que havia dezenas de homens armados mortos na cidade. — Ainda não examinamos todas as casas.
A aldeia de Kfar Azza
Quatro dias após o ataque à aldeia de de Kfar Azza, do outro lado de alguns campos de refugiados na fronteira com Gaza, os soldados israelenses foram de casa em casa procurando armadilhas e retirando os mortos. Jornalistas do The New York Times que viajaram para a aldeia também viram corpos abandonados pelas vias e nos gramados, nas casas e em outros locais.
Soldados e equipes de resgate disseram que dezenas — ou mesmo centenas — de pessoas foram mortas na aldeira:
— Não é uma guerra ou um campo de batalha; é um massacre — disse o major-general Itai Veruv, comandante israelense no local. — Vimos os bebês, os pais, as mães em seus quartos de proteção e a forma como os terroristas os mataram. É algo que imaginávamos a partir [de relatos] de nossos avôs nos pogroms [perseguição a judeus] na Europa.
A cidade de Sderot
O ataque a Sderot, uma cidade a cerca de 1,5 km de Gaza, começou na manhã de sábado, quando pelo menos dois tratores cheios de homens armados, com uma grande metralhadora acoplada, chegou à cidade. Civis foram baleados em seus carros ou a pé, debaixo de um viaduto ou enquanto esperavam o ônibus. Sete pessoas foram encontradas mortas em um ponto de ônibus. No total, pelo menos 20 civis foram assassinados na cidade, além de cerca cerca de dez soldados, bombeiros e policiais.
Vídeos filmados por moradores de Sderot mostram os terroristas armados atirando contra civis, trocando tiros com a polícia nas ruas e assumindo o controle de uma delegacia.
“Todo mundo morreu”, pode-se ouvir um homem dizendo em um deles.
Delegacia de polícia israelense é atacada em Sderot
Nir Oz e outras comunidades perto de Gaza
Detalhes ainda estão sendo divulgados em muitas comunidades localizadas ao redor da Faixa de Gaza, e as autoridades ainda contabilizam o número de vítimas. Mas vídeos, fotos e relatos de sobreviventes mostraram detalhes de muitos ataques em toda a região.
Um vídeo de 30 minutos publicado no Facebook, e cuja localização foi verificada pelo New York Times, exibe homens armados atravessando a cerca da fronteira e dirigindo-se à comunidade de Nir Oz, no sul. O vídeo segue o grupo até o que parece ser um kibutz. Seguem-se sons de gritos altos e tiros. Depois, já no interior de uma sala, pelo menos seis corpos ensanguentados jazem no chão. Um atirador abre fogo contra os corpos e o vídeo é interrompido.
Quando o Exército israelense reuniu todos os sobreviventes do kibtuz — que tinha cerca de 350 a 400 pessoas quando o ataque começou — em uma escola, a estudante Lotus Lahav percebeu que muitos estavam desaparecidos.
— Percebemos que apenas metade das pessoas estão aqui — disse Lotus.
Arie Itzik, enfermeira aposentada, voltou a Nir Oz no domingo para ajudar com os corpos. Segundo ela, alguns estavam completamente queimados.
— Não consegui reconhecer algumas pessoas.
Em Nahal Oz, Noam Tibon, um general reformado que viajou para ajudar o filho, disse ter encontrado as ruas repletas de corpos, de palestinos e israelenses. Em Alumim, fotos exibiam vários sacos para cadáveres alinhados do lado de fora de um prédio.
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