Zeina Latif
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Zeina Latif
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Zeina Latif

Economista


RESUMO

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GERADO EM: 24/12/2024 - 14:09

"Crise econômica: alta de juros e dólar geram preocupações"

A crise econômica atual é marcada por fatores como a política fiscal, contexto externo e a atuação do governo, levando a alta dos juros e do dólar. A falta de confiança nos mercados é destacada, com preocupações sobre interferências políticas. A necessidade de respostas rápidas e responsáveis para evitar a concretização das altas de juros é ressaltada, com alerta para mudanças no plano do Copom.

O estresse dos mercados decorre apenas do tímido pacote fiscal? Sem dúvida, ele foi o gatilho, mas há agravantes.

O contexto externo importa. O risco de uma política monetária mais restritiva nos EUA, aliado à desaceleração em curso na China, tem levado ao fortalecimento do dólar. Seu nível atual contra uma cesta de moedas de países emergentes é superior aos dos primeiros meses da pandemia, quando bateu recordes.

Claro que não é só isso. Estivéssemos nas mesmas condições internas das de dezembro de 2023, a cotação do dólar estaria na casa de R$ 5,30, e não acima de R$ 6.

Conforme a arriscada estratégia de expansão fiscal do governo foi impactando a economia e as expectativas dos agentes de mercado, assistimos as variáveis macroeconômicas se ajustando a um novo equilíbrio, com taxas de inflação e de juros mais elevadas. Até aqui, nenhuma novidade, incluindo a maior volatilidade da taxa de câmbio.

O que salta aos olhos é o pânico recente dos mercados em meio à profunda crise de confiança no governo. Equivocadamente, teme-se a repetição do governo Dilma, que dobrava apostas e não negociava com o Congresso.

Diante de muitas perdas de riqueza financeira, as condições técnicas do mercado se deterioram e movimentos de manada se materializam. Mesmo aqueles com visão mais construtiva para a economia acabam jogando a toalha e saindo de suas posições. Isso sem contar a necessidade de reequilibrar o risco das carteiras de investimento.

Nesse contexto, os players de mercado se tornam muito mais sensíveis a notícias ruins, enquanto notícias boas são ignoradas. O terreno torna-se fértil para boatos e especulações de possíveis medidas heterodoxas do governo, o que alimenta o pânico. Vale aqui pontuar que a injeção de dólares das reservas internacionais no mercado cambial feita pelo BC foi adequada para reduzir esses temores.

A crise instalada demanda manifestações cautelosas do governo, o que não ocorreu. Se no ano passado já saiu caro a crítica de Lula à política monetária e à meta de inflação de 3% — as expectativas de inflação saltaram para acima da meta em todo período de Gabriel Galípolo à frente do BC —, imagine agora o impacto da crítica aos juros altos após a decisão do Copom. Pior, Lula afirmou “vamos cuidar disso”, ferindo a ideia de autonomia do BC. Posteriormente, buscou corrigir dizendo que não vai interferir, mas, naturalmente, sob muito ceticismo dos mercados.

Apesar do equívoco de fazer desabafos em público, com elevado custo, há razões para incômodo.

Lula governou no passado sob a meta de 4,5% e o BC cumpriu bem seu papel. Superada a fase inicial mais aguda de seu governo, entre 2003-2004, na sequência de uma inflação de 12,5% em 2002, a meta foi cumprida.

Por 14 anos a meta de inflação foi de 4,5%. A partir de 2019, ela foi sendo reduzida em 0,25 ponto percentual a cada ano até atingir 3%. Caberia, porém, uma estratégia mais gradualista, principalmente depois da pandemia, consolidando a entrega da inflação na meta por alguns (poucos) anos antes de partir para uma nova redução. Claro que, uma vez em 3%, melhor não mexer, para não piorar as expectativas de inflação.

É compreensível, pois, a visão de Lula de que não faz sentido um choque de juros para uma inflação “controlada”.

A política monetária agravou o quadro. Avalio que a estratégia de choque de juros (alta de 1pp na Selic e a sinalização de mais duas na mesma magnitude) acabou sancionando o pessimismo e o pânico — ora, se o BC fez isso, é porque é sério mesmo e não haverá qualquer ajuste de rota —, quando o momento pedia serenidade. Adicionou-se mais volatilidade nos mercados e piora das expectativas de juros, câmbio e inflação, ao contrário do pretendido. Nutriu-se o temor de dominância fiscal e de crise no mercado de crédito, com grande impacto na saúde financeira das empresas e nos investimentos.

O mercado avalia que falta convicção e compromisso com a disciplina fiscal de um governo que poderá se manter no poder nas próximas eleições, o que impede de se enxergar a interrupção do crescimento da dívida pública no futuro.

Respostas são necessárias para desatar esses nós, tempestivamente, por meio de discursos e ações fiscalmente responsáveis, para assim evitar a materialização das altas de juros sinalizadas. Uma mudança de planos do Copom sem justificativa técnica convincente será mais lenha na fogueira.

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