Memoria Globo

Nascida e criada no interior, na pequena cidade de Tatuí, Vera Holtz tinha tudo para seguir os passos do pai e se tornar professora primária. Mas a veia artística e o caráter impulsivo a levaram para a capital paulista, onde ingressou no curso de Artes Dramáticas, na Universidade de São Paulo. Ali, conheceu o teatro. Foi amor à primeira vista.

Eu nunca imaginei que fosse ser atriz. Era para eu ter ficado em Tatuí, casada, tido filhos. Saí por um impulso, atravessei uma porteira que se abriu por pura intuição.

Começou na televisão na minissérie 'Quem ama não mata' e, desde então, atuou em diversas tramas marcantes. Com personagens marcantes, como Santana de 'Mulheres Apaixonadas' e Mãe Lucinda de 'Avenida Brasil', Vera Holtz confessa aou Memória Globo que aprende e cresce à cada novo papel.

Vera Holtz em 'Que Rei Sou Eu', 1989. — Foto: Nelson di Rago/TV Globo

Início da carreira

Nascida e criada no interior, na pequena cidade de Tatuí, Vera Holtz tinha tudo para seguir os passos do pai e se tornar professora primária. Sua história começou em 7 de agosto de 1952, quando José Carlos Holtz, professor primário, e Terezinha Fraletti Holtz, dona de casa, tiveram sua terceira filha, Vera Lúcia Fraletti Holtz. Na escola, Vera cursou o Normal, com especialização em artes plásticas e desenho geométrico. Deu aulas em colégio até que a veia artística e o caráter impulsivo a levaram para a capital paulista, onde ingressou no curso de Artes Dramáticas, na Universidade de São Paulo. Ali, conheceu o teatro. Foi amor à primeira vista. Não concluiu a faculdade e em 1975, mudou-se para o Rio de Janeiro e tentou continuar os estudos na Unirio, mas o envolvimento com o teatro já exigia que não tivesse outra ocupação. Tornou-se atriz.

Holtz percebeu que para construir uma carreira, precisaria lidar com duas características marcantes: a timidez e o sotaque carregado. O remédio para a timidez foi a maturidade. E, para a dicção, sessões e mais sessões de fonoaudiologia. Deu certo. “Sempre fui muito curiosa, intuitiva e corajosa, nunca vi obstáculo em nada”, afirma.

Teatro

Em 1982, surgiu a chance de fazer sua primeira aparição na televisão. Holtz interpretou uma babá na minissérie 'Quem ama não mata, de Euclydes Marinho. “Eu não entendia nada de televisão. Tinha um sotaque muito carregado,' virei uma gozação. Imagina, ninguém me conhecia e eu achava que estava indo muito bem”, se recorda. Para ela, o mais difícil foi se adaptar à geografia cênica da TV, ou seja, dominar o espaço diante das câmeras, sem interação com a plateia. Em 1983, interpretou uma vendedora, na minissérie Parabéns para você, de Bráulio Pedroso. Em 1985, foi a vez de estrear no cinema. Participou de Férias em Fuga, em 1985. Mais tarde voltaria às telas na pele de uma professora, no filme O Menino Maluquinho, em 1994. ê tem que conquistar a plateia, é uma arena diária, um lugar de reflexão”, pondera.

Estreias na televisão e no cinema

Em 1982, surgiu a chance de fazer sua primeira aparição na televisão. Holtz interpretou uma babá na minissérie 'Quem ama não mata', de Euclydes Marinho. “Eu não entendia nada de televisão. Tinha um sotaque muito carregado, virei uma gozação. Imagina, ninguém me conhecia e eu achava que estava indo muito bem”, se recorda. Para ela, o mais difícil foi se adaptar à geografia cênica da TV, ou seja, dominar o espaço diante das câmeras, sem interação com a plateia. Em 1983, interpretou uma vendedora, na minissérie 'Parabéns para você', de Bráulio Pedroso. Em 1985, foi a vez de estrear no cinema. Participou de 'Férias em Fuga', em 1985. Mais tarde voltaria às telas na pele de uma professora, no filme 'O Menino Maluquinho', em 1994.

Que rei sou eu?

Em 1989, Roberto Talma convidou Vera Holtz para participar de 'Que Rei Sou Eu'? Nesta novela, Holtz vivia a jovem Fanny, criada de inteira confiança do todo poderoso Ravengar (Antônio Abujamra) – o conselheiro mor do rei e da rainha. Fanny era uma moça boazinha, mas que se acomodou ao papel a ela designado dentro da corte corrupta. “Foi uma coisa mágica na minha vida. Estava do lado do Antônio Abujamra, um mestre para mim. Tive um problema seríssimo com esse personagem, porque não podia mostrar esse meu sotaque que me acompanha. Eu falei: ‘como é que eu não vou soltar o sotaque?’ E ele falou: ‘Faz uma personagem contida’”. E foi um sucesso. “Foi uma surpresa. Quando eu estreei, todo mundo não sabia quem era aquela atriz que estava chegando!”. Vera Holtz teve que enfrentar outro obstáculo em seu primeiro grande papel na televisão: o beijo cenográfico: “Eu era muito tímida e meu pai, um homem muito recatado. Isso para mim era a coisa mais terrível do mundo, constrangedora. Então no primeiro dia, eu liguei para a minha mãe e avisei: ‘Mãe, vai ter beijo hoje’. E ela: ‘Pode deixar que eu vou fazer a janta mais cedo e o seu pai perde a novela’. Se fosse hoje, estaria perdida!”, se diverte. Vera conta que mal conseguiu gravar a cena, de tanta vergonha. Na ocasião, Fanny revelava a Pichot (Tato Gabus Mendes), um mendigo que virou rei por um complô dentro da corte, que o amava perdidamente. Depois, dava-lhe um beijo.

Após nova temporada no teatro, Holtz volta à Globo em 1990 como Angélica, a tia de Dilermando de Assis (Guilherme Fontes) que envenena a cabeça de Euclides da Cunha (Tarcísio Meira) contra o próprio sobrinho, em 'Desejo', minissérie de Glória Perez. “Lembro que a Angélica, assim como a personagem de Eliane Giardini, a Lucinda, era uma mulher dura, rancorosa, pouco amada”, analisa.

Em 'Barriga de Aluguel' (1990) a atriz pôde ficar mais à vontade na pele de Dos Anjos, uma fofoqueira que trabalha como secretária e observa a vida dos vizinhos. Por ser dona do único telefone dos arredores, Vera teve o aval do diretor de 'Barriga de Aluguel', Wolf Maya, para caprichar no sotaque. “Ela falava mesmo caipira, largada, gritava. Eu não botei um filtro. A gente gravava o dia todo em Guaratiba, convivíamos com toda a equipe, figuração, cenário, tudo acontecia na cidade cenográfica”, se recorda.

Vera explica que esse filtro na dicção depende do personagem que interpreta. Um conselho da fonoaudióloga. “Trabalhei com a Glorinha Beuttenmüller, que era uma gênia. Rapidamente, localizou meu problema do “r”, que era na virada da pontinha da língua para trás… Então eu tinha que estudar o texto inteiro para pronunciar palavra por palavra. Difícil. Hoje, eu me preocupo mais com o estado emocional da personagem e não com a pronúncia". Na divertida 'Vamp', novela exibida em 1991, Vera Holtz viveu a atrapalhada caçadora de vampiros inglesa, Mrs. Penn-Taylor, que viajava o mundo carregando sua estaca de madeira e dentes de alho para capturar as criaturas das trevas. “Ela foi uma personagem muito divertida. Eu tinha que fazer um sotaque inglês e as pessoas acreditavam que eu falava bem a língua. Depois, ela acaba virando vampira”, diverte-se.

Em 1992, a atriz passou por outro desafio, ao interpretar a Simone, em 'De Corpo e Alma'. Simone levava uma vida de dona de casa, ao fazer todos os caprichos do marido Guedes (Ewerton de Castro), um homem frio que não satisfazia a esposa. Mas, um belo dia, ela se apaixona por um sujeito mais novo. E Holtz precisou encarar o desafio de uma cena para lá de picante. “Ela era uma mulher muito leve, muito perfeita. Até um dia que se apaixona por um menino, o Gino (Guilherme Leme), tem um caso com ele, transa com ele, e tem essa cena dos dois transando num clube, que ela se rebela. Eu lembro que o Fabio Sabag, que dirigiu a cena, já sabia da minha vergonha, então fez um cenário com almofadas, velas, lenços… Mas foi uma coisa constrangedora”, revela.

Vera Holtz em 'A Próxima Vítima', 1995 — Foto: Arley Alves/Memória Globo

Em 1993, Vera foi chamada para o elenco de 'Fera Ferida', trama de Aguinaldo Silva baseada no universo ficcional de Lima Barreto, com direção-geral de Dennis Carvalho e Marcos Paulo. Ela interpretava Querubina, uma mulher muito prendada e recatada, esposa do Doutor Praxedes (Juca de Oliveira). “Essas personagens mais caseiras, eu busco inspiração na minha família. Minha mãe teve 14 irmãos, então eu tenho repertório grande de referência familiar. Sempre me inspiro em uma prima ou uma vizinha da adolescência”, diz. Em 'A Próxima Vítima', novela de suspense policial do autor Silvio de Abreu, exibida em 1995, Vera é Quitéria, prostituta por opção e melhor amiga da protagonista Ana (Susana Vieira). A atriz conta que começou a se acostumar com o sucesso neste folhetim, que também teve grande repercussão internacional: “As pessoas começaram a me chamar pelo nome, na rua, e não pela personagem”. A atriz conta que o fato do elenco não saber exatamente o desfecho da novela tornava o trabalho mais emocionante. A técnica usada pelo autor Sílvio de Abreu em A Próxima Vítima foi gravar cenas falsas, para que os segredos da trama não vazassem na imprensa antes de ir ao ar.

Naquele ano, Vera Holtz protagonizava a peça 'A Pérola', de Mauro Rasi, um espetáculo que ficou em cartaz até 1999, sendo apresentado em várias cidades do Brasil. Nos palcos, a atriz vivia uma matriarca italiana, típica mulher do interior de São Paulo. O papel lhe caiu muito bem: “Nessa época eu ainda era uma jovem atriz, mas estava muito mais madura”. Em 1996, Vera Holtz encarou um papel um pouco diferente dos que estava acostumada. Interpretou a prefeita Florisbela, na novela 'O Fim do Mundo', trama de Dias Gomes, dirigida por Paulo Ubiratan. Florisbela era uma mulher autoritária e decidida, que colocava a ambição política à frente da vida profissional: “Ela era brava, batia no marido com um chicote. Foi uma novela curta, mas que deu muito trabalho, demorou o mesmo tempo para gravar”.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a novela 'Por Amor', de Manoel Carlos, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.

Webdoc sobre a novela 'Por Amor', de Manoel Carlos, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.

Em 'Por Amor', exibida em 1997, a ex-modelo Sirléia Pereira projetava na filha Catarina (Carolina Dieckmann), a vida de estrela que não teve. Não por coincidência, a socialite nasceu no interior de São Paulo, na cidade de Tatuí: “Essa foi a primeira novela que eu fiz com o Manoel Carlos. Gostei muito. A Sirléia era uma mulher alegre, para cima”. Holtz conta que neste momento começou a se soltar mais diante das câmeras: “Demorou um pouco para eu entender a complexidade da televisão, eu ficava muito fechada no texto. Então comecei a sair do medo de ser atriz, daquele pânico, e entender mais a mecânica, a quantidade de gente que tem em torno do ator”.

Em 1999, Vera Holtz participou da minissérie 'Chiquinha Gonzaga', de Lauro César Muniz. Como Dona Ló, amiga da protagonista, teve a oportunidade de contracenar novamente com a amiga Regina Duarte. No ano seguinte, ela tomou a difícil decisão de sair do teatro por um tempo, para se dedicar mais à televisão. O longo período em cartaz com 'A Pérola' a deixou cansada: “Quando você fica muito tempo com uma peça, repetindo 800 vezes o mesmo texto, você fica exausta. Foi uma atitude realmente pensada, queria entender melhor o universo da televisão e me aproximar mais das pessoas”.

O primeiro papel que aceitou depois da decisão, foi a Mãe Cândida, na minissérie, 'A Muralha', de Maria Adelaide Amaral. No Brasil de 1600, Cândida era esposa de Dom Braz (Mauro Mendonça), um bandeirante interessado em encontrar novas terras no interior. Cândida assume o controle da casa quando os homens vão para a guerra. A minissérie contou com muitas externas e um período longo de gravações no cenário de Lagoa Serena, uma imensa área construída em Cachoeiras de Macacu, no Rio de Janeiro. A série teve apoio da Funai para ser produzida, recebendo consultoria de caciques e pajés de várias tribos indígenas brasileiras. Holtz lembra que conviver com eles foi um grande aprendizado. “A gente se divertiu muito, foi um preparo maravilhoso. Foi muito especial essa parte da convivência com as tribos, brincávamos o tempo inteiro, dançávamos com eles”, se recorda.

Ainda em 2000, a atriz viveu a vilã Santa, em 'Uga Uga', de Carlos Lombardi. Santa era cunhada do velho Nikos (Lima Duarte), um homem muito rico que passa vinte anos de sua vida procurando seu neto e único herdeiro, Adriano (ou Tatuapu, interpretado por Cláudio Heinrich). Para Holtz, uma das características mais marcantes de sua personagem era o penteado: “A Santa era uma golpista, que o Lima judiava muito. Ela tinha um topete muito alto para cima, que dava um trabalhão para fazer. Foi uma delícia”.

Presença de Anita

Em 'Presença de Anita', minissérie de Manoel Carlos, exibida em 2001, Holtz viveu Marta, irmã de Lúcia Helena (Helena Ranaldi), a esposa de Fernando (José Mayer), um quarentão que é seduzido pela jovem Anita (Mel Lisboa). Na trama, Marta, uma viúva cheia de preconceitos, revela sua tara por homens negros, protagonizando uma cena quente de amor com o jovem André (Taiguara Nazaré), funcionário de sua fazenda. “Ela era uma mulher que cuidava dos negócios do pai. Quando a Marta contrata o Taiguara, que era um homem deslumbrante, ela fica fissurada. Eu lembro que gravamos a cena de sexo nessa caminha de mola, que tinha que mostrar o barulho (nheque, nheque). Foi tudo decupado e eu pensei: ‘Não vou ficar com medo desse negócio mais não’. Foi uma cena forte e bonita”, se recorda.

Vera Holtz e Otávio Muller em 'Desejos de Mulher', 2002 — Foto: João Miguel Júnior/Memória Globo

Em 2002, Vera Holtz mudou bastante o visual para viver a sofisticada Bárbara, editora de uma revista feminina, em 'Desejos de Mulher', de Euclides Marinho. Apareceu diante das câmeras de cabelos tingidos de preto e roupas sempre escuras, um visual criado pela figurinista Emilia Duncan. “Essa novela foi uma festa! A equipe transbordava para fora dos estúdios a nossa relação de trabalho, nós tínhamos uma química muito forte. [Encarnamos] o trabalho coletivo, que é o trabalho da televisão. E todo mundo entrava nessa, até o diretor, o pessoal da arte”, lembra.

Com a Santana de 'Mulheres Apaixonadas', novela de Manoel Carlos, exibida em 2003, Vera Holtz teve a oportunidade de lidar com um problema grande na sociedade brasileira, o alcoolismo. Santana era professora que chega a ser afastada do trabalho por não conseguir controlar sua dependência química. Para a atriz, este foi um papel de grande extensão social, que mostra a progressão do alcoolismo na vida de uma pessoa. A cena mais marcante da novela para ela, teria sido o dia que Santana não aguenta a abstinência e bebe perfume: “Eu lembro que foi uma cena forte. Eu bato a cabeça no espelho e sangra. Gravamos três vezes, foi aquela correria. Ela fica num canto, degradada, estava num processo autodestrutivo muito grande. Depois, é internada”. A atriz comenta que a repercussão do papel foi muito grande. Ela foi procurada por muitas mulheres alcoólatras, que bebiam escondido, e começaram a perceber que tinham uma doença junto com a personagem.

A experiência foi intensa e Vera precisou de um tempo para se recuperar. Em meados de 2004, surgiu a oportunidade de participar do remake da novela 'Cabocla', na pele de Generosa, mãe da protagonista Rosa (Vanessa Gerbelli). Para Vera Holtz a novela de Benedito Ruy Barbosa foi uma de suas novelas favoritas de fazer, por causa da quantidade de cenas externas: “A nossa casinha era no meio do mato, pude observar o dia acontecendo, o amanhecer… Tinha o fogão a lenha sempre aceso, milho e feijão sendo feitos, chuva caindo… Tudo de verdade. Foi sensacional, fiquei amiguinha da turma”.

Em 2006, interpretou uma personagem que “toda mulher de meia idade quer ser”. A rica Ornela, de 'Belíssima', novela de Silvio de Abreu. Ornela era uma herdeira que não trabalhava e tinha um amante mais jovem, o belo Mateus (Cauã Reymond). A novela se passava em São Paulo. Um dos momentos mais engraçados dos bastidores foi quando Ornela deveria dirigir um carro importado, automático: “Eu já estava com o cabelo todo enrolado no bob, chegou aquela Mercedes e eu falei: ‘Nossa, esse é meu carro? Eu nem sei dirigir carro automático!’ Então eu pedi para dar uma volta nos Jardins, fingindo que eu não sabia dirigir só para passear. Aí eu saí toda arrumada, cantando ópera pela cidade”.

No mesmo ano de 'Belíssima', Holtz fez uma participação especial em 'O Profeta', adaptação de Duca Rachid e Thelma Guedes da novela de Ivani Ribeiro. Ela fez a personagem como Ana, mãe do protagonista Marcos (Thiago Fragoso), que tinha o dom de prever o futuro. Em seguida, já em 2007, em 'Paraíso Tropical', a atriz viveu Marion Novaes, uma mulher fútil e ambiciosa que não mede esforços para reconquistar a fama que teve na juventude. Na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, o desafio de Vera Holtz foi fazer uma personagem com energia pesada, que vivia de pequenos delitos. A atriz se considera uma mulher “muito solar”, alto astral, e naquele momento teve que treinar bastante para incorporar a personalidade de Marion.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a novela 'Paraíso Tropical' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

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Em 'Três Irmãs', de Antonio Calmon, exibida no final de 2008, Vera viveu outra vilã, a poderosa Violeta Áquila. De cabelos platinados, a mulher de negócios planejava montar um complexo hoteleiro na pacata Caramirim, contra a vontade dos moradores da cidade. “Interpretar uma vilã dá uma liberdade, porque você começa a enxergar a trama pelos olhos da personagem. A Violeta achava que era dona da cidade, era muito forte e poderosa. Eu exercitava isso no dia a dia, às vezes eu ficava antipática, entrava em cena sem olhar ninguém, mas era difícil”, conta.

Dois anos depois, Vera Holtz fez a Candê, de 'Passione', outra novela de Silvio de Abreu. A personagem, era uma viúva que trabalhava vendendo verduras e legumes na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), exigia muita interação com o público. Por isso, precisou gravar cenas in loco, fazendo com que muitas pessoas a confundissem com uma feirante. A atriz se divertiu com os enganos: "Lá é um mundo de distribuição de alimentos. Às vezes eu estava ali gravando, a pessoa entrava em cena e queria comprar comigo de mim, nem percebia que era eu: ‘Quanto tá essa caixa?’ E eu nem sabia o preço, tinha que incorporar a personagem. Aí com o tempo eu já estava berrando os preços mais do que os caras de lá”.

Estreia na direção teatral

No mesmo ano, Holtz dirigiu sua primeira peça de teatro, 'O Estrangeiro', uma adaptação do romance homônimo do escritor francês Albert Camus. A iniciativa foi ideia do ator e amigo Guilherme Leme. Foram quatro semanas de preparação até a estreia: “Eu já sabia que a obra era muito conhecida, e decidimos deixar que a plateia tivesse um estranhamento com a peça. E deu certo”.

Avenida Brasil

Depois, chegou a vez de interpretar um dos papeis que considerou de maior importância em sua carreira. A mãe Lucinda, de 'Avenida Brasil', em 2012. Para a atriz, a novela seguiu uma característica do autor, João Emanuel Carneiro, que é a imprevisibilidade. “A orientação que eu recebi era que a Lucinda era uma mãe do lixão, uma mulher do bem. E ela cria desde cedo a Rita [Débora Falabella], tentando impedir que ela faça a opção de seguir pelo caminho da vingança, do sofrimento”, diz. O resto veio de surpresa. A atriz lembra que se impressionou bastante com as proporções do lixão cenográfico criado para a novela, feito com resíduos do Projac que receberam tratamento. Foi um trabalho monumental.

Vera Holtz em 'Avenida Brasil', 2012. — Foto: João Cotta/Memória Globo

Em 2014, Vera Holtz interpretou a viúva rica Vic Garcez, no remake de 'O Rebu'. Extrovertida e animada, Vic namorava homens mais jovens. Na festa em que ocorre o assassinato (mote da trama principal), a milionária, completamente alcoolizada, testemunha a cena em que uma pessoa carrega outra no meio da chuva, em direção à piscina. Termina a novela nos braços do seu ex-segurança, com quem já tinha vivido um romance tórrido no passado.

Em 2016, interpretou Magnólia Costa Leitão (Mág) / Maria Noronha em 'A Lei do Amor'. Em 'Orgulho e Paixão' (2018), viveu o papel de Ofélia Benedito. Participou de 'Amor de Mãe' (2019), como Kátia, que comprou Domênico de Jandir (Daniel Ribeiro) e levou o menino para o Rio de Janeiro. Ainda em 2019, interpretou Yolanda, a Boi, na série 'Eu, a Vó e a Boi'.

Vera Holtz se sente realizada com a atriz que se tornou. Para ela, porque faz parte da profissão “a arte de expansão pessoal”. Completa: “Cada personagem te aumenta. Nós nos desestruturamos e nos reconstruímos ao longo da vida”.

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