Campeão de audiência na TV e de bilheteria no cinema e no teatro, Tony Ramos também é um artista condecorado: em 2009, recebeu a medalha oficial da Ordem de Rio Branco, pelos serviços prestados à cultura brasileira. Cinéfilo de carteirinha e fã de Oscarito, o ator, que estudou Direito e Filosofia, foi influenciado desde menino pelo astro das chanchadas da Atlântida.
Para o ator, não há prazer maior do que representar, porque “a dramaturgia é eterna; e o cinema, teatro, e a televisão bebem na fonte da vida.” Tony Ramos deu vida a grandes, e inesquecíveis, personagens da dramaturgia da Globo. Viveu os gêmeos João Victor e Quinzinho na novela 'Baila Comigo' (1981); o jagunço Riobaldo na minissérie 'Grande Sertão: Veredas' (1985); o pedreiro José Clementino, em 'Torre de Babel' (1998); interpretou também o indiano Opash Ananda na premiada 'Caminho das Índias' (2009), e o bandido Zé Maria, em 'A Regra do Jogo' (2015). No cinema, estrelou o sucesso 'Se Eu Fosse Você' (2006), entre outros filmes.
Entrevista exclusiva do ator Tony Ramos ao Memória Globo, sobre suas fontes de inspiração para atuar.
Início da carreira
A estreia de Tony Ramos em novelas foi na trama 'A Outra' (1965), de Walter George Durst, na TV Tupi, onde fez mais 16 participações. A novela 'Simplesmente Maria' (1970), de Benjamin Cattan, foi uma delas: Tony fez o seu primeiro grande papel, contracenando com Yoná Magalhães.
Entrevista exclusiva do ator Tony Ramos ao Memória Globo sobre o início da sua carreira, na extinta TV Tupi, inicialmente no quadro “Novos em Foco”, seguido da sua primeira novela, “A Outra”.
No início da carreira, procurou conciliar o trabalho na televisão com o teatro, atuando em peças como 'Quando as Máquinas Param' (1969), de Plínio Marcos, que marcou sua estreia profissional no teatro. Nessa época, também fez sua estreia no cinema, no filme 'O Pequeno Mundo de Marcos' (1968), de Geraldo Vietri.
Na Globo
O ator trocou a Tupi pela Globo em 1977, para viver o jovem ator Paulo Morel em 'Espelho Mágico', de Lauro César Muniz. Em julho daquele ano, passou a apresentar, ao lado da atriz Christiane Torloni, o programa 'Globo de Ouro': “Eu sempre adorei auditório, apresentar programas. Já tinha feito na Tupi um programa chamado Opinião Pública”, lembra.
Entrevista exclusiva do ator Tony Ramos ao Memória sobre sua estreia na Globo, na novela “Espelho Mágico”.
Em dezembro, começou a trabalhar em 'O Astro', novela de Janete Clair que consolidou a sua popularidade. Seu personagem era Márcio, filho do industrial Salomão Hayala (Dionísio Azevedo) e par romântico de Lili, vivida por Elizabeth Savala. Uma das cenas mais icônicas da novela foi a que Márcio faz um voto de pobreza e se despe no meio de uma festa, na mansão de seu pai. “No teste, ao ler aquela sinopse, eu percebi que aquele personagem era muito forte. Um rapaz que, ao brigar com seu pai, faz votos a São Francisco de Assis, tira a sua roupa e sai andando. Uma cena bonita, eu fui tirando a roupa, fui para o jardim da mansão e o jardineiro delicadamente coloca uma capa de chuva sobre meu corpo, e pousa um pássaro. Quando eu vi que aquele personagem, tive a dimensão que o poder e o dinheiro podem ser perigosos”, conta.
O Astro - 1ª versão: Márcio discute com o pai e fica nu na frente de todos
Tony Ramos voltaria a contracenar com Elizabeth Savala dois anos depois, em outra novela de Janete Clair, 'Pai Herói' (1979): “A novela deu 90% de audiência, foi um sucesso estrambótico. Fui convidado para ir a Portugal e me receberam no aeroporto com tapete vermelho”.
O ator conquistou de vez o público e a crítica com 'Baila Comigo' (1981), de Manoel Carlos, quando viveu o desafio de representar simultaneamente os gêmeos João Victor e Quinzinho. Sem usar maquiagem, o ator recorreu apenas a recursos técnicos de voz, postura e respiração para interpretar personalidades completamente diferentes.
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Webdoc novela - Baila Comigo (1981)
Tony Ramos fez outra novela do autor no ano seguinte, 'Sol de Verão', na qual viveu o deficiente auditivo Abel. Esteve em mais três novelas de Manoel Carlos: 'Felicidade' (1991), 'Laços de Família' (2000) e 'Mulheres Apaixonadas' (2003). Tony conta que dar vida ao livreiro Miguel, em 'Laços de Família', não foi difícil, já que compartilhava de vários valores presentes no personagem: “Bastou amar os livros como eu amo; a família, gostar das pessoas como eu gosto; e ter um bom texto da qualidade literária de Manoel Carlos. Bastou saber que estava a serviço de uma grande obra e que ia, inclusive, prestigiar a literatura e o bom ato da leitura”.
Riobaldo, o jagunço
Em 1984, o Tony Ramos atuou no filme 'Noites do Sertão', de Carlos Alberto Prates Correia, que foi uma espécie de estágio para um dos seus papéis mais marcantes na TV. O longa-metragem era uma adaptação da novela 'Buriti', de Guimarães Rosa. O ator interpretou o jagunço Riobaldo na minissérie 'Grande Sertão: Veredas' (1985), baseada na clássica obra do escritor. Tony conta que relutou em aceitar o papel, mas foi convencido pelo diretor Walter Avancini: “Eu, o Riobaldo jagunço? Tenho inglês, italiano, espanhol e português na família. Eu não vou convencer. Ele: ‘É o péssimo hábito do artista brasileiro de achar que não pode. Eu quero você enquanto ator’”.
Tony participou de mais três minisséries da Globo baseadas em obras literárias, que marcaram época: 'O Primo Basílio' (1988), adaptação do romance de Eça de Queiroz; 'O Sorriso do Lagarto' (1991), a partir do livro de João Ubaldo Ribeiro; e 'Mad Maria' (2005), do romance homônimo de Márcio Souza, na qual interpretou o empresário americano Percival Farquhar.
O ator viveu o ambicioso Cristiano Vilhena, no remake de 'Selva de Pedra', em 1986, contracenando com Fernanda Torres. Escrita por Janete Clair, em 1972, a novela foi adaptada e atualizada por Regina Braga e Eloy Araújo. Em 'Rainha da Sucata', (1990) de Silvio de Abreu, interpretou o milionário falido Edu. Do mesmo autor, fez ainda 'A Próxima Vítima' (1995), 'Torre de Babel' (1998), 'As Filhas da Mãe' (2001), 'Belíssima' (2006), na qual viveu o grego Nikos Petrakis, e 'Passione' (2010), onde foi o lavrador italiano Totó.
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Depoimento - Tony Ramos: O personagem Clementino, de "Torre de Babel"
Versátil, também fez o indiano Opash Ananda em 'Caminho das Índias' (2009), de Gloria Perez; foram três personagens estrangeiros seguidos. Nesses casos, Tony revela que a imersão na cultura do país é essencial para realizar um bom trabalho. No caso de Opash, a preparação se deu por meio de aulas da pudja: “A pudja é o ofertório, a hora da oração. É o momento em que eles fazem oferendas pela manhã com flores, com frutas, acende-se uma vela, pede-se a proteção à consciência suprema. Tivemos muitas aulas de dança indiana, de ioga. De alguma forma, fui entendendo que mundo é esse que está vindo para a próxima novela. E, por isso, ter ido à Índia e ter feito as primeiras cenas lá, sem dúvida, foi fundamental”.
Década de 2010
Em 2012, fez uma participação especial como Genésio na novela 'Avenida Brasil', de João Emanuel Carneiro; e encarnou Otávio II de Alcântara Rodrigues e Silva no remake de 'Guerra dos Sexos', de Silvio de Abreu. A versatilidade do ator foi admirada pelo público no seriado 'A Mulher do Prefeito', em 2013, quando interpretou o prefeito corrupto Reinaldo Rangel da imaginária cidade de Pitinguá. Em 2014, viveu o empresário milionário Braga, no remake de 'O Rebu'.
Mas foi como o vilão Zé Maria, em 'A Regra do Jogo', que o ator mostrou a qualidade de ir de um extremo ao outro por um personagem. Na trama de João Emanuel Carneiro, dirigida por Amora Mautner, o bandido aparenta ser bom moço até meados da novela, quando se revela um membro importante da facção criminosa comandada pelo milionário Gibson (José de Abreu). Zé Maria sustenta aparências distintas: inicia a trama com cabelos e barbas longas; e a finaliza com a cabeça raspada.
Em 2016, Tony fez uma participação no último capítulo de ‘A Lei do Amor’, de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, como o político Roberval Mendes. No ano seguinte, trabalhou em ‘Tempo de Amar’, Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago, interpretando José Augusto. O personagem era dono da Quinta da Carrasqueira, em Portugal, e pai de Maria Vitória (Vitória Strada), uma das protagonistas da trama.
Em o ‘Sétimo Guardião’ (2018) Tony estreou pela primeira vez uma novela de Aguinaldo Silva, interpretando o ambicioso empresário Olavo de Aragão Duarte. Outra parceria inédita foi contracenar com Lilia Cabral. Os atores já haviam participado de uma mesma novela mas atuando em núcleos distintos. Posteriormente, Tony fez participação especial em dois seriados: 'Sob Pressão' e 'Encantado's', ambos em 2022.
Em 'Terra e Paixão', de Walcyr Carrasco, interpretou o ruralista Antônio La Selva, casado com Irene (Gloria Pires). Os dois já haviam feito par romântico em outras ocasiões, a exemplo de 'Belíssima' (2005), de Silvio de Abreu e 'Paraíso Tropical' (2007), de Gilberto Braga.
FONTES:
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Tony Ramos em 06/06/2001 e 17/11/2008; Boletins internos sobre as novelas Tempo de Amar e O Sétimo Guardião; https://gshow.globo.com/novelas/o-setimo-guardiao/personagem/olavo/. |