Formada pelo Theatro Municipal de São Paulo, Susana começou na televisão como bailarina do corpo de baile da TV Tupi, São Paulo. Logo se destacou entre as bailarinas e começou a participar de teleteatros como 'TV de Vanguarda', 'TV de Comédia' e 'Grande Teatro Tupi', onde pôde trabalhar com clássicos da dramaturgia universal como Dostoiévski, Tolstói. “Trabalhei nisso durante uns cinco ou seis anos. Li todos os romances da literatura universal. Então, essa foi a minha escola. Quando cheguei à Globo, já tinha um respaldo de literatura, de fazer teatro em televisão. Não quero que vocês achem que você só é consagrado a ator se fizer teatro; não, eu fazia teatro na televisão. E aí eu parei de dançar e me formei”. Susana Vieira entrou na Globo em 1970 e durante a sua carreira fez papeis marcantes, como a vilã Branca, de 'Por Amor', e Maria do Carmo, protagonista de 'Senhora do Destino'.
Entrevista exclusiva da atriz Susana Vieira ao Memória Globo, sobre a escolha de seu nome artístico.
Início da carreira
Sônia Maria Vieira Gonçalves nasceu no dia 23 de agosto de 1942. Filha de um adido militar e de uma funcionária do consulado, diz que veio ao mundo em São Paulo por acaso: “A minha mãe estava passando por lá. Moramos em Londres, na Argentina, em Montevidéu, em São Paulo e no Rio. Mas eu sou uma carioca de coração”. O nome artístico, tomou emprestado da irmã mais nova, a também atriz Susana Gonçalves: “Se me chamarem de Sônia eu não ouço, não olho, porque é muito difícil. A minha vida, toda a minha vida criativa e memória de vida, é como Susana Vieira”. Susana se destacou entre as bailarinas e logo começou a participar de teleteatros como 'TV de Vanguarda', 'TV de Comédia' e 'Grande Teatro Tupi', onde pôde trabalhar com clássicos da dramaturgia universal como Dostoiévski, Tolstói.
Na Tupi, também participou das novelas 'Estrelas no Chão' (1966), de Lauro César Muniz, e 'As Bruxas' (1970), de Ivani Ribeiro, entre outras. Também passou pela TV Excelsior, onde atuou em 'Almas de Pedra' (1966), mais uma de Ivani Ribeiro, e em 'Os Tigres' (1968), de Marcos Rey; e pela TV Record, na qual fez 'A Última Testemunha' (1968) e 'Algemas de Ouro' (1969), ambas de Benedito Ruy Barbosa.
Entrada na Globo
Susana chegou à Globo em 1970, vinda de São Paulo, para viver a Candinha de 'Pigmalião 70', de Vicente Sesso. A novela foi dirigida por Régis Cardoso, seu primeiro marido, com quem se casou em 1961.
Webdoc novela - Pigmalião 70 (1970)
A partir de então, foi uma novela atrás da outra: 'A Próxima Atração' (1970), de Walther Negrão; 'Minha Doce Namorada' (1971), de Vicente Sesso; e 'O Bofe' (1972), de Bráulio Pedroso e Lauro César Muniz. Dessa época, Susana gosta de se recordar das músicas que eram feitas especialmente para seus personagens. Interpretando a Tina Camará, de 'O Espigão' (1974), ganhou o primeiro prêmio de sua carreira, o de Melhor Atriz da Associação de Críticos Paulistas (APCA). “Eu liguei para o Dias Gomes e falei que estava desesperada e precisava trabalhar. Ele falou que não tinha papel nenhum. Eu falei: ‘Mas não tem uma empregada?’. Ele falou: ‘Não, tem de uma mulher de 45, ou de 40 anos. Você tem 20…’. Esse papel foi um espetáculo!”, conta.
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Em 1975, foi uma das protagonistas de 'Escalada', de Lauro César Muniz, fazendo par romântico com Tarcísio Meira. Contracenar pela primeira vez com o maior galã e ídolo da televisão brasileira, como a atriz o define, foi marcante: “Eu me tremia inteira. E eu me lembro que eu era baixinha, o Tarcísio, grande. E ele, que conhecia tudo de televisão, para não ficar olhando para baixo para me beijar, botava uma lista telefônica no chão para eu ficar mais alta. Ele sabia tudo. Na hora de me beijar, era tudo ensaiado. O Tarcísio sabia exatamente a posição que ficava bonito no ar para você beijar”.
O sucesso de público como Cândida lhe garantiu o papel da babá Nice em 'Anjo Mau', do seu descobridor, Cassiano Gabus Mendes, em 1976. “A Nice foi o maior encontro que eu tive. Foi a primeira novela que mostrava uma protagonista empregada e vestida de uniforme namorando um patrão”, conta. A personagem foi um dos maiores sucessos de Susana Vieira. “O impacto de Anjo Mau”, conta a atriz, “Eu só senti no último capítulo. Foi um silêncio no Brasil na hora que eu morri. Isso não acontece toda hora! Nenhuma buzina tocava! E sabe por que a Nice morreu? Por causa da tradicional família mineira, que mandava na moral desse país, e que achava que uma empregada não podia se casar com o patrão – só por isso. Vinte anos depois, quando a Gloria Pires fez o mesmo papel, ela não morreu: ficou felicíssima com o patrão”.
O encontro com o texto de Manoel Carlos aconteceria pouco depois, quando interpretou Marina na novela 'A Sucessora' (1978). Susana não mede elogios ao autor: “Se eu não tivesse tido A Sucessora na minha vida, não seria a atriz que eu sou hoje. Aquilo foi uma escola, eu estudava a noite inteira. O texto do Manoel Carlos é dificílimo, mas, ao mesmo tempo, prazeroso. É o trabalho que eu nunca mais vou me esquecer na vida, foi o meu melhor trabalho na televisão”. A vilã Branca – outra personagem marcante em sua carreira, também de uma novela de Maneco – viria quase 20 anos depois. “Quando eu fui fazer a Branca, de Por Amor, já tinha tido um Manoel Carlos na veia, então, tirei de letra. Mas era um personagem muito difícil, intelectual. O Manoel Carlos vai atrás, volta na frase, não usa um adjetivo comum. Ele vai no amor, nos advérbios de tempo. Ele gosta muito de usar sinônimos, não usa uma coisa escrita como todo mundo. Em vez de ‘o cachorro’, ele usa ‘o cão’”, comenta.
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Aguinaldo Silva
Em 1984, trabalhou pela primeira vez com um autor que se tornaria marcante em sua carreira: Aguinaldo Silva. Atuou em 'Partido Alto', coescrita por Gloria Perez. Ainda nos anos 1980, intercalou seu trabalho na Globo com participações em especiais na TV venezuelana e temporadas de teatro no Peru. Atuou, ainda, em novelas no México e nos Estados Unidos. O reencontro com Aguinaldo Silva aconteceu em 'Fera Ferida' (1993), onde interpretou Rubra Rosa: “Outro grande personagem, que não era o protagonista da novela, mas acabou quase virando. Era uma mulher totalmente descontrolada e foi um personagem muito popular. Eu tinha dois atores muito bons do meu lado, que eram o Hugo Carvana e José Wilker, que fazia o meu amante”.
Em 'Senhora do Destino' (2004), outra novela de Aguinaldo, viveu a protagonista Maria do Carmo, uma retirante nordestina que tem a filha recém-nascida sequestrada e luta para reencontrá-la. Segundo Susana, foi uma “grande homenagem à mulher nordestina, mais do que tudo”. Os embates entre sua personagem e a vilã Nazaré, interpretada por Renata Sorrah, foram um dos destaques da trama, sucesso de audiência na época em que foi ao ar. Desse trabalho, Susana também gosta de se lembrar do encontro com o elenco – José Wilker, Mirian Pires, Du Moscovis, Renata Sorrah, Marcello Antony, Carolina Dieckmann… “Eu acho que foi exatamente isso, o elenco precioso, a direção do Wolf Maya, que é muito ágil, e o texto do Aguinaldo. Acho que ali todas as estrelas se juntaram para dar esse presentão na minha carreira que foi Senhora do Destino”, destaca.
Senhora do Destino: Maria do Carmo reencontra a filha
Susana Vieira também atuou em 'Duas Caras' (2007), onde viveu outra personagem chamada Branca. Desta vez, ela seria a mãe da personagem Sílvia, interpretada por Alinne Moraes. Em seguida, participou da minissérie 'Cinquentinha' e no seriado 'Lara com Z' (2011), esse último escrito por Aguinaldo Silva especialmente em homenagem à atriz. Em 'Amor à Vida' (2013), Susana interpretou a enérgica Pilar, a “mami poderosa” de Félix (Mateus Solano), vilão que se tornou muito popular à época. Em 2015, Susana voltou à cena com outro papel de destaque, com a ex-prostituta Adisabeba, a mulher que mandava e desmandava no Morro da Macaca, onde vivia o núcleo central da novela 'A Regra do Jogo'. Sempre querida pelo público, conhecida por seu jeito sem papas na língua, Susana Vieira foi convidada a se sentar na bancada do 'Vídeo Show', como apresentadora, uma vez por semana, a partir de abril de 2016.
Vídeo Show: "Calçada da Fama" (2013)
Em 'Os Dias Eram Assim', Susana viveu Cora Dumonte, a mãe protetora e ambiciosa de Vitor (Daniel de Oliveira). Na supersérie da Globo, exibida em 2017, a personagem era capaz de tudo para que o filho se mantivesse no comando da construtora Amianto e casado com Alice (Sophie Charotte). Ela enlouqueceu ao final, após receber a notícia da morte do filho. Em 2019, atuou em 'Éramos Seis', Emília, tia rica de Lola (Glória Pires). É viúva e mãe de duas filhas: Justina (Julia Stockler) e Adelaide (Joana de Verona), que vive na Europa.
Nos palcos
A atriz também fez carreira no teatro, encenando peças como 'Romeu e Julieta', de William Shakespeare; 'As Tias', de Doc Comparato; e 'A Dama do Cerrado', de Mauro Rasi; entre outras. Seu maior sucesso nos palcos foi 'A Partilha', de Miguel Falabella, que ficou mais de sete anos em cartaz.
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