A carioca Sandra Bréa soube muito jovem que as artes cênicas seriam a sua vocação. Adolescente, já trabalhava como modelo, e, aos 17 anos, aceitou o desafio de atuar ao lado de Fernanda Montenegro no teatro. Na Globo, contratada em 1970, atuou em novelas e participou de atrações, como ‘Sandra & Miele’ (1976), programa que misturava música, dança e entrevistas. Muito presente também no cinema e no teatro, saiu de cena cedo demais, sete anos após anunciar que tinha Aids. Mas deixou um legado rico, para além da dramaturgia, ao lutar publicamente contra o preconceito e a discriminação da sociedade em relação aos soropositivos para o HIV.
Início da carreira
A atriz Sandra Bréa Brito nasceu na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro, em 11 de maio de 1952, e morreu em um sítio em Jacarepaguá, na mesma cidade, uma semana antes de completar 48 anos, no dia 4 de maio de 2000. Filha de Aurora Bréa Santorra e Joseph Brito, começou a trabalhar no início da adolescência, aos 13 anos, como modelo. Em 1970, estreava no teatro profissionalmente e em grande estilo, ao lado de Fernanda Montenegro, na peça ‘Plaza Suíte’, de Neil Simon.
Sua presença nos palcos logo chamou atenção e lhe rendeu convites para atuar em outros espaços da dramaturgia. Em 1970, o primeiro papel no cinema aconteceu em ‘Um Uísque Antes, Um Cigarro Depois’, comédia proibida para menores de 18 anos e dirigida por Flávio Tambellini. Na Globo, emissora em que fez uma carreira de mais de 20 anos, ela começou a trabalhar também em 1970, como Babi, na novela ‘Assim na Terra Como no Céu’, de Dias Gomes, e no programa ‘Faça Humor, Não Faça Guerra’, que tinha Jô Soares e Renato Corte Real como estrelas.
Múltiplos talentos
A veia humorística e a exuberância foram marcas de sua trajetória. Sandra Bréa cantava, dançava e atuava, características que lhe permitiram transitar em diferentes perfis de atrações. Não tardou para mostrar seus múltiplos talentos no ‘Fantástico’, ainda no começo dos anos 1970. Com o parceiro Luiz Carlos Miele, que fazia parte do elenco de ‘Faça Humor, Não Faça Guerra’, ela estreou, em 1976, ‘Sandra & Miele’, exibido às sextas-feiras. O programa trazia números musicais coreografados e bate-papos com convidados sobre assuntos discutidos naquele momento do país, como o divórcio, legalizado no Brasil apenas em 1977.
Memória Nacional: Sandra Bréa é uma das grandes estrelas da telinha
Antes disso, Sandra Bréa participou de novelas em que ganhou reconhecimento do público. No papel de Telma, filha do prefeito Odorico Paraguaçu em ‘O Bem-Amado’ (1973), de Dias Gomes, foi uma jovem à frente de seu tempo. Teve destaque ainda como Zilda, em ‘Os Ossos do Barão’ (1973), de Jorge Andrade; Roberta, em ‘Escalada’ (1975), de Lauro César Muniz; e Noêmia, em ‘O Pulo do Gato’ (1978), de Bráulio Pedroso. Na novela, era a esposa de Bubi, um playboy decadente vivido por Jorge Dória.
Protagonista no cinema
Os anos 1970 foram também ricos para Sandra Bréa em papéis no cinema. Além de atuar em ‘Um Uísque Antes e Um Cigarro Depois’, foi protagonista em ‘Sedução – Qualquer Coisa a Respeito do Amor’ (1974), de Fauzi Mansur, recebendo inclusive o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema do Guarujá, ao interpretar Fiametta, filha de um rico fazendeiro paulista. E ganhou papéis importantes nos demais filmes, como em ‘República dos Assassinos’ (1979), de Miguel Faria Jr., filme que contava a história de um policial do temido Esquadrão da Morte, grupo que cometia assassinatos no Rio de Janeiro, a pretexto de combater a criminalidade. Na produção, Sandra Bréa era Marlene Graça, uma atriz que se relacionava amorosamente com o protagonista, interpretado por Tarcísio Meira.
Nesse período, Sandra Bréa se tornou um símbolo de sensualidade no país, condição reforçada pelas capas de revistas masculinas que trouxeram sua foto e pelos filmes de conteúdo erótico de que participou. Com espírito livre, lidava de forma tranquila com essa imagem e não deixava que nada atrapalhasse sua atividade profissional, sobretudo na TV. Mostrando novamente seu talento para a comédia, voltou a trabalhar com Jô Soares em esquetes apresentados em dois programas: ‘Planeta dos Homens’, a partir de 1976, e ‘Viva o Gordo’, a partir de 1981.
Em seguida, integrou o elenco de novelas de muito sucesso. Em 1982, interpretou Wanda, uma das sete amigas de escola que se reencontram 20 anos depois em ‘Elas por Elas’, de Cassiano Gabus Mendes. Na trama, seu namorado morre em um motel, enquanto eles estão juntos, e ela fica surpresa ao saber que se tratava do marido de uma das amigas. Na primeira versão de ‘Ti-Ti-Ti’ (1985), de Cassiano Gabus Mendes, fez o papel de Jacqueline, gerente do ateliê do estilista Jacques Léclair (Reginado Faria), que vivia em disputa com seu antagonista, Victor Valentim (Luis Gustavo). Como braço direito de Léclair, precisava sempre resolver os problemas que ele criava. Em ‘Bambolê’ (1987), de Daniel Más, foi Glória Müller, uma vedete cheia de vida que percebe o momento de abandonar os palcos, sai do Brasil e volta como uma condessa.
Em outras emissoras
A única novela em que Sandra Bréa atuou fora da Globo foi ‘Sabor de Mel’ (1983), de Jorge Andrade, na TV Bandeirantes. A atriz interpretou Laura Lorek, a protagonista, uma poderosa empresária que publica um enigma no jornal e diz que pagará 20 milhões de cruzeiros (a moeda da época) a quem o decifrar. No SBT, ela foi apresentadora da atração ‘Almoço com as Estrelas’, em 1983, e jurada do ‘Programa Flávio Cavalcanti’, em 1984.
Teatro
No teatro, Sandra Bréa manteve-se sempre ativa, participando de montagens ao longo de toda a carreira. Atuou em ‘Liberdade para as Borboletas’ (1972), de Leonard Gershe, ao lado de Gracindo Júnior; em ‘Oh! Carol’ (1975), de José Antônio de Souza, contracenando com Tereza Rachel; e em ‘A História É uma Istória’ (1978), de Millôr Fernandes, com Antonio Fagundes. A partir dos anos 1980, entre outras produções, trabalhou em ‘O Peru’ (1984), de Georges Feydeau; e em ‘O Avesso do Avesso’ (1985) e ‘Tem um Psicanalista na Nossa Cama’ (1980), ambas de João Bethencourt.
Na Globo, as últimas novelas que contaram com Sandra Bréa no elenco, como personagem, foram ‘Pacto de Sangue’ (1989), de Regina Braga; ‘Gente Fina’ (1990), de Luiz Carlos Fusco, Marilu Saldanha e Walter George Durst; e ‘Felicidade’ (1991), de Manoel Carlos. Nas três, viveu personagens de diferentes características: foi Francisca, estrela do cabaré em ‘Pacto de Sangue’, novela que comemorava os centenários da Proclamação da República e da abolição da escravatura; a socialite Janete, que cobiça o marido de uma amiga, em ‘Gente Fina’; e Rosita, amiga da ciumenta Débora, personagem vivida por Vivianne Pasmanter em ‘Felicidade’.
Coragem
Em ‘Zazá’ (1997), de Lauro César Muniz, a atriz atuou como a própria Sandra Bréa. Quatro anos antes, ela havia anunciado que estava com Aids, doença que, na época, afastava as pessoas do trabalho e do convívio com os amigos, pelo estigma que carregava. Mas Sandra Bréa teve rara coragem e abordou sua doença de forma transparente, tornando-se uma militante pela prevenção e pelo tratamento. No último capítulo da novela, a atriz fez uma longa fala em que destacou a importância de dar valor à vida e de lutar contra o preconceito e a discriminação.
Zazá: participação Sandra Bréa
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Debilitada devido a um câncer no pulmão, diagnosticado em 1999, Sandra faleceu no dia 04 de maio de 2000, prestes a completar 48 anos.
FONTES:
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