Filho mais velho do jornalista e empresário Roberto Marinho e de Stella Goulart Marinho, Roberto Irineu estudou no Instituto Princesa Isabel, nos colégios Souza Leão, São José e Andrews. Começou a trabalhar aos 18 anos como aprendiz de linotipista nas oficinas do jornal O Globo. Em seguida, foi para a redação, atuando como repórter na editoria de Polícia e Cidade. Em sua opinião, a seção que trata das notícias da cidade é “a mais bonita do jornal, onde aparece o drama humano”. Ele se lembra até hoje de sua primeira reportagem publicada no periódico, sobre a inauguração da nova iluminação do Corcovado.
Permaneceu na redação de O Globo, ainda vespertino, até 1968, quando saiu para acompanhar o processo de reestruturação da Rio Gráfica, a editora de revistas e livros do grupo. Àquela altura, já cursava o segundo ano do curso de administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Pouco tempo depois, assumiu a direção da Rio Gráfica, cargo que exerceu até 1978.
Neste período, o carro-chefe da editora ainda eram as revistas em quadrinhos, assim como as publicações femininas. Em sua gestão, Roberto Irineu ampliou o catálogo da marca e diversificou o perfil da editora, lançando a Cifrão – Revista de Economia e Negócios, revistas de fotonovelas brasileiras e a semanal Cartaz, que logo se tornou um grande sucesso. Mais tarde, em 1986, a Rio Gráfica comprou a Editora Globo, de Porto Alegre. A empresa adotou o nome da editora gaúcha, herdou seu acervo de livros e tornou-se também uma das mais importantes referências na publicação de obras literárias do país. Nas palavras do próprio Roberto Irineu Marinho, a experiência que adquiriu à frente da Rio Gráfica “foi muito útil na reestruturação financeira do Grupo”, que ele lideraria décadas depois.
Quando o jornalista Evandro Carlos de Andrade assumiu a direção de redação do Globo, em 1971, Roberto Irineu voltou a trabalhar no jornal, com intuito de participar das reformas que seriam implementadas na redação e na área industrial. O lançamento da edição de domingo, a reorganização das editorias, a criação de novos suplementos e a implantação do sistema de impressão offset foram algumas das transformações.
Em 1977, Roberto Irineu Marinho foi para os Estados Unidos fazer estágios na rede de televisão ABC e no Television Advertising Bureau, entidade que estabelece as regras de publicidade das emissoras de televisão americanas. No ano seguinte, assumiu a vice-presidência executiva da Rede Globo, passando a cuidar do planejamento estratégico da emissora.
Em 1985, mudou-se para a Itália para acompanhar o processo de compra e implantação da Telemontecarlo, emissora que pertenceu às Organizações Globo até 1994, quando foi vendida para o grupo italiano Ferruzzi.
Implantada a Telemontecarlo, Roberto Irineu retornou à Globo. Como vice-presidente executivo, foi responsável direto pela modernização do modelo gerencial da emissora, atraindo profissionais do mercado para ocupar posições-chave na empresa. Liderou importantes mudanças administrativas, como a maior racionalização dos custos e a implantação do Programa de Gestão Participativa (PGP). O programa, segundo Roberto Irineu, foi um grande sucesso porque “fomentou em cada indivíduo a mentalidade de que ele faz parte de um todo, demonstrando claramente para todos como o trabalho em equipe e em uma única direção pode funcionar melhor”.
Em 1995, dez anos após o início do seu planejamento, foi inaugurado o então Projac, atualmente Estúdios Globo, o centro de produções da emissora. Roberto Irineu afirma que muitos cuidados foram tomados para que a emissora tivesse uma estrutura de produção adequada às suas necessidades. “Todo processo produtivo tem um planejamento, um sistema. Para montar o nosso, um grupo de pessoas da Rede Globo foi ver de perto como funcionavam outros centros de produção no mundo para escolher o modelo mais adequado”. A criação dos Estúdios Globo permitiu a melhor organização e a intensificação das produções de conteúdo de entretenimento, em especial de dramaturgia.
Um pouco antes da inauguração dos Estúdios Globo, Roberto Irineu Marinho ajudou a criar outro grande projeto, que implantaria a televisão por assinatura no Brasil. Em 1990, levou ao governo federal a proposta de criação de um sistema de televisão educativa, que chegasse a todas as comunidades do país, via assinatura e Banda C. A proposta foi negada. O Canal Futura, que viria a materializar essa ideia, só foi inaugurado em 1997. Porém, a visão de que a televisão fechada teria futuro no Brasil levou Roberto Irineu a apresentar um projeto de desenvolvimento de uma empresa de TV por assinatura ao Comitê Executivo do grupo. Em novembro de 1991, nasceu a Globosat – a primeira programadora de TV por assinatura do Brasil e que hoje conta com mais de 30 canais pagos com 24 horas de programação, como SporTV, GloboNews, Multishow, GNT, Viva e Gloob.
Em 1993, outra inovação. Foi criada a Net Brasil, empresa que fornece sistemas para transmissão de TV por assinatura, internet banda larga e telefonia. Três anos depois, a Net Brasil inaugurou a Sky, TV por assinatura via satélite pelo sistema digital DTH (Direct to Home). A participação do grupo Globo na Sky e na Net seria reformulada na década seguinte quando decidiram concentrar o foco das empresas em criação e produção de conteúdo.
Foi também nos anos 1990 que foi lançado o Globo On Line. A internet começava a se popularizar no Brasil e a expansão no meio digital era indispensável. O novo site acompanhou a reforma gráfica do jornal O Globo, ocorrida em dezembro de 1995, que mudou radicalmente a apresentação gráfica do jornal e deu mais espaço a grandes reportagens, permitindo, entre outras coisas, aprofundar os assuntos. O investimento na internet se consolidou ainda em 2000, quando foi lançada a Globo.com, portal do grupo que atua no provimento de serviços e plataformas tecnológicas relacionadas à internet para as empresas do Grupo.
No campo da gestão administrativa, mais mudanças. Em 1998, Roberto Irineu, bem como seu pai, Roberto Marinho, e seus irmãos, João Roberto e José Roberto, deixaram suas funções executivas e formaram o Conselho de Administração, voltado para questões estratégicas do grupo. Como vice-presidente do Conselho, Roberto Irineu ficou responsável por coordenar a área de planejamento estratégico e negócios. Ele explica que “era o responsável por recolher e processar todas as informações possíveis para os outros membros do Conselho, capacitando-os para as decisões”. No mesmo período, novos investimentos na produção de informação e conteúdo de entretenimento: foi lançada a Época, revista semanal de informações; e a Globo Filmes, coprodutora de cinema dedicada ao fortalecimento da indústria audiovisual brasileira.
No meio rádio, o investimento, iniciado em 1944 com a inauguração da Rádio Globo, se intensificou com a expansão da rede CBN (primeira rádio all news do país), hoje uma das principais fontes de informação e serviços da população brasileira. Também no final dos anos 1990, a gravadora Som Livre começou a apostar na difusão de músicas, por meio de seu site e de sua loja virtual. A Som Livre tornou-se uma das maiores gravadoras do país, produzindo e comercializando conteúdo de artistas brasileiros através de vendas físicas (CDs, DVDs e outros), digitais e eventos.
A Rede Globo de Televisão, além de distribuir sua programação em quase todo o território nacional, por meio de cinco emissoras próprias e em parceria com empresas afiliadas, inaugurou, em 1999, a TV Globo Internacional. Atualmente, a Globo Internacional leva programação brasileira para mais de 100 países.
Em 2000, para consolidar o direcionamento das empresas, foi lançada a Essência Globo, documento que reuniu a “visão, missão e princípios” do grupo, reforçando o compromisso em “criar, produzir e distribuir conteúdos de qualidade que informem, divirtam, contribuam para a educação e permitam aos indivíduos e comunidades construir relações que tornem a vida melhor”. Em 2014, o documento foi atualizado e reforçou os princípios e valores do Grupo Globo: a paixão por comunicação, o compromisso com a cultura brasileira; a atitude otimista em relação ao futuro; a aposta nos talentos como base para alcançar a liderança; o respeito e a valorização da diversidade; a busca permanente pela qualidade e inovação; o compromisso com a estética para encantar, educar e enriquecer a vida das pessoas; e uma atuação benéfica que permita que todos cresçam juntos. O documento foi divulgado nas empresas Globo e para o público externo.
Em outubro de 2002, Roberto Irineu Marinho assumiu a presidência executiva das Organizações Globo. Neste ano, o Grupo, que enfrentava a mais grave crise financeira de sua história, declarou moratória. Roberto Irineu, ao lado de seus irmãos João Roberto e José Roberto, liderou com sucesso a reestruturação dos negócios e a renegociação da dívida. Quatro anos depois, a situação financeira já estava completamente resolvida, antes mesmo do prazo acordado com os credores.
O período de reestruturação foi fundamental para as empresas Globo se firmarem como um grupo de mídia e telecomunicações em um mundo globalizado. Roberto Irineu explica que “vimos onde éramos fortes, analisando a estrutura de outras empresas no mundo. Fomos, ao longo do processo, discutindo qual seria o nosso foco”. E o foco passou a ser o que o grupo faz de melhor: criação, produção e programação de conteúdo. Decidiu-se, por exemplo, reduzir a participação na Sky, e, em 2010, venderam a maior parte das ações na empresa; no mesmo período, diluíram a participação na NET Brasil (processo concluído em 2012), afastando-se da área de distribuição de telecomunicações.
Com o falecimento do pai, Roberto Marinho, em 6 de agosto de 2003, Roberto Irineu assumiu o cargo de presidente do Conselho de Administração do Grupo, acumulando com a presidência executiva. A partir de então, as empresas, entre outras prioridades, passaram a fazer mais investimentos na tecnologia digital. Em 2006, por exemplo, foi lançado o G1, maior portal de notícias do país. No ano seguinte, a Rede Globo iniciou a transmissão de conteúdos em alta definição, por meio da implantação da televisão digital.
No novo contexto das tecnologias de informação, o grupo precisou implementar mudanças significativas na mídia impressa. Para Roberto Irineu, “é preciso considerar que a essência de um jornal é produzir informação de qualidade, tanto no impresso quanto na internet”. Assim, o jornal O Globo lançou modelos de assinatura em que tornou possível escolher as plataformas de recebimento do conteúdo do jornal (impresso e/ou digital). Hoje todas as empresas do Grupo Globo têm atuação no ambiente digital e são responsáveis pela extensão de suas marcas e produtos, interatividade e relacionamento mais estreito com a audiência.
Em 2011, Roberto Irineu, junto com seus irmãos, João Roberto e José Roberto, divulgaram os Princípios Editoriais de todas as empresas de mídia do grupo. O documento tem como objetivo deixar claro para os seus profissionais, leitores, ouvintes e telespectadores os princípios e valores que regem o jornalismo das empresas de comunicação Globo. Os Princípios Editoriais refletem a crença na contribuição da atividade jornalística para a construção de uma sociedade democrática, para a garantia das liberdades individuais, da livre iniciativa, dos direitos humanos, da república, do avanço da ciência e da preservação da natureza.
Em agosto de 2014, Roberto Irineu Marinho anunciou a mudança de nome do conjunto de empresas de Organizações Globo para Grupo Globo. A mudança teve como objetivo reforçar a identidade, os valores e os objetivos comuns, além de estimular a troca de experiências. As empresas, que mantiveram sua autonomia, passaram a atuar mais unidas em torno da mesma essência: “Queremos cada vez mais ser o ambiente onde todos se encontram. E encontram informação, diversão e cultura, instrumentos essenciais para uma sociedade que almeja a felicidade de todos e de cada um”, nas palavras de Roberto Irineu.
No dia 8 de dezembro de 2015, Roberto Irineu recebeu a insígnia de Grande Oficial da Ordem Infante D. Henrique, a mais alta condecoração concedida pelo governo de Portugal para personalidades que não são chefes de Estado. O presidente do Grupo Globo foi homenageado pelos relevantes serviços prestados à cultura e aos valores portugueses. A cerimônia foi na residência do embaixador de Portugal, Francisco Ribeiro Telles (representando o presidente Aníbal Cavaco Silva), em Brasília.
Em entrevista ao jornal O Globo, Roberto Irineu comentou: “Se sou brasileiro, fui português antes. E tenho no nome a marca dos grandes feitos portugueses: sou Marinho, sou do mar”. E lembrou a família: “Quando recebo essa condecoração, penso nos meus antepassados, no meu avô Irineu Marinho e no meu pai, Roberto Marinho, que iniciaram essa jornada de tantos frutos. Penso na minha mãe, Stella, amante da cultura”.
No dia 14 de dezembro de 2017, Roberto Irineu Marinho anunciou o afastamento dele do dia a dia das empresas e informou, por meio de comunicado, que permanecerá como presidente do Conselho de Administração do Grupo Globo. O vice-presidente executivo, Jorge Nóbrega, foi promovido a presidente executivo.
Emmy
Em novembro de 2014, Roberto Irineu Marinho recebe o Emmy Internacional na categoria Personalidade Mundial da Televisão, 30 anos depois de seu pai ter sido homenageado com o mesmo prêmio.
Reportagem do Jornal Nacional sobre a indicação de Roberto Irineu Marinho para o prêmio de Personalidade Mundial da Televisão, concedido pela International Academy of Television. 30/07/2014.
Reportagem de Hélter Duarte sobre o recebimento do Emmy Internacional por Roberto Irineu Marinho, na categoria Personalidade Mundial da Televisão. Há 30 anos seu pai, Roberto Marinho, foi homenageado com o mesmo prêmio. Jornal Nacional, 25/11/2014.