Filho de um farmacêutico e uma professora, Renê Antônio Correa Astigarraga foi admitido, em 1978, no curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS). Começou a estagiar em uma agência de publicidade e, antes mesmo de se formar, foi contratado por uma editora. Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte, começou a trabalhar na antiga TV Manchete, no telejornal 'Segunda Edição'. Em abril de 1987, foi contratado pela Globo. Trabalhou nas equipes do 'Jornal Hoje', do 'Jornal Nacional' e do 'Jornal da Globo'. Foi testemunha das mudanças decorrentes da implantação do Sistema Basis no jornalismo. “Não tinha computador, não tinha nada, só máquinas de escrever e telex. Quando veio o Basis, o mundo mudou. Era possível ter o texto das agências na tela do computador”, relembra.
Trabalhou, sob a chefia de Fabbio Perez, na editoria internacional do 'Jornal Nacional', quando cobriu o conflito Irã-Iraque. Mantinha contato diário com os correspondentes da emissora nos escritórios de Londres e Nova York. Passou a produzir, por intermédio do Centro de Produção de Notícias, matérias internacionais também para outros programas, como o 'Jornal Hoje' e o 'Fantástico'.
Coberturas marcantes
Renê Astigarraga participou de coberturas históricas, como a da queda do Muro de Berlim, em 1989, quando o então correspondente Silio Boccanera entrou ao vivo. “Aquela passagem é fantástica. Ele em cima do Muro, com a mão no bolso, casaco de chuva”, relembra.
Em 1990, assumiu como editor-executivo do 'JN'. Durante a Guerra do Golfo, coordenou entradas ao vivo no Jornal Nacional, chefiando uma equipe de quatro correspondentes internacionais. “Nós tínhamos precariedade de checar uma informação, até por ser periferia de zona de guerra. Eu ligava para Silio Boccanera, que estava na Jordânia, sem acesso à informação, e iria entrar ao vivo dali a 40 minutos, para combinar o que ele ia falar”, lembra.
Entre outras coberturas, Renê Astigarraga destaca duas nas quais atuou já como editor executivo do 'Jornal Nacional', as da decretação do Plano Collor e da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio-92. Também participou, em 2002 e 2006, da cobertura das eleições à Presidência da República, ajudando a formatar os debates. “O mecanismo dos debates e [a maneira de cobrir] o dia a dia dos candidatos viraram referência, que teve origem na Globo”, analisa.
O jornalista também cobriu importantes eventos nacionais, como o carnaval carioca. A partir de 1993, foram sete anos consecutivos coordenando uma equipe de repórteres que entravam ao vivo, em rede nacional, diretamente do Sambódromo, a partir de uma Unidade Móvel.
Como editor, integrou a equipe do 'Jornal Nacional' durante toda a década de 1990, coordenando a cobertura da morte de grandes personalidades, algumas ocorridas repentinamente, como a do piloto Ayrton Senna, da princesa Diana e do deputado Luis Eduardo Magalhães. O último, filho do senador Antônio Carlos Magalhães, faleceu aos 43 anos, quando o 'Jornal Nacional' estava no ar: “Cristina Serra estava para entrar no ar, ao vivo, e houve um zum-zum atrás dela. Ele morreu exatamente na hora da escalada do Jornal Nacional”.
Copa do Mundo
Renê Astigarraga também trabalhou na cobertura de grandes eventos esportivos, como a Copa de 1998, na França, quando o Brasil foi derrotado na final. “Acabou o jogo, nós descemos por dentro do estádio, fomos direto começar a editar o material, que era o pós-jogo. Eu lembro que chorei quando o ônibus da seleção saiu para o aeroporto.” O editor considera a cobertura da Copa de 2002, na Coreia e Japão, “a mais marcante” de sua carreira na Globo: “Eu fiz a Copa praticamente sozinho [no Brasil]. Quando Bonner chegava para o JN, a escalada já estava pronta”.
A apresentadora Fátima Bernardes e parte da equipe haviam viajado com a seleção brasileira para ancorar o 'Jornal Nacional' ao vivo dos países-sede, deixando a base do Brasil reduzida.
Ainda em 2002, o editor acompanhou um momento dramático do telejornalismo: o sequestro e assassinato do jornalista Tim Lopes. “Foi um baque. Eu conversei com o Tim naquele domingo de manhã, quando ele saiu para a cobertura e não voltou. Tim era uma referência, um exímio contador de histórias do povo”, lembra.
Em 2003, fez sua última grande cobertura para o 'Jornal Nacional', a da Guerra do Iraque. “Essa guerra foi ao vivo, a primeira na TV, uma guerra de uma riqueza de imagens impressionante”, recorda.
De Minas Gerais, Renê Astigarraga destacou o escândalo do Mensalão e o caso do goleiro Bruno, preso pelo assassinato de Eliza Samúdio, como as principais coberturas que ele realizou em Minas. No entanto, o jornalista guarda como sua lembrança mais marcante a enchente de 2003 no estado: “Em 2003, houve uma imagem que ficou muito, muito marcante no Jornal Nacional. Foi uma chuva que teve na região metropolitana, em Belo Horizonte, na região, na cidade, o Morro das Pedras. Houve um deslizamento e nós captamos o deslizamento na hora, e foi um flagrante muito importante. Morreu um menino. A gente acompanhou a agonia do menino. E ali, naquela favela, morreram seis crianças”.
Renê Astigarraga deixou o 'Jornal Nacional' em julho de 2003 para assumir a diretoria regional de jornalismo da Globo Minas, onde comandou quatro telejornais locais e diários: 'Bom Dia', 'MGTV – 1ª Edição', 'Globo Esporte' e 'MGTV – 2ª Edição'; além dos programas semanais 'Terra de Minas' e 'Globo Horizonte'.
Em março de 2019, após 32 anos de emissora, Renê Astigarraga decidiu se aposentar para se dedicar à família.
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