O jornalista começou sua trajetória como repórter no Jornal do Brasil, em 1969. Foi contratado pela Globo em 1982 e se adaptou rapidamente ao vídeo. Uma de suas primeiras aparições foi na cobertura de um ano da Guerra das Malvinas para o 'Jornal da Globo'. No ano seguinte, foi enviado para o escritório da capital britânica, onde permaneceu até 1988. De lá, produziu reportagens especiais e partiu para cobrir momentos marcantes da história, como atentados terroristas em Paris (1986) e o acidente nuclear de Chernobyl (1986). De volta ao Brasil, foi repórter especial da Globo, editor-chefe e apresentador do 'Bom Dia Brasil' (1996-2010). Em 2011, iniciou mais uma temporada em Londres, de onde acompanhou a escalada do terror na Europa. Em 2016, passou a produz reportagens especiais para o 'Globo Repórter', direto do Rio de Janeiro. Deixou a emissora em novembro de 2021.
Início da carreira
O filho do médico e oficial do Exército Álvaro Dodsworth Machado e da secretária bilíngue – português e francês –, Fernanda Mattos Machado, nasceu em 21 de março de 1943 no Rio de Janeiro. Tinha tudo para ser diplomata – ao menos era isso com que sua mãe sonhava. Ele se formou em Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e também foi aprovado na prova do Itamaraty. Mas boicotou o exame de vista e encerrou essa ilusão. Renato Machado iria conhecer o mundo, mas como correspondente internacional.
Antes de chegar lá, foi ator, dublador de cinema e atuou no Teatro Oficina, em São Paulo. Em 1967, aprovado em um concurso da BBC, foi para Londres trabalhar com rádio. Voltou ao Rio de Janeiro dois anos depois e foi contratado como tradutor pelo Jornal do Brasil. Tornou-se repórter do periódico, onde permaneceu durante 14 anos, tendo assumido as funções de editor de Internacional em um período conturbado da política norte-americana, quando Richard Nixon renunciou em rede nacional de televisão; e da revista Domingo.
Convite para a Globo
Em 1982, o amigo e então diretor de Jornalismo da Globo, Armando Nogueira, o convidou para uma vaga de repórter na emissora. Começou dando o sangue, como gosta de dizer. Isso porque foi como doador de sangue a primeira vez que apareceu no vídeo. A reportagem era sobre o tráfico de órgãos na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Aos poucos, aprendeu como agir diante das câmeras, graças às dicas e ao trabalho em conjunto com repórteres-cinematográficos.
Experiente em assuntos internacionais, fluente em inglês e francês, o jornalista participou da cobertura da Guerra das Malvinas, em 1982, trabalhando do Rio de Janeiro e da Argentina.
Entrevista exclusiva do jornalista Renato Machado ao Memória Globo em 23/07/2001, sobre a cobertura do Jornal da Globo na Guerra das Malvinas.
EXCLUSIVO: vídeos de Renato Machado em webdocs exclusivos do Memória Globo.
Foi enviado a vários países para reportagens especiais, como a viagem à América Central para o 'Globo Repórter'. O ano era 1983 e a região estava em plena guerra civil. “Viajamos sem planejamento, a pauta foi se desenvolvendo na hora. Uma das nossas paradas era Manágua, capital da Nicarágua. A cidade estava destruída devido aos combates em anos anteriores. O que me chamou mais atenção no caminho de volta ao hotel foram os soldados: garotos de 16, 17 anos com metralhadoras, fazendo vigília e dedo no gatilho”, lembra. Nesta viagem, Machado também conseguiu uma entrevista exclusiva com o então guerrilheiro, e depois presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. A reportagem prosseguiu com uma aventura pela floresta, rumo a El Salvador: carro com câmbio quebrado, riscos no caminho, histórias para contar.
Correspondente internacional
No final do ano de 1982, teve sua primeira experiência como correspondente internacional: foi cobrir férias de Lucas Mendes no escritório de Nova York, onde teve a oportunidade de trabalhar com o repórter-cinematográfico Orlando Moreira. Em 1983, o repórter foi convidado para assumir uma vaga de correspondente no escritório de Londres, onde permaneceu por seis anos. De lá, partiu para viagens como a de sua primeira visita a Moscou, em 1985, em que pôde conhecer de perto o comportamento de soviéticos em temperaturas negativas: sob frio intenso, grupos inteiros mergulhavam em águas congeladas e até banhavam bebês recém-nascidos. No mesmo ano, ele foi à Normandia acompanhar as comemorações em homenagem aos 40 anos do Dia D. Apaixonado pela história da Segunda Guerra Mundial, Renato Machado gravou junto a casamatas alemãs e viu os cemitérios de ex-combatentes com “cruzes brancas a perder de vista”.
Em 1986, cobriu de Upsala, na Suécia, o acidente na usina nuclear de Chernobyl, já que a entrada na Ucrânia estava proibida: “Fomos à margem de uma grande lagoa gravar uma passagem e só ali eu me dei conta de que estava correndo perigo. A poeira radioativa se acumula nas superfícies lacustres, na água parada e nós não tínhamos como medir aquilo que estávamos absorvendo ali. O repórter-cinematográfico Luiz Demétrio Furkim sugeriu que fizéssemos um plano geral da cidade, e que eu acertasse o texto logo de primeira para não ficarmos muito tempo expostos. Era um risco desnecessário."
No mesmo ano, em setembro, Paris foi alvo de atentados terroristas realizados por membros do Hezbollah, grupo fundamentalista islâmico. Com o repórter-cinematográfico Paulo Pimentel, Renato foi enviado à capital francesa para cobrir a explosão em uma loja de departamento. Depois, a dupla seguiu para filmar na frente de um presídio, onde estaria detido um suspeito do crime. Durante a gravação, os correspondentes foram detidos pela polícia francesa. “Era um edifício grande, que tomava todo o quarteirão. Percorremos a avenida filmando, de dentro do carro e um guarda achou que nossa movimentação era estranha. Evidentemente, parou o carro e nos prendeu. Foi a minha prisão mais longa. O guarda nos levou a uma guarita em alguma altura da murada e, assim como nas outras vezes, retirou a fita da câmera e confiscou nossos passaportes”, relembra.
Tudo ficou bem. Ao definir esse período em Londres, Renato Machado diz que: “Foi uma época de folga orçamentária. Nós viajávamos muito, trabalhávamos muito, fazíamos muitas matérias, além da Fórmula 1, com o crescimento do Ayrton Senna. O nosso espaço do escritório era bastante valorizado”.
Retorno ao Brasil
Renato Machado retornou ao Brasil como repórter especial em 1988. Aqui, cobriu a campanha pela redemocratização do Chile, as eleições presidenciais de 1989. Também encarou uma de suas experiências mais extremas: quase bateu a barreira do som em uma reportagem a bordo do caça Jaguar 1, da Força Aérea Brasileira para o 'Globo Repórter', em 1989. Foi de Anápolis ao norte de Goiás em apenas dez minutos, trajeto que incluiu uma pane elétrica e a certeza que aquele seria o último dia de sua vida. Não foi. “Esse voo do Mirage nem deu tempo de entrar em pânico. De repente, o avião mergulhou e os relógios do painel começaram a tremer. Eu só pensava na minha filha. Mas o comandante conseguiu controlar e tudo voltou ao normal. Ao descer, nos deram uma ducha de água fria para nos restabelecermos, mas a gravação da passagem para a matéria ficou prejudicada. A minha voz ficou mole, quase não se entende o que eu falava”. Após o voo, o repórter ganhou o codinome de Jaguar 2. Anos mais tarde, quando Renato estava na bancada do 'Bom Dia Brasil', ele recebeu para uma entrevista o Comandante Cortês, Jaguar 1, que na ocasião tinha acabado de salvar outra aeronave de queda. Desta vez, no céu da Amazônia.
Ainda nessa fase em que estava trabalhando pela Globo no Brasil, Renato Machado participou de coberturas importantes, como a queda do general Alfredo Stroessner, no Paraguai (1989). Ele foi enviado a Assunção para relatar os acontecimentos da madrugada do dia 3 de fevereiro de 1989, quando membros do Exército tomaram o poder sob troca de tiros. Na ocasião, Stroessner fugira. Renato Machado deu um furo jornalístico devido à informação conseguida com uma fonte local. Em uma edição extra do 'Fantástico', revelou que o Brasil aceitara o ditador como exilado político: “Eu tinha um furo nas mãos: o Itamaraty considerou aquele um caso de segurança nacional e não vazou a informação para ninguém. Só eu sabia. Liguei para a redação e foi aquela gritaria: ‘Renato, você confirma mesmo isso?’ Claro que eu confirmava”.
Em 1990, Renato Machado deixou a Globo para ser o editor-chefe e apresentador do telejornal 'Noite e Dia', na TV Manchete. Naquele ano, o ditador do Iraque, Saddam Husseim, invadiu o vizinho Kuwait, estopim da primeira Guerra do Golfo. Enviado para a região, Renato Machado cobriu parte da guerra pela TV Manchete, mas estava longe do apoio técnico e jornalístico com que contavam seus ex-colegas da Globo. A sorte soprou a favor do jornalista. Num momento de pouca notícia, foi a Tel-Aviv cobrir um concerto de música clássica com o maestro israelense Zubin Mehta. Inesperadamente, Saddam Husseim bombardeou Tel-Aviv, e Renato deu um furo de reportagem.
Em 1991, o jornalista retornou à Globo como repórter especial. Nos cinco anos seguintes, cobriu a América Latina como enviado do 'Globo Repórter' e do 'Jornal Nacional' e participou, também, das coberturas do impeachment do presidente Fernando Collor (1992) e da morte do piloto Ayrton Senna (1994).
'Bom Dia Brasil'
Em 1996, assumiu o posto de âncora e editor-chefe do 'Bom Dia Brasil'. Com isso, sua rotina mudou: passou a abdicar de jantares com amigos, trocou-os por almoços. Criou o hábito de dormir sempre às 20h, para conseguir acordar às 4h30. Machado foi um dos responsáveis pela reformulação do formato e da apresentação visual do telejornal. “Havia a necessidade de ter uma conversa um pouco mais informal, para que o telespectador acordasse de manhã e não tivesse o impacto de um noticiário lido, e sim de um noticiário conversado e comentado”. Inicialmente, Renato dividiu a bancada com Leilane Neurbath e, em seguida, com Renata Vasconcellos.
“A gente foi buscando a maneira de se integrar, a maneira de olhar, a maneira de conversar às vezes com o telespectador. Havia, e há ainda, muita participação que não está escrita. Também o cenário ganhou um pouco mais de espaço, houve muitas caminhadas; mais entradas de repórteres e comentaristas ao vivo, nossa busca foi de achar uma identidade própria”. Foram 15 anos à frente do Bom Dia Brasil, onde ancorou importantes coberturas, como a do dia em que o Rio de Janeiro amanheceu embaixo d’água, em 8 de abril de 2010. Naquela manhã, o telejornal teve uma de suas edições mais longas, alertando sobre o risco de se sair de casa em certas áreas, acionando autoridades, informando por internet e recebendo informações do público sobre a catástrofe. “Ajudamos a cidade a parar, e o estrago foi menor do que se ela tivesse iniciado suas atividades normalmente.”
De volta a Londres
Em setembro de 2011, afastou-se da bancada e retomou seu posto de correspondente da Globo em Londres. Neste período, manteve uma coluna semanal no Jornal da Globo: Crônicas de Renato Machado, na qual abordava questões políticas, como a crise na Grécia (2011), a vitória socialista nas eleições francesas (2012), e os 95 anos de Nelson Mandela (2013). “Nunca quis me desligar da atividade de escrever. Sempre mantive o contato com o texto na minha vida profissional”. Renato Machado participou, de Londres, da cobertura dos ataques terroristas ao jornal francês Charlie Hebdo e a um supermercado judaico, em janeiro de 2015. Dezessete pessoas morreram.
Nesse período, ele também preparou, junto com o repórter-cinematográfico Sergio Gilz, o que considera um de seus trabalhos mais bonitos: uma série sobre a região francesa da Provença para o 'Jornal Hoje' (2014). A dupla percorreu vilarejos do interior para revelar aspectos do comportamento, culinária e cultura. “Nossa última matéria é a minha favorita, porque falamos sobre vinho. A Provença é uma região produtora de vinhos e também é corredor de um vento famoso que vem dos Alpes, o mistral. Esse vento sopra algumas vezes por ano e é gelado: as pessoas sempre levam um casaco, caso ele apareça. Entre as particularidades dele está a característica de afastar o vento quente e limpar as vinícolas, conservar melhor a uva”.
Em janeiro de 2016, o jornalista passou o posto de correspondente para a repórter Cecília Malan e retornou ao Rio como repórter especial do 'Globo Repórter'. Entre seus trabalhos estão o programa 'A Arte como Passaporte' (2016), que mostrou como a oportunidade de aprender música e dança pode transformar vidas de famílias pobres no Brasil. Essa reportagem foi indicada ao Prêmio Emmy Internacional na categoria Atualidade.
Ao avaliar a carreira na televisão, Renato Machado acredita que foi um caminho longo até dominar o ofício. Apesar da vida profissional televisiva intensa, Renato desenvolveu outras atividades. Escreve para jornais e revistas sobre vinhos (outra de suas paixões) e colabora com a rádio CBN. Em novembro de 2021, deixou a Globo.
Fonte