O público pode até não se lembrar mais quem matou Odete Roitman, mas de sua filha alcoólatra, Heleninha, ninguém se esquece. A personagem de Renata Sorrah em 'Vale Tudo' (1988), de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, entrou para o imaginário popular, ganhou as redes sociais, virou ícone pop e também encorajou muita gente a tentar se livrar do vício do álcool: “Eu tenho certeza que com esse papel consegui ajudar muitas pessoas. A quantidade de cartas que eu recebia de dependentes de álcool, de dependentes químicos também, que tinham caído a primeira vez, caído a segunda, que estavam tentando… Então, além de fazer uma personagem que eu adorava fazer, eu estava cumprindo a minha função de atriz que é tocar as pessoas, chegar lá”.
Filha de um empresário alemão e uma diplomata brasileira, Renata Sochaczewski nasceu no Rio de Janeiro em 21 de fevereiro de 1947. Chegou a cursar Letras, mas abandonou a faculdade para fazer intercâmbio nos Estados Unidos, onde acabou estudando Artes Dramáticas – nunca tinha pensado em ser atriz até então. Quando voltou ao Brasil, aos 20 anos, começou sua carreira no teatro, no grupo do Teatro da Universidade Católica (Tuca), em 'O Coronel de Macambira', peça de Joaquim Cardoso, sob a direção de Amir Haddad. Na televisão, estreou na Tupi, em 'Um Gosto Amargo de Festa' (1969), de Cláudio Cavalcanti, a convite de Ítalo Rossi. Pode-se dizer que sua personagem era uma espécie de pré-Heleninha: “Eu já fazia uma mulher que bebia, uma alcoólatra”.
Entrevista exclusiva da atriz Renata Sorrah ao Memória Globo sobre a descoberta da sua vocação.
Estreia na Globo
Em 1970, fez o seu primeiro trabalho na Globo, a novela 'Assim na Terra Como no Céu', de Dias Gomes. Sua personagem, Nívea, uma jovem por quem um padre apaixonado (Francisco Cuoco) largava a batina, teve sucesso póstumo: foi assassinada no 20º capítulo, mas voltou em várias cenas de flashback, por exigência do público. “Parece que teve assim um abaixo-assinado na época, todo mundo exigia a sua volta”, conta.
Em seguida, fez par romântico com Sérgio Cardoso em 'A Próxima Atração', (1971), de Walther Negrão. Sua personagem, Madalena, ganhou canção tema de Ivan Lins que virou hit na época. Voltou a contracenar com Cuoco, em 'O Cafona' (1971), de Bráulio Pedroso: “Era uma novela que enfocava a ascensão social. O personagem que o Cuoco fazia era um cara que queria enriquecer, um pouco o retrato do Brasil na época”.
O trabalho seguinte foi a Mariana de 'O Primeiro Amor' (1972), de Walther Negrão, novela marcada por um trauma: perto dos capítulos finais, um ataque cardíaco matou Sérgio Cardoso, um dos principais galãs da época e protagonista da novela; no seu lugar entrou Leonardo Villar. Em seguida, em 1973, fez duas novelas: 'Cavalo de Aço', de Walther Negrão, e 'Os Ossos do Barão', de Jorge Andrade. No ano seguinte, foi Patrícia, um dos personagens centrais de 'Corrida do Ouro', de Lauro César Muniz.
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Webdoc novela - 'Assim na Terra Como no Céu' (1967)
Primeiro prêmio
Com a boazinha Carolina Bastos, a Lina de 'O Casarão' (1976), outra novela de Lauro César Muniz, ganhou o seu primeiro prêmio de Melhor Atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) – dividido com Betty Faria, que vivera a Lucinha de 'Pecado Capital'. “A maioria das personagens que eu tinha feito eram mulheres ricas. Neuróticas, nervosas ou boazinhas, mas ricas. Foi a primeira vez que eu fazia uma operária”, ressalta. Depois, atuou na última novela do horário das 22h, 'Sinal de Alerta' (1978), de Dias Gomes.
'O Casarão' (1976): Lia e Jarbas
Vale Tudo
No início dos anos 1980, trabalhou nas novelas 'Chega Mais', de Carlos Eduardo Novaes; 'Brilhante', de Gilberto Braga; e 'Transas e Caretas', de Lauro César Muniz. Depois de uma rápida passagem pela extinta TV Manchete, onde participou da minissérie 'Tudo em Cima' (1985), de Bráulio Pedroso e Geraldo Carneiro, voltou à Globo em 1986, onde fez parte do elenco da novela 'Roda de Fogo', de Lauro César Muniz. Dois anos depois, viveu um de seus papéis mais marcantes na televisão: a Heleninha Roitman de 'Vale Tudo'.
Nazaré Tedesco
Em 1992, fez 'Pedra Sobre Pedra', sua primeira novela de Aguinaldo Silva. Na trama, viveu a Pilar Batista, contracenando com Lima Duarte, no papel de Murilo Pontes. Trabalharia ainda novelas marcantes de Aguinaldo Silva, como 'A Indomada' (1997) e 'Senhora do Destino' (2004), quando viveu sua primeira vilã, a Nazaré Tedesco – outro papel de sucesso, que lhe deu mais um prêmio de Melhor Atriz da APCA.
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Entrevista exclusiva da atriz Renata Sorrah ao Memória Globo sobre sua personagem Nazaré em 'Senhora do Destino'.
Em 'Duas Caras' (2007), também de Aguinaldo Silva, viveu a Célia Mara. Em 2013, participou do remake de 'Saramandaia'. No ano seguinte, interpretou Gláucia Beatriz, mãe de Jonas Marra (Murílo Benício), um visionário da tecnologia na novela 'Geração Brasil'. Em seguida, Renata Sorrah interpretou a Nora de A Regra do Jogo (2015), de João Emanuel Carneiro. Fez uma partipação em outra trama de João Emanuel Carneiro, 'Segundo Sol'. Em 2021, estrelou a série do Globoplay 'Filhas de Eva' como Stella Fontini, uma mulher que após anos de casada decide se separar do marido.
Foi um dos destaques de 'Vai na Fé' (2023), de Rosane Svartman, interpretando Wilma Campos, uma atriz decadente que se tornou saudosista com o passar dos anos. Mãe do popstar Lui Lorenzo (José Loretto), administra a carreira do filho enquanto planeja voltar a atuar.
Teatro e cinema
No teatro, Renata Sorrah tem um currículo de mais de 20 peças, entre elas Dura Lex Sed Lex, no Cabelo só Gumex, de Oduvaldo Vianna Filho; Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, de Rainer Werner Fassbinder; e A Gaivota e As Três Irmãs, de Anton Tchekov. No cinema, estrelou o clássico Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Júlio Bressane. Atuou também em filmes como Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz; Nina (2004), de Heitor Dhalia; e Árido Movie (2005), de Lírio Ferreira.
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