Antes de chegar à Globo, a jornalista goiana Olga Curado ganhou experiência e maturidade no jornalismo impresso nas décadas de 1980 e 1990. Foram passagens marcantes no Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e O Globo, onde se destacou na direção de equipes. A carreira na televisão começou pela TV Manchete de Brasília, em 1985. Entrou na Globo dois anos depois, convidada pelo então diretor de telejornais, Alberico Souza Cruz. Logo, virou editora de política do 'Jornal Nacional', num período de grandes coberturas: Constituinte de 1988, primeira eleição presidencial direta pós ditadura, em 1989. Olga chegou a ser editora regional do Rio de Janeiro e chefe de redação em Londres. Foi uma das responsáveis pela criação do Globo Comunidade e deixou a emissora em 1999.
Trajetória
Maria Olga Curado nasceu em Goiânia no dia 16 de maio. Filha de um médico e de uma dona de casa, formou-se em jornalismo na Universidade Federal de Goiás. Começou cursando direito, já que, naquela época, nas famílias mais tradicionais, só havia três opções: advogado, médico ou engenheiro. Insatisfeita com o curso de direito, Olga se transferiu para o jornalismo, sem comunicar à família. Escondeu o fato até a formatura: “Meu pai levou um susto, pensando que eu estava me formando advogada. Foi um choque para ele.”
Duas semanas antes de terminar o curso, em julho de 1977, Olga já estagiava na sucursal de Brasília do Jornal do Brasil. Nesse início, ela contou com a ajuda de jornalistas experientes, mas destaca um, em especial: o lendário colunista político Carlos Castelo Branco, o Castelinho: “Ele foi um modelo para mim”.
Em 1978, Olga Curado foi para O Estado de S. Paulo como repórter de cobertura militar. Era o final do governo Geisel, início do governo Figueiredo, quando o regime militar dava os primeiros sinais de abertura. Nessa época, Olga conseguiu duas declarações exclusivas, que se tornaram históricas. Uma do Presidente Figueiredo, que disse preferir o cheiro de cavalo ao cheiro de povo. E a outra, do então Ministro da Agricultura, Delfim Neto, de que a sua missão era encher a panela do pobre: “Foram muitas experiências no jornalismo impresso, algumas coberturas de grande dramaticidade, como a da crise em que o General Sílvio Frota foi preso porque estava conspirando contra o Geisel. Brasília foi importante na minha formação como jornalista”.
Depois de um ano nos Estados Unidos, graças a uma bolsa de estudos, Olga voltou para o Brasil em 1980 para ser coordenadora de redação do jornal O Globo, em Brasília. Dois anos depois, foi para a redação do Rio como coordenadora de pauta: “Essa função quase ninguém gosta, mas eu sempre adorei descobrir os assuntos. Eu nunca tive muita paciência com fechamento, até porque eu sou muito matutina, acordo muito cedo, eu sempre gosto de saber o que vai acontecer”.
A carreira de Olga Curado na televisão começou pela TV Manchete, de Brasília, em 1985, numa redação que contava com nomes como Alexandre Garcia e Mônica Waldwogel. Ela participou da intensa cobertura da doença e da morte do Presidente Tancredo Neves. Jornalista experiente em impresso, mas uma novata na televisão, Olga entrou na Globo em 1987, convidada pelo então diretor de telejornais, Alberico Souza Cruz: “Fui para o CPN, Centro de produção de notícias, ainda tentando decifrar o que é televisão. E aí tive a chance de trabalhar com Fábbio Perez, Edson Ribeiro, pessoas super tarimbadas, que me ajudaram a entender a estrutura de um telejornal. Já se começava a valorizar mais o conteúdo, com gente de televisão, mas também gente de jornal.”
Logo Olga virou editora de política do 'Jornal Nacional', num período de grandes coberturas: Constituinte de 1988, primeira eleição presidencial direta pós ditadura, em 1989. Era responsável por todo o material de política, e a legislação exigia que o telejornal citasse os 14 candidatos. Um trabalho que ela classifica como “desesperador”. Ainda em 1989, Olga tornou-se editora executiva do 'Jornal Hoje', onde foi uma das responsáveis pela edição no telejornal do debate entre Collor e Lula: “Fizemos a edição para o 'Jornal Hoje', diferente da edição do Jornal Nacional, que foi muito contestada na época.”
Olga lembra de duas outras coberturas marcantes, de fatos ocorridos no Rio de Janeiro, em 1988, mas que ganharam repercussão nacional: as enchentes daquele ano na cidade e o naufrágio do Bateau Mouche, no réveillon. Segundo ela, a equipe toda se mobilizou de uma forma extraordinária : “Era um esquema de plantão de fim de ano. Aquele momento gerou, não digo um pânico, mas um frio na barriga, por causa dos poucos recursos. Então, nesses casos, é preciso trabalhar com uma rapidez enorme, não ter medo de nada, esquecer todo o planejamento”. A onda de sequestros no Rio, no início da década de 90 também foi um grande desafio: “Como não havia muitas imagens e o departamento de arte ainda não tinha muitos recursos, a gente começou a inventar, a filmar o pessoal da própria equipe, a gente dramatizava os sequestros, que chegaram a 100. Eu quase que criei um manual para cobertura de sequestro”.
Com a chegada de Alberico Souza Cruz à direção geral de jornalismo, em 1990, Olga Curado assumiu a função de editora regional do Rio. Ela começou a mexer no formato dos telejornais locais, buscando um jornalismo mais voltado para a prestação de serviços. Para isso, contou com uma equipe de repórteres que ela considera uma geração de ouro: nomes como Sônia Bridi, Roberto Kovalick, Marcelo Canellas, Sandra Moreyra, Angela Lindenberg e um time de estagiárias que depois brilharam, como Ana Luíza Guimarães. A orientação era investir no repórter que tivesse o faro jornalístico para procurar a notícia.
À frente da editoria, Olga destaca também a cobertura da violência no Rio, especialmente a das chacinas da Candelária e Vigário Geral: “As histórias e as imagens que chegavam eram muito chocantes. Tivemos que descobrir um jeito de contar aquelas histórias. Acho que a gente marcou uma posição contra a violência, deu uma dimensão do que foi aquilo, mas não tratou de uma forma rasteira. A gente insistiu que não era apenas um caso de polícia, de assassinato. Aquilo era uma barbaridade”.
Entre as suas iniciativas pioneiras, Olga lembra da criação do Globo Comunidade, que nasceu para combater o argumento de que o jornalismo televisivo só destaca notícia ruim. O novo programa passou a buscar notícias positivas que aconteciam na cidade, dar voz a personagens que normalmente não apareciam.
Em 1995, Evandro Carlos de Andrade assumiu a direção geral de jornalismo. Olga assumiu o jornalismo da Globo Minas. Em Belo Horizonte, criou a primeira rede regional de emissoras. Passou a exercer a coordenação das emissoras afiliadas e viajou o Brasil implantando uma central de treinamento.
Três anos depois, Olga assumiu a chefia do escritório da Globo, em Londres, seu último trabalho na emissora. Durou cerca de um ano. Os anos de experiência de televisão resultaram no livro 'A notícia na TV': “O livro foi uma maneira de agradecer à Globo por tudo que eu pude viver na minha carreira”.
Desde 2001, Olga Curado dirige uma empresa que presta assessoria a políticos e empresários em temas como gestão de crise e comunicação.
FONTE:
Depoimento de Olga Curado ao Memória Globo em 10/07/2014 |