Por Memória Globo

Memoria Globo

Jornalista, compositor, crítico musical, produtor, dono de casas de shows. O nome de Nelson Motta está diretamente associado à música brasileira, seja por parcerias com Edu Lobo, Dori Caymmi, Lulu Santos, seja pela produção de discos de Elis Regina e Marisa Monte, sobretudo pelas críticas musicais que escreveu para grandes jornais, como a Última Hora e O Globo. Sua parceria com a Globo também foi frutífera. Nelson Motta foi um dos idealizadores e roteiristas de programas como o musical 'Chico & Caetano' e o seriado 'Armação Ilimitada'. E, com os irmãos Paulo Sérgio e Marcos Valle, em 1971, compôs a música cantada pelo coral da Globo nas vinhetas de final de ano da emissora: “Hoje a festa é sua/ Hoje a festa é nossa/ É de quem quiser/ De quem vier!”. Integrou, ainda, a primeira equipe do 'Jornal Hoje'.

Desde Woodstock, a minha geração sonhava com um grande festival de rock. É claro que durante a ditadura não podia haver nenhum festival de multidão, porque os militares tinham a maior paranoia. Achavam que, se meia dúzia de jovens se juntasse, já podia dar confusão

Músico e jornalista

Nelson Cândido Motta Filho, é filho do advogado Nelson Cândido Motta e da dona de casa Maria Cecília Brito Motta. No Rio de Janeiro, para onde seus pais se mudaram quando ele tinha seis anos de idade, estudou nos colégios Santo Inácio e Princesa Isabel. Cursou um ano na Faculdade Nacional de Direito e quatro anos na Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi). “Meu professor de redação na Esdi era Zuenir Ventura, um ídolo na escola. Nós o adorávamos. Ele falava coisas fascinantes sobre o jornalismo, que estava passando por grandes mudanças naquele tempo”, lembra.

Nelson Motta iniciou sua carreira no jornalismo em 1964, como estagiário na reportagem geral do Jornal do Brasil. Nessa época, ficou amigo de vários artistas que se tornariam figuras importantes no cenário musical brasileiro em movimentos como a Bossa Nova e o Tropicalismo. Em 1966, ganhou a fase nacional do I Festival Internacional da Canção com a música Saveiro, que compôs em parceria com Dori Caymmi. “Fomos classificados e ganhamos. O tempo mostrou que a nossa música era boa", lembra.

Nelson Motta no estúdio do Jornal Hoje. — Foto: Acervo Globo

Na mesma época, fez suas primeiras participações na televisão, como crítico musical dos programas 'A Grande Chance' e 'Um Instante, Maestro'. No final de 1967, passou a assinar uma coluna diária sobre as novidades no panorama cultural, publicada no jornal Última Hora, de Samuel Weiner.

A minha coluna se chamava Roda Viva. Falava sobre o cinema novo, o Teatro Oficina, a MPB, toda a área cultural, e até política, mas sob o ponto de vista da juventude. Samuel queria que a coluna fosse escrita por um jovem, com uma linguagem jovem, para um público jovem. Foi a primeira do gênero no Rio de Janeiro.

Início na Globo

Festival Internacional da Canção: Nelson Motta entrevista Chico Buarque e Tom Jobim (1968)

Festival Internacional da Canção: Nelson Motta entrevista Chico Buarque e Tom Jobim (1968)

Nelson Motta começou a trabalhar na Globo em 1968. Suas primeiras funções na emissora foram as de comentarista do 'Jornal de Verdade' e repórter especial em eventos musicais, como os Festivais Internacionais da Canção. Em 1969, passou a apresentar 'Papo Firme', um programa musical de cinco minutos, exibido antes da novela das 19h. Também naquele ano, foi responsável pela seleção das músicas que integrariam a trilha sonora da novela 'Véu de Noiva', escrita por Janete Clair.

“Foi a primeira trilha sonora feita especialmente para novela. Tinha Elis Regina, Caetano Veloso, Chico Buarque – os dois já estavam exilados, mas consegui músicas inéditas deles”, lembra. O disco, lançado em parceria com a gravadora Philips, da qual Nelson Motta era produtor, foi um sucesso. “Um dos maiores hits do ano foi Teletema, de Antonio Adolfo, que também fazia parte da trilha de 'Véu de Noiva'”, ressalta.

Em 1970, Nelson Motta assinou a produção musical de um especial de Chico Buarque (recém-chegado do exílio) na Globo e lançou o programa 'Som Livre Exportação', apresentado por Elis Regina e Ivan Lins, com a participação de grandes nomes da MPB.

Jornal Hoje: Morre Ismael Silva (1978)

Jornal Hoje: Morre Ismael Silva (1978)

No ano seguinte, integrou a primeira equipe do 'Jornal Hoje', no qual apresentou notícias sobre música até 1975, quando foi substituído pelo locutor Big Boy.

Em 1972 e 1973, foi o produtor musical de 'Viva Marília', programa de show e atualidades estrelado pela atriz Marília Pêra. De 1974 a 1975, comandou o 'Sábado Som', um dos primeiros programas sobre rock da televisão brasileira. “Foi uma glória, o primeiro programa de clipes da televisão brasileira. O termo ‘clipe’ nem existia naquele tempo”, revela. Durante a década de 1970, também fez reportagens para o 'Fantástico' e o 'Jornal Nacional'.

Depoimento - Nelson Motta: Reportagens no Jornal Hoje na década de 1970

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Jornal O Globo

Nelson Motta trabalhou no jornal O Globo de 1975 a 1982. Diariamente, ele assinou uma coluna que levava seu nome e era publicada no Segundo Caderno, com comentários sobre a música nacional e estrangeira e detalhes dos bastidores da indústria fonográfica, dos lançamentos musicais e dos shows e turnês de cantores. “Eu escrevia a coluna na própria redação do jornal − meia página, todos os dias, de segunda a sexta. Depois, a coluna passou a ser publicada também aos sábados e, mais tarde, aos domingos. Durante anos, saía de domingo a domingo”. Nos anos seguintes, voltaria a colaborar com o jornal, assinando artigos na página de Opinião.

Sua carreira de empresário também decolou. Em 1976, antecipando tendências, Nelson Motta abriu a boate Dancing Days – no ano seguinte, a moda das discotecas faria sucesso no filme Embalos de Sábado à Noite, de John Badham, e, em 1978, seria retratada na novela 'Dancin’ Days', de Gilberto Braga. Compôs, com Ruban Barra, inclusive, o tema de abertura da trama. A música se tornou um sucesso radiofônico do conjunto musical As Frenéticas, garçonetes-cantoras que ele contratara para trabalhar em sua discoteca. Mais tarde, Nelson Motta abriria outras casas noturnas, como Noites Cariocas, Paulicéia Desvairada e Afrikan Bar.

Nelson Motta participou da criação de diversos programas da Globo que marcaram os anos 1980. 'Armação Ilimitada' (1985) foi um deles. O programa ganhou o Prêmio Ondas no mesmo ano. “Essa é a minha maior glória televisiva, embora eu nunca receba crédito, porque estou sempre envolvido com música, com jornalismo, e, tecnicamente, Armação é dramaturgia, ficção. É uma das coisas que mais me orgulho de ter feito,” revela.

Chico & Caetano

Também participou, como autor, de musicais e especiais como 'Plunct Plact Zuuum' (1983), 'Mixto Quente' (1986) e 'Chico & Caetano' (1986), que reuniu na Globo dois dos maiores compositores da MPB. Entre as várias edições do programa, Nelson Motta destaca um, inusitado: “O grande programa foi o do Tim Maia, porque ele não foi. Essa história é lendária na Globo. Nós gravamos o ensaio do Tim. Ele cantou, falou barbaridades, brincou com todo mundo. Só que, na hora de gravar para valer, não apareceu. Caetano disse: ‘Tim não veio, mas tem o ensaio’. Então, exibimos o ensaio, e foi genial”.

O jornalista foi ainda apresentador e comentarista das transmissões de festivais como Rock in Rio. “Desde Woodstock, a minha geração sonhava com um grande festival de rock. É claro que durante a ditadura não podia haver nenhum festival de multidão, porque os militares tinham a maior paranoia. Achavam que, se meia dúzia de jovens se juntasse, já podia dar confusão”.

Nessa época, no entanto, Nelson Motta estava longe do Brasil: havia se mudado para a Itália. Morou em Roma de 1983 a 1986, e chegou a trabalhar na emissora Telemontecarlo, para a qual produziu o programa 'Pop Shop'. Trabalhou também em projetos da Globo Internacional. Escreveu e foi o narrador da série de musicais 'The Voice of Brazil', que apresentava a variedade, e a qualidade, da música brasileira em programas especiais.

Chico & Caetano: O dia em que Tim Maia não foi

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Antonio Brasileiro

Em 1987, escreveu com Euclydes Marinho o especial 'Antonio Brasileiro', sobre o maestro Tom Jobim. Dirigido por Roberto Talma, o programa ganhou o prêmio de melhor musical no Festival de Cinema e Vídeo de Nova York. “Tom narrou o programa inteiro. Ele contava histórias, mostrava Nova York, aparecia no Museu de História Natural, no Central Park”, recorda.

Nelsinho, como é chamado pelos amigos, mudou-se para Nova York em 1990. De 1993 até 2001, participou, ao lado dos jornalistas Lucas Mendes, Caio Blinder, Paulo Francis e Lúcia Guimarães, do programa 'Manhattan Connection', então transmitido pelo canal GNT. “Ao contrário do que se pode pensar, a inspiração do 'Manhattan Connection' não foi jornalística. Ele pretendia ter como modelo a Grande Resenha Facit, um debate esportivo que estreou na TV Rio e, depois, passou a ser exibido na Globo”, revela.

'Por Toda a Minha Vida'

Em 2007, Nelson fez uma participação especial como ele mesmo na novela 'Paraíso Tropical', de Gilberto Braga. No ano seguinte, deu um depoimento ao programa 'Por Toda Minha Vida' que homenageou Elis Regina.

Produtor de discos da Philips e da Polygram, e diretor artístico da Warner, Nelson Motta foi responsável por alguns dos sucessos de Elis Regina, Wilson Simonal, Wanderléia, Lulu Santos e Marisa Monte, entre outros. Também promoveu festivais de música, como o primeiro Hollywood Rock, em 1975. Como letrista, é autor de uma longa lista de músicas gravadas por grandes nomes da MPB, de Gal Costa a Beth Carvalho, passando por Milton Nascimento, Elizeth Cardoso e Caetano Veloso, entre muitos outros. Em 2004, a Editora Lumiar lançou o Songbook Nelson Motta com 49 canções de sua autoria, entre as quais Certas Coisas (com Lulu Santos), Bem que se Quis (com Marisa Monte) e Coisas do Brasil (com Guilherme Arantes).

Literatura

Também publicou diversos livros, entre os quais: 'O Piromaníaco' (1979), 'Noites Tropicais: Solos, Improvisos' e 'Memórias Musicais' (2000), no qual conta a história de alguns dos grandes nomes da MPB; 'O Canto da Sereia' (2002), obra adaptada para a televisão por George Moura e Patrícia Andrade e exibida pela Globo em 2013; 'Bandidos e Mocinhas' (2004); 'Fluminense: Vida, Paixão e Glória de uma Máquina de Jogar Bola' (2005) e 'Vale Tudo: o Som e a Fúria de Tim Maia' (2007). A partir da biografia de Tim Maia, escreveu o roteiro da peça 'Tim Maia – Vale Tudo, o Musical', que estreou em 2011 e logo se tornou um enorme sucesso de bilheteria. No mesmo ano, lançou mais uma biografia, 'A Primavera do Dragão – A Juventude de Glauber Rocha', pela editora Objetiva.

Até 2011, apresentou o programa musical 'Sintonia Fina', transmitido pela internet e por várias emissoras de rádio do país. Na Globo, escreveu, ao lado de Denise Bandeira e Guilherme Fiuza, o roteiro da minissérie 'O Brado Retumbante', de Euclydes Marinho, exibida em janeiro de 2012.

Em 2013, seu romance 'O Canto da Sereia – um noir baiano' foi adaptado como a minissérie de quatro capítulos 'O Canto da Sereia', com supervisão de Gloria Perez e direção-geral de José Luiz Villamarin.

Nelson Motta entrevista o `Rei` Roberto Carlos

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'Jornal da Globo'

Desde 2008, Nelson Motta apresenta uma coluna semanal no 'Jornal da Globo' sobre cultura e comportamento. Ele conta que o formato da seção foi definido pelo então editor-chefe Erick Brêtas: cinco minutos que proporcionariam um respiro no noticiário, para fechar a sexta-feira com clima de fim de semana, às sextas-feiras. Uma entrevista com o amigo Roberto Carlos foi o tema da primeira edição, exibida no dia 21 de novembro de 2008. Em entrevista ao Memória Globo, Nelson Motta lembra: “Foi muito interessante. Somos amigos há muito tempo, teve muita coisa diferente. Foi uma delicadeza do Rei, ele nos recebeu na casa dele, serviu pasteizinhos para toda a equipe. E fui tocando dali para diante.”

Entre outros temas, Nelson Motta levou para o espaço análises sobre os trabalhos do cineasta Quentin Tarantino, os músicos baianos Raul Seixas e Caetano Veloso, ícones da contracultura como Jim Morrison e Jimi Hendrix; o astro da música jamaicana Bob Marley, os ex-Beatles John Lennon e Paul McCartney e a importância do movimento punk na Inglaterra para o mundo da música. “Me esforço ao máximo para isso, para ter humor, leveza, cultura, imagens bonitas. Para a pessoa que está assistindo poder dormir feliz”, comenta.

FONTE:

Depoimento ao Memória Globo em 10/05/2002.
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