A jornalista Mônica Barbosa é uma profissional de televisão. Antes de iniciar seus mais de 20 anos de carreira na Globo, passou pelo SBT, pela extinta TV Manchete e também pelo canal GNT. Em 1996, foi contratada para ser editora do Rio de Janeiro para o 'Jornal da Globo', da TV Globo. Em 1999, foi transferida para Brasília para atuar na cobertura política. Voltou ao Rio dois anos depois para ser editora do 'Jornal Nacional' e, em seguida, passou a ocupar funções executivas na emissora. Em 2004, assumiu a chefia de produção de rede e, três anos depois, tornou-se coordenadora do escritório da Globo em Nova York. Voltou para o Rio de Janeiro em 2012, logo após a cobertura do furacão Sandy, como chefe de redação do Rio para os telejornais de rede. Em 2015, Mônica Barbosa assumiu a chefia de redação do 'Globo Repórter'. Três anos depois, tornou-se editora-chefe do 'Bom Dia Brasil', cargo em que ficou até dezembro de 2020. Em janeiro do ano seguinte, voltou para o 'Globo Repórter', dessa vez como diretora.
Início da carreira
A carioca Mônica Maria Gomes Barbosa, conhecida como Mona, nasceu em 20 de abril de 1962. Estudou em escola pública a maior parte da vida. Fez o ginásio no Colégio Pedro II e formou-se em Comunicação Social na Universidade Gama Filho. Ainda estudante, fez alguns trabalhos autônomos na revista Fatos e Fotos que tinha, na época, como editor-chefe, Carlos Heitor Cony: “Ele me deixava participar das reuniões de pauta, e eu sempre sugeria alguma matéria”, comenta.
Em 1987, foi para a sucursal do SBT, no Rio de Janeiro, como assistente de produção. A emissora estava investindo em um projeto novo de jornalismo, que tinha como carro-chefe o 'TJ Brasil', apresentado por Boris Casoy. Um ano depois dessa experiência, Mona foi chamada para atuar como editora no 'Jornal da Manchete', na TV Manchete. Participou de coberturas marcantes, como as chacinas da Candelária e Vigário Geral e o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello.
Por conta da crise da TV Manchete, ela chegou a acumular o trabalho com uma segunda jornada no GNT, numa fase em que o canal era mais voltado para notícia. “Quando não dava plantão num, dava plantão no outro. Mas, enfim, quando a gente é novinho, tudo está valendo. (...) Depois de certo tempo, eu saí da Manchete, porque eu não aguentei o tranco tanto tempo assim."
Entrada na Globo
Em 1996, Mônica Barbosa entrou para a Globo para cobrir férias de um mês no 'RJTV', quando ainda estava no GNT. Logo em seguida, foi contratada, deixou o canal da Globosat e passou a editar as reportagens do Rio de Janeiro para o 'Jornal da Globo', que era transmitido de São Paulo. "Eu estava de férias no GNT e aproveitei para cobrir as férias na Globo. Logo depois que eu voltei para o GNT, me ligaram para dizer que tinha uma vaga definitiva na Globo."
Nesse período, Mona participou de grandes coberturas. Uma delas foi o episódio em que a repórter Ilze Scamparini e o cinegrafista Lucio Rodrigues flagraram o momento exato em que um policial militar deu seis tiros em um assaltante em uma moto no Rio de Janeiro. Passado um ano no 'JG', a jornalista se tornou editora do Rio para o 'Jornal Nacional'.
A queda do edifício Palace 2, em pleno carnaval de 1998, foi uma cobertura marcante na carreira. "Quando o prédio caiu, a gente meio que se dividiu: ficou uma parte com o Carnaval e uma parte com essa cobertura. E foi sofrido, complicado. (...) Envolveu irresponsabilidade, ganância. Um prédio que, depois, a gente viu que foi construído de qualquer maneira, com o menor custo possível. (...) Eu tenho a impressão de que nunca mais aquelas pessoas foram as mesmas."
Em 1999, Mônica Barbosa assumiu a função de coordenadora de rede em Brasília. A transferência para a capital trouxe novos desafios. "Como eu era editora do Rio, minha intimidade com assunto de política e economia era quase zero. Eu editava muita matéria de violência, comportamento, e tal. (...) Foi difícil no início, assim, muito. Nos primeiros dias, eu quase me arrependi. A cobertura de Brasília é muito específica. (...) Aí eu levei um susto. Eu vi as pessoas que eu via na televisão falando dos assuntos mais complexos, o Heraldo [Pereira], a Delis [Ortiz], o [Carlos] Monforte, e tal. Então, assim, foi um pouco assustador nos primeiros dias. E eu fiz bastante dever de casa para entender todos os assuntos, todas as siglas, e para dar conta. Mas eu acho que foi legal, foi uma experiência muito bacana. Eu sempre falo que eu era uma profissional antes de ir para Brasília. Eu amadureci muito, jornalisticamente".
Em Brasília, seu trabalho de coordenação envolvia vender para o 'Jornal Nacional' os assuntos mais importantes que os profissionais da capital federal estavam cobrindo. Funcionava como uma ponte entre a redação do Rio e a de Brasília, cujo foco é a cobertura política.
Passados dois anos, Mônica retornou ao Rio de Janeiro para assumir a função de editora no 'Jornal Nacional'. Uma de suas primeiras grandes coberturas foi a corrida presidencial de 2002. "Comecei a fazer matérias de assuntos gerais, de outras praças do Brasil, e a ajudar na cobertura de política também, que quem fazia até então era o Renê Astigarraga, superparceiro, um cara superexperiente, já sabia tudo. Eu também já conhecia um pouquinho mais de política, estava voltando de Brasília. Então, não foi tão complicado assim. Foi ótimo. A gente fez logo uma cobertura presidencial, com todas aquelas preocupações que a gente tem que ter, e tem que ter mesmo, de, enfim, nem prejudicar e nem privilegiar ninguém."
Em 2004, Mona foi convidada pelo então diretor de Jornalismo, Carlos Henrique Schroder, para ser chefe de produção de rede, a chamada Mesa Rede. Cabia à Mona fazer a ponte entre as praças e afiliadas da Globo no Brasil, alinhando-as ao conteúdo esperado pela rede. "Passei a ter uma visão melhor do que é a Globo em termos de jornalismo no país”, destaca.
Na chefia da produção, Mônica participou ativamente da cobertura do escândalo do mensalão, em 2005. Foi formado na Globo um núcleo de apuração que ficaria dedicado ao assunto durante as investigações da CPI dos Correios.
Ainda como chefe de produção de rede, Mona estava na redação no dia em que foi noticiada a tragédia com o avião da Gol, em setembro de 2006. O Boeing partira de Manaus com destino ao Rio de Janeiro e escala em Brasília. Antes de pousar na capital federal, no entanto, o avião se chocou no ar com um jato Legacy e caiu na Serra do Cachimbo, no Sul do Pará, na divisa com o Mato Grosso, deixando 154 mortos. O 'Jornal Nacional' estava no ar quando as primeiras informações sobre um acidente aéreo começaram a chegar. Para não criar pânico na população, a TV Globo optou por não noticiar o possível desaparecimento da aeronave até que fossem apurados, com exatidão, o número e a rota do voo. "Aí o jornal acabou. A minha equipe e eu ficamos com uma frustração enorme de não ter conseguido apurar a tempo. Quando a gente conseguiu, o jornal tinha acabado de sair, há poucos minutos. E aí a orientação foi: 'Vamos interromper imediatamente. Vamos antecipar uma chamada do 'Jornal da Globo.' E o William Waack deu a notícia, assim que a gente conseguiu saber. Porque a gente precisava saber pelo menos o número do avião ou a rota que ele ia fazer", lembra Mônica Barbosa.
Escritório da Globo em Nova York
Em 2007, Mônica realizou um sonho antigo: passar por uma experiência profissional no exterior. Foi para Nova York ser coordenadora do escritório da Globo. Era uma espécie de “braço direito” de César Seabra, então chefe do escritório.
Dois anos depois, Mona assumiu a chefia do escritório de Nova York. Naquela que é considerada a “capital cultural do mundo”, Mônica se viu diante de coberturas desafiadoras. A morte de Michael Jackson foi uma delas. "Márcia Menezes, do G1, tipo cinco horas da tarde, falou: 'Está sabendo? Tem um boato que o Michael Jackson morreu'. Eu tinha acabado de assumir o escritório. (...) Eu falei: 'Claro que é boato. O Michael Jackson não vai morrer.' (...) E aí era verdade, era verdade. Mas na hora que ela falou, mesmo torcendo para não ser verdade, a gente já começou, tinha uma equipe na rua fazendo outra coisa, uma matéria fria. Falei: 'Olha, começa, vai para o Harlem, lá para onde ele começou, cantou, onde as pessoas gostam dele, e tem muitos ídolos. E vamos para a Time Square. Vamos começar a fazer um perfil.' (...) E aí, quando confirmou, a gente já estava com alguma coisa, o material mais ou menos engatilhado. Deu para fazer uma cobertura bacana. (...) Uma das coisas que todo mundo estava tentando era entrar em Neverland, aquele lugar onde ele morava. E a NBC tinha conseguido, e estava anunciando exclusividade. E a gente começou a tentar. Quer dizer, todas as TVs do mundo estavam tentando. A gente conseguiu. Só nós e a NBC. Foi o Daniel Wiedemann, que estava de férias, e voltou de férias, que conseguiu autorização para ir lá. E o Álvaro [Pereira Júnior] foi", recorda.
O período em que Mona passou no escritório de Nova York foi fértil para o noticiário. No campo econômico e social, a bolha imobiliária que levou ao desespero milhares de famílias americanas foi tema de inúmeras reportagens; na área política, era época da corrida presidencial que levou Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. Paralelamente, o terremoto do Haiti mobilizou a estrutura do escritório – foi de lá que partiu a equipe integrada pelos repórteres Lilia Teles e Rodrigo Alvarez rumo à capital, Porto Príncipe. Para este tipo de cobertura, a logística e a produção da estrutura das reportagens fica por conta da sucursal.
Prestes a voltar para o Rio de Janeiro, em 2012, Mônica se viu diante da cobertura dos estragos causados pela passagem do furacão Sandy. Com uma grande parte de Nova York às escuras, em um apagão que durou uma semana, o improviso e a dedicação de toda a equipe tornou possível o envio das matérias. "A cidade ficou uma semana, da Rua 33 para baixo, às escuras. Inclusive os hotéis, inclusive o prédio da TV. O que a gente fez? A gente conseguiu uma salinha emprestada no prédio da APTN. (...) Então, eles alugaram uma salinha, que, na verdade, era a copa deles. Essa é a verdade. (...) Mas era a nossa única opção. (...) Não havia previsão de quando a energia ia voltar no sul de Manhattan, onde fica a nossa TV. E todos os jornais querendo todas as matérias sobre o [furacão] Sandy. E aí a gente começou a fazer assim: gerava pela internet, entrava ao vivo do prédio da APTN, do terraço. Um drama muito grande. (...) Mas demos conta, demos conta. Fizemos todas as matérias. Talvez, não tantas quanto os jornais queriam, por causa de toda essa dificuldade, mas a gente conseguiu cobrir bem."
De volta ao Rio
Em março de 2013, Mônica Barbosa retornou ao Rio de Janeiro e passou a ser chefe de redação para os telejornais de rede. Participou das coberturas das manifestações de junho daquele ano, da Jornada Mundial da Juventude e do Rock in Rio. Em 2015, aceitou o convite para se tornar chefe de redação do 'Globo Repórter', fazendo dobradinha com Meg Cunha, tendo a oportunidade de viajar o Brasil para coordenar grandes reportagens. Um dos programas que a jornalista dirigiu, chamado 'A Arte como Passaporte', exibido em 2016, foi finalista do Prêmio Emmy Internacional na categoria Atualidades, em 2017.
Em dezembro de 2017, Mona deu mais um passo na carreira como executiva na Globo, assumindo o cargo de editora-chefe do 'Bom Dia Brasil'. Era a primeira vez que a jornalista ficava responsável pelo fechamento de um telejornal de rede na Globo.
Mona ficou no comando do 'Bom Dia Brasil' até dezembro de 2020. Sob sua gestão, o telejornal cobriu, por exemplo, a Lava Jato e seus desdobramentos, a morte da Marielle Franco, a greve dos caminhoneiros e o incêndio no Ninho do Urubu. A tragédia no centro de treinamento do Flamengo no Rio de Janeiro foi logo no começo da amanhã: "A gente botou no ar assim que a gente soube e ficou atualizando. Eu tenho a sensação de que, cada vez que a gente botava o negócio no ar, a gente se assustava: 'Meu Deus, isso não pode estar acontecendo'. Foi difícil, foi sofrido, mas, enfim, demos ao vivo".
Quando as primeiras notícias sobre a Covid-19 chegaram ao Brasil, Mônica ainda estava no 'Bom Dia Brasil'. A pandemia foi declarada em março de 2020, pouco depois do carnaval. Mona destaca o desafio de seguir com a missão de informar, mas tendo de garantir a segurança dos profissionais que continuaram trabalhando na redação. "Duas questões para a gente: cobrir seriamente sem causar alarme, mas chamando muita atenção para o que era - o negócio era muito barra pesada e assustador para o mundo inteiro - e continuar trabalhando com os cuidados para tentar se proteger. E foi assim o ano inteiro, o ano inteiro, a coisa só foi piorando."
Em janeiro de 2021, após reformulações no Jornalismo da Globo, a executiva deixou o hardnews e assumiu a direção do 'Globo Repórter'. Ainda em um contexto de pandemia da Covid-19, ela encarou o desafio de retomar a produção de edições inéditas do programa, que estava em reprise durante a maior parte do ano anterior. Para fazer isso, a equipe precisava seguir todas as regras de segurança e distanciamento social. O 'Globo Repórter' passou a apostar em material enviado pelas afiliadas da Globo nos quatro cantos do país e a fazer viagens curtas e seguras, de carro. A ideia era trazer ao público temas leves, uma espécie de contraponto às notícias trágicas do cotidiano em meio à disseminação da doença. "Quando eu cheguei na virada do ano, a coisa estava melhorando, e a gente pôde voltar a gravar, mas sem viajar. Então, o que a gente pôde fazer? A gente pautava as equipes das afiliadas e também das praças, (...) acompanhava muito de perto para eles entenderem como é a pegada, tipo de gravação, tipo de imagem, enfim, da forma como a gente fazia, mas à distância. A gente não mandava ninguém gravar lá. (...) As gravações com os entrevistados eram pela internet. (...) No primeiro ano, muita matéria ao ar livre, de lugares da natureza, de parques, que dá para você ir de máscara. Sempre em lugares abertos, a gente não ia para a casa das pessoas. (...) Esses recursos todos para voltar aos poucos, ir gravando. Aí a situação foi melhorando, e a gente foi abrindo um pouquinho mais até voltar", recorda.
Brasil em Constituição
No dia 29 de agosto de 2022, o 'Jornal Nacional' estreou uma série sobre a Constituição brasileira, com direção de Mônica Barbosa. Em ano eleitoral, o telejornal mostrou, em 23 episódios, os avanços no país desde a promulgação do documento, em 1988. Apresentada por William Bonner e Renata Vasconcellos, a série abordou aspectos da Constituição referentes a temas como saúde, educação, igualdade de gênero, racismo, casamento homoafetivo, meio ambiente, liberdade de expressão e liberdade religiosa, entre outros. "A ideia da série, do assunto, foi do Ali [Kamel]. Quando tem eleição presidencial, o Jornalismo da Globo faz algum projeto especial. Já foi 'O Brasil Que Eu Quero', 'Caravana JN', 'JN no ar'. Aí o Ali achou que seria interessante fazer alguma coisa sobre a Constituição, que está fazendo 35 anos, para mostrar para os brasileiros como ela é importante na nossa vida, como ela mudou, como nossa vida melhorou e como é importante a gente não abrir mão disso também".
A partir da ideia, Mona desenhou a série, partindo da proposta de mostrar pessoas que, nos últimos 35 anos, tinham se beneficiado da Constituição de alguma forma. "Então, eu pensei em buscar todos os personagens no nosso acervo: 'Se a Constituição já existe há 35 anos e já trouxe tantos benefícios, a gente já deve ter mostrado isso'. Então, essa foi a primeira premissa, o primeiro conceito. E o outro era trazer todas as pessoas para falar para a gente no estúdio. Eu acho que isso dá um peso também. (...) Eles vieram para cá para contar a história deles, porque acharam importante dividir essa história com a gente naquele momento".
Foram mais de dez meses de trabalho para produzir 'Brasil em Constituição', e 30 profissionais envolvidos. Mais de 80 entrevistas foram gravadas. A equipe da série assistiu a 4,3 mil vídeos do acervo da emissora e também examinou 740 vídeos do diário da Constituinte que estão nos arquivos do Congresso Nacional.
Fonte
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Mônica Barbosa em 28/10/2013 e 15/03/2023. |