Por Memória Globo

Bob Paulino/Memória Globo

Monalisa Perrone cresceu ouvindo estórias. Filha de dois professores, Valdete Coelho Perrone, que lecionava História, e de Luiz Perrone, professor de Geografia, desde cedo, Monalisa sabia qual profissão gostaria de seguir: Jornalismo. E a busca foi incessante. Influenciada pelas aulas de sabedoria em casa e pela vontade de impactar o cotidiano das pessoas de forma positiva a levaram para o curso de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo.

A mensalidade da PUC era cara. Mas ali era onde Monalisa queria estudar. Para pagar a faculdade, foi trabalhar como atendente em uma locadora de carros: “Era um período difícil e eu pensava: ‘tenho que fazer o que eu gosto’. Botei meu currículo debaixo do braço e fui à luta”. Em três anos, a moça voluntariosa estava formada.

Monalisa Perrone no Hora 1, 2014 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Início da carreira

Paulistana, Monalisa Gomes Perrone nasceu no dia 12 de novembro de 1969. Ainda na faculdade, em 1992, foi trabalhar na rádio Jovem Pan. Ali, aprendeu a olhar a cidade. A primeira cobertura como repórter foi um assunto de peso, mas aconteceu “por acaso”. A “foca” (como os jornalistas iniciantes são chamados na redação) descobriu a fuga dos assassinos do líder seringueiro Chico Mendes.

“Resolvi fazer uma ligação gravada para o presídio, e um funcionário me disse que os assassinos tinham fugido pela porta da frente. Foi instintivo. Descobri na hora que aquela era a notícia do dia.”

Depois de três anos na Jovem Pan, Monalisa foi para a rádio Bandeirantes, onde trabalhou durante cinco anos. Ela considera a experiência no rádio fundamental para exercitar a fala de improviso. A jornalista recorda de coberturas importantes que fez naquela época como a da queda do avião da TAM, em 1996, e a da Máfia dos Fiscais, em 1998. Além disso, também acompanhou o então presidente Fernando Henrique Cardoso em viagens internacionais.

Entrada na Globo

No início de 1999, apareceu a oportunidade de ir para a Globo. Na época, o diretor de jornalismo de São Paulo, Amauri Soares, precisava de alguém que gostasse de cobrir assuntos ligados ao dia a dia da cidade e que tivesse a “verborragia de quem trabalhou em rádio”, conta Monalisa. “Entrei na Globo naquele ano para fazer coberturas para o 'Bom Dia São Paulo'."

Na redação, conviveu com colegas que ela admirava, como William Waack, Sônia Bridi e José Roberto Burnier. Aquele ano também foi marcado pela estreia de Monalisa em rede nacional. Era para divulgar uma notícia trágica: um jovem estudante de medicina havia disparado vários tiros dentro de uma sala de cinema, matando três pessoas e ferindo outras cinco. “Eu estava nervosa e minhas pernas tremeram quando eu ouvi aquela musiquinha do plantão. Fiquei entrando direto e, naquela madrugada, eu fiz a minha primeira matéria para o 'Bom Dia Brasil'. Aí, aos pouquinhos, fui botando o pé na rede”.

Em 2001, aconteceu o primeiro vivo para o 'Jornal Nacional', onde Monalisa se tornaria presença constante. São Paulo enfrentava uma crise de energia, e a jornalista foi enviada para a central da Eletropaulo para dar as informações. “A reportagem marca mais, mexe mais com a gente, quando tem entrada ao vivo. O 'JN' é muito visto. É um privilégio, mas também um peso muito grande porque você vai falar para milhões de brasileiros”.

Em reportagem sobre o consumo de energia no Brasil, Monalisa Perrone fala ao vivo da sala de controle da Eletropaulo. 'Jornal Nacional', 15/06/2001.

Em reportagem sobre o consumo de energia no Brasil, Monalisa Perrone fala ao vivo da sala de controle da Eletropaulo. 'Jornal Nacional', 15/06/2001.

Coberturas marcantes

Em 2003, Monalisa Perrone participou da cobertura de um crime que abalou o país: o da jovem de classe média alta, Suzane Von Richtofen, que matou os pais: “Aquilo impactou muito a redação, a carinha linda daquela moça, e a gente tendo que mostrar aquela barbaridade. Eu consegui ir à casa dos pais dos irmãos Cravinhos, também participantes do crime, e mostrar o outro lado. Foi desafiador chegar na casa deles. Eu cheia de opinião: ‘Como é que podia ter acontecido aquele crime? Tinha alguma falha naquela mãe, naquele pai’. E fui surpreendida por um pai absolutamente arrasado, que me levou no quarto dos rapazes. Um pai desesperado por ter dois filhos criminosos. Eu aprendi a fazer menos julgamento”. A reportagem foi exibida no 'Jornal da Globo'.

Outra cobertura que exigiu perseverança de Perrone foi o escândalo do Mensalão, revelado em 2005. Foi uma época de muito plantão na porta da Polícia Federal e do Ministério Público. Monalisa ficava, muitas vezes o dia todo, à espera de uma declaração dos envolvidos que pudesse mudar o rumo das investigações. “A gente fazia plantão, muitas vezes, de 10, 11 horas na porta da PF, na sede do PT, à espera de um comentário dos acusados. E víamos as pessoas na rua, chocadas, esperando as nossas notícias".

Ainda em 2005, Monalisa Perrone fez uma série de matérias para o 'Jornal da Globo', da qual muito se orgulha e serve de contraste com o que estava acontecendo no centro do poder. Ela denunciou as carvoarias ilegais que usavam trabalho escravo, inclusive de crianças. “Vi a constatação da escravidão em pleno século XXI. Siderúrgicas mineiras exploravam pessoas que recebiam, como pagamento, um prato de comida. Gente pobre sendo explorada por um mercado tão rico.” Monalisa e a equipe voltaram ao local um ano depois. Muita gente melhorou de vida depois da reportagem.

Na segunda e última reportagem especial sobre as carvoarias brasileiras, Monalisa Perrone mostra as atuações para coibir a prática ilegal e a retomada da infância por jovens ex-extratores. 'Jornal da Globo', 07/10/2005.

Na segunda e última reportagem especial sobre as carvoarias brasileiras, Monalisa Perrone mostra as atuações para coibir a prática ilegal e a retomada da infância por jovens ex-extratores. 'Jornal da Globo', 07/10/2005.

Um ano depois do caso Mensalão, a repórter de São Paulo foi escalada para cobrir as eleições presidenciais, em 2006. Monalisa lembra que as denúncias do escândalo tinham grande repercussão no noticiário político, mas não interferiram no resultado das urnas que garantiram o segundo mandato para o presidente Lula.

Naquela eleição, Monalisa Perrone se destacou comandando uma série de entrevistas com os candidatos ao Senado pelo estado no 'Bom Dia São Paulo'. Um momento delicado daquela eleição foi o episódio da suposta compra de um dossiê pelo PT com falsas acusações ao PSDB. Monalisa se recorda que essa cobertura foi cercada de muita tensão.

“Havia a preocupação de dar o peso exato à cobertura, sem nenhuma conotação. Essas reportagens eram vistas por várias pessoas antes para que pudesse ir ao ar da maneira mais imparcial possível. Isso é muito marcante para mim em todas as coberturas políticas. A responsabilidade de uma reportagem, ou como ela será feita, não fica em uma pessoa apenas. É dividida entre muitos.”

Atingida ao vivo

Em 2010, Monalisa, além de fazer reportagens na rua, passou, eventualmente, a apresentar o 'Bom Dia São Paulo', o 'SPTV' e o 'Bom Dia Brasil'. Um ano depois dessa mudança, ela viveu um momento dramático. Acostumada a cobrir inúmeros eventos políticos, não imaginaria que seria vítima de um fanático. Ela foi agredida pelas costas quando estava ao vivo no 'Jornal Hoje' em frente ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde o presidente Lula fazia tratamento contra um câncer na laringe: ‘Era a primeira sessão de quimioterapia do ex-presidente Lula, e aí o rapaz me acerta nas costas e eu voo em rede nacional. No momento, não entendi, achei que era uma briga. Foi despropositado. Mas acabei dando as informações e contado o que havia acontecido. Desde então, não sou mais a mesma pessoa nos vivos. Tenho uma preocupação imensa com a minha retaguarda”.

Monalisa gosta de comentar reportagens que lhe deram muita satisfação. A cobertura da Jornada Mundial da Juventude, em 2013, foi uma delas: “Era gente de todo o mundo. Diferentes línguas. Parecia uma torre de Babel”. A repórter recorda que a sua pauta era acompanhar um grupo de jovens estrangeiros e como eles impactavam a rotina de São Paulo, com cantorias e brincadeiras. “Fiquei muito satisfeita quando eles foram conhecer o nosso Museu de Arte Sacra, no centro da cidade”.

Neste mesmo ano, Monalisa também cobriu as manifestações populares, em junho, pelas ruas de São Paulo. "No começo, a gente achava que era um grupo pequeno, sem legitimidade, mas os protestos foram crescendo e agregaram, naturalmente, pessoas que não tinham nada a ver com o movimento pelo passe livre. Nós botamos no ar o grande fato que estava acontecendo no Brasil. Nos jornais locais ou nos nacionais."

Em 2014, um momento esportivo na vida da repórter: a Copa do Mundo no Brasil. Monalisa tinha que cobrir a reação das torcidas nas ruas: “No 7 a 1, eu estava em um bar alemão. Foi horrível aquilo. Eu achava que era replay dos gols. Aquela vitória absurda que deixou até alemão triste. Eu entrevistei um deles que disse: ‘Eu queria uma partida normal, não isso, uma performance vergonhosa da Seleção brasileira”.

Mas jornalismo é assim, diz Monalisa. Para ela, o que importa é o valor que os profissionais devem dar ao seu trabalho.

Jornalista que não enxerga como é importante uma questão relacionada a uma pessoa, seja ela quem for, esqueceu uma premissa básica: em primeiro lugar está a história que o nosso semelhante tem para contar.

'Hora 1'

Em dezembro de 2014, Monalisa Perrone aceitou o desafio de se tornar apresentadora do 'Hora Um da Notícia', o primeiro telejornal da grade da Globo, exibido, inicialmente, das 5h às 6h. A partir de 2018, o telejornal passou a entrar no ar às 4h. Monalisa esteve à frente do 'Hora 1', atualizando o público que acorda cedo com as notícias mais importantes do Brasil e do mundo, por quase cinco anos. Em setembro de 2019, a jornalista deixou a Globo. Monalisa estreou na CNN Brasil em 15 de março de 2020, no dia do lançamento da nova emissora, onde ficou até dezembro de 2022.

Estreia do telejornal Hora 1 com apresentação de Monalisa Perrone, 01/12/2014.

Estreia do telejornal Hora 1 com apresentação de Monalisa Perrone, 01/12/2014.

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Monalisa Perrone em 05/08/2014.
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