Por Memória Globo

Cicero Rodrigues/Memória Globo

A trajetória de Meg Cunha como jornalista começou com um estágio na Globo em agosto de 1973. Menos de um mês depois da sua chegada, a então estudante de Comunicação Social da PUC-Rio foi sacudida por notícias históricas. No dia 11 de setembro daquele ano, enquanto separava os antigos telegramas que chegavam das agências internacionais, foi testemunha do impacto do golpe militar no Chile, noticiado sob as restrições da censura. Dali em diante, enfrentou outras provas de fogo e foi contratada, em maio de 1974, como assistente da editoria Internacional. Passou pelo 'Jornal Hoje', 'Jornal Nacional', 'Jornal da Globo' e escritório de Londres. Nessas funções, trabalhou em coberturas importantes, como as guerras do Vietnã, do Camboja e das Malvinas. Em janeiro de 1997, foi transferida para o 'Globo Repórter' como editora. No ano seguinte, tornou-se chefe de redação, função em que ficou até dezembro de 2020, quando deixou a emissora. 

Televisão é troca. Como a vida, é tudo uma troca. [...] Tudo leva tempo, mas tem uma recompensa que é o amadurecimento de tudo, até da notícia.

Meg Cunha em seu segundo depoimento ao Memória Globo, 2018 — Foto: Cicero Rodrigues/Memória Globo

Início da carreira

Margaret Barros de Andrade Cunha nasceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1953. Estudou no Colégio Pedro II e formou-se na faculdade de Comunicação Social da PUC-Rio. Em 1972, ainda estudante, fez estágio na extinta TV Tupi como rádio escuta. No ano seguinte, no dia 15 de agosto de 1973, conseguiu uma vaga de estagiária na Globo, na editoria Internacional do 'Jornal Nacional'. “No dia 11 de setembro, estourou o golpe do Chile. Para mim, foi uma aula, viva mesmo, de como a televisão era ágil”, disse Margaret, mais conhecida como Meg.

Em maio de 1974, foi admitida como editora assistente e, um ano depois, tornou-se editora Internacional do 'Jornal Hoje'. Um dos fatos históricos mais importantes cobertos pela jornalista nesse período foi o fim das guerras do Camboja e do Vietnã, em 1975. “Eu me lembro do começo do fim da guerra do Camboja e do Vietnã. O êxodo dos refugiados cambojanos e vietnamitas procurando sair de lá, aquele drama de todo refugiado de guerra”, lembra.

Em 1976, Meg voltou para a editoria Internacional do 'Jornal Nacional'. Ali viveu, em junho, o impacto do incêndio que destruiu estúdios da Globo no Rio. Meg seguiu com Alice-Maria, então diretora de telejornais da Globo, e o editor Ronan Soares para São Paulo, a fim de transmitirem de lá, no mesmo dia, o 'Jornal Nacional'. O restante da equipe tomou o mesmo rumo, e todos ficaram dois meses na capital paulista, até que fossem concluídas as obras de recuperação dos estúdios.

Meg Cunha na antiga redação do 'Jornal Nacional' — Foto: Acervo/Agência O Globo

No cenário internacional, registrou notícias importantes, como o assassinato de John Lennon, nos EUA, em 1980; a morte do presidente da Iugoslávia, Josip Broz Tito, também em 1980; e o casamento do príncipe Charles com lady Diana, na Inglaterra, em 1981. Além disso, acompanhou a expansão da editoria, com a chegada do serviço de satélite e a criação dos escritórios da Globo em Nova York, Paris, Londres, Buenos Aires. A partir da década de 1980, a emissora começou a receber com mais agilidade as reportagens enviadas por seus correspondentes, o que, segundo a jornalista, facilitou o trabalho de edição.

Meg Cunha trabalhou também em alguns dos programas 'Retrospectiva', às vezes apenas colaborando, outras coordenando, um trabalho de fôlego para selecionar, organizar e reunir os fatos mais significativos do ano. Para ela, a retrospectiva mais marcante foi a de 1994, ano da morte do piloto Ayrton Senna, da vitória do Brasil na Copa dos Estados Unidos, do sucesso do Plano Real e do eclipse total do sol.

Experiência em Londres

A jornalista deixou a Globo pela primeira vez em 1982. Pensava em ter uma experiência no jornalismo impresso, o que acabou não acontecendo. Fez alguns trabalhos como freelancer para a emissora, como a pesquisa para o especial em homenagem ao aniversário de 80 anos do poeta Carlos Drummond de Andrade. O afastamento, entretanto, não durou muito: 11 meses depois, ela estava de volta à Globo. Encontrou o 'Jornal Nacional' com uma equipe maior, mais ágil. Passou três meses trabalhando no escritório da emissora em Londres, na função de coordenadora: selecionando e editando o material a ser enviado direto de Londres ao Brasil.

"A gente fazia um satélite para todos os nossos jornais da casa. Era como se eu fosse uma coordenadora de Internacional. Eu editava e também via o que era importante. [...] Era um piloto para que depois fosse implantado esse trabalho de se fazer o noticiário internacional direto de Londres", explica.

De volta ao Brasil, passou a trabalhar na equipe do 'Globo Repórter', onde ficou até dezembro de 1984. Em janeiro de 1985, editou o primeiro Rock in Rio. Em seguida, fez os resumos dos desfiles de carnaval e trabalhou na cobertura da cerimônia de entrega do Oscar.

Foi ótimo, porque eu estava acostumada a fazer noticiário internacional, nunca tinha feito matéria de comportamento no Rio.

Brasília

Ainda em 1985, foi para Brasília, onde morou durante cinco anos. No Distrito Federal, trabalhou na Radiobrás e na sucursal do Jornal do Brasil. Mas logo voltou para a Globo: "eu saía com o repórter para fazer matérias para o 'Jornal Nacional'". Foi ainda editora da segunda edição do 'DFTV' e assinou uma coluna sobre rock, exibida aos sábados, na primeira edição do telejornal. Reintegrada à equipe do 'Jornal Nacional', passou a trabalhar na cobertura de política. Nessa fase, ainda na Capital Federal, cobriu a posse do presidente Fernando Collor.

Voltou para o Rio de Janeiro em 1991 para trabalhar na redação do 'Jornal da Globo'. Em seguida, no mesmo ano, passou pelo 'Jornal Hoje', como editora executiva. Em dezembro de 1992, mudou-se para Araxá (MG), onde trabalhou em afiliada da Globo, fazendo o 'Bom Dia' local. Em julho de 1994, retornou ao Rio e trabalhou na primeira edição do 'RJTV', depois na editoria Rio do 'Jornal Hoje'.

Em 1995, dedicou-se aos projetos 'Contagem Regressiva' e 'Cem Anos Luz'. Voltou a trabalhar na redação do 'Jornal Nacional', agora na editoria de Economia.

Globo Repórter

Em janeiro de 1997, Meg foi transferida para o 'Globo Repórter' como chefe de reportagem. O primeiro trabalho foi um especial sobre um ano da morte dos Mamonas Assassinas: "Em vez de ser um 'Globo Repórter' de sexta foi um programa especial num domingo. E deu uma superaudiência, foi ótimo fazer".

No ano seguinte, assumiu o cargo de chefe de redação do programa no Rio. Entre as edições marcantes dessa fase, Meg destaca 'Caminhos Sagrados' (1999). “A pauta era a fuga da família sagrada de Herodes, de Israel para o Egito. A gente refez o caminho da família [...] e foi muito lindo. [...] O que hoje existem são fragmentos daquele tempo. [...] Então, nós fizemos dois programas: um sobre a fuga da família e outro sobre o Egito, a história, as pirâmides, o Museu do Cairo, que é luxuosíssimo, cheio de riqueza.”

Globo Repórter: Caminhos Sagrados (1999)

Globo Repórter: Caminhos Sagrados (1999)

Meg Cunha destaca a série 'Nos Céus do Brasil' (2011) para falar da importância da tecnologia na história do programa. A jornalista lembra que todos os tipos de câmeras foram utilizadas nas gravações, que mostra os biomas do país. “A gente tinha todo tipo de câmera, com gruas enormes de mais de 30 metros. Sérgio Chapelin apresentou o programa dentro de um balão. A gente mostrou a caatinga, mata atlântica e os pampas, fizemos três ambientes brasileiros. A gente tem lentes que alcança os bichos de longe [...] e agora os drones. [...] A gente só tem a ganhar com a tecnologia”.

Globo Repórter: Nos Céus do Brasil (2011)

Globo Repórter: Nos Céus do Brasil (2011)

O 'Globo Repórter' vai pra lugares exóticos, fala de assuntos que, às vezes, estão entre quatro paredes e também tem a possibilidade de mostrar atualidade.

Além de viagens e aventuras na natureza, o 'Globo Repórter' também foca na saúde: “Traz informação para você se prevenir, se preparar para uma vida melhor, ou de lazer ou do dia a dia. [...] Quando o programa fala de doença, mostra mais a cura, o tratamento, a prevenção.[...] Você olha com otimismo, com esperança. [...] Acho que temos obrigação de sermos otimistas”.

Enquanto Meg estava na função de chefe de redação do programa, o 'Globo Repórter' recebeu duas indicações ao Emmy: 'Tribo Enawenê - Nawê' (2013) e 'Arte como Passaporte' (2017). Sobre o programa de 2013, ela conta: "É uma tribo que a gente não conhecia, o Brasil não conhecia, uma tribo que leva a espiritualidade à última consequência, a ponto de eles enterrarem os mortos dentro das próprias casas, das casinhas deles. [...] Então, foi uma coisa meio mágica. Nós não participamos da captação, e sim da edição. A produção desse programa foi do Projeto Amazônia". Já sobre 'Arte como Passaporte', ela destaca: "A arte é pra todos. Se você tem dom, você pode ter esse dom estimulado. Isso é muito legal".

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a abordagem dos temas saúde e qualidade de vida no programa 'Globo Repórter', com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a abordagem dos temas saúde e qualidade de vida no programa 'Globo Repórter', com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

A gente tem a preocupação do mergulho, de aceitar o desafio de fazer a pauta de forma diferente. Mas a gente também tem agilidade pra fazer uma coisa quente no caso de uma atualidade.

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Após 47 anos de carreira na Globo, a jornalista deixou a emissora no final de 2020. Sua paixão pela televisão e pela informação sempre foi a locomotiva de seu trabalho.

“A gente tem o poder de transformar informando. O 'Globo Repórter', pra mim, é quase uma ferramenta para isso. Como jornalista, me sentia assim fazendo 'Jornal Nacional', 'Jornal Hoje', ou qualquer jornal onde eu trabalhei. Eu vejo no 'Globo Repórter' uma ferramenta que vai me ajudar a informar e até quem sabe transformar. Esse é o barato de ser humano, é você se transformar."

FONTES:

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Margaret Cunha em 10/11/2003 e 23/01/2018.
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