Por Memória Globo

Renato Velasco | Arte/Memória Globo

Questionada sobre o que define a sua atuação como atriz, Mariana Ximenes responde: a intuição.
Mas seria possível acrescentar também intensidade. É movida por essas características que ela se lança em papéis tão diferentes como Ana Francisca, de 'Chocolate com Pimenta' (2003), Bel, de 'Cobras & Lagartos' (2006), Clara, de 'Passione' (2010), ou Tancinha, de 'Haja Coração' (2016). Sua primeira atuação na Globo foi uma participação no programa 'Você Decide', em 1998, e logo no ano seguinte faria sua primeira novela na emissora: 'Andando nas Nuvens' (1999). Daí por diante, mostraria seu talento em diversas novelas, mas também no cinema, procurando se reinventar a cada novo personagem. 

Os livros que li, as exposições em que fui, as peças de teatro, os filmes, as séries às quais assisti, as músicas que ouvi, as pessoas com quem convivi; pra mim tudo é material, tudo é inspiração e referência.

Mariana Ximenes no Altas Horas, 2011. — Foto: Zé Paulo Cardeal/Globo.

Início da carreira

Mariana Ximenes do Prado Nuzzi, nasceu em São Paulo, em 26 de abril de 1981. O desejo de ser atriz surgiu cedo. Ela se lembra que, ainda no Ensino Fundamental, ao ter como atividade a encenação de Cinderella nas aulas de teatro da escola, foi a única criança a prontamente escolher a versão borralheira da personagem, suja e maltrapilha. As outras meninas queriam ser a linda princesa do final da peça. O motivo? Mais tempo em cena. Filha de um procurador, José Nuzzi Neto, e uma fonoaudióloga, Fátima Ximenes do Prado, a inclinação precoce e espontânea em uma família sem histórico de artistas – seu irmão, Rafael, se tornaria médico – é um bom indicativo da força de sua vocação.

Na adolescência, Mariana começou a levar o desejo a sério e foi estudar no Teatro Escola Célia Helena. Era comum que pessoas do métier assistissem aos ensaios e práticas para procurar novos talentos, o que lhe rendeu alguns testes e trabalhos em campanhas publicitárias. Foi assim que conseguiu seu primeiro papel na Globo. O diretor Herval Rossano assistia a uma apresentação de um curso que a jovem fazia com o ator Renato Borghi e a convidou para uma participação no programa 'Você Decide'. Embora considere o teatro a base fundamental do ator, seria nas telas que Mariana encontraria espaço de destaque.

Estreia intensa

No mesmo ano em que estreou na televisão, 1998, fez também seu primeiro papel no cinema. O filme 'Caminho dos Sonhos', do diretor Lucas Amberg, baseado em um conto de Moacyr Scliar, tinha elenco internacional e era gravado em português e inglês. No mesmo ano, faria ainda sua primeira novela – 'Fascinação', de Walcyr Carrasco, no SBT – e uma participação no piloto que daria origem ao seriado 'Sandy & Junior'. O programa foi filmado em Campinas e exibido como especial de fim de ano. “Eu estava estudando ainda. Estava no terceiro colegial, e minha mãe não me deixava muito faltar aula. Então, toda vez que acabava a aula, eu pegava um carro e ia pra Campinas. Foi um período bem tumultuado da vida, mas foi muito interessante e produtivo. Bom, o resultado foi tão legal que realmente aconteceu a série”, recorda.

Esse início de carreira acelerado pavimentaria o caminho de uma trajetória intensa, marcada por encontros fortuitos e auspiciosos. É o caso de Walcyr Carrasco, com quem fez sua primeira novela e quem lhe daria o primeiro papel de protagonista – em 'Chocolate com Pimenta' (2003) – e também da diretora Amora Mautner, que estava conduzindo a primeira rodada de testes para seleção do elenco da novela 'Andando nas Nuvens' (1999), sua primeira na Globo. A atriz não esquece as palavras da diretora: “Ela falou: ‘Olha, eu posso estar errada, mas penso que é você’”. De fato, a atriz conseguiria o papel: seria a Celi, filha Otávio (Marco Nanini) e Eva (Renata Sorrah). Contracenar com esses atores foi uma experiência fundamental para sua formação: “Eu entrei na Globo acolhida por atores maravilhosos, generosos, foi um deleite! A observação em cena, o convívio me permitiu – e ainda permite – ter lindos ensinamentos, tanto na vida profissional quanto na pessoal”.

Andando nas Nuvens: cena em que a Madre (Joyce de Oliveira) questiona a vocação de Celi (Mariana Ximenes) para ser freira.

Andando nas Nuvens: cena em que a Madre (Joyce de Oliveira) questiona a vocação de Celi (Mariana Ximenes) para ser freira.

Depois de uma breve participação em 'Força de um Desejo' (2000), de Gilberto Braga, Mariana foi convidada pelo diretor Wolf Maya para fazer a Bionda, de 'Uga Uga' (2000), que lhe rendeu o Troféu Melhores do Ano, do Domingão do Faustão. A atriz estava em cartaz com a peça 'A Rosa Tatuada', de Tennessee Williams, e teve de se desdobrar para conta do recado de fazer os dois papéis ao mesmo tempo: “Foi um período tumultuado, mas excelente e de muito aprendizado, porque fazer uma novela com uma peça… Eu estava fazendo duas coisas muito díspares, mas isso também me ajudou a entender os dois processos criativos e trabalhar com essa dualidade”.

Em 2001, Mariana teve a chance de participar do último trabalho do diretor Walter Avancini na televisão. A 'Padroeira' tinha como pano de fundo o culto por Nossa Senhora Aparecida no interior do Brasil, e a atriz interpretava a jovem inocente Izabel de Avelar, filha da beata Imaculada (Elizabeth Savala). Ainda no início da novela, Avancini teve de ser afastado por problemas de saúde e acabou morrendo, deixando a direção a cargo de Roberto Talma.

'Chocolate com Pimenta', a primeira protagonista

A primeira protagonista veio em 'Chocolate com Pimenta' (2003), de Walcyr Carrasco. A história de Ana Francisca, a menina ingênua que volta para se vingar das humilhações que passou, conquistou gerações – a novela, que já havia sido exibida no 'Vale a Pena Ver de Novo' em duas ocasiões (2006 e 2012), retornou à faixa vespertina em 2022 para sua terceira reprise. “Foi um personagem muito especial, muito importante na minha carreira. Um divisor de águas mesmo”.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc da novela 'Chocolate com Pimenta'

Webdoc da novela 'Chocolate com Pimenta'

Grandes personagens

Após interpretar a problemática Raissa, em 'América' (2005), uma menina rica que mergulha no mundo do funk, voltou a ser protagonista na novela 'Cobras e Lagartos' (2006), com Bel. Mariana vai do universo das favelas cariocas ao delicado mundo de uma violoncelista e perfumista com a mesma responsabilidade e cuidado: “Sou uma pessoa que vai investigar. Faço experiência, vou no local. Faço um mergulho profundo”. A intensidade que marca o ritmo de sua vida, pauta também a dedicação que tem ao trabalho: “Eu sou atriz, porque amo e respeito muito o meu ofício. Não vou fazer pela metade”.

'Cobras & Lagartos': Bel (Mariana Ximenes), noiva de Estevão (Henri Castelli), teme seus sentimentos por Duda

'Cobras & Lagartos': Bel (Mariana Ximenes), noiva de Estevão (Henri Castelli), teme seus sentimentos por Duda

Depois de 'Cobras e Lagartos' – e de emendar um trabalho atrás do outro – Mariana deu um tempo dos grandes personagens. “Fazer novela é algo muito legal, mas é avassalador. É um processo diário, que demanda muita energia. Você tem que se recuperar depois pra poder você voltar com tudo, com toda a sua potência para um outro trabalho”. Fez uma breve participação em 'Paraíso Tropical' (2007) e novamente mergulhou fundo em Lara de 'A Favorita' (2008). Criada por Donatela (Claudia Raia), a menina é filha biológica de Flora (Patrícia Pillar) e está no centro da disputa entre as duas protagonistas. A trama foi um sucesso, e Lara, um dos personagens mais marcantes da carreira da atriz. “Era uma personagem muito densa e complexa, gostosa. Ao mesmo tempo, profunda e dolorida”, destaca.

'Passione' (2010), escrita por Silvio de Abreu, foi a estreia de Mariana Ximenes como vilã. No papel de Clara, era cúmplice do personagem de Reynaldo Gianecchini, Fred, e contracenava com grandes atores como Fernanda Montenegro, Tony Ramos, Irene Ravache e Aracy Balabanian. Sua atuação foi reconhecida com o Troféu Imprensa.

A vilã Clara, personagem com traços de psicopatia, representou, para Mariana, um desafio psicológico, que exigiu bastante preparação:

A gente não faz um personagem sozinho. O ator trabalha com toda a criação individual dele, que é a partir do texto, mas também com os colegas de cena. As relações com esses colegas são absolutamente fundamentais. É um jogo. É um jogo com câmera, com parceiros de cena, com diretor… O tempo inteiro a gente troca, e a Clara foi a constatação dessa troca constante.

No ano seguinte, a atriz teria a oportunidade de viver um desafio de outro tipo em 'Joia Rara', novela ganhadora do Emmy. Como a vedete francesa Aurora, precisou aprender a cantar – em inglês e em francês. “Foi muito interessante o trabalho, pela liberdade que tive de poder criar junto com outros setores. Foi um encantamento sentar com as diretoras, as autoras, o diretor de arte, a figurinista, o produtor musical, e botar a criatividade para voar. Foram trocas lindas! Quando isso acontece, é uma dádiva”, ressalta.

Como em outras ocasiões, a experiência em 'Passione' lhe rendeu novas e importantes parcerias. O encontro com Gianecchini se desenvolveu para além da trama e das telas. Os dois atores se tornaram grandes amigos e viveram um par romântico como Nando e Juliana no remake de 'Guerra dos Sexos' (2012), do mesmo autor, Silvio de Abreu. Quatro anos depois, viveria a Tancinha, em 'Haja Coração', trama inspirada em outra novela do autor, 'Sassaricando', de 1987.

Mariana Ximenes em Nos 'Tempos do Imperador', 2021 — Foto: Fabio Rocha/Globo

Em 2021, Mariana viveu mais uma protagonista: Luísa Margarida de Barros, a condessa de Barral, em 'Nos Tempos do Imperador'. A trama, assinada por Thereza Falcão e Alessandro Marson, narrava o período imperial durante os anos em que Dom Pedro II (Selton Mello), governou o Brasil. Dois anos depois, em 'Amor Perfeito', de Duca Rachid e Julio Fischer, interpretou a vilã Gilda, que rivaliza com a enteada Marê (Camila Queiroz) e arma um plano para incriminar a mocinha pela morte do pai.

Mariana Ximenes e Thiago Lacerda em 'Amor Perfeito', 2023 — Foto: Paulo Belote/Globo

Minisséries

“Tem uma coisa que eu gosto muito, que é processo, ensaio, mergulho, e às vezes a gente tem pouca chance disso na televisão” – conta a atriz ao diferenciar o trabalho de uma novela ao de uma minissérie. Em 2003, Mariana pode experimentar esse mergulho em 'A Casa das Sete Mulheres', no papel de Rosário: “A gente fez curso de tricô, tinha crochê, tinha cavalo. Depois, a gente foi filmar dois meses no Sul, o que também proporciona união entre a equipe e os atores. Foi um processo muito bonito, de mais ou menos dois meses de ensaio, e depois de viagem. E era um personagem muito delicado, muito profundo, era uma menina de uma família que se apaixonava por um soldado inimigo”. A atriz atuaria em outras duas minisséries: 'JK' (2006), em que fez Lilian Gonçalves, personagem real que chegou a conhecer pessoalmente; e 'Se Eu Fechar os Olhos Agora' (2019), como Adalgisa.

'A Casa das Sete Mulheres': cena em Ana Joaquina (Bete Mendes), Maria (Nívea Maria), Manuela (Camila Morgado), Rosário (Mariana Ximenes), Mariana (Samara Felippo), Caetana (Eliane Giardini) e Perpétua (Daniela Escobar) aparecem em frente à estância.

'A Casa das Sete Mulheres': cena em Ana Joaquina (Bete Mendes), Maria (Nívea Maria), Manuela (Camila Morgado), Rosário (Mariana Ximenes), Mariana (Samara Felippo), Caetana (Eliane Giardini) e Perpétua (Daniela Escobar) aparecem em frente à estância.

Tudo junto ao mesmo tempo

Com a novela 'Haja Coração' e o seriado 'Supermax', em 2016, Mariana Ximenes esteve, mais uma vez, vivendo dois personagens ao mesmo tempo. O costume revela a enorme energia e talento da atriz, mas também o sucesso que rapidamente conquistou.

Carreira no cinema

Em meio a tantas personagens na televisão, Mariana Ximenes atuou em mais de 25 filmes. Não raro, estreou mais de um filme por ano, como em 2013, com 'O Uivo da Gaita' e 'O Rio nos Pertence', ou em 2015, quando esteve em 'Prova de Coragem', 'Zoom' e 'Um Homem Só' – atuação reconhecida pelo prêmio Kikito. Entre títulos como 'Dias de Nietzsche em Turim' (2001), 'A Máquina' (2005) – pelo qual ganhou o prêmio de melhor atriz da revista Contigo –, 'Muito Gelo e Dois dedos D’Água' (2006), 'A Mulher do Meu Amigo' (2008), 'Quincas Berro D’Água' (2010) e 'O Grande Místico' (2018), ela destaca 'O Invasor' (2001), dirigido por Beto Brant. Adaptado de um conto homônimo de Marçal Aquino, o filme mostra o submundo de São Paulo e foi altamente elogiado pela crítica. “Foi muito importante ao longo da minha carreira. Uma experiência muito forte”, recorda. Por este filme, ela foi premiada pela Academia Brasileira de Cinema.

Mariana também participou dos seriados 'Os Normais' (2002), 'A Grande Família (2003)', 'As Brasileiras' (2012), além de 'Ilha de Ferro' (2019), exclusivo para o Globoplay. A atriz ainda se aventurou na produção de uma peça: 'Os Altruístas' (2011).

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Mariana Ximenes em 24/04/2017.
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