Por Memória Globo

Bob Paulino/Memória Globo

Marcio Canuto é um jornalista de perfil inconfundível. Com uma trajetória de mais de 40 anos na televisão, criou um estilo de reportagem expansivo e popular de grande identificação com os telespectadores. Apaixonado por futebol, o alagoano Luiz Marcio Accioly Canuto ainda adolescente começou a fazer coberturas esportivas. Em sua cidade natal, trabalhou em jornais impressos e no rádio até chegar à TV Gazeta, afiliada da Globo no local. Em 23 anos, foi de repórter esportivo a diretor de jornalismo. Mas foi seu tom particular em frente às câmeras que lhe rendeu convite para integrar a equipe da Globo em São Paulo. Em 1998, passou a integrar a equipe do SPTV, com o desafio de mostrar a situação de regiões pouco assistidas pelo poder público e se tornar a voz do jornalismo comunitário na cidade. Em 2019, aos 73 anos, o jornalista decidiu se aposentar, mas deixou um importante legado: chegou a receber o título de cidadão paulistano da Câmara de Vereadores de São Paulo.

A televisão foi minha libertação. O jornal é aquela coisa mais contida, no rádio eu tinha de enfrentar as vozes bonitas, tinha que me empenhar muito. Na televisão, não, na televisão, fui eu mesmo: o telespectador sabe que ali estava um cara grandão, bigodudo, careca, rouco”

Marcio Canuto, 2019 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Início da carreira

Filho da professora Eunice Accioly Canuto e do dentista Luiz da França Canuto, Luiz Marcio Accioly Canuto nasceu em 9 de abril de 1946, em Maceió, Alagoas. Do pai, que chegou a jogar no Santa Cruz e na seleção pernambucana, herdou a paixão pelo futebol. Como a escola em que estudava no ensino médio ficava em frente à sede da Federação Alagoana de Futebol, Marcio entrava todos os dias na entidade para saber as novidades dos times locais. A secretária da federação, ao ver sua devoção, conseguiu uma credencial de imprensa para que ele, aos 16 anos, assistisse a um jogo de times juvenis. Abria-se um novo campo para o jovem.

Ainda adolescente começou a fazer coberturas esportivas. Primeiro, em um jornal da arquidiocese, depois, no Diário de Alagoas e, em seguida, no Jornal de Hoje. O jovem repórter chegou a editor antes dos 20 anos, com uma característica muito peculiar e que seria sua marca profissional: o bom humor e a capacidade de encontrar nas notícias aspectos mais interessantes e inusitados.

Em pouco tempo, o jornalista acumulou o trabalho na imprensa escrita com a atividade de radialista. “Naquela época, o rádio era só de gente de voz bonita, e eu tenho essa voz rouca que Deus me deu, completamente diferente. Para enfrentar isso, criei um estilo de acordo até com meu próprio temperamento, essa coisa mais atiçada”, brinca. Embora tenha completado o curso de Administração, foi no jornalismo que Marcio Canuto descobriu sua vocação.

Início na TV

Logo, Marcio Canuto foi contratado pela Gazeta de Alagoas. No jornal mais importante do estado, ficou 12 anos e chegou ao cargo de editor-chefe. Ao mesmo tempo, crescia também na Rádio Difusora e alcançava o cargo de diretor de Esportes. O destaque em dois veículos diferentes o levou, em 1975, à TV Gazeta, afiliada da Rede Globo em Alagoas. Na televisão, encontrou seu espaço profissional preferido. Passou 23 anos na TV Gazeta, onde chegou a diretor de Jornalismo, e outros 23 na TV Globo de São Paulo.

Em sua primeira matéria na rua, em 1981, a pedido da Globo do Rio de Janeiro, Marcio Canuto já impôs seu estilo: ao falar da reinauguração do estádio Rei Pelé, brincou, com sua impostação de voz característica, que a seleção brasileira jogaria com todo gás, graças ao sistema de oxigênio do recém-construído equipamento. A reportagem fechou o 'Globo Esporte' e, para sua surpresa – calouro que era na televisão –, foi reproduzida na íntegra no 'Jornal Nacional'.

Seus bordões e tiradas, a partir daí, foram sendo conhecidos e repetidos pelo público. Ao cobrir a Fórmula 1, aproveitou a passagem de Ayrton Senna por uma longa reta para dizer: “E para vocês todos, uma boooooa tarde”. A brincadeira simples pegou e era repetida por alunos, quando Marcio Canuto passava em frente a escolas. No último ano de corridas da categoria no autódromo de Jacarepaguá, em 1989, fritou um ovo no asfalto para mostrar o calor que fazia – e comeu o ovo com pão!

Uma outra qualidade do repórter é sua capacidade de encontrar personagens capazes de despertar a simpatia dos telespectadores. Um exemplo disso é a fama que atingiu o jogador de futebol Jacozinho. Canuto percebeu seu jeito peculiar e passou a entrevistá-lo com frequência. Jacozinho fez tanto sucesso que participou de uma partida em comemoração à volta de Zico ao futebol brasileiro, em 1985. A relação do jornalista com o jogador foi tão próxima que, 20 anos depois, o 'Globo Esporte' promoveu um reencontro entre eles, no Maracanã, que causou emoção – no público e neles também.

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São Paulo

Em 1998, a convite de Evandro Carlos de Andrade, então diretor de Jornalismo e Esportes da Globo, Marcio Canuto aceitou um novo desafio e se mudou com a família para São Paulo, com o objetivo de se tornar uma voz em defesa da população, o “fiscal do povo”. Naquele momento, a emissora apostava no jornalismo comunitário, próximo das demandas de regiões pouco assistidas pelo poder público, e viu no repórter um profissional capaz de representar esse movimento. Ganhou a partir de 2005, no 'SPTV', o quadro SPTV Comunidade, ao qual deu o tom: “A mudança de linguagem começa não só nisso, mas também na câmera no ombro, acompanhando a ação do repórter, acompanhando o povo”, explica.

Nos 21 anos em que atuou na Globo de São Paulo, Canuto dormiu na fila com o público para mostrar as falhas no atendimento por parte do poder municipal; cobrou o fechamento de buracos na cidade, inclusive de um que completava dez anos, na Zona Leste; foi até a Espanha para obter respostas da empresa que assumiu a telefonia em São Paulo e não resolvia os problemas dos usuários; conseguiu que um viaduto fosse construído entre Jaraguá e Pirituba, uma antiga reivindicação dos moradores; e percorreu oito mil quilômetros de van, visitando mais de 40 regiões. O SPTV Comunidade contribuiu, em seis anos, para uma melhoria efetiva na qualidade de vida das pessoas da região.

Coberturas especiais

Marcio Canuto participou também de uma série de coberturas especiais. No desfile das escolas de samba paulistas durante o Carnaval, interagia com foliões das arquibancadas. Em um dos anos de passarela, trocou de fantasia em cada entrada de escola na avenida, para explicar os enredos em apenas dois minutos, de forma didática e divertida. Integrou equipes de cobertura de Copas do Mundo, acompanhando as festas realizadas durante o evento no Brasil – embora tenha ido também à sede do torneio, na Copa da França, em 1998. No gramado que fica no entorno da Torre Eiffel, conseguiu convencer os policiais franceses a permitirem uma “pelada” entre turistas paulistas. E fez um churrasco de frango às margens do rio Sena. Ideias como essas já tinham sido testadas antes, com sucesso. Ainda na TV Gazeta, Canuto aproveitou a Olimpíada de Barcelona, em 1992, para promover competições como arremesso de long-plays, em vez dos discos esportivos, na Barcelona brasileira, um município que fica no interior do Rio Grande do Norte.

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O jornalismo comunitário produzido pelo repórter e sua maneira muito especial e próxima de abordar os assuntos rendeu a Marcio Canuto algumas homenagens. Em 2012, uma avenida foi inaugurada em Maceió com seu nome, e ele recebeu, da Câmara de Vereadores de São Paulo, o título de cidadão paulistano. Além disso, em Alagoas, ganhou ainda a Comenda Mário Guimarães e a medalha Marechal Deodoro da Fonseca.

Em 2019, aos 73 anos, o jornalista decidiu se aposentar. Seus planos: aproveitar a vida cultural de São Paulo e voltar à sua cidade natal para ficar ao lado da grande família de nove irmãos.

FONTES:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Marcio Canuto, em 31/07/2019; “Márcio Canuto explica motivo de saída da Globo e aposentadoria” in Estado de S. Paulo, 14/10/2019.
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