Dono de um olhar atento e criativo, Luiz Gonzaga Quilião Junior nasceu no dia 13 de setembro de 1957, em Porto Alegre, e começou a trabalhar na RBS da capital, então TV Gaúcha, em 1977, como contínuo. “Não só colocava o papel no mimeógrafo, também botava as fitas nas máquinas de escrever e fazia radioescuta”, conta. Em seguida, ele, que gostava de desenhar e tentou uma vaga no departamento de arte, passou a ser auxiliar de cinegrafista e descobriu sua paixão pela “arte de filmar”.
No início de 1979, o filho do militar, Luiz Gonzaga Quilião, e da funcionária da companhia de aviação KLM, Terezinha de Jesus Damásio Quilião, tornou-se repórter cinematográfico. Nesse mesmo ano, ele cobriu a volta de Leonel Brizola (07/09/1979) e de Luís Carlos Prestes (20/10/1979) ao Brasil pela RBS, após a Anistia. O repórter Roberto Kovalick fez a cobertura de Brizola ao lado de Luiz Quilião: “Contamos a história dele desde engraxate, como ele se comportou em Carazinho, o que ele fazia, como ele veio na trajetória”.
Nos anos 1980, o cinegrafista ganhou seu primeiro prêmio da Associação Rio-grandense de Imprensa, a ARI, com a matéria sobre o Rio Gravataí realizada ao lado da repórter Ananda Apple para o RBS Documento.
Em 1983, ano de estreia do 'SPTV', Luiz Quilião começou a trabalhar na Globo São Paulo e ficou cerca de um ano na cidade. Nessa época, ao lado de Fábio Pannunzio, ele registou o acidente entre dois trens em Itaquera.
“Fomos a primeira equipe a chegar à estação. A gente retratou as piores imagens possíveis. A imagem ficou na minha cabeça muito tempo.”
Depois de atuar em São Paulo, Luiz Quilião voltou para o Sul e, em seguida, foi para o Pará trabalhar com Paulo Martimbianco, que cuidava do RBS Documento. Antes de ir para Brasília, ele cobriu a doença e da morte de Tancredo Neves, em 1985, em São Paulo. Nos anos 1990, ao lado de Renato Machado, o cinegrafista fez a cobertura do governo Collor.
Em seguida, o porto-alegrense passou a trabalhar na TV Amazonas. Lá, ele fez parte da primeira equipe de televisão brasileira a subir o Monte Roraima e também participou da cobertura do conflito militar entre o Peru e o Equador. “Os dois países que disputavam a saída para o Atlântico, e eu e o (Marcos) Losekann fomos destacados pra ir pra lá (região da Serra do Condor dos Andes), porque era mais perto”, recorda.
Em 1996, Luiz Quilião passou a trabalhar na TV Globo Rio. Nesse período, ele participou de grandes coberturas e matérias especiais como o desabamento do edifício Palace II (1998), e a cidade de Mejido, local onde seria o Armagedon, segundo a Bíblia, em Israel, para o 'Fantástico' (1999). Entre 2000 a 2002, o cinegrafista voltou para a TV Globo São Paulo e participou de coberturas como o naufrágio da plataforma P-36, em 15/03/2001, ao lado de Edimilson Ávila e do assistente Marco Antônio Losch.
De 2002 a 2006, o porto-alegrense retornou para seu segundo momento na TV Globo Rio. Ao lado da jornalista Lilia Teles, o cinegrafista fez uma das coberturas mais complicadas de sua carreira: a tragédia causada pelas chuvas na região serrana do Rio em dezembro de 2001, especialmente em Petrópolis. “Deixaram a gente de helicóptero lá. Só que o tempo fechou de uma forma que a gente não conseguiu voltar e ficou com a roupa do corpo durante uma semana. Foi uma operação de guerra”, lembra.
Luiz Quilião também participou de algumas séries. Em outubro de 2003, ele e Marcelo Canellas fizeram 'Outros Tempos' para o 'Bom Dia Brasil'. “A gente quis fazer retratar o interiorano, as pessoas do meio rural, das cidadezinhas, das comunidades que vivem em outro tempo”. Também para o 'Bom Dia', fez a série 'Vaqueiros e Peões'.
Ainda em 2006, o cinegrafista voltou para Brasília. Lá, participou da série 'Terra do Meio, Brasil invisível', em 2007, para o 'Bom Dia Brasil' junto com Marcelo Canellas. Com esta série, ele ganhou oito prêmios, incluindo o Prêmio Fórum 2007, da Fundación Nuevo Periodismo, presidida por Gabriel García Márquez; o Prêmio Every Human Has Rights Media Awards, promovido pela Internews Europa; o Prêmio Embratel de Jornalismo; o Prêmio CNT de Jornalismo, entre outros.
Primeira das cinco reportagens de Marcelo Canellas e Luiz Quilião, com o título "Os Beiradeiros", mostra a vida de famílias na beira dos rios da Amazônia, 'Bom Dia Brasil', 03/12/2007.
Ao lado de Vinicius Donola fez a série 'Amazônia e o Mercúrio' para o 'Fantástico', em 2008. Nesse mesmo ano, fez 'Fronteiras da Amazônia' com Cristina Serra para o 'Jornal Nacional'. Em 2009, descobriu a história da tropa do Zé Merenda, exibida no 'Fantástico'. No ano seguinte, participou da eleição da presidente Dilma Rousseff e fez a série 'Doença do Silêncio' com Marcelo Canellas para o 'Bom dia Brasil'.
Reportagem de Marcelo Canellas e Luiz Quilião sobre os numerosos casos de Malária em comunidade rural no Amazonas como exemplo de negligência do sistema de saúde brasileiro, 'Bom Dia Brasil', 10/11/2010.
Junto com a produtora Daniela Moura, trabalhou embarcado por dias na plataforma brasileira P-18 para retratar a vida dos trabalhadores anônimos em uma plataforma em mar aberto. O material foi exibido no 'Fantástico', em 2011. No ano seguinte, ao lado de Marcelo Canellas, visitou vários presídios do país e fez uma matéria sobre menores infratores para o 'Fantástico'.
O cinegrafista também acompanhou o Movimento Passe Livre, em 2013. No ano seguinte, participou da série 'Padres Brasileiros se Dedicam ao Ritual do Exorcismo' feita novamente com Marcelo Canellas para o 'Fantástico'.
Luiz Quilião faleceu no dia 30 de março de 2015, vítima de uma parada cardíaca, em Brasília.
FONTE:
Depoimento de Luiz Quilião ao Memória Globo em 26/11/2014 |