Por Memória Globo

Memoria Globo

Ele foi o responsável por botar Ronaldo Fenômeno na bancada do Jornal Nacional em maio de 2002, ano de Copa do Mundo. Também foi o criador da expressão “Show do Intervalo”, que entrou para a linguagem esportiva ao anunciar os melhores momentos do primeiro tempo de uma partida de futebol. O editor e produtor João Ramalho completou 40 anos de Globo em 2019. Uma verdadeira “prata da casa”. Um profissional com passagens por várias funções e telejornais da emissora e que se tornou indispensável na cobertura dos eventos esportivos internacionais em que a Globo esteve presente.

Você tem que ter poder de síntese na televisão. Como é que vai contar isso em um minuto? O jornal tem uma página inteira! As pessoas, muitas vezes, não se adaptavam ao veículo, não funcionavam na TV. Eu fui criado na televisão.

O editor e produtor João Ramalho é um profissional com passagens por várias funções e telejornais da emissora e que se tornou indispensável na cobertura dos eventos esportivos internacionais em que a Globo esteve presente. Ele foi o responsável por botar Ronaldo Fenômeno na bancada do Jornal Nacional em maio de 2002, ano de Copa do Mundo. O jogador foi o primeiro entrevistado a dividir espaço com os apresentadores do JN. Um momento histórico. Também foi o criador da expressão “Show do Intervalo”, que entrou para a linguagem esportiva ao anunciar os melhores momentos do primeiro tempo de uma partida de futebol.

O pai de João Estevão Ramalho Neto era comerciante e a mãe, técnica de laboratório. Fez o jardim de infância no Instituto de Educação, no Rio de Janeiro. Concluiu o ginásio e o científico no Colégio Pedro ll. Formou-se em Comunicação Social na Faculdade Estácio de Sá em 1983. Trabalhava há 5 anos na Globo nessa época. Ramalho entrou para a emissora em fevereiro de 1979. Estava com 18 anos. “Trabalhava no laboratório de revelação de filmes. Antigamente, as câmeras eram todas em filme. Era um lugar escuro, onde não se via nada. Tudo era feito manualmente”.

O primeiro trabalho marcante foi em 1982 no departamento de Arte da emissora. Ramalho foi um dos responsáveis pelas assinaturas que apareciam na hora dos gols brasileiros na Copa da Espanha. “Um trabalho difícil e artesanal, mas que até hoje é lembrado”. Aos 22 anos, foi aprender edição de imagem nas antigas máquinas BVU 200. Logo, estava editando o noticiário internacional do Jornal Nacional. Em 1987, já formado, começou estágio para editor de texto. “Eu acumulava as duas funções, em telejornais diferentes”.

Depois da primeira cobertura internacional na Olimpíada de Seul em 1988, João Ramalho virou editor de texto. “Como editor de imagem, eu tinha domínio dos equipamentos, da linguagem. Isso fez a diferença na transição para a edição de texto. Tinha muita gente vindo de jornal impresso na redação. Na televisão, você tem que ter um poder de síntese maior”.

João Ramalho já fazia matérias para o Globo Esporte nessa época. Ele destaca uma sobre o Botafogo que mostrava a decadência e o abandono do clube que estava há 20 anos sem título. “O Globo Esporte sempre foi meio de vanguarda. Procurava inovar com produções além do factual. Sempre teve uma bossa, uma sacação”.

As restrições econômicas impostas pelo Plano Collor reduziram o número de profissionais da Globo na cobertura da Copa de 1990. Dos 90 previstos, somente 30 viajaram. “A Copa da Itália, por incrível que pareça, foi a mais gratificante. Nós acabamos virando uma mini família. Todo mundo se ajudando. Eu trabalhava demais, de 15 a 16 horas por dia”.

Como editor chefe do GE entre 1992 a 1996, o jornalista comenta as inúmeras coberturas internacionais que renderam histórias e desafios. “Na Olimpíada de 1992 a cerimônia de abertura era muito próxima do horário do Jornal Nacional, então, não dava para gravar. Eu tive que resumir cento e tantos países num texto de 3 minutos para ser lido ao vivo. Foi desesperador”.

Nos Estados Unidos, na Copa de 1994, surgiu uma expressão que viraria uma marca nas transmissões esportivas da emissora, graças ao bom humor de João Ramalho. ” O diretor de Eventos pedia tantos VTs para colocar no intervalo dos jogos num espaço de 3 minutos, que um dia eu brinquei: você quer um show do intervalo? E a expressão virou um bordão do Galvão Bueno e dos outros narradores da casa.”

De 1996 a 2009, João Ramalho foi chefe do CPE , Centro de Produção do Esporte. Comandava repórteres, cinegrafistas, jornais de rede, editores, chefes de reportagem e produtores. “A coisa cresceu na minha asa”. Em 1999, ele passou também a exercer a função de coordenador da cobertura da seleção brasileira, cargo que ocupa até hoje. “De uns tempos para cá, a cobertura da seleção e da Copa ganhou um investimento maior. É o evento com a maior visibilidade do mundo. Os índices de audiência da Globo batem recordes”.

Nesses 15 anos de coordenação da cobertura da seleção, João Ramalho conviveu com jogadores e comissão técnica. “A relação com Felipão, quando ele assumiu em 2001, era problemática, mas depois foi melhorando e hoje ele até me chama de “Joãozinho”. Parreira virou um grande amigo. O mais complicado foi o Dunga. Ele é rancoroso. Foi o período mais difícil nesse trabalho na seleção”.

Mas foi com Ronaldo Fenômeno que João Ramalho desenvolveu uma relação de camaradagem e cumplicidade. “Consegui várias exclusivas com ele. A Copa de 2002 foi a minha primeira como coordenador da cobertura da seleção. Antes da Copa, trouxe o Ronaldo no Jornal Nacional. Um fato histórico. Foi o primeiro entrevistado na bancada do telejornal. Depois do título a Fátima Bernardes fez uma entrevista com ele no quarto do hotel e ele deu boa noite no JN”.

A Copa de 2014 é a primeira que João acompanha no Brasil depois de quase 30 anos. “Desde 86 estou fora do Brasil durante o torneio. Depois de tanto tempo, estar no país durante a Copa é estranho. É uma experiência diferente”. Sobre a paixão do brasileiro pelo futebol, o jornalista tem uma tese. Acredita que é a imprevisibilidade o seu motor.

O futebol é um dos poucos esportes em que o resultado é imprevisível. Você pega o Dream Team do basquete, não tem jeito de ganhar, o Brasil ganhou em Indianápolis, mas aquilo acontece uma vez a cada 100 anos. Michael Phelps na natação, Rafael Nadal no tênis, Michael Schumacher no automobilismo. São invencíveis. No futebol, a paixão vem da incerteza do resultado. Você nunca sabe o que vai acontecer.

Fontes

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