Por Memória Globo

Fernando Lemos

João Barbosa Oliveira é de uma geração que se profissionalizava correndo atrás de trabalho. “A gente sempre começou procurando freelance em jornais, revistas, logo no primeiro ano da faculdade. Não era como hoje, que você tem que estar no último ano para fazer estágio. Naquela época, você já entrava na atividade, já começava a fazer, a trabalhar em jornal de bairro – sempre havia um amigo avisando: olha, tem emprego em tal lugar, e você ia rodando”, conta.    

João Barbosa começou a rodar com 20 anos, enquanto cursava jornalismo na faculdade Alcântara Machado. Seu primeiro trabalho foi no Shopping News. Como gostava muito de esporte, tomou o rumo do jornalismo esportivo, fazendo frilas para Gazeta Esportiva, Folha, Jornal da Tarde, revista Placar. “Antigamente, a dinâmica era muito maior, você trocava de emprego muito mais facilmente, o mercado era muito mais forte”, comenta.

O esporte é como se fosse um filme, como se fosse um romance, como se fosse uma história, ele reúne tudo. O começo é a busca para conseguir alguma coisa, a necessidade de vencer obstáculos, o drama para conseguir chegar. Tem gente que pratica esporte para bater sua própria marca, não importa mais nada, não quer nem vencer, quer vencer a marca dele. O esporte é uma história de vida. É uma história de sacrifício”

João Barbosa em depoimento ao Memória Globo, em 2007 — Foto: Fernando Lemos/ Memória Globo

Em 1979, João Barbosa foi para a sucursal do jornal O Globo, onde ficou por um ano. Numa redação de 25 pessoas, três eram responsáveis pelo Esporte, cobrindo os clubes de São Paulo e os clubes cariocas que iam jogar lá, além da Fórmula 1 e outros eventos esportivos: “Era uma loucura, uma correria”. Das muitas matérias que fez, uma ficou na memória e mostra que o futebol não mudou tanto assim com o passar do tempo. Foi na final Copa São Paulo de Futebol Júnior, no Estádio do Canindé, quando houve um quebra-quebra generalizado, com as pessoas se agredindo com pedaços de madeira das obras em andamento.

Os trabalhos para o Jornal da Tarde acostumaram João Barbosa a fazer “matérias mais romanceadas”, o que não era o estilo do Globo, que exigia “trinta linhas bem curtinhas”, apelidadas de pílulas. “Já estava começando o processo de as pessoas não terem tanto tempo para ler: era o fato principal, acabou e mais nada”. Com um ano de Globo, decidiu sair do dia a dia do jornalismo e começou “a mexer com vídeo”, fazendo documentários para o Sesc. Era um trabalho interessante sobre a história dos bairros de São Paulo, que o ocupou por algum tempo e o preparou para a televisão.

Entrou para a Globo em 1985 como editor de texto e logo percebeu a diferença em relação ao trabalho em jornal. “O trabalho na televisão não é de uma pessoa só, tudo é muito coletivo: você depende do repórter cinematográfico, que depende de toda uma estrutura, iluminador, operador de áudio, diretor de TV etc. Eu acho que é essa a grande diferença, a principal lição que você aprende. A pessoa que não aprende isso não consegue andar na televisão.”

Começou no 'Globo Esporte', “que era bem informativo, mas também tinha um pouco de revista, um pouco mais pensado, um pouco mais elaborado, com música e um tratamento especial de texto para dar ganho de qualidade, para dar mais brilho”. Numa final do Guarani com o São Paulo, o personagem era um índio sonhando que ia disputar uma final com o São Paulo, com o texto todo em tupi-guarani. “Claro, cometemos um pequeno erro, a gente não legendou. Mas ficou legal. O Guarani perdeu.”

Em 1985, noutra final, o diretor disse que queria uma matéria sem texto. “A minha parte era o São Paulo, e Müller e Careca eram os atacantes. Então, botei Batman e Robin, com todos os efeitos e tudo mais. Era mais um trabalho de edição, foi muito televisivo, uma coisa bem interessante.”

Da Copa de 1986, no México, a única recordação que João Barbosa guarda foi a da tristeza que tomou conta de todos os brasileiros, depois que o Brasil foi eliminado da competição após ser derrotado, numa disputa de pênaltis, pela seleção francesa.

No final da década de 1980, começou a fazer a Fórmula 1. “A gente tinha uma ilha de edição e gerava matérias para a redação. A dificuldade é que era tudo muito distante no autódromo. Você ia até os boxes, ficava lá acompanhando o repórter, ajudando no texto, pegava a fita, descia correndo e editava a matéria. Então, pelo menos, você ficava em forma. Entrava às 6h da manhã e saía depois do último jornal. Era uma cobertura de internato, mas era interessante”. Em maio de 1994, João Barbosa estava em casa, no Rio de Janeiro, assistindo ao Grande Prêmio de Ímola, no qual morreria o piloto Ayrton Senna. O jornalista conta que estava se preparando para trabalhar à noite, no 'Placar Eletrônico', quando houve a batida, “e apareceu o pano escondendo o acidente”. Foi imediatamente para a emissora. Lembra que foi a um bar, tomar café, e havia um cara que falava: “Pô, vocês estão loucos! O cara não morreu, o Ayrton Senna está vivo”. Em cima disso, fez uma crônica, dizendo que ele não tinha morrido, que ele estava vivo.

João Barbosa também revela uma admiração especial pela ginasta Daiane das Santos. “A ginástica sempre teve seu público, era uma atração pela questão plástica, mas a Daiane mostrou que era possível que um atleta brasileiro conseguisse chegar a um nível tão alto, que parecia coisa de outros países. Daiane trouxe a possibilidade de retratar isso. É muito gratificante você conseguir mostrar a beleza da negritude e a beleza da performance dela”.

Sobre o futebol, concorda que desperta paixão, mas observa: “De tanto tempo fazendo isso, você sente que há uma modificação no comportamento do torcedor. O futebol sempre foi levado a sério, mas também era motivo de brincadeira com os amigos. Hoje, o fanatismo ficou muito mais forte. Por isso, às vezes, essa coisa de violência de torcida”.

Já o vôlei é um fenômeno impressionante. “Em 1993, logo depois da Olimpíada de Barcelona, fizemos uma série de matérias, acompanhando as visitas que a seleção fez a vários estados. Parecia os Beatles: eles chegavam ao aeroporto e havia aquela multidão, todo mundo esperando os caras descerem do avião. Havia as meninas, que a gente chamava de tietes do vôlei, que gritavam, arrancavam os cabelos e tudo mais. Era uma evolução fora da quadra que acompanhava a evolução dentro da quadra. O público começou a gostar de discutir vôlei como discutia futebol. Foi uma evolução interessantíssima.”

Em 1996, voltou para São Paulo, já como chefe de produção para o Esporte. Seu trabalho consiste em produzir matérias sobre esportes para os telejornais, “desde o 'Bom Dia Brasil' até o 'Jornal da Globo'”, além de cobrir todos os eventos ligados ao esporte.

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por João Barbosa em 28/05/2007.
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