Por Memória Globo

Renato Velasco/Memoria Globo

Uma das primeiras crônicas profissionais escritas por Gustavo Poli quase determinou o final de sua carreira. O diretor da redação do jornal O Globo na época, em 1993, Evandro Carlos de Andrade, leu a matéria, onde o então estagiário Gustavo dava nota 1 (um) a alguns jogadores do Flamengo e disse: “Quem é esse louco? Nunca mais faz crônica!”. Apesar da chamada, o jornalista construiu uma carreira de sucesso. O período de aprendizado no jornal O Globo se deu entre 1993 e 1996, quando o carioca, nascido e criado no Leblon, trabalhou nas editorias Geral, de Esportes e no Segundo Caderno. Filho de um administrador de empresas e uma nutricionista, Gustavo Poli  chegou a morar com a família em Brasília, depois voltou para o Rio, onde cursou a Faculdade de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). Formou-se em 1993, quando ingressou no jornal O Globo e acabou atuando na editoria que definiria toda sua carreira: Esportes.

É muito diferente escrever com imagem e escrever sem. Você tem que adaptar o seu texto para escrever sobre imagem.

Gustavo Poli em entrevista ao Memória Globo — Foto: Renato Velasco/Memoria Globo

Gustavo Poli ainda se recorda do dia 1º de maio de 1994, quando o piloto Ayrton Senna faleceu. “Foi o dia em que mais trabalhei na minha vida. Senna já tinha batido quando liguei a televisão. Devo ter chegado à redação ao meio-dia e ficamos até as duas da manhã, o que naquela época era muito”, lembra.

No mesmo ano, participou de sua primeira grande cobertura, a da Copa do Mundo de 1994. Ele escreveu crônicas desde a redação, no Rio de Janeiro, a partir dos jogos que assistia pela TV, transmitidos ao vivo dos Estados Unidos. Também foi um trabalho puxado: “Trabalhamos todo dia, sem folga, durante uns 40 dias, pelo menos”.

Em 1996, começou a trabalhar no Globo Online, onde lidava com uma internet ainda rudimentar, muito diferente da que existiria nos anos 2000. “O Globo Online então era control C, control V [atalhos no teclado para ‘copiar’ e ‘colar’]. Era basicamente eu no Esporte. Nada parecido com o bicho que temos hoje, gigante, a internet”, avalia, em entrevista concedida em 2011.

Logo foi chamado para integrar a equipe do jornal Lance!, junto com outros colegas do Globo, como Sérgio Rodrigues e Lédio Carmona. “Esse time todo para lançar o jornal, era um projeto muito sedutor. Era um jornal de alto nível de esporte no Brasil.” Apesar da cobertura limitada do recém-inaugurado periódico, foi para a França cobrir a Copa de 1998. Lembra com humor de quando usou o laptop como travesseiro, numa viagem de trem, e quebrou o aparelho: “Fiquei algum tempo sem computador, o que era um desespero na época”.

Gustavo Poli deixou o jornal e começou a trabalhar na Globo, no Globo Esporte, em novembro de 1998. Apesar de já possuir experiência no jornalismo impresso, teve dificuldades com a mudança para a televisão, sobretudo quando ensaiou uma carreira de repórter. “Para mim, no início, foi muito difícil. Eu era muito inseguro, muito ansioso no vídeo. Tinha um cabelo um pouco maior, era um problema: eu passava gel, ficava horrível; usava a camisa errada. Então, como repórter, eu fui uma relativa tragédia durante um bom tempo”. Fora a insegurança, também se deparou com uma mudança na forma de escrever: “É muito diferente escrever com imagem e escrever sem. Você tem que adaptar o seu texto para escrever sobre imagem”.

Os dias como repórter logo acabaram, e Gustavo Poli assumiu a chefia de reportagem do Globo Esporte. Permaneceu no cargo até 2000, quando se tornou editor de eventos esportivos da emissora. “Comecei a trabalhar com grandes eventos. Nosso objetivo era divulgar a Copa do Mundo de 2002 em vários telejornais e badalar isso, trazer emoção. Aí começamos a fazer pílulas, matérias, entrevistas e projetos para cada telejornal”, conta.

Uma de suas contribuições para o telejornalismo esportivo nessa época foi a invenção da “bolinha”, símbolo gráfico do gol nos jogos de futebol: “Sempre que eu estava ouvindo jogo no rádio, o cara falava assim: Olha o gol! Aí você ficava querendo saber quem era. Eu falei para o Mário Jorge Guimarães que podia trazer isso para a transmissão. Depois de algum tempo, o negócio virou sério, e agora faz parte de todas as transmissões”.

Gustavo Poli deu outras contribuições ao telejornalismo, como sua participação na cobertura da CPI do Futebol, em 2001, que culminou com o indiciamento de 17 dirigentes do futebol, entre eles o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira. “Na verdade, fizemos um trabalho excepcional, eu acho. Um dos melhores trabalhos, das melhores matérias que já fizemos. Desde sair com microcâmera para provar pagamento ilegal de campanha, até descobrir, pela internet, coisas que até hoje estão em voga aí, sobre como os cartolas ganham dinheiro de maneira heterodoxa, digamos assim. Mas foi um trabalho muito desgastante”, ressalta.

A primeira grande cobertura de que participou pela Globo foi a da Copa de 2002, que aconteceu em dois países, Japão e Coreia do Sul. Além da equipe que ficou no Brasil, foram montadas duas outras equipes, de três repórteres cada, uma no Japão e outra na Coreia. Sobre a cobertura, ele revela: “É uma das coisas de que mais me orgulho. João Barbosa e eu planejamos, desde o início, dividir a Copa em duas, como sempre se faz aqui”.

Participou, ainda, das coberturas da Copa do Mundo da Alemanha (2006), dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, e de Pequim, em 2008 – a partir dessa, inclusive, já em outra plataforma. Em 2007, foi trabalhar no Globoesporte.com. O site chegou, em 2011, à impressionante marca de quatro milhões de visitantes por dia. Uma das inovações que o Globoesporte.com trouxe foram as transmissões dos jogos ao vivo para a internet. “Você não pode achar que vai dar na web a mesma coisa que vai dar na Globo. A web tem muito mais, é um universo muito maior de informação, e não temos limitação de espaço, nem de tempo”.

As coberturas da Copa do Mundo de 2010 e da Copa América de 2011, sob o comando de Gustavo Poli, trouxeram inovações: “Em 2010, foi totalmente diferente: fomos para uma megaestrutura, levamos 19 pessoas. E teve uma questão técnica, do desenvolvimento de uma estrutura chamada de Unidade Móvel de Jornalismo”. Já sobre a Copa América, o jornalista decidiu adotar uma narração mais despojada: “Estreamos essa narração diferente, meio comentada, meio brincalhona, com trilha sonora de música no Globoesporte.com – nos jogos que não eram os da seleção brasileira”.

Gustavo Poli lançou dois livros ao longo de sua carreira. Em 2003, publicou o Manual do Mané, escrito com Arthur Dapieve e Sérgio Rodrigues, uma espécie de autobiografia brincalhona. Em 2006, em parceria com Lédio Carmona, escreveu o livro Almanaque do Futebol. É o autor do blog Coluna Dois, do Globoesporte.com.

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