Por Memória Globo

Acervo/Globo

Em 1959, Epaminondas Xavier Gracindo, o Gracindo Jr., com 15 anos, fez um teste para trabalhar na Rádio Nacional, onde seu pai, o ator Paulo Gracindo (1911-1995), vivia o auge da carreira como galã de radionovelas e apresentador de programas de auditório. Gracindo Jr. acabou por trabalhar como ator, redator e disc-jóquei na emissora. Cursou a faculdade de Psicologia, mas nunca chegou a exercer a profissão, optando por se dividir entre o rádio, o teatro, a televisão e o cinema. Paralelamente ao trabalho na Rádio Nacional, estreou no teatro em 1961, produzindo e contracenando com Rubens Corrêa e Ivan Albuquerque na peça A Escada, de Oswald de Andrade. Militante do Partido Comunista, Gracindo Jr. foi cassado pela ditadura militar em 1964, junto com 38 outros artistas, como Dias Gomes e Mário Lago, e ficou impedido de trabalhar na rádio. Naquela época, já trabalhava em televisão, tendo passado pela TV Rio, TV Excelsior e TV Tupi.

Gracindo Jr. — Foto: Acervo/Globo

Início na Globo

Em 1965, foi inaugurada a Globo. Em entrevista ao Memória Globo o ator disse: “Eu entrei no início da TV Globo. Ela estreia em abril de 1965, em dezembro de 1964 eu já estava contratado”. Gracindo Jr. integrava o primeiro elenco da emissora e participou de várias novelas dessa fase inicial, entre as quais 'Rosinha do Sobrado' (1965) e 'Padre Tião' (1966), ambas de Moisés Weltman; 'A Rainha Louca' (1967), de Glória Magadan; 'A Próxima Atração' (1970), de Walther Negrão; 'Os Ossos do Barão' (1973), de Jorge Andrade, na qual contracenou com Paulo Gracindo; e 'Supermanoela' (1974), também de Walther Negrão. Em 1973, o ator trabalhou mais uma vez ao lado de seu pai na novela 'O Bem-Amado', de Dias Gomes. O protagonista Odorico Paraguaçu, prefeito da cidade fictícia de Sucupira, foi um dos grandes personagens da carreira de Paulo Gracindo e da história da teledramaturgia brasileira.

Eu acho que o que eu mais aprendi com o meu pai foi responsabilidade no meu trabalho, estima pelo meu trabalho, saber que meu trabalho é uma coisa muito importante.. (…) Meu pai trabalhou 65 anos e nunca me lembro dele não tendo feito sucesso, em qualquer área de comunicação. Foi um homem que passou em rádio, em circo, em televisão, em cinema, em tudo ele foi sucesso. (…) A lembrança que eu tenho dele é dessa pessoa delicada, dessa pessoa amiga, solidária e que seu maior amor era o seu trabalho. Se o trabalho dele estivesse bem-feito, ele estava feliz na vida

Sucesso em 'O Casarão'

O primeiro grande papel de Gracindo Jr. veio em 1976, quando viveu o pintor João Maciel, em 'O Casarão', de Lauro César Muniz. Na novela, cuja trama se passava, alternadamente, em 1870, 1926 e 1976, a carreira do ator voltava a encontrar-se com a do pai. Os dois viviam, respectivamente, as versões jovem e idosa do mesmo personagem. Recorda-se que: “Eu contracenava com a Sandra Barsotti e ele colocava os dois juntos, para criar já uma cumplicidade entre esses personagens. Então, nos colocava muito à vontade com a representação. Então, eu me lembro que foi um dos produtos mais bem acabados sob esse ponto de vista. Eram atores eminentemente de teatro, todos quase, e cada personagem tinha uma função. Eram personagens todos muito importantes, não existiam coadjuvantes, todos eram protagonistas. Eu vejo O Casarão assim”.

Cena em que os jovens João Maciel (Gracindo Jr.) e Carolina (Sandra Barsotti) namoram. Ele faz uma escultura dela e diz que um dia irão se casar, na novela O Casarão, 1976

Cena em que os jovens João Maciel (Gracindo Jr.) e Carolina (Sandra Barsotti) namoram. Ele faz uma escultura dela e diz que um dia irão se casar, na novela O Casarão, 1976

Também naquele ano, Gracindo Jr. estreava como diretor de teatro, com a peça 'A Longa Noite de Cristal', de Oduvaldo Vianna Filho. 

Portugal e retorno à Globo

Com o término de O Casarão, Gracindo Jr. viajou para Portugal, onde ficou em cartaz por quatro meses como diretor da peça 'É', de Millôr Fernandes. De volta ao Brasil, assumiu a supervisão do núcleo de novelas das 18h, na Rede Globo, em 1978. Sua primeira atribuição na nova função foi tentar manter os bons níveis de realização e audiência alcançados pela novela 'A Sucessora', de Manoel Carlos, que estava em seu primeiro mês de exibição. Gracindo Jr. acompanhava a montagem, a edição, a sonorização e o desempenho dos atores.

Em 1979, Gracindo Jr. deu prosseguimento à atividade atrás das câmeras dirigindo as novelas 'Memórias de Amor', de Wilson Aguiar Filho, e 'Marron-Glacé', de Cassiano Gabus Mendes. Em 1980, atuou na peça 'Paulo Gracindo, Meu Pai', que escreveu para homenagear os 50 anos de carreira do ator que encarnou personagens importantes como o Primo Rico, do humorístico 'Balança mas Não Cai'; o bicheiro Tucão, de 'Bandeira 2'; e o Padre Hipólito, de 'Roque Santeiro'.

Cena em que Mariucha (Elizangela) dá em cima de Oswaldo (Gracindo Jr.). Com Jordana (Glória Menezes) e Rosana (Maria Zilda Bethlem).

Cena em que Mariucha (Elizangela) dá em cima de Oswaldo (Gracindo Jr.). Com Jordana (Glória Menezes) e Rosana (Maria Zilda Bethlem).

Em 1982, Gracindo Jr. participou como ator da novela 'Jogo da Vida', de Silvio de Abreu, e da minissérie Quem Ama Não Mata, de Euclydes Marinho. No ano seguinte, integrou o elenco da minissérie 'Bandidos da Falange', de Aguinaldo Silva. Ainda em 1983, assumiu a direção de 'Os Trapalhões', que tinha a redação de Carlos Alberto da Nóbrega. No início da década de 1980, foi um dos diretores e o apresentador dos primeiros clipes musicais produzidos e exibidos pelo 'Fantástico'.

Manchete e Globo

Gracindo Jr. foi trabalhar na TV Manchete em 1984. Seu primeiro papel foi na novela 'A Marquesa' de Santos, de Wilson Aguiar Filho, na qual viveu Dom Pedro I e fez seu primeiro par romântico com Maitê Proença. Dois anos depois, trabalhou novamente com a atriz na novela 'Dona Beija', também escrita por Wilson Aguiar Filho, na qual interpretou o personagem Antônio Sampaio. A novela teve grande repercussão entre o público e a crítica. Na Manchete, participou ainda das novelas 'Tudo ou Nada (1987'), de José Antônio de Souza, e, anos depois, '74.5', Uma Onda no Ar' (1994), produzida pela TV Plus.

De volta à Globo, em 1985, Gracindo Jr. participou da minissérie 'Tenda dos Milagres', de Aguinaldo Silva, e dirigiu alguns episódios do 'Sítio do Picapau Amarelo', ao lado de Fabio Sabag e Hamilton Vaz Pereira. Em 1988, o ator esteve em Portugal com a peça 'Obrigado pelo Amor de Vocês', de Edgard Neville, acompanhado de Cláudio Cavalcanti e Maria Lúcia Frota. Convidado inicialmente para uma temporada de um mês, o grupo acabou por ficar três meses em cartaz no Casino Estoril.

Em 1987, Gracindo Jr. foi Creonte, um dos vilões da novela 'Mandala', de Dias Gomes e Marcílio Moraes, livremente baseada na tragédia grega Édipo Rei. Em 1989, encarnou durante 30 capítulos o personagem Ricardo Ribeiro, marido da professora Clotilde (Maitê Proença) e rival de Sassá Mutema (Lima Duarte) na novela 'O Salvador da Pátria'. Em 1990, se dividiu entre participações na minissérie 'A, E, I, O… Urca', de Doc Comparato e Antônio Calmon; e nas novelas 'Araponga', de Dias Gomes, Lauro César Muniz e Ferreira Gullar; 'Rainha da Sucata', escrita por Silvio de Abreu; e 'Gente Fina', de Luiz Carlos Fusco e Marilu Saldanha.

Em 1992, o ator fez parte da novela 'Deus nos Acuda', escrita por Silvio de Abreu, Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral. Três anos depois, atuou em 'Explode Coração', inicialmente como ator apenas. Mais tarde, assumiu a direção das cenas do núcleo dos ciganos da novela. Em 1996, atuou na novela 'Anjo de Mim', de Walther Negrão. No final da década de 1990, dirigiu ainda alguns episódios do programa 'Você Decide', participou do seriado 'Mulher' e dos primeiros capítulos da minissérie 'Chiquinha Gonzaga'. Em 2000, viveu o personagem Norman, em 'Esplendor', de Ana Maria Moretzsohn. Meses depois, trabalhou na minissérie 'Aquarela do Brasil', de Lauro César Muniz, na qual encarnou o espanhol Garcia, dono do Café Havana, um personagem inspirado no papel de Humphrey Bogart em 'Casablanca'.

Em 2003, Grancindo Jr. trabalhou na novela 'Celebridade', de Gilberto Braga. Seu personagem era o ressentido e amargo Ubaldo Quintela, que passara 15 anos preso, cumprindo pena pelo assassinato do noivo de Maria Clara Diniz (Malu Mader). Em 2004, o ator fez uma participação em 'Como uma Onda', de Walther Negrão, como Fernando.

Record e teatro

A partir de 2006, atuou em novelas da TV Record, como 'Cidadão Brasileiro' e 'Poder Paralelo' (2009), e na minissérie 'Rei Davi' (2012).

Sempre trabalhando simultaneamente no teatro e na televisão, Gracindo Jr. participou de mais de 20 peças como ator, produtor ou diretor. Dentre essas estão 'Roda Cor de Roda'; 'O Exercício'; 'Liberdade para as Borboletas'; 'Promessas e Promessas'; 'Oh, que Delícia de Guerra!'; 'A Megera Domada'; 'Onde Canta o Sabiá'; 'Blackout' e 'Sinal de Vida'. Além dessas, Gracindo Jr. participou de muitas montagens de textos de Oduvaldo Vianna Filho, como 'Dura lex sed lex'; 'Se Correr, o Bicho Pega. Se Ficar, o Bicho Come'; 'Allegro Desbum'; e 'Corpo a Corpo'. Foi, ainda, diretor das duas últimas peças em que seu pai atuou: 'Num Lago Dourado', de 1991, e 'A História é uma História', texto de Millôr Fernandes, em 1993. Em 2011, Gracindo Jr. viveu o personagem Anthony, no espetáculo 'Judy Garland – O Fim do Arco-Íris', de Charles Möeller e Cláudio Botelho.

Cena que retrata a proibição dos jogos de azar no Brasil, estabelecida por força do decreto-lei 9 215, de 30/04/1946. Com Ramón (Gracindo Jr.), Velma (Ângela Vieira), Armando (Odilon Wagner) e Pipo (Gerson de Abreu).

Cena que retrata a proibição dos jogos de azar no Brasil, estabelecida por força do decreto-lei 9 215, de 30/04/1946. Com Ramón (Gracindo Jr.), Velma (Ângela Vieira), Armando (Odilon Wagner) e Pipo (Gerson de Abreu).

Cena em que Fernando (Gracindo Jr.) conhece a filha (Mel Lisboa).

Cena em que Fernando (Gracindo Jr.) conhece a filha (Mel Lisboa).

Cinema

No cinema, o ator participou dos seguintes filmes: 'Os Homens que eu Tive' (1973), de Tereza Trautman; 'As Moças Daquela Hora' (1973), de Paulo Porto; 'O Dia Marcado' (1977), de Iberê Cavalcante; 'Os Trapalhões na Serra Pelada' (1982), de J.B Tanko; 'Tensão no Rio', de Gustavo Dahl; O 'Trapalhão na Arca de Noé' (1983), de Del Rangel; 'Floresta das Esmeraldas' (1985), de John Boorman; 'Buena Sorte' (1986), de Tânia Lamarca; 'Desterro' (1991), de Eduardo Paredes; 'A Hora Marcada' (2000), de Marcelo Taranto; 'Bufo e Spalanzani' (2001), de Flávio Tambellini;  'A Selva' (2004), de Ferreira de Castro; 'Primo Basílio' (2006), de Daniel Filho; e 'Segurança Nacional' (2010), de Roberto Carminati, entre outros. 

Gracindo Jr. em depoimento ao Memória Globo — Foto: Frame de vídeo/Memória Globo

Fonte

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