Flávio Lampert Fachel sonhava ser publicitário, seguindo a carreira do pai. Filho de Renato Basso Fachel e de Rejane Teresinha Lampert Fachel, ainda menino, via com admiração o trabalho na área de Comunicação. Mas, aos 16 anos, começou a cursar Engenharia Civil. Aos 19, no fim da faculdade, alistou-se para o serviço militar e deixou Porto Alegre. Viajou para Manaus e foi servir como tenente do Exército depois de ter feito o curso de Formação de Oficiais da Reserva. “Fiquei lá cinco anos e trabalhei no Colégio Militar, na área de administração. Era do serviço de intendência e cuidava de compras, orçamento.”
Foi lá, no outro extremo do país, em um meio bem diferente do universo publicitário, que Fachel decidiu se reaproximar do sonho. Mas na cidade não havia faculdade de Publicidade. Ele decidiu cursar Jornalismo, uma área mais próxima da que desejava. Assim que concluiu o curso do Exército, voltou à cidade natal para terminar a graduação e investir na carreira jornalística. O diploma veio em 1993, e a experiência adquirida nos outros setores passaram a ser bem aproveitadas.
RBS TV
A oportunidade para iniciar a carreira veio por meio de um projeto de desenvolvimento de estudantes para o mercado de trabalho realizado pela RBS TV, emissora da Rede Globo. Fachel foi selecionado entre estudantes e recém-formados na área de jornalismo nas universidades do Rio Grande do Sul. Passou seis meses aprendendo as diversas funções em televisão, até que, um dia, uma das professoras do curso falou sobre uma vaga para cobrir férias, por três meses, na RBS, em Cruz Alta, interior do estado. “Fui o primeiro a dizer: ‘Voluntário sou eu’, coisa de milico. Eu fui para lá e em um mês já estava colocando matéria no Rio Grande do Sul – porque quando você trabalha no interior, você manda matéria para Porto Alegre para aparecer no estado inteiro”.
Fachel foi contratado pela RBS como editor e, em seguida, como repórter. Pôde colocar em prática um aprendizado que faz questão de compartilhar com os iniciantes na profissão: “Me lembro que, um dia, o editor do jornal local falou: ‘Temos uma matéria para fazer sobre as pessoas que estão com medo de sair na rua por causa da violência na cidade e, realmente, não sei como vamos fazer isso, porque essa ideia chegou agora’. Eu disse: ‘Vamos para a rua, reportagem está na rua, se ela existe está lá’. Eu falo isso para os meus alunos. E aí roda, roda, e o cinegrafista me dizia: ‘E aí Fachel?’ Eu dizia: ‘Vamos andar, vamos andar… Vamos procurar onde está esse medo’. Daí a pouco, eu olho: havia um carro com uma mulher dirigindo, e um pastor alemão no banco de trás. Eu disse: ‘Grava, grava’. E fui conversar com ela. Eu falei: ‘O que é esse cachorro?’ Ela disse: ‘Ah, por causa da violência, eu agora não saio de casa sem meu cachorro!’. Estava feita a reportagem”.
Do local para a rede
Seis meses após a contratação pela RBS, Fachel começou a fazer reportagens para os telejornais de rede nacional. A primeira matéria que fez para o 'Jornal Nacional' ficou na memória. Estar preparado, na hora e lugar certos, foram decisivos para entrar para o time dos repórteres do telejornal. “No 'JN' é diferente por uma série de motivos. Há repórteres que têm o perfil do jornal. E é claro que eu estava sempre tentando entrar nisso. Eu estava de plantão, num sábado, e não havia repórter de rede. O 'Jornal Nacional' queria uma reportagem sobre um grupo de turistas que havia se perdido na serra de Maquiné e, por causa de uma chuvarada, ficou isolado lá. Lembro que na passagem que fiz mostrei que onde havia uma estrada não tinha mais nada. Mostramos o rio vindo e se misturando com um monte de lama, os turistas que estavam em cima da montanha, e o helicóptero fazendo o resgate. O pessoal gostou da reportagem, e,a partir daquele dia, comecei a fazer matérias para o 'Jornal Nacional'".
Em 1998, após seis anos na RBS, Fachel voltou para Manaus. Dessa vez, como repórter responsável pela cobertura da Amazônia para os jornais de rede nacional. Um desafio que durou dois anos e rendeu experiências valiosas. “Há poucos lugares da Amazônia que eu não conheço. Já estive em tudo que é canto que você imaginar lá: em aldeia Yanomami, no pico do monte Roraima, no Acre, no interior da floresta, no rio Negro, no rio Solimões, em Porto Velho, no Amapá, onde cobrimos a base secreta dos americanos. A gente está acostumado, desde criança, a olhar aquele mapa verde, aquela foto com floresta. Não vem a imagem do caboclo, do cara que vive embaixo da árvore, e ele está lá, e não é pouca gente, não; é muita gente”.
A atenção ao povo da Amazônia levou Fachel a ganhar o Prêmio Interamericano de Jornalismo Ambiental.
A reportagem mostrou a história de seringueiros que passaram a desmatar a floresta devido ao fim do comércio da borracha na região. “Antes, eles ajudavam a manter a floresta porque a produção do látex para a borracha é sustentável, não destrói a floresta, mas se viram obrigados a derrubar a mata. O regatão, que é um barco que passava na frente da casa deles comprando a borracha, começou a adquirir madeira. Então, na reportagem, tinha a imagem do seringueiro derrubando árvore e dizendo: ‘Eu não queria derrubar, mas eu preciso, se não morro de fome. Tenho que sustentar a minha família!’. O seringueiro ainda sabe tirar borracha, só que ninguém compra”.
Prêmio no Rio de Janeiro
Em fevereiro de 2000, foi o momento de ir para o Rio de Janeiro, onde Fachel passou 10 anos trabalhando como repórter da editoria Rio. Nesse período teve a oportunidade de fazer sua primeira matéria de denúncia na cidade, que resultou na demissão de policiais rodoviários. “Era uma investigação do produtor Tyndaro Menezes, e a situação era a seguinte: havia uma quadrilha de policiais rodoviários que agia em um posto de gasolina na Via Dutra, vendendo carteiras falsas. Quando o motorista chegava numa barreira, o policial olhava a carteira, já sabia que tinha que liberar a carga, e isso rendia muito dinheiro para eles. Então, a gente foi contar essa história”.
Um Prêmio Esso de Jornalismo recebido pelo repórter também teve origem em reportagens-denúncia: a série sobre a “feira livre” de drogas no Complexo do Alemão, em 2001. “Um material estava sendo reunido pelo Tim Lopes e outros produtores. E as imagens que a gente tinha eram muito fortes: gente vendendo droga como se estivesse vendendo pepino, tomate, batata. Os bandidos gritavam à vontade na rua: ‘Aqui tem maconha de dez, maconha de cinco, cocaína de três, cocaína de…’, e berrando no meio da rua, onde estava passando o cidadão”.
Reportagem de Tim Lopes e Flávio Fachel sobre a feira livre das drogas no conjunto de favelas do Alemão, da série que foi ao ar no 'Jornal Nacional', 03/08/2001.
Em 2010, Fachel se tornou correspondente da Globo em Nova York.
“Foi muito bacana ter essa experiência. Tecnicamente, você vai produzir as suas reportagens da mesma forma, com os mesmos critérios. A grande diferença é que você está em um caldo cultural diferente. Além da notícia, você também tem a visão do estrangeiro, a missão do correspondente. Então, esses dois anos foram um período pequeno, mas suficiente para aprender muita coisa”.
De Nova York para o 'Bom Dia Rio'
A volta ao Rio aconteceu em 2012. E, depois de alguns meses na reportagem, veio o desejo de abrir novos horizontes. Dessa vez, o caminho buscado foi a apresentação de telejornais. Em 2013, Fachel se tornou apresentador e editor-executivo do 'Bom Dia Rio'.
“Eu queria ser publicitário, mas o texto televisivo tem muito de texto publicitário: eu tenho que resumir as coisas em poucas palavras. E me vejo, olhando para trás, lembrando do meu pai publicitário. Lembro que, quando eu era criança, com uns dez anos de idade, eu o via trazendo trabalho para casa, onze horas da noite, meia-noite, uma hora da manhã, fazendo coisas para poder sustentar a família. Hoje, tenho a chance de ter mais ferramentas. E me vejo como se tivesse 20 anos de idade de novo, aprendendo, com desafios pela frente”.
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