Muitas histórias marcaram a carreira de Fernando Moreira Guimarães Neto. Filho de um advogado e de uma dona de casa. Diretor de Operações da direção-geral de Jornalismo e Esporte de 2017 a 2019, era de sua responsabilidade a transmissão dos principais acontecimentos jornalísticos e esportivos dos últimos 20 anos – sem nunca aparecer para o público telespectador. Fernando Guimarães cursou engenharia, de 1971 a 1973, na Faculdade Nuno Lisboa, criada por professores que saíram do Instituto Militar de Engenharia, o renomado IME, até descobrir que não era aquilo que queria fazer na vida. Mudou o rumo e, em 1974, prestou vestibular para o Centro Unificado Profissional, então a única faculdade que mantinha um estúdio de televisão.
Em 1976, Fernando Guimarães, ainda aluno do Centro Unificado Profissional, então a única faculdade que mantinha um estúdio de televisão, foi convidado pela Globo para trabalhar na equipe que acompanhou, desde o Brasil, a Olimpíada de Montreal. Passou um mês cobrindo os jogos olímpicos. “Não era nem editor de imagem. Naquela época, a gente trabalhava ainda com telex. Eu recebia as informações sobre os jogos e separava por tipo de esporte. Vinha em inglês, e eu já dava uma traduzida”, conta.
O trabalho agradou, e Fernando Guimarães ganhou a oportunidade de atuar como editor de imagem. Com a matrícula trancada no CUP, aprendeu, na prática, o máximo possível da nova função. “Era uma equipe muito pequena, todo mundo fazia praticamente tudo”. Por dois anos, editou matérias de esporte para os dois jornais da emissora: o Jornal Hoje e o Jornal Nacional.
Por volta de 1978, conseguiu transferência para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, onde concluiria o curso. Em 1979, passou a atuar como editor de imagem da divisão de Esporte da Globo. Integrou a equipe enviada a Moscou para cobrir a Olimpíada de 1980. Era a primeira vez que a emissora mandava uma equipe própria para um evento desse porte. Foi uma experiência nova para todos, conta: “Para mim, que estava começando em televisão, e para as outras pessoas, que nunca tinham feito uma cobertura de olimpíada fora do país”.
Dois anos depois, nova missão internacional: foi convocado para integrar a equipe enviada pela emissora para a Copa do Mundo na Espanha, primeiro evento que a Globo cobriu com exclusividade. Foi alugada uma grande área no International Broadcast Center, o IBC, espaço destinado às emissoras de rádio e televisão que tinham direitos de transmissão do evento. “A Globo praticamente montou uma televisão lá dentro. A equipe era muito grande”, conta. O curioso é que, diferentemente do que acontece hoje, toda aquela infraestrutura era para cobrir os Jogos Olímpicos e não apenas a seleção brasileira, que estava baseada em Sevilha e onde a Globo operava com a estrutura da TV espanhola dentro do estádio. Fernando Guimarães fazia parte da equipe que cobria o Brasil: “Tínhamos de alugar horários de edição, além de sermos obrigados a carregar equipamentos antigos, e pesadíssimos, naquele calor infernal que faz no verão em Sevilha”.
O desafio seguinte foram os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, onde foi testado um novo formato: havia uma central de exibição, que recebia todos os sinais e, enquanto um evento âncora ficava no ar, outros eventos que ocorriam simultaneamente eram inseridos. “Por exemplo, você estava transmitindo o vôlei e, quando a bola parava, já tinha a imagem da natação, ou da ginástica. Com isso, agilizamos a transmissão do evento. Foi a primeira vez que se fez isso e funcionou muito bem. É o modelo que a usamos até hoje”, explica. Uma curiosidade: em Los Angeles, foi também a primeira vez que viu um telefone móvel.
Fernando Guimarães já não editava mais, estava fazendo a parte de supervisão e, depois, foi integrado à parte de transmissão: “Eu cortava e coordenava essas transmissões”, lembra. De volta ao Brasil, a partir de 1985, além da produção, começou a coordenar eventos. Na Copa do México, em 1986, integrou a equipe que foi para Guadalajara, onde o Brasil ficava. Diferentemente de 1982, o foco estava na seleção brasileira. O IBC, na cidade do México, ficou com as equipes que cobriam as outras seleções.
Nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, as transmissões foram feitas em pool com a TV Bandeirantes. Fernando ficou no Brasil, onde se fazia toda a produção, coordenando os eventos: “Os programas eram feitos aqui, a apresentação era daqui, a narração era daqui. Foi pouca gente para lá”. Fernando Guimarães operava com o fuso horário invertido: dormia de dia e trabalhava de noite. As informações ainda chegavam por telex.
A Copa do Mundo na Itália, em 1990, ficou marcada por três problemas: uma seleção “muito fraquinha”, o congelamento de recursos por parte da equipe econômica do presidente Collor, que obrigou a Globo a devolver as grandes áreas locadas, inclusive perdendo metade do que tinha pago, e por um pool com as TVs Bandeirantes e Manchete. “Nunca mais fizemos pool em nada, nem em Copa nem em Olimpíada. Não é uma coisa boa para a televisão”, ressalta.
O ano de 1990 é também um marco para Fernando Guimarães, que passou a ser chefe da Divisão de Produções e Esportes, responsável pela transmissão, trabalho que vai da montagem e da captação até o desenvolvimento da transmissão e de sua linguagem: “Eu era responsável por todo o produto futebol que ia para o ar”.
Na Olimpíada de Barcelona, em 1992, o trabalho foi todo no IBC, no formato que começou em 1994, em Los Angeles: “Você recebia os sinais todos no IBC e, dali, produzia o que vai ao ar, usando sempre um evento âncora, que, no caso, era o Jornal Nacional. Acho que essa foi a novidade”. Para o Brasil, o grande momento foi a conquista da primeira medalha de ouro no vôlei. “Eu achava que o vôlei era muito chato: tinha aquela regra de vantagem, o que fazia com que o jogo ficasse muito longo. Hoje, isso acabou, e o vôlei se tornou um dos melhores eventos para a televisão”, reflete.
Em 1993, Fernando assumiu o cargo de diretor de Eventos e passou a participar mais do planejamento. Na Copa do Mundo de 1994, por exemplo, era preciso estabelecer o que levar, quem seriam as pessoas enviadas para os EUA, qual seria o formato de cobertura. Viajou aos EUA dois anos antes do evento e, depois, um ano antes. Em suas novas funções, dialogava com outras áreas, sobretudo, com a engenharia. Nos EUA, novamente, o foco da cobertura era a seleção. “Nosso formato era colocar o máximo dos nossos esforços na seleção brasileira, e isso foi feito”, lembra.
Como diretor de Eventos, Guimarães também dialogava com o departamento comercial para desenhar novos eventos, como beach soccer e vôlei de praia, entre outros. Nesse período, dirigiu as transmissões das Copas da França, da Coreia e do Japão e da Alemanha, em 2006. Em sua opinião, essa foi a melhor Copa do Mundo que fez, sobretudo pela organização e pela facilidade do deslocamento rodoviário. Dirigiu, também, a transmissão dos Jogos Olímpicos de Atlanta, de Sydney, de Atenas; e os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Além das transmissões esportivas, ficou responsável, ainda, pela cobertura das eleições presidenciais brasileiras e norte-americanas e da morte do Papa João Paulo II, entre outros fatos importantes.
Fernando Guimarães permaneceu no cargo até 2007, quando se tornou diretor de Operações: o que fazia para o esporte, passou também a fazer para o jornalismo em geral, participando dos mais importantes eventos jornalísticos e esportivos brasileiros e internacionais, como a eleição de Barak Obama para presidente dos Estados Unidos, os Jogos Olímpicos de Pequim, a Copa do Mundo da Árica do Sul e a eleição de Dilma Rousseff para presidente do Brasil.
Em dezembro de 2017, Fernando Guimarães foi para a Unidade de Esportes do Grupo Globo. Em 2019, deixou a empresa.
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