Fernando Castro iniciou a vida profissional uma semana depois de formado, no início dos anos 1990, no escritório da Globo em Nova York, onde concluiu o curso de Jornalismo e Ciências Políticas pela Universidade de NY. Apesar de morar por muito tempo nos Estados Unidos, a ideia era voltar para o Brasil, o que ocorreu três meses depois do estágio informal na sucursal da Globo. Lá, editou, pesquisou, apurou e produziu: “ O escritório era pequeno e eles precisavam de alguém que reorganizasse o arquivo, que era uma parede cheia de fitas. Posso dizer que tive uma aula de jornalismo”.
Apurador, produtor, editor, coordenador, editor-adjunto, Fernandinho, como é carinhosamente chamado pelos colegas, passou por etapas importantes na sua trajetória na Globo. Atualmente, é chefe da redação de São Paulo.
Início da trajetória
Filho e neto de diplomatas, o carioca Fernando Soares de Araújo Castro nasceu em 02 de setembro de 1969. Filho do diplomata Luiz Augusto de Araújo Castro e da economista Silvia Maria de Melo Barreto Soares, Fernando é formado em Jornalismo e Ciências Políticas pela Universidade de Nova York.
Em 1993, logo depois de concluir o curso universitário, Fernando conseguiu um estágio informal no escritório da Globo em Nova York. Apesar do pouco tempo, foram apenas três meses, a experiência trouxe um enorme aprendizado para o recém-formado jornalista: " Foi uma das coisas mais úteis que eu fiz na vida, porque é um escritório pequeno, eles precisavam de alguém que reorganizasse o arquivo. O arquivo era uma parede cheia de fitas, esse era o arquivo. E no escritório se fazia um pouco de tudo, todo mundo editava, todo mundo pesquisava, todo mundo apurava, todo mundo produzia. Então, no curto espaço de tempo que eu fiquei no escritório eu posso dizer que eu tive uma aula de jornalismo que foi superior aos quatro anos que eu tive na faculdade".
O aprendizado com profissionais experientes se sucedeu até o retorno ao Brasil, ainda em 1993. Por meio de Olga Curado, na época editora regional do Rio de Janeiro, Fernando conseguiu uma vaga como apurador. Começou como estagiário e foi efetivado poucos meses depois. Em seu primeiro ano de volta ao Brasil, participou da cobertura de duas tragédias que entrariam para a história da violência policial brasileira: a chacina da Candelária, e a chacina de Vigário Geral, respectivamente, em julho e agosto de 1993. Coberturas difíceis e dramáticas. "Tanto na Candelária quanto em Vigário Geral, quando cheguei na redação já tinha uma apuração em andamento. No caso de Vigário, lembro que tínhamos muita dificuldade de lidar com a imagem daqueles caixões na praça. Foi a imagem mais impactante da década. Não sabiam se iam ou não colocar no ar. Era muito forte".
Chacina na Candelária (1993)
Logo depois, Fernando Castro assumiu a subchefia de reportagem e uma de suas tarefas era deslocar as equipes pelas ruas do Rio, onde os fatos estivessem acontecendo. Não existiam a agilidade da telefonia celular, WhatsApp ou LiveU (ferramenta que possibilita a transmissão ao vivo). A fita era enviada pela UPJ, a Unidade Portátil de Jornalismo, com o off do repórter gravado depois das imagens. O off era passado com o editor pelo “orelhão”, o telefone público da época.
Jornalismo local
Convidado para produzir reportagens para os telejornais locais, Fernando Castro tinha que “cavar notícia, recortando jornal, falando com repórteres, na base do bate-papo mesmo. Era a época da ‘cozinha’, como se fala. Cavar cada pauta. Uma espécie de caça ao tesouro”. Na caçada incessante por notícia, o jornalista conquistou mais espaço na editoria Rio. Com foco no jornalismo local, o produtor do 'RJ1' também ganhou mais tempo para investir nas notícias da cidade. O telejornal passou de oito para 20 minutos de produção e algumas matérias eram elaboradas na véspera: na reunião de pauta, os produtores apontavam os temas que incomodavam os moradores de um determinado bairro, como coleta de lixo, falta de ônibus, acidentes, enchentes. Era a voz da comunidade. Virou um quadro do 'RJ1' batizado internamente de 'VT Problema', semente do 'Calendário' que, anos depois, teve à frente a repórter Suzana Naspolini.
As entrevistas do 'VT Problema', lembra Fernando, eram feitas ao vivo pelo repórter Paulo Roberto do Amaral, que também foi editor executivo do 'Jornal Hoje': "Botávamos uma autoridade da prefeitura e alguém da comunidade. Tivemos muitos bate-bocas. Vimos que era possível botar autoridades e moradores discutindo no ar, ao vivo, sem TP, sem script. Esse foi um grande desafio e nosso pulo do gato".
RJ 1ª edição
Em 1995, Fernando Castro passou de produtor à editor de texto do 'RJ1'. O primeiro trabalho foi redigir a previsão do tempo. Em seguida, passou a editar reportagens do Rio para o 'Jornal da Globo', comandado na época por Lillian Witte Fibe, que informava o que era notícia à noite e no início da madrugada, e atualizava as informações que haviam saído no 'Jornal Nacional'.
Fernando considera o desabamento do edifício Palace II uma das coberturas marcantes daquele período. Era domingo de carnaval e os profissionais da editoria Rio estavam escalados para o desfile das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí, no Rio, quando aconteceu a tragédia. Oito pessoas morreram. "Teve o desabamento, depois os escombros, as escavações, a implosão, o drama das famílias, a descoberta de material inadequado na construção de Sérgio Naya. Tinha morador do prédio que trabalhava na editoria", recorda Fernando.
Jornal da Globo
Em 1998, o editor foi para o 'Jornal da Globo', onde permaneceu até o ano 2000, quando ocorreu o sequestro do ônibus 174, no Rio de Janeiro, levantando questionamentos na redação. A televisão devia, ou não, mostrar imagens que pudessem chocar o telespectador? Naquele sequestro, reféns eram mantidos dentro de um ônibus por um bandido que os ameaçava de morte. Com a situação fora de controle, uma moça levou um tiro e o sequestrador acabou morto, por asfixia, a caminho do hospital. A partir deste episódio, a direção do Jornalismo tomou uma decisão, lembra Fernando: "Um fato de grande relevância deve ser mostrado ao vivo, independentemente do possível desfecho. Quando a gente faz um jornal gravado, mantemos a regra do bom senso. Por que a gente vai mostrar um assassinato se podemos congelar a imagem? Mas a orientação naquela época era que quando fosse uma cobertura ao vivo, não deveríamos ter esse tipo de precaução".
Sequestro do ônibus 174 (2000)
Bom Dia Brasil
Depois da experiência no JG, Fernando torna-se editor do 'Bom Dia Brasil', cuja editora executiva, na época, era Lili Yusim. "Quando eu comecei no Bom Dia Brasil a gente tinha que fazer um pré-jornal, que era um chamadão, era um jornal que ia ao ar antes do Bom Dia Rio com os principais assuntos do Bom Dia Brasil. Então, a gente tinha que chegar bem cedo, preparar esse chamadão, que devia ter dez minutos, 12 minutos, pra ir, aí o Bom Dia Rio ia ao ar e aí depois a gente entrava no ar com o jornal grandão nosso", relembra.
Ainda no Bom Dia Brasil, Fernando passou de editor de nacional para editor de internacional. "Eu pedi pra Lili, falei: 'Lili, eu me formei nos Estados Unidos, falo inglês, acompanho as notícias internacionais, gostaria de ser editor de inter'. Ela deixou e, como sempre, no dia seguinte eu estava como editor de inter, não teve quase que uma, não teve transição nenhuma, foi bem simples".
11 de setembro
O primeiro grande acontecimento no período em que Fernando assumiu a editoria de internacional do 'Bom Dia Brasil', onde trabalhou até 2003, foram os atentados de 11 de setembro. Todos se lembram o que estavam fazendo nesse dia, e com o jornalista não foi diferente: "“Não tinha muita coisa rolando na editoria de Inter, quando Miguel Athayde apontou para um monitor onde estava ligada a CNN e o prédio do World Trade Center estava pegando fogo. A Globo São Paulo entrou imediatamente. No início, achávamos que era um aviãozinho. Aí alguém falou: ‘É atentado’! Decidimos que toda equipe do jornal voltaria para casa, dormiria umas quatro horas e voltaria depois para a TV. Fizemos uma cobertura enorme, e acho que uma das melhores, no Bom Dia Brasil".
Atentados de 11 de Setembro (2001)
Depois do 11 de setembro, a cobertura da guerra no Afeganistão foi particularmente difícil para os editores do 'Bom Dia Brasil'. O papel da editoria de Arte, sob o comando de Alexandre Arrabal, foi fundamental para fazer a reconstituição dos ataques, explicar que tipo de armamento era usado no conflito, onde estavam localizadas as tropas americanas, qual era o objetivo. "Era uma dificuldade transformar todas aquelas informações em imagem. O bom era que tínhamos a facilidade de entrar ao vivo, trazer entrevistados no estúdio, usar mapas e o virtual com os repórteres".
Tim Lopes
A cobertura de guerras e atentados era difícil para os profissionais de imprensa. Como era complicado também cobrir a violência no dia a dia de cidades brasileiras, como Rio e São Paulo. Em 2002, Fernando Castro foi editar reportagens do Rio de Janeiro para o 'Jornal Nacional', a convite do então diretor regional César Seabra. Naquele ano, um caso tornou-se particularmente dramático para Fernando Castro: a tortura e morte do repórter Tim Lopes, executado por traficantes depois de ter feito uma reportagem sobre tráfico de drogas. "O Tim sentava na minha frente na redação. O mais difícil talvez tenha sido chegar na Globo e encontrar as pessoas chocadas, chorando, sem saber direito o que tinha acontecido. Ninguém tinha se dado conta de tirar as coisas da mesa dele. E quando eu cheguei para trabalhar, a maletinha dele ainda estava sobre a mesa. O Tim tinha uma paixão contagiante pelo jornalismo. E não tinha nada pior para ele do que ficar na redação. O que ele gostava de fazer era o que fez até o último momento, ir para a rua e dar voz as pessoas. A gente passava o dia inteiro brincando, trocando ideias, ele tinha ótimas pautas. Achávamos que éramos imunes à violência. Naquele dia a ficha caiu".
Tim Lopes - Assassinato (2002)
Mensalão
Em 2005, Fernando Castro passou fez parte da equipe que cobriu, no Brasil, a morte do Papa João Paulo II. Em seguida, veio a cobertura do Mensalão. "Foi a primeira vez em que nos deparamos com um tipo de cobertura envolvendo denúncias contra muitas pessoas. Nós sempre atuamos com o cuidado de dar voz às pessoas que estavam sendo acusadas. Se uma denúncia é feita contra alguém, a gente tem a obrigação de ouvir essa pessoa para dizer o que ela tem a falar. A partir daí, não saí do JN".
Mensalão (2005)
Caravana JN
Um ano depois, em 2006, o já editor nacional do JN integrou um projeto ousado: a Caravana JN, que foi ao ar em ano de eleições presidenciais. Uma equipe viajou em um motorhome por diversas cidades brasileiras para mostrar os principais problemas de cada uma delas. A ideia era fazer o último episódio na praça dos Três Poderes, em Brasília. Nesse dia caiu um avião da Gol, na Floresta Amazônica, e o jornalismo da Globo se viu em meio a uma polêmica. "Alegaram que a Globo teria escondido a queda do avião, o que era uma mentira. Se a gente não tem uma confirmação 100% de que um avião caiu, qual era a companhia, o lugar, quantas pessoas a bordo, se não temos isso, não divulgamos a notícia. Seria uma irresponsabilidade. Foi uma injustiça dizer que escondemos a notícia para privilegiar esse ou aquele candidato".
Jornal Nacional: Caravana JN (Brasília)
Acidente da TAM
O outro acidente aéreo, desta vez envolvendo um avião da TAM, em 2007, levou o 'Jornal Nacional' a ser indicado ao prêmio Emmy. O desastre ocorreu em Congonhas e, no mesmo dia, uma reportagem indicava o que poderia ter sido a principal causa da queda daquele avião em São Paulo. "Essa cobertura nos obrigou a ter um contato maior com especialistas na área de segurança aérea e começamos, a partir desse momento, a entender como funciona um avião. Pode um avião voar com o reverso travado ou não pode? O que o piloto deve fazer quando o reverso é travado? Pode ter havido um erro do piloto? Como é que funcionam os controles do piloto? Foi um acidente em que a gente passou a explicar detalhadamente como um avião pode se envolver numa tragédia daquele tipo. Uma das coisas que mais marcaram a cobertura foi a nossa preocupação em explicar, ao máximo, o que as investigações estavam apontando, indicando, o que os especialistas estavam dizendo".
Acidente aéreo TAM (2007)
Ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão
Outras coberturas que marcaram a passagem de Fernando Castro pelo JN foram a enchente em Santa Catarina, em 2008, e o deslizamento em Angra dos Reis, na virada do ano de 2009 para 2010, pela dificuldade para chegar aos locais atingidos.
Em novembro de 2010, a cobertura da ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão pela polícia do Rio de Janeiro rendeu o primeiro Emmy do Jornalismo da Globo. Fernando destaca os cuidados que foram tomados com a segurança de repórteres e cinegrafistas: "Não deixamos de mostrar absolutamente nada, tomamos os cuidados necessários com as nossas equipes, como o uso de colete a prova de bala pelos repórteres. A Bette Lucchese só subiu no topo do morro depois que a situação estava segura. Ela fez uma transmissão ao vivo ali por skype, que era uma novidade na época. Filmamos a fuga dos traficantes e o helicóptero do cinegrafista que fez o flagrante estava a uma distância enorme, não tinha como nenhuma bala atingir a gente. Fizemos um trabalho exemplar e reconhecido mundialmente".
Ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão (2011)
Terremoto no Haiti
Ainda em 2010, Fernando Castro mudou novamente de função. Passou a ocupar a editoria internacional do JN. Ele conta como foi a transição: "Muitas vezes, as pessoas não fazem o que querem porque não pedem. Eu nunca tive essa vergonha. Chegou num determinado momento que fiquei com saudade da cobertura de internacional. Um espaço tinha sido aberto e eu fui. Troquei de cadeira".
Na editoria de Internacional, onde permaneceu até 2011, Fernando acompanhou (ou coordenou) coberturas como o vazamento de óleo no Golfo do México; a crise na Grécia, em que o desafio era traduzir aquela conjuntura econômica para a realidade brasileira; a Primavera Árabe, no Egito; o acidente de Fukushima, no Japão e o terremoto no Haiti. "As imagens do Haiti eram muito fortes e nós temos o cuidado de não chocar o telespectador sem necessidade. Por outro lado, nosso dever é dar a notícia".
Do aeroporto, a repórter Lilia Teles informou ao editor que havia corpos espalhados por todo lado. Mas o que marcou mesmo a cobertura do terremoto foi a imagem do salvamento de uma enfermeira: "A Lília foi gravando e mandando o material para cá. De repente todo mundo berrou na ilha de edição. Acharam uma mulher. Salvaram porque a Lilia falou para ajudar. Fomos montando a matéria e nos emocionando com aquelas cenas que aconteciam em tempo real".
Terremoto no Haiti (2010)
Editoria de política
Em 2012, Fernando Castro passou a integrar a editoria de política do 'Jornal Nacional'. Em junho do ano seguinte, milhares de pessoas foram às ruas em diversas cidades do Brasil. Os atos tinham começado como protestos contra o aumento nos preços das passagens e, em pouco tempo, se espalharam por grandes capitais, com uma pauta ampla de reivindicações. Fernando Castro se lembra bem do dia em que a cobertura ao vivo começou durante a tarde e foi se estendendo até o 'Jornal Nacional'. Naquele momento uma multidão se concentrava na frente do Congresso. "Me lembro bem daquele dia porque o JN não começou da maneira tradicional, com a leitura das manchetes, que chamamos de escalada. Estávamos ao vivo, mostrando os protestos com diversos repórteres, e teve uma hora em que o William Bonner anunciou da bancada que, naquele momento, o jornal estava começando de uma forma diferente, por causa daquele cenário em que a principal notícia do dia acontecia em tempo real".
Em 2015, Luiz Fernando Ávila, então editor-chefe adjunto do JN, foi convidado para ser editor-chefe do JH. Com a saída de Ávila, Fernando Castro assume o cargo de editor-chefe adjunto do JN. Em novembro desse mesmo ano, o Brasil acompanhou o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana, MG. "Foi um espanto geral na redação quando começamos a receber, da Rede Globo Minas, as imagens da área que os rejeitos atingiram. Era algo que ninguém tinha visto antes e dava a dimensão do tamanho daquela imensa tragédia", relembra Fernando.
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Ao longo de quatro anos, Fernando Castro também ajudou a coordenar as coberturas de outros grandes eventos jornalísticos: os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o impeachment de Dilma Rousseff, a Guerra na Síria, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a queda do avião da Chapecoense e as eleições presidenciais de 2018. Meses antes, neste mesmo ano, Fernando Castro também foi destacado para colocar no ar, ao vivo do estúdio de Moscou, a cobertura do 'Jornal Nacional' da Copa do Mundo da Rússia.
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Em junho de 2019, Fernando Castro tornou-se chefe de redação de rede da Globo São Paulo.