Por Memória Globo

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Poucas atrizes tiveram o orgulho de contabilizar quase 80 anos de carreira, ainda na ativa. Eva Todor pôde. E ainda que estivesse afastada dos vídeos desde 2010, quando fez uma participação especial em Ti-Ti-Ti, de Maria Adelaide Amaral, a atriz se dizia pronta para continuar dando vida aos seus personagens, sempre com uma carga de humor que lhe é tão peculiar. “Apenas estou mais velha. Mas mesmo velha posso ser brejeira, engraçada, curiosa. Posso ser uma porção de coisas. Será que tenho medo da idade? Não, porque eu assumo”, afirma. E comprovou tudo isso em 2012, na participação especial que fez em As Brasileiras e, em seguida, como Dália, no elenco da novela Salve Jorge, de Gloria Perez. E o público a adorava. Eva Todor não podia ir ao cinema, a um teatro, ao mercado, sem parar para ser cumprimentada, ganhar beijos, dar autógrafos. “Eu não sei dizer quais personagens mais marcaram. Mas ando na rua e o povo me reconhece em qualquer lugar. Gente de todas as idades. Até criança, é uma coisa! E olha que eu não trabalho para crianças”, comenta. A atriz admitia sem medo que gostava e precisava do reconhecimento do grande público: “Eu gosto do sucesso, não saberia viver bem sem sucesso”. Morreu em 2017, aos 98 anos, mas ficará na memória da dramaturgia brasileira.

Eu gosto do sucesso, não saberia viver bem sem sucesso. Em teatro, tenho vaidade: não trabalho para pouca gente. Não sei trabalhar sem bilheteria. Na televisão, não depende de mim. Mas faço força e consigo desenvolver o papel do jeito que aparece.
Entrevista exclusiva da atriz Eva Todor ao Memória Globo sobre sua carreira no teatro e na TV.

Entrevista exclusiva da atriz Eva Todor ao Memória Globo sobre sua carreira no teatro e na TV.

Início da carreira

A mãe de Eva Fodor Nolding era designer de moda, e seu pai, próspero comerciante de tecidos finos. Eles eram muito ligados em arte e, por isso, matricularam a menina, ainda com 4 anos, na Ópera Real da Hungria, onde ela aprendeu a dançar balé clássico. A família imigrou para o Brasil, fugindo das dificuldades pelas quais passava a Europa pós-guerra, e aqui Eva continuou as aulas de balé, com Maria Olenewa. Aos 9 anos, já havia se apresentado em espetáculo de dança solo, acompanhada de um pianista, no Teatro Municipal de São Paulo. “Não decidi ser atriz. Decidiram por mim. Meus pais, como bons húngaros, tinham a mania de arte e achavam que toda pessoa devia ter uma educação ligada à arte”, explica.

Seria mais provável que Eva seguisse a carreira de bailarina, não fosse um convite inesperado que mudou a sua vida. Mário Nunes, respeitado crítico do Jornal do Brasil no começo dos anos 1930, convidou a garota para fazer um teste para uma peça com Dulcina de Moraes, mas ela foi reprovada porque mal falava o português. É provável que exatamente ali Eva Todor tenha, de fato, desejado e decidido ter o palco para toda a sua vida, porque ficou extremamente chateada com o resultado: “Chorei, me descabelei, achei que tinha perdido a oportunidade da minha vida”.

Mas o mesmo Mário a convidou para fazer teatro de revista no Teatro Recreio: “Fiz um sucesso muito grande. Fiquei quatro ou cinco anos. E foi onde conheci meu primeiro marido, que era o diretor da companhia (Luis Iglesias). Eu me casei, aos 14 anos. Depois, ele achou que aquilo não tinha futuro e montou uma companhia de comédia para mim. Todo mundo disse que ele era louco, porque eu era uma menina que não tinha experiência nenhuma e, além do mais, falava português pessimamente. Mas, deu certo. E a companhia ficou sendo Eva e seus Artistas, durante muitos anos. Só de Teatro Serrador, fiquei 23 anos”. Ela adotou então o nome Todor, aportuguesado.

Teatro

Eva começou a fazer muito sucesso no teatro e acabou convidada para seu primeiro longa-metragem, em 1960, Os Dois Ladrões, de Carlos Manga, quando atuou ao lado de Oscarito. No ano seguinte, estreou na televisão, contratada pela TV Tupi para estrelar As Aventuras de Eva e para participar de E Nós, Aonde Vamos?, última novela da autora cubana Glória Magadan escrita no Brasil, em 1970. Ao longo dos anos, Eva dedicou-se de corpo e alma ao teatro, atuando em inúmeras produções, sempre em comédias.

Ela gostava de trabalhar duro. Tudo pelo sucesso: “Em teatro, tenho vaidade: não trabalho para pouca gente. Não sei trabalhar sem bilheteria. E na televisão não depende de mim. Mas você faz força, e consegue dar um jeito em qualquer papel: consegue desenvolvê-lo do jeito que apareça”. Mas também fez alguns papéis dramáticos, como em De Olho na Amélia, de Georges Feydeau, que lhe valeu o Prêmio Molière de melhor atriz em 1969: “Com o passar o tempo, criou-se o gênero Eva, que persistiu até agora, depois de velha. Porque não depende de idade, depende do gênero. Depende de uma forma de ser, de uma forma de representar, de improvisar. Não sei dizer exatamente o que é, é uma coisa brejeira, com humor. Não confundir com chanchada ou besteirol. É comédia fina”.

Entrada na Globo

Foi em 1977, já dona de uma carreira teatral de grande sucesso, que Eva Todor estreou na Globo. O convite foi algo que surgiu naturalmente: “Atuei em uma peça chamada Rendez-Vous, em que fazia seis ou sete papéis. Era muito engraçado. Eu fazia uma inglesa, uma grã-fina, uma porção de coisas. E estavam querendo levar Locomotivas, precisavam de uma mulher tipo vedete. Cismaram que eu tinha sido vedete, então me chamaram para fazer. Eu fazia a Kiki Blanche, a dona de um cabeleireiro, e que tinha sido vedete. Eu entrei e agradou. E nunca mais saí”. Locomotivas, de Cassiano Gabus Mendes, foi a primeira novela colorida do horário das 19h.

Locomotivas: Kiki Blanche

Locomotivas: Kiki Blanche

Gênero Eva

A atriz começou, então, a ser escalada para várias novelas, sempre atuando com o que chama de “gênero Eva”, o humor fino que virou sua marca registrada. Fez, por exemplo, Coração Alado (1980) e Sétimo Sentido (1982), ambas de Janete Clair, e O Outro, de Aguinaldo Silva (1987). Mas não esconde a predileção por Top Model, de Walther Negrão e Antonio Calmon (1989).

“As novelas eram sempre muito produzidas, muito bem cuidadas, com muita seriedade. E os autores eram muito bons. Eu fiz várias novelas da Janete Clair, por exemplo, e gostava muito de trabalhar com ela. Mas uma das novelas que mais amei foi a do Antonio Calmon, Top Model. Eu tive um trabalho muito bonito. Tenho muita saudade daquela época, e tenho pena de não ter mais trabalhado com ele. Calmon é até hoje um autor que me agrada demais. Não quero ser injusta com os que eu amo também. Eu gosto muito do Aguinaldo Silva. Com ele, fiz Suave Veneno (1999), que foi um dos melhores trabalhos meus”, conta.

Eva acumulou trabalhos em estúdios e palcos. Também atuou em várias minisséries e especiais, como Brava Gente, Você Decide, Malhação (1995), Sob Nova Direção, A Diarista (2004) e Casos e Acasos (2008), para citar alguns. Uma atuação que a marcou muito foi na minissérie Hilda Furacão, de Gloria Perez (1998): “Meu personagem tinha que ser diferente de tudo o que eu tinha feito: era ranzinza, velha, beata, chata. Conclusão: eu fiz. E foi muito bem. Eu não tive insucessos. Os papéis eram muito bons, com raríssimas exceções. Também gostei de fazer a novela O Cravo e a Rosa (de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira, em 2000) e América (de Gloria Perez, em 2005). Gloria caprichou para mim”. Em 2012, Eva repetiu a parceria com a autora participando de Salve Jorge na pele de Dália.

A atriz já havia se casado pela segunda vez, desta vez com Paulo Nolding, de quem assumiu o sobrenome, mas ao se tornar novamente viúva desistiu de acumular teatro e televisão, optando pelos estúdios da Globo.“Eu faz ia as duas coisas, teatro e televisão. Não tinha coragem de largar. Até que chegou uma hora que fiquei um pouco cansada. Então, tive que optar. E depois que meu segundo marido morreu, eu fiquei muito desorientada. E a Globo, muito atenta, me chamou para fazer Top Model, para eu não ficar muito aflita”, conta.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Webdoc sobre a novela O Cravo e a Rosa com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela O Cravo e a Rosa com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela Top Model com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Webdoc sobre a novela Top Model com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Assim como Top Model, a novela Caminho das Índias, de Gloria Perez, exibida em 2009, também marcou a carreira de Eva Todor. Ali ela viveu Cidinha, que, na terceira idade, redescobria o amor ao lado de Cadore, interpretado pelo ator Elias Gleizer. Dois anos antes, mais um trabalho que ela faz questão de destacar: o longa-metragem Meu Nome Não é Johnny, dirigido por Mauro Lima. Ela era a Vovó do Pó: “Foi engraçadíssimo. Eu vendia droga, que chamava de ambrosia: eu vendia ambrosia, em vez de cocaína. Aí eu andava nas ruas, e diziam assim: ‘A senhora, nessa idade, vendendo droga?’ Era muito engraçado”.

Também em 2007, ela acompanhou o lançamento de sua biografia, Eva Todor – O Teatro da Minha Vida, escrita pela jornalista Maria Ângela de Jesus e publicada pela Imprensa Oficial.

“Posso ser vaidosa? Pretensiosa? Avalio minha carreira brilhante: longa, sem tropeços, sem desastre, contínua, respeitada, com prestígio aqui e além-mar. Estive três vezes com a minha companhia, por conta própria, na Europa. Uma vez eu fiz uma temporada em Lisboa de 11 meses. Levei minha companhia para a África. Tudo o que eu tenho, conquistei com teatro e ajudada pela televisão. Viajei há pouco tempo para a Argentina e fui numa casa de tango. Quando entrei, recebi uma salva de palmas – só tinha brasileiro. Minha vida foi tranquila, limpa, muito transparente em todos os sentidos. Peço licença para ser pretensiosa, mas podem verificar, podem pesquisar, e vão saber que estou falando a verdade”.

A atriz faleceu no dia 10 de dezembro de 2017, aos 98 anos. Ela sofria de Mal de Parkinson e morreu em decorrência de uma pneumonia.

Fonte

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