Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

O carioca Érico Magalhães era ainda jogador de basquete quando começou uma carreira no serviço público.  No Serpro, uma empresa pública do governo federal, construiu uma sólida trajetória que o conduziu à superintendência de Planejamento e Orçamento e, depois, à diretoria de Recursos Humanos. Teve que abandonar o esporte, mas parece ter encontrado outro talento. Como executivo de RH chegou à Globo, em 1995, para participar da mudança na cultura organizacional que a empresa começava a empreender. Desempenhou importante papel no processo de renegociação da dívida, nos primeiros anos da década de 2000 e, durante quase duas décadas, fez parte das principais iniciativas de modernização, no sentido de conduzir a Globo ao futuro. Deixou a Globo em 2013, com um enorme legado de liderança, gestão e inovação.

As dimensões que a gente queria mudar: ter visão estratégica mais apurada; lideranças mais bem formadas; cultura de inovação, de agilidade e de produtividade; possibilidade de controlar riscos; e a capacidade de atrair, desenvolver e reter talentos estratégicos”

Érico Magalhães em entrevista ao Memória Globo, 2013 — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Início da carreira

Carioca, nascido em 7 de janeiro de 1949, Érico Magalhães é filho do engenheiro Hélio Pires Magalhães e de Maria Guiomar Magalhães, uma das primeiras mulheres formadas em Direito no Recife (PE). Seguiu a formação do pai pela Uerj, acrescentou um mestrado em Administração na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e tornou-se executivo da área de Gestão e Recursos Humanos.

Seu primeiro emprego, aos 25 anos, foi no Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), uma empresa pública do governo federal. Nessa época, abandonou uma carreira como jogador de basquete para seguir a trajetória corporativa. Atuou no desenvolvimento do Plano Diretor de Informática (PDI) do Banco Central e cresceu na estatal, onde chegou a superintendente de Planejamento e Orçamento. Depois de cursar uma pós-graduação (SEP) na Universidade de Stanford em 1984, nos Estados Unidos, tornou-se diretor de Recursos Humanos do Serpro.

Na década de 1980, Érico Magalhães trocou o setor público pelo privado. Aceitou um convite de Marluce Dias, que no futuro viria a ser diretora-geral da Rede Globo, para trabalhar no Grupo Mesbla, líder no setor de varejo no Brasil. Sua tarefa seria contribuir para a realização de mudanças na gestão da empresa, que visava criar bases para o desenvolvimento sustentado da empresa, que crescia em ritmo muito acelerado. No início de 1995, desligou-se da Mesbla.

Início na Globo

Ainda em 1995, sabendo que Érico Magalhães estava no mercado, Marluce Dias, então superintendente-executiva da Globo, fez um novo convite ao ex-companheiro de trabalho, desta vez para que assumisse a direção da Central Globo de Planejamento e Recursos Humanos (CGPRH). “Entrei em uma empresa extremamente vitoriosa, em todos os sentidos. No sentido de grande audiência, de prestígio, de participação no mercado publicitário, com todos os talentos do Brasil aqui instalados: os melhores artistas, os melhores jornalistas, os melhores engenheiros, os melhores administradores”, avalia. A estratégia de mudança era equilibrar os aspectos “show” e “business”, o que era fundamental para o crescimento da Globo.

O desafio de Érico Magalhães, em RH, naquele momento, era participar da mudança na cultura organizacional da Globo. Uma das principais medidas que marcam essa fase foi o lançamento do Programa de Gestão Participativa. A iniciativa premiava as áreas que alcançavam os orçamentos previstos e incentivava a relação entre gestores e subordinados, funcionando, a partir de então, como instrumento para que a empresa se aperfeiçoasse e buscasse novos objetivos. Outras ações com resultados foram o Programa Estagiar, que contribuiu para a formação e a renovação de talentos em diversos setores; e a reconstrução dos planos operacionais de cargos e salários. “Nesse período, comecei a gerenciar também a parte de recursos artísticos. Acredito que tenha sido outro grande ganho nessa primeira fase. Buscamos uma forma nova de nos relacionar com o elenco, uma forma aberta, clara, transparente e, acima de tudo, respeitosa”, esclarece. Durante cerca de três anos, o executivo também dirigiu a área de Pesquisas, como suporte à programação e à estratégia empresarial.

Crise da dívida e modernização dos negócios

A partir de 2001, Érico Magalhães passou a fazer parte do reduzido grupo que se reunia diariamente para cuidar da reestruturação da dívida da Globo, impactada pelo aumento do dólar em relação ao real – que incidia sobre empréstimos em moeda americana – e pela retração do mercado publicitário, no final dos anos 1990 e início do novo século. Como diretor da CGPRH, foi um dos profissionais envolvidos no processo. “O problema não era gerado na TV Globo, foi uma questão do endividamento para sustentar o crescimento em TV por assinatura, e nós tínhamos que nos preparar para reagir a isso, enquanto fazíamos uma mudança de gestão. Um enorme desafio”, afirma. No final de 2006, graças às negociações e à percepção dos credores da importância da Globo em seu mercado e da qualidade do trabalho realizado pela emissora, a situação financeira do grupo foi solucionada. “Fundamental nesta jornada foi o posicionamento claro dos valores e princípios dos acionistas e sua coesão com os executivos”, esclarece.

Vencida essa etapa, a Globo, liderada, à época, por Octávio Florisbal, pôde traçar os objetivos estratégicos que pautariam sua gestão nos anos seguintes: posicionamento em relação à internet e às novas mídias; atração e desenvolvimento de novos talentos; equação econômico-financeira para sustentar o crescimento; e estudo do comportamento do consumidor. Érico Magalhães auxiliou a empresa na conquista desses objetivos, participando das reuniões de planejamento que aconteciam mensalmente, para discussão dos temas e proposição de ações.

Érico Magalhães em entrevista ao Memória Globo, 2013 — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Ao mesmo tempo, lideranças da empresa ganharam a oportunidade de se qualificar em um programa chamado Liderança Global, que levou cerca de mil profissionais a estudarem na Fundação Dom Cabral, uma das melhores escolas de negócio do Brasil. Colaboradores de todas as áreas foram incentivados a buscar soluções que barateassem custos e agilizassem os processos em suas áreas. Entre os exemplos de medidas simples e criativas adotadas está a proposta, feita pelo ator Luigi Baricelli, em conjunto com equipes de engenharia e de tecnologia da informação, de substituir os textos em papel pelo envio do material digitalmente, para acesso por tablet. “A partir de 2010, em três anos, só olhando os processos e dizendo ‘faça diferente’, foi possível economizar 183 milhões de reais da empresa, reinvestidos em projetos e na remuneração da equipe”, garante .Outro projeto de grande impacto foi o Talentos Estratégicos, que visava construir uma ponte direta entre a estratégia de negócios (com início das grandes mudanças no setor) e a estratégia de RH (seleção, treinamento, remuneração, avaliação etc), com grande protagonismo dos líderes em todos os níveis.

Érico Magalhães também se envolveu em ações de responsabilidade social. O Projeto Pan, de 2007, tinha como premissa básica unir esporte e educação. A iniciativa contemplou a realização de Olimpíadas Escolares e Universitárias em todo Brasil e a disseminação de práticas de promoção a atividades físicas. Para isso, as Afiliadas, o Jornalismo e a Área Comercial se integraram ao projeto, divulgando boas práticas não apenas na TV, mas também na internet, nas rádios, nos jornais e nas revistas do grupo. Essa ação levou o executivo a receber, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, a Medalha Tiradentes, principal condecoração da casa legislativa.

Em 2013, em meio a uma série de mudanças organizacionais promovidas pela Globo, Érico Magalhães deixou a empresa. Seu legado foi reconhecido como fundamental à modernização na gestão da Globo, que chegava à segunda década do novo milênio pronta para enfrentar seus novos desafios de se tornar uma empresa cada vez mais integrada e com grande presença digital.

FONTES:

Depoimento de Érico Magalhães ao Memória Globo em 24/06/2013; Boletim da Programação da Globo 16/04/2013.
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