Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

Foi uma combinação de talento e sorte que rendeu à Elizabeth Savala o primeiro teste para a televisão, na Globo. A novela foi 'Gabriela' (1975), baseada no livro homônimo do escritor Jorge Amado, que mobilizou o público e tornou-se uma das campeãs de audiência da emissora. A personagem de Savala, a rebelde Malvina, caiu no gosto popular. De lá pra cá, seguiram-se várias outras novelas, como 'O Grito' (1975), 'Estúpido Cupido' (1976), 'Pai Herói' (1979), 'Plumas e Paetês' (1980), 'Chocolate com Pimenta' (2003), 'Alma Gêmea' (2005), firmando o reconhecimento de Savala como atriz de inúmeras possibilidades, particularmente forte na pele daqueles personagens divertidos, como a excêntrica Jezebel, de 'Chocolate com Pimenta'.

Não podemos perder a noção do que é real em nenhum momento. Precisamos sempre saber da nossa finitude, saber que [ser ator] é apenas um trabalho, que a nossa carreira é feita de altos e baixos.

Elizabeth Savala em A Justiceira — Foto: Globo

Início da carreira

Ao se aproximarem de Elizabeth Savala, muitas mães comentam: “Minha filha é tão linda. Ela quer ser atriz.” E ouvem, invariavelmente, outra pergunta: “Mas ela tem talento?” A questão, básica para a profissão, envolve também determinação, empenho em seguir a vocação e uma boa dose de sorte, tão importante quanto o talento, para acertar na loteria de estar no lugar certo e na hora certa. E, claro, ainda mais fundamental é estar muito bem preparado para quando a oportunidade aparecer. Hoje, passados muitos anos do seu começo na televisão, a atriz, que já que fez tantos personagens que ficaram marcados na memória do público e ganhou vários prêmios, declara seu amor à profissão e admite: “Tive uma sorte enorme.”

Pai Herói: Carina se joga do carro

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Fascínio pelos palcos

Tudo começou contra a vontade do pai, o dono de uma pequena gráfica Francisco Casquel Rufino, que não queria ver a filha investindo numa profissão que, além de malvista, nem regulamentada era naqueles idos de 1970. Mas já fascinada com os palcos, Savala matriculou-se na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, a USP. Uma das cadeiras do currículo era a participação no elenco do programa 'Teatro 2', da TV Cultura, que, em 1974, 1975, tinha três dos mais importantes diretores de teatro e televisão da época: Antonio Abujamra, Cassiano Gabus Mendes e Antunes Filho. E a figurante em Yerma terminou com a câmera fechando em seu rosto na última cena. Abujamra viu e gostou. Tanto que a chamou para o trabalho seguinte. “E quanto é o cachê?”, perguntou. Ao saber que não havia, quase declinou do convite, pensando em dedicar-se exclusivamente ao teatro.

Aceitou, fez sucesso, e foi chamada para outro teste. Em 'Chá das Quatro', de Cassiano Gabus Mendes, para a TV Cultura, quatro mulheres ficam presas num elevador, entre elas a mulher e a amante de um mesmo homem. Na gravação, houve o estranhamento de quem nunca havia encarado uma câmera, muito menos contracenado com ela, em vez de olhando para o outro ator. Foi difícil, mas Savala impressionou mais uma vez. Como uma coisa leva à outra, o próximo telefonema de Abujamra foi praticamente uma intimação: ela devia ir para o Rio de Janeiro, fazer teste na Globo.

Na Globo

Algo que nunca havia passado seriamente pela cabeça de Elizabeth Savala Casquel era fazer televisão. Pelo menos não até aquele momento. Aos 20 anos, sua opção era o teatro, considerado quase como uma religião. “Sou de uma geração que achava que ia transformar o mundo, que achava que o mundo podia ser mudado e que a gente podia usar o palco como palanque. Na época, televisão não era a minha praia”, lembra. Mas naquele mesmo mês, fevereiro de 1975, tudo mudou. Recém-casada com o ator Marcelo Picchi, o casal arrumou as malas e veio para a Globo. Veio, fez o teste e ficou. Olhando para trás, a atriz admite que ama a televisão, que lhe permitiu viver grandes emoções e fazer incontáveis amigos.

“Já chorei muito no colo de camareira, já contei minha vida para a cabelereira, para a maquiadora. Minha vida aconteceu ao lado de todas essas pessoas. Ou seja, para alguém que não queria fazer televisão, nossa! Eu amo isso aqui”. Amor, diga-se de passagem, plenamente retribuído pelo público. A carreira da atriz, porém, não se limitou apenas à telinha. Projetos paralelos a levaram a lonas culturais, praças púbicas, igrejas e escolas, de Manaus ao interior do Rio Grande do Sul.

Grande estreia

Mas impossível negar que um dos personagens mais lembrados seja mesmo a rebelde Malvina de 'Gabriela', que marcou sua estreia na Globo. Sua professora de sotaque baiano foi ninguém menos do que Lúcia Rocha, a mãe de Glauber Rocha. Os primeiros 20 capítulos foram gravados com a câmera parada, ideia do diretor Walter Avancini para obter melhor efeito televisivo. Mas isso obrigava Savala e Nívea Maria, com quem contracenava em inúmeras cenas, a malabarismos para manter o enquadramento na tela.

A repercussão da novela foi tanta que, por tabela, rendeu também seus frutos a Jorge Amado, o autor do livro. Ao ver-se tão bem retratada na tela, a municipalidade de Ilhéus, a mesma que expulsara o escritor por expor histórias e nomes importantes da cidade, voltou atrás, concedendo-lhe título de cidadão ilheense. “A importância da ocasião fez com que a Globo nos mandasse para lá”. A presença do elenco parou literalmente a cidade. A começar pelo aeroporto, que teve a pista de aterrissagem invadida pelo povo. “Na confusão, fomos enfiados no primeiro automóvel que viram. Que não fazia parte da produção. Era só de alguém que estava por ali”, relembra.

Tamanha repercussão às vezes traz consequências. Uma cena particularmente emocionante de 'O Astro' (1978), de Janete Clair, parou o país. Nessa novela, ela interpretou a taxista Lili, uma moça simples e batalhadora, que sofria com as atitudes do marido. “Imagina uma novela dar 98 pontos, você tem ideia do que é isso? A gente bateu até o jogo do Brasil e Inglaterra na Copa do Mundo. Sabe o que é isso, bater uma Copa do Mundo?” O problema foi a ocasião coincidir com a morte de sua sogra. No dia seguinte, o enterro praticamente levou à destruição do cemitério, na cidade paulista de São Carlos. Savala não pôde ficar. “As pessoas começaram a subir nas tumbas, aos berros, chamando “Lili! Lili!’. Tive que fugir de lá”, lembra.

Em 'De Quina pra Lua' (1986), a atriz roubou a cena com a Mariazinha, uma manicure que busca se redimir pelo atropelamento de José Batista (Milton Moraes) ao dedicar-se a encontrar o bilhete premiado da loteria que mobiliza as ações dos personagens da trama.

Maldades de Jezebel e personagens marcantes

Savala reconhece a força de suas vilãs, que quase sempre misturam humor e drama. Exemplo disso foram as inesquecíveis Imaculata, a beata de 'A Padroeira', e a ambiciosa Jezebel, de 'Chocolate com Pimenta'. A atriz lembra que “a Jezebel é uma personagem dificílima, porque é megera, mas também tem um humor ácido, sarcástico, marca registrada do [autor] Walcyr Carrasco”.

Chocolate com Pimenta: Final de Jezebel

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Outra personagem que marcou a carreira da atriz foi a Márcia, de 'Amor à Vida' (2013). A personagem também era conhecida como Tetê Para-choque e Para-lama, ex-chacrete que vendia hot-dog, mãe da hilária Valdirene (Tatá Werneck). A dupla com Félix (Mateus Solano) na reta final da novela fez muito sucesso. Em 2015, a atriz teve a oportunidade de interpretar a atrapalhada Tina em 'Alto Astral', que vivia às voltas para equilibrar (em segredo) seus dois maridos.

Ao avaliar a trajetória, Elizabeth Savala diz que para ser uma boa atriz é preciso manter os pés no chão. “Não podemos perder a noção do que é real em nenhum momento. Precisamos sempre saber da nossa finitude, saber que [ser ator] é apenas um trabalho, que a nossa carreira é feita de altos e baixos.”, analisa.

Teatro

“Aos 30 anos, com uma bagagem considerável na televisão, achei que não havia conseguido fazer o que realmente tinha pensado no começo”, lembra. Isso foi mais ou menos em 1986, e coincidiu com o encontro com seu segundo marido, o autor e produtor Camilio Attilio, com quem arregaçou as mangas e desenvolveu projetos alternativos que a levaram por mais de 120 cidades país afora. Foram monólogos como 'Friziléia, uma Esposa à Beira de um Ataque de Nervos', a princípio encenado nas lonas culturais do Rio de Janeiro e com o qual mambembou de norte a sul do país; 'A Paixão de Cristo', projeto que transformou altares em palco, levando a encenação a igrejas; ou 'Torturas de um Coração', com peça em escolas. “Hoje, posso dizer que tenho quase 30 anos ininterruptos de teatro”, revela.

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