Você já entrou por uma porta de um jeito, e dali saiu totalmente diferente? Definitivamente outro? Isso aconteceu na vida de Carlos Eduardo de Andrade. E não foi ficção. Ele encontrou uma amiga que estava indo para sua primeira aula de um curso livre de teatro, no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro. Carlos Eduardo ainda não sabia o que faria da vida, estava cansado da faculdade de Administração e de trabalhar com o pai, com representação de material de construção civil. Resolveu acompanhar sua amiga, entrou pela porta daquele curso de teatro como Carlos Eduardo Andrade, saiu de lá como Eduardo Moscovis, apaixonado pelos palcos.
Início da carreira
Esta é a história de um amor à primeira vista pela arte de representar: até ali, ele nunca tinha pensado em representar: "Nunca tive relação qualquer, nem de família, com artes, mesmo em geral. Nesse período que fazia Administração, eu sentia cada vez mais que não era o que eu realmente queria fazer. Mas não pensava em ser ator. Casualmente fui com minha amiga ao curso de teatro dela, gostei do que assisti, achei que tinha a ver com o que eu precisava. Estava passando por um momento de transição, de questionamentos”.
Eduardo Moscovis se matriculou no curso, dirigido por Carlos Wilson, o Damião, um revelador nato de jovens talentos, foi adiante e acabou cursando também o Tablado e, posteriormente, a CAL, duas famosas escolas de teatro do Rio de Janeiro.
Passou em um teste para participar do elenco do infantojuvenil 'Os Doze Trabalhos de Hércules', baseado na obra de Monteiro Lobato, em 1989. Depois, já com algumas peças no currículo, participou de uma remontagem de 'O Ateneu', baseada no romance de Raul Pompeia, sob direção de Damião, quando foi assistido pelo ator e diretor Emílio Di Biasi, que o convidou para participar da oficina de atores da Globo, em 1990 e 1991.
Na Globo
Na oficina de atores da Globo, ganhou a chance de fazer um teste para viver o cigano Tibor, em 'Pedra Sobre Pedra', de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn. Passou e estreou na televisão. “Eu acho que tive muita sorte no começo, e continuo tendo”, comenta.
Pedra sobre Pedra: Yago se mata, para tristeza do sobrinho Tibor.
Eduardo Moscovis foi convidado para atuar em 'Mulheres de Areia', de Ivani Ribeiro, em 1993, quando viveu o pescador Tito. No ano seguinte, fez seu primeiro protagonista, na minissérie 'A Madona de Cedro', de Walther Negrão. Ele estava no teatro, em cartaz com Raul Cortez, em 'Greta Garbo, Quem Diria, Acabou em Irajá', quando recebeu o convite para a minissérie.
Ele conta que sentiu o peso da responsabilidade, ainda que tenha se saído bem aos olhos do grande público e de seus pares: “Ali eu senti um pouco o peso de ser o protagonista da história. Eu via a equipe tensa, havia cobranças vindas do Rio, o prazo de gravação. Acho que eu era um pouco imaturo. Mas, no final, foi um trabalho bem bacana. Para mim, particularmente, foi bastante sofrido. E era um personagem sofrido também. Mas foi muito importante”.
Já conhecido do grande público, foi convidado para participar da novela 'As Pupilas do Senhor Reitor', de Lauro César Muniz, no SBT. Não emendou outros trabalhos na emissora paulista porque no ano seguinte, em 1996, voltou para a Globo, escalado para a novela 'Anjo de Mim', de Walther Negrão. Era a chance de contracenar com um de seus ídolos, o ator Tony Ramos – a outra é a atriz Gloria Pires. “São dois atores talentosíssimos, com uma história enorme. Eles têm uma visão da profissão, um respeito absurdo. Eu ficava observando o Tony, tanto dentro do set como nos bastidores: como ele se movimentava, como conseguia conduzir uma equipe, um elenco inteiro, sem fazer força para isso. Ele e Glorinha foram duas grandes referências”, conta. Na época, fez sua estreia no cinema, com o longa 'Casa de Açúcar', de Carlos Hugo Christensen.
Por Amor
A novela 'Por Amor', de Manoel Carlos, exibida em 1997, foi um marco na carreira de Eduardo Moscovis. Seu personagem, o piloto de helicóptero Nando, teve um tórrido romance com Milena, vivida por Carolina Ferraz. Resultado: os dois ganharam o Prêmio Contigo! na categoria melhor par romântico. “Como ele era um piloto de helicóptero, tínhamos a possibilidade de fazer muitas cenas exóticas. Íamos para cachoeira, para praia deserta. Era um casal que fazia a novela respirar muito. E meu personagem tinha uma irmã mais nova, de quem cuidava, e tinha uma relação boa com a mãe. Era um personagem de muita boa índole, muito querido pelo público. Acabou funcionando. Foi bem interessante”, reflete.
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Webdoc sobre a novela Por Amor, de Manoel Carlos, com entrevistas exclusivas ao Memória Globo.
Naquele ano, dando prosseguimento à sua carreira no cinema, atuou em 'O Que é Isso, Companheiro?' (1997), dirigido por Bruno Barreto, e em 'Bella Donna' (1998), de Fábio Barreto.
Na televisão, a parceria com Carolina Ferraz continuou a render frutos: ambos foram convidados para o remake de Pecado Capital, reescrito por Gloria Perez. Ele agora era o taxista Carlão, e ela, sua noiva Lucinha. Mais um protagonista em seu currículo: “Me veio um pouco a lembrança de 'A Madona de Cedro', que tinha sido meu primeiro protagonista na Globo e uma experiência muito complicada para mim. Depois, em 'Por Amor', quando o casal Nando e Milena ficou muito em evidência, eu comecei a sentir um pouco mais dessa pressão mesmo em relação à mídia, essa exposição, de começar a ter um reconhecimento maior nas ruas. E aquilo me assustou um pouco. Ao mesmo tempo, estava na hora, também”.
Pecado Capital - 2ª versão: Carlão morre
O inesquecível Petruchio
Em 2000, mais um protagonista: Julião Petruchio, em 'O Cravo e a Rosa', de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira, que lhe valeu mais um prêmio, o Troféu Internet (SBT), na categoria de melhor ator. “Eu me achava pequeno para o Petruchio. Achava que o ator para fazê-lo devia ser um Otávio Muller, um Ernani Moraes. Eu soube que, depois, Ernani fez o Petruchio no teatro e foi, inclusive, premiado. Eu achava que a cara do personagem era uma coisa mais pesadona, maior. Para chegar a essa cara, eu precisava de ajuda externa, física. Eu já estava com o cabelo grande, cheio. Fui deixando crescer a barba. Enfim, acho que ali tive a chance de fazer uma coisa bem diferente de tudo o que tinha feito e, principalmente, algo relacionado ao humor, que faço muito pouco, mas gosto muito de fazer”, explica.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc sobre a novela O Cravo e a Rosa com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
Vilão
Em 2002, foi a vez de 'Desejos de Mulher', de Euclydes Marinho, quando contracenou com Glória Pires. No ano seguinte, fez uma participação especial em 'Kubanacan', de Carlos Lombardi, até que em 2004 viveu seu primeiro vilão, o político mau-caráter Reginaldo Ferreira da Silva, em 'Senhora do Destino', de Aguinaldo Silva. “Reginaldo tinha uma coisa especial porque era um político, e estávamos vivendo uma época de eleição. Ele era um corrupto. Então, o que eu recebia de apoio na rua, pelo mau-caratismo do personagem! Muitas vezes as pessoas vieram me pedir emprego”, conta.
Eduardo lembra com carinho de uma cena forte, em que o pai, vivido por José de Abreu, reaparecia depois de anos. "Acho que eu consegui mostrar um pouco da carência e da desestrutura desse cara, através desse reencontro, das cobranças que ele faz para esse pai: 'Então, imagina, você aparece agora, depois de 20 anos...' - sei lá quantos anos - '...se dizendo arrependido. E tudo o que a gente passou...?' Então, era uma cena superbem escrita pelo Aguinaldo [Silva], e que me dava uma base muito forte para mostrar ou para justificar esse desvio de caráter do Reginaldo, né?"
Além do trabalho em telenovelas, participou do 'Brava Gente', no episódio 'Pastores da Noite', de Sérgio Machado e Guel Arraes, dos especiais 'Papo de Anjo' e 'Carol & Bernardo', e até do 'Sítio do Picapau Amarelo'.
Rafael e Serena
Seu próximo protagonista foi logo em seguida, em 'Alma Gêmea' (2005), de Walcyr Carrasco. Na trama, interpretou Rafael, que vivia um lindo romance com Serena, personagem de Priscila Fantin. “Esse trabalho foi uma loucura. Eu havia acabado de fazer o Reginaldo, e não tenho por hábito emendar uma novela na outra. Eu estava estafado. Havia feito uma novela inteira, de 11 meses, e ia emendar noutra”, lembra. Mas o resultado não poderia ter sido melhor, tanto que Eduardo Moscovis levou mais um troféu para casa, o Prêmio Contigo! de melhor par romântico.
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Webdoc sobre a novela Alma Gêmea com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
Eduardo Moscovis não sabe, com precisão, apontar seu personagem preferido: “Cada um tem sua história, tem seu prazer. Dentro de um personagem de novela, por exemplo, você vive quase um ano. Então, muitas coisas paralelas acontecem na nossa vida. Eu, pelo menos, relaciono muito a minha vida com os trabalhos. Tento fazer a cronologia da minha vida com o que eu fazia na televisão. Mas eu destacaria o Tibor, que foi o primeiro personagem que fiz, por ter sido o primeiro. Eu acho que o personagem Nando também teve uma repercussão interessante. A sequência de Pecado Capital foi muito legal, pela responsabilidade de fazer o remake. E o Petruchio, até hoje falam muito dele. Mas não há nenhum personagem que eu destacaria como único. Acho que cada trabalho vai agregando”.
O ator é pai de Gabriela e Sophia, frutos do primeiro casamento, com Roberta Richard, e Manuela e Rodrigo, do segundo casamento, com Cynthia Howlett.
Cinema
Eduardo fez diversos filmes ao longo da carreira. Além dos já citados, esteve em 'Bendito Fruto', dirigido por Sérgio Goldenberg (2005), 'Sem Controle', de Cris D’Amato (2007), 'Cabeça a Prêmio', de Marco Ricca (2009), '180 Graus', de Eduardo Vaisman (2010), 'Os Homens São de Marte... E É Pra Lá que Eu Vou', de Marcus Baldini (2014), 'Pequeno Dicionário Amoroso 2', de Sandra Werneck (2015), 'Amor em Sampa', de Carlos Alberto Riccelli (2016), 'Berenice Procura', de Allan Fiterman (2017), 'O Doutrinador', de Gustavo Bonafé (2018), 'Pai em Dobro', de Cris D'Amato (2021), 'Veneza', de Miguel Falabella (2021) e 'Ela e eu' (2021). Por este último, foi agraciado com o troféu de melhor ator no Festival de Brasília de 2021.
Na Globo, em 2010, atuou na minissérie 'As Cariocas', baseado em livro de Sérgio Porto, e, em 2012, estreou no papel de Léo, personagem principal do seriado 'Louco por Elas', de João Falcão. Em 2015 foi convidado a voltar às novelas em 'A Regra do Jogo', de João Emanuel Carneiro, como o ambicioso Orlando, que passa por cima de qualquer pessoa para alcançar seus objetivos. Em 2018, esteve também em 'O Sétimo Guardião'. Em 2022, fez uma participação em 'Um Lugar ao Sol'. E voltou a ter um papel fixo em novela em 'No Rancho Fundo', em 2024, como o minerador Quintino Ariosto.
Eduardo também fez papeis marcantes em canais por assinatura e no streaming. No GNT, fez a série 'Questão de Família' (de 2014 a 2017) e a minissérie 'Lúcia McCartney' (2016-17). Em 2020, interpretou o policial militar e matador em série Claudio Brandão em 'Bom Dia, Verônica' (Netflix), pelo qual ganhou vários prêmios, como o APCA. Dois anos depois, interpretou Castor de Andrade em 'El presidente' ('O Jogo da Corrupção'), série sobre falcatruas no futebol, da Amazon Prime Video. Em 2024, esteve em 'No Ano que Vem', série dirigida por Maria Flor e Marianne Macedo Martins para o Canal Brasil.
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