Luiz Felipe Loureiro Comparato nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de novembro de 1949. É pai das atrizes Bianca e Lorena Comparato. Formou-se em Medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1972, aos 22 anos, e passou a ser conhecido como Doc Comparato. Fez pós-graduação e especializou-se em cardiologia, em Londres, onde morou por três anos. Na Inglaterra, acabou fazendo também cursos de roteiro e escrevendo diversas peças e contos.
De volta ao Brasil, decidiu abandonar a medicina para se dedicar exclusivamente ao ofício de escrever. Teve vários textos premiados em concursos literários e travou contato com jornalistas e escritores. No final da década de 1970, foi convidado pelo jornalista Ivan Lessa para integrar a equipe de redação do jornal 'Pasquim'. Colaborou com as revistas Playboy e Ele e Ela, entre outras publicações.
Estreou na televisão em 1978, na Globo, convidado pelo ator e diretor Ziembinski para escrever para o programa 'Caso Especial'. O primeiro episódio que assinou foi 'E Agora, Marco?', que contava a história de um bancário descontente com seu cotidiano. No elenco, sob a direção de Fabio Sabag, os atores Mário Lago, Yoná Magalhães e Ruth de Souza, entre outros.
Em seguida, ainda no final da década de 1970, Doc Comparato integrou a equipe de autores responsáveis pelos seriados 'Plantão de Polícia' (1979) e 'Malu Mulher' (1979). Os programas faziam parte do projeto 'Séries Brasileiras', que promovia a substituição de parte dos filmes e seriados estrangeiros por produtos nacionais. 'Plantão de Polícia' era baseado no cotidiano dos jornalistas Waldomiro Pena (Hugo Carvana) e Serra (Marcos Paulo), repórteres policias do fictício jornal Folha Popular. Já 'Malu Mulher', com Regina Duarte no papel principal, mostrava a realidade de uma mulher recém separada do marido, numa época em que o divórcio ainda era considerado tabu na sociedade.
Doc Comparato voltou a assinar um 'Caso Especial' em 1981, quando foi exibido o episódio 'Os Amores de Castro Alves' (1981), baseado na biografia do poeta. Dois anos depois, escreveu outros oito episódios para o programa, entre os quais 'O Inspetor Geral' (1983), adaptado da peça de Nikolai Gogol, que teve no elenco atores como Carlos Vereza, Armando Bógus e Lucélia Santos.
Em 1982, Doc Comparato escreveu em parceria com Aguinaldo Silva a primeira minissérie exibida pela Globo, a premiada 'Lampião e Maria Bonita'. A minissérie narrava os últimos seis meses de vida do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva (Nelson Xavier) e de sua esposa, Maria Bonita (Tânia Alves), até a morte dos dois na Serra dos Angicos, em 1938. Além dos elogios da crítica especializada, 'Lampião e Maria Bonita' garantiu à dupla de autores o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes na categoria Revelação. A minissérie foi, ainda, a primeira produção da Globo a receber a medalha de ouro no Festival Internacional de Nova York.
No ano seguinte, Doc Comparato voltaria a trabalhar com Aguinaldo Silva numa minissérie, desta vez ambientada na Baixada Fluminense e na Zona Sul do Rio de Janeiro. 'Bandidos da Falange' (1983) contava a história da organização criminosa Falange Vermelha, e de sua infiltração em setores da polícia e da alta sociedade carioca. A minissérie foi escolhida a melhor do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte, e José Mayer, que interpretou o bandido Jorge Fernando, seu primeiro papel de destaque na Globo, ganhou o prêmio de ator revelação.
Na frente das câmeras
Em 1984, Doc Comparato e Aguinaldo Silva assinaram juntos 'Padre Cícero', minissérie que contava a trajetória do polêmico padre Cícero Romão Batista (Stênio Garcia), que morreu aos 90 anos de idade, em Juazeiro do Norte, Ceará. Doc Comparato fez uma participação como ator na minissérie, interpretando o personagem Macedo. Esta não seria sua única participação especial como ator: voltou a atuar em 1985, desta vez como ele próprio, na novela 'A Gata Comeu', de Ivani Ribeiro. Em 1998, esteve no elenco da minissérie 'Labirinto', de Gilberto Braga.
Voo solo
A minissérie 'O Tempo e o Vento' (1985) foi a primeira que Doc Comparato assinou sozinho. Trata-se de uma adaptação de 'O Continente', primeira parte da trilogia em que o escritor Erico Verissimo narrou a saga da centenária família Terra Cambará e aspectos fundamentais da formação do estado do Rio Grande do Sul. No elenco da minissérie, que contava com mais de cem personagens, os atores Tarcísio Meira, José Lewgoy, Lélia Abramo, Glória Pires, entre outros. 'O Tempo e o Vento' ganhou o troféu de melhor vídeo no Festival de Cinema e Vídeo de Havana, em Cuba.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc minissérie - 'O Tempo e o Vento' - 1ª versão (1985)
Livros e aulas
Ainda na década de 1980, Doc Comparato publicou dois livros sobre a técnica de escrever roteiros: 'Roteiro – Arte e Técnica de Escrever para TV e Cinema' (1982), que foi o primeiro no gênero em língua portuguesa, e 'Da Criação ao Roteiro' (1984). Com seu trabalho reconhecido inclusive fora do Brasil, Doc Comparato começou a dar aulas de roteiro em países da América Latina e da Europa. Em Portugal, ministrou um curso para funcionários da emissora RTP. Na Globo, Doc Comparato foi o responsável pelo departamento de formação de autores da Casa de Criação, dirigido por Dias Gomes.
Sua experiência internacional incluiu também o desenvolvimento de projetos para emissoras europeias. Em 1987, por exemplo, escreveu duas minisséries para a televisão espanhola. Uma delas foi 'Alugam-se Sonhos', em parceria com Gabriel García Márquez. No ano seguinte, em Portugal, escreveu dois episódios do seriado 'Histórias que o Diabo Gosta'.
Em 1990, Doc Comparato voltou a assinar uma minissérie da Globo, agora em parceria com Antonio Calmon. A ideia de escrever 'A, E, I, O… Urca' (1990) surgiu das histórias contadas ao roteirista por um antigo frequentador do Cassino da Urca, o diretor Carlos Manga. Ambientada no Rio de Janeiro dos anos 1930 e 1940, no auge do Cassino, a minissérie trazia a história do casal formado pelo croupier Tide (Carlos Alberto Riccelli) e da corista Sílvia (Débora Bloch).
Em 1997, Doc Comparato foi um dos criadores, junto com Daniel Filho, Antonio Calmon e Aguinaldo Silva, do seriado policial 'A Justiceira' (1997), que contava a história de um grupamento internacional de combate ao crime organizado. O seriado, cuja principal personagem é Diana (Malu Mader), foi concebido em 32 episódios, mas teve que ser encurtado, devido à gravidez da atriz. Ao final, a Globo exibiu 12 episódios, com 40 minutos de duração cada.
Doc Comparato transferiu-se para o SBT em 2004, assinando contrato como consultor de teledramaturgia. Ficou pouco tempo naquela emissora. Convidado a trabalhar na TV Record, integrou a equipe de colaboradores do autor Tiago Santiago nas novelas 'Caminhos do coração' (2007) e 'Os Mutantes' (2008).
Cinema e teatro
Além da vasta experiência em televisão, Doc Comparato também assinou roteiros para o cinema e peças de teatro. Entre os primeiros, estão 'O Beijo no Asfalto' (1980), de Bruno Barreto, 'Bonitinha, mas Ordinária ou Otto Lara Rezende' (1981), de Braz Chediak, 'O Cangaceiro Trapalhão' (1983), de Daniel Filho, e 'Águia na Cabeça' (1984), de Paulo Thiago. Para o teatro, escreveu as peças 'As Tias' (1981) e 'O Beijo da Louca' (1981), entre outras. Também publicou os livros 'Sangue, Papéis e Lágrimas' (1978) e 'A Guerra das Imaginações' (1997).