Por Memória Globo

Memoria Globo

“Nasci em Niterói por coincidência. Meu local de nascimento é o circo”. As palavras de Dedé Santana confirmam o que o respeitável público sempre soube: aquele trapalhão, rei das piruetas, cambalhotas e muito bom nas brigas – todas coreografadas –, só podia ser de circo. Ator, diretor, dublador, roteirista, esse artista de origem circense foi um dos criadores do grupo de maior sucesso do humor brasileiro, Os Trapalhões. Manfried Sant’Anna fez sua estreia nos palcos e picadeiros aos três meses de idade, no colo da mãe. Seus pais, o palhaço Picolino e a contorcionista Ondina Santana, eram donos do circo, com o qual viajou pelo Brasil durante a infância e a adolescência. Mais tarde, essa experiência seria o diferencial em seu trabalho na televisão.

Eu fiz de tudo no circo: fiz barra, trapézio, globo da morte, fui palhaço de matinê. Sempre como Dedé. O apelido nasceu porque meu irmão pequeno, no berço, me via e chamava: Dedé! E ficou. Hoje, se me chamam pelo nome, acho que estão me xingando!

Dede Santana em depoimento exclusivo ao Memória Globo, 07/05/2013 — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Início da carreira

A preocupação com os estudos das crianças levou seu pai a fixar o circo em São Paulo. A vida não era fácil. Na época, Dedé estudava de manhã, trabalhava à tarde – foi verdureiro, ajudante de mecânico, engraxate, trabalhou em confecção. À noite, se apresentava no circo com a família. Era comum que os espetáculos de então tivessem duas partes: uma no picadeiro, outra no palco. E Dedé participava de ambas: tinha desenvoltura no arame, no trapézio, no globo da morte; depois era o ator principal, chegando a viver mais de 20 tipos, entre caipiras, velhinhos, bêbados, mulheres.

Tempos depois, já em São Paulo, era Dedé quem substituía o famoso Arrelia nos espetáculos circenses de sexta-feira, quando o palhaço gravava seu programa de TV, o 'Circo do Arrelia'. Numa dessas sextas-feiras, chegou atrasado, vestiu-se com a indumentária de Arrelia, mas esqueceu de maquiar-se – para deleite do público. Deu certo e Dedé passou a se apresentar assim, sem peruca e de terno comum, usando apenas tinta vermelha no nariz. Ganhou até prêmio da Gazeta Esportiva de São Paulo, como o primeiro palhaço a se apresentar de cara limpa.

No início dos anos 1960, continuou excursionando pelo país, agora com seu próprio circo, o Circo Revista Real. Esteve na inauguração de Brasília, onde estreou teatro, teve programa na Rádio Nacional e participou da primeira transmissão de TV na capital Federal. Escrevia peças de teatro de revista, como De Cabral a JK, encenava dramas de autores como Juraci Camargo e recebia em seu circo artistas ilustres, como Luiz Gonzaga.

Dedé conhece Didi

Dedé Santana ganhou seu apelido do irmão, Dino Santana, também ator e diretor. Dedé estreou na televisão, na TV Tupi do Rio de Janeiro, levado por Arnaud Rodrigues, que o tinha visto em um teatro de revista de Valter Pinto. Na Tupi, foi apresentado a Renato Aragão. Ao se conhecerem, Dedé e Didi se deram muito bem: “Falei: ‘Eu sou o Dedé. E você?’ E ele respondeu: ‘Eu sou o Didi’. Aí foi a primeira gargalhada juntos”, lembra.

— Foto: Globo

Dedé e Didi atuaram juntos pela primeira vez no quadro 'Os Legionários', que fazia parte o programa humorístico 'A, E, I, O… Urca!', exibido pela TV Tupi do Rio de Janeiro em 1963. O quadro era baseado nos filmes da dupla 'O Gordo e o Magro' e fez tanto sucesso que Dedé e Didi foram convidados pelo diretor Carlos Manga para trabalhar na TV Excelsior. Estrearam na emissora em 1966, no quadro 'Um Dois, Feijão com Arroz', dirigidos por Wilton Franco. Novo sucesso. Na Excelsior, Wilton Franco e Manoel Rodrigues criaram um programa especial para a dupla, que passaria a contar com a participação de Ted Boy Marino, Ivon Cury e Vanderlei Cardoso. O nome ficaria marcado na história da televisão brasileira: 'Os Adoráveis Trapalhões'.

Ainda na fase inicial de sua carreira na televisão, Dedé Santana participou de outros programas, inclusive telenovelas, como '002 contra o Crime', dirigida por Daniel Filho. E também trabalhou com Renato Aragão em 'A Cidade se Diverte'. Viveu, ainda, a personagem Maloca em 'Show do Riso', ao lado do irmão, Dino Santana, que vivia o Bonitão.

Os Trapalhões – Didi (Renato Aragão), Dedé (Dedé Santana), Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes) e Zacarias (Mauro Gonçalves) – em trecho do esquete em que parodiam uma orquestra.

Os Trapalhões – Didi (Renato Aragão), Dedé (Dedé Santana), Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes) e Zacarias (Mauro Gonçalves) – em trecho do esquete em que parodiam uma orquestra.

O programa 'Os Adoráveis Trapalhões' fez grande sucesso e durou até o fechamento da Excelsior, em setembro de 1970. A partir de então, Dedé Santana passou um período afastado da televisão, quando trabalhou dirigindo shows e produzindo alguns filmes. Em São Paulo, fez um curso de cinema com Ari Fernandes, famoso por ter estrelado o programa 'Vigilante Rodoviário'.


Seu retorno à televisão, ainda em 1970, foi ao lado de Renato Aragão, que então trabalhava na Record, no programa 'A Praça da Alegria', com Carlos Alberto de Nóbrega. Os dois participaram de alguns esquetes juntos, e a direção da emissora se entusiasmou. Logo Dedé e Didi voltariam a estrelar um programa, na Record, batizado 'Os Insociáveis'.

Dedé em Os Trapalhões — Foto: Acervo/Globo

Nesse programa foi formado o núcleo do 'Trapalhões'. Dedé convidou o músico e instrumentista Antônio Carlos, o Mussum, do grupo Originais do Samba; Didi trouxe Mauro Gonçalves, o Zacarias, que interpretava o garçom Moranguinho em programas da Tupi. Além deles, veio também o ator Roberto Guilherme, que mais tarde viveria o eterno Sargento Pincel. O programa fez sucesso, mas o nome, 'Os Insociáveis', não: o público continuava se referindo aos dois como 'Trapalhões'.

Cinema

Didi e Dedé atuaram no cinema pela primeira vez em um documentário colorido realizado e dirigido por Roberto Farias. Seu primeiro filme de sucesso, no entanto, foi 'Na Onda do Iê-Iê-Iê', que teve a direção de Aurélio Teixeira e roteiro escrito pelo próprio Renato Aragão. No elenco, estrelas como Chacrinha, Wilson Simonal, Rosemary, José Augusto Branco, entre outros. Em seguida, os dois fizeram filmes como 'Ali Babá e os Quarenta Ladrões' e 'Aladim e a Lâmpada Maravilhosa'.

A estreia de Dedé Santana no cinema aconteceu em 1962, no filme 'Rio à Noite', de Aloisio T. de Carvalho. Em seguida, trabalhou ao lado de Átila Iório em 'Lana, A Rainha das Amazonas', dirigido por Cyl Farney e Géza von Cziffra. Sua carreira na tela grande deslanchou com 'Os Trapalhões'. Além de atuar em quase 40 títulos, todos de muito sucesso, Dedé Santana também dirigiu alguns deles. Os 'Saltimbancos Trapalhões', por exemplo, lançado em 1983, teve mais de dois milhões de telespectadores.

Estreia na Globo

“O Mussum, conheci nos Originais do Samba. O Zacarias, o Didi apareceu com ele  e eu não acreditei que ele era comediante. Mas quando ele foi ensaiar, morri de dar risada, porque o Zacarias é o grande comediante do grupo.” Didi, Dedé, Mussum e Zacarias formariam o grupo de maior sucesso do humor brasileiro. Os filmes dos 'Trapalhões' estão na lista dos mais assistidos de todos os tempos pelo público brasileiro. Seus discos estiveram entre os mais vendidos também. O quarteto inspirou músicas, sambas-enredo, revistas em quadrinho etc.

Os Trapalhões – Didi (Renato Aragão), Dedé (Dedé Santana), Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes) e Zacarias (Mauro Gonçalves) – em trecho do esquete “Trapaswat”, uma paródia do seriado americano Swat.

Os Trapalhões – Didi (Renato Aragão), Dedé (Dedé Santana), Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes) e Zacarias (Mauro Gonçalves) – em trecho do esquete “Trapaswat”, uma paródia do seriado americano Swat.

O grupo estreou na Globo em 1977, à convite de Augusto César Vannucci, que se tornaria o primeiro diretor de 'Os Trapalhões'. Depois dele, Adriano Stuart, Oswald Loureiro e Wilton Franco também dirigiram o programa, que, em 1997, entrou para o livro dos recordes como o humorístico que permaneceu em exibição por mais tempo na TV. Somados os períodos em emissoras diferentes, foram mais de 30 anos de atividade, sendo quase 20 deles na Globo.

O programa dos 'Trapalhões' deixou de ser gravado em 1995, após as mortes de Zacarias, em 1990, e de Mussum, em 1994. Dedé e Didi partiram então para uma temporada de três anos na Europa, após fecharem contrato com a televisão portuguesa SIC. Na emissora, os dois apresentam o programa 'Os Trapalhões em Portugal'.

De volta ao Brasil, Dedé Santana trabalhou na Record e no SBT, antes de retornar à Globo. No SBT, criou com Beto Carrero o programa 'Dedé e o Comando Maluco', versão televisiva da atração que os dois haviam concebido para o Beto Carrero World, parque temático no Sul do país. 'Os Trapalhões' também tiveram uma parceria com o empresário. O parque foi usado como locação do filme 'Os Trapalhões no Reino da Fantasia', que teve Beto Carrero no elenco.

Retorno à Globo

Dedé voltou para à Globo nos anos 2000. Chegou a participar da 'Escolinha do Professor Raimundo', com Chico Anysio, em 2001. Ao lado de Renato Aragão, participou da edição de 2004 do 'Criança Esperança', programa que faz parte da campanha lançada em 1986 pela Rede Globo e a Unesco, justamente durante um programa especial dos 'Trapalhões'.

Dedé no Criança Esperança, 2017 — Foto: Acervo/Globo

Dedé voltou a atuar ao lado de Didi em junho de 2008, no seriado 'A Turma do Didi'. Recebido com festa pela equipe, o comediante também fez parte do elenco de 'As Aventuras do Didi', exibido aos domingos até fevereiro de 2013.

Ao completar 50 anos de carreira, em abril de 2011, Dedé Santana foi homenageado no Circovolante – 3º Encontro de Palhaços, realizado em Mariana, Minas Gerais. Em julho daquele ano, inaugurou o Circo do Dedé Santana, no Shopping São Gonçalo.

Primeiro esquete com Dedé Santana após o retorno à Globo: o humorista faz um sogro bravo. Com Didi (Renato Aragão), Daniel Del Sarto, Jacaré, Marcelo Augusto, Rodrigo Sant´Anna e Tadeu Mello.

Primeiro esquete com Dedé Santana após o retorno à Globo: o humorista faz um sogro bravo. Com Didi (Renato Aragão), Daniel Del Sarto, Jacaré, Marcelo Augusto, Rodrigo Sant´Anna e Tadeu Mello.

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