Foi durante uma das seletivas para ingressar na Escola de Artes Dramáticas (EAD), da Universidade de São Paulo (USP), que Deborah Evelyn conseguiu a primeira grande chance na TV. “Walter Avancini assistiu a um teste público e me chamou para a minissérie 'Moinhos de Vento' (1983). Era ainda uma menina e ganhei um papel muito denso. Por isso, foi bom começar em televisão sob a direção de um mestre. Avancini era muito cuidadoso comigo. Ele me ensinou a estudar um texto”, relembra. Enquanto cursava a EAD, Deborah participou do teleteatro 'Quarta Nobre' (1983), no episódio 'O Homem Que Veio de Minas', e de uma outra minissérie, 'Meu Destino é Pecar' (1984), todos na TV Globo.
Início da carreira
Carioca, nascida em 12 de março de 1964, Deborah também cursou ciências sociais na USP, mas assim que concluiu as graduações retornou ao Rio para dar início à carreira de atriz, seu grande sonho desde criança: “Não me lembro de ter querido ser outra coisa na minha vida. Teatro, eu via desde pequena na coxia. Com uns 10 anos, acompanhava minha tia fazendo a peça 'Vagas Para Moças de Fino Trato' (1974), com Yoná Magalhães e Glória Menezes. Mais tarde, assisti a algumas gravações dela para a televisão em 'Brilhante' (1981)”.
A tia a quem Deborah se refere é a atriz Renata Sorrah, irmã de sua mãe, a socióloga Suzanna Sochaczewski Evelyn. Foi a madrinha quem dirigiu a sobrinha para a apresentação da cena da peçaGaivota, de Tchekhov, na EAD, que impressionou o diretor Walter Avancini. “Minha família é muito ligada à cultura, sempre gostou de viajar, visitar museus. Tenho uma tataravó que era cantora de ópera”, conta Deborah, também filha do economista Haroldo Bruce Evelyn.
Logo em sua primeira novela, A Gata Comeu (1985), Deborah Evelyn experimentou a popularidade nas ruas. Ela era Lenita, uma moça de família rica, que se apaixonava pelo motorista do pai: “Foi muito divertido fazer. E impressionante! Levei um susto quando me deparei pela primeira vez com essa coisa do sucesso de massa. A novela de Ivani Ribeiro era bem ingênua, do horário das seis, então pegou uma geração de crianças, pré-adolescentes e adolescentes que amavam a trama. Era uma coisa!”.
No remake de 'Selva de Pedra' (1986), a atriz deu vida a Flávia Moreno, personagem que foi de Sonia Braga na primeira versão da novela de Janete Clair. E retomou a parceria com seu descobridor, Walter Avancini, sob a direção-geral de Dennis Carvalho, com quem se casaria dois anos mais tarde. “Foi meu segundo trabalho com Dennis. Antes, ele me dirigiu no 'Quarta Especial'”, esclarece Deborah, lembrando o desafio que era interpretar Flávia.
Assim como o cabelo curtinho e o brincão em uma orelha só marcaram o visual descolado de Deborah em 'Selva de Pedra', em 'Hipertensão', também de 1986, a caracterização com aparelho fixo nos dentes e óculos de grau a ajudou a compor Raquel: “Eu fazia uma patinha feia que se apaixonava pelo locutor bonitão que chegava à cidade, vivido pelo César Filho, e sofria uma transformação, ficando linda! Não foi uma mocinha bobinha, igual do início ao fim. Gosto muito dos personagens que têm uma curva para sair do normal, e esse foi bom”.
No ano seguinte, a atriz interpretou o seu primeiro papel de época: a militante política Vera, na primeira fase da novela 'Mandala'. A curta participação foi seguida por uma outra, tão rápida quanto, em 'Bebê a Bordo' (1988): “Foi divertido, mas saí no meio da novela para fazer 'Vida Nova', onde eu era Ruth, uma judia. O interessante é que também sou de uma família judia, mas pouco religiosa. Foi a primeira vez, por incrível que pareça, que eu entrei numa sinagoga. A novela me marcou muito”. Desta vez, Deborah precisou deixar a trama um mês antes do fim porque seu par romântico, Lauro Carona, adoeceu: “Foi um final lindo, lindo. O Laurinho falava um poema do Fernando Pessoa e a gente ia embora junto, numa carroça. Foi o último trabalho dele, muitas emoções estavam envolvidas ali. Ele era doce, engraçado, criativo. E estava mais sensível em cena, com o talento à flor da pele”.
O tom dramático ganhou extensão na minissérie 'Desejo' (1990), em que a atriz viveu Alcmena, moça que era impedida pela família de viver uma paixão e virava freira. “Lembro bem a cena em que ela tomava essa decisão. Em frente ao espelho, cortei meu cabelo de verdade. Eu estava tão emocionada que cortei minha mão e chegou a sangrar. O pior de tudo foi que, por algum motivo técnico, precisei refazer a cena com uma peruca, e não ficou tão bom. Mas o fato é que Alcmena não saiu mais do convento, e, muito triste, morreu de câncer, jovem. Na época, associei a doença à falta de amor”.
'Desejo': cena em que Alcmena (Deborah Evelyn) comunica à mãe, Túlia (Nathalia Timberg), e à irmã, Ana (Vera Fischer), que decidiu ser freira.
Deborah, no entanto, terminou aquele ano com leveza, integrando o elenco da novela 'Mico Preto'. Ao lado de Miguel Falabella, participou de cenas de dança e ataques de riso. Após um tempo fora da TV, ela retomou as gravações com uma participação no episódio 'O Golpe' (1992), no interativo 'Você Decide', programa do qual faria parte outras cinco vezes, no período de 1996 a 1999. E emendou a minissérie 'Anos Rebeldes', de Gilberto Braga, com temática política: “Sandra era o protótipo da guerrilheira, muito rígida, fumava muito. E eu não fumo, nunca fumei. Então, precisava comprar um cigarro mais fraco e furava o filtro para a fumaça sair. Além do mais, eu estava grávida, ficava enjoada com facilidade”.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc minissérie - Anos Rebeldes (1992)
Em Fera Ferida' (1993) a atriz experimentou o realismo fantástico em uma trama de Aguinaldo Silva. Zigfrida era mais uma personagem que lutava para viver um amor considerado impossível.
“Ela adorava ouvir óperas e usava um só par de botas, de salto baixo e camurça, meio mostarda. Quando acabou a novela, obviamente, ela estava de outra cor, depois de tão usada. E eu também fiquei loura nessa época. Isso me ajudava a entrar na personagem”.
Depois de uma participação rápida na novela 'Pátria Minha' (1994), Deborah entrou em 'Explode Coração' (1995) como a repórter Yone, que começava um relacionamento com o personagem de Cássio Gabus Mendes por meio de um chat. Era a época da explosão da internet no Brasil. “Acho que fui casada com o Cássio em novelas umas três ou quatro vezes. Ele é um amigo maravilhoso, engraçado, muito bom de contracenar!”, empolga-se a atriz, que pôde realizar um trabalho social nesta novela.
'Explode Coração': Yone (Deborah Evelyn) entrevista Odaísa (Isadora Ribeiro) entre as mães de crianças desaparecidas
Depois de viver uma alpinista social em 'Labirinto' (1998) e de uma participação especial em 'Terra Nostra' (1999), Deborah encarnou uma mulher que teve o filho sequestrado na minissérie 'A Muralha' (2000), de Maria Adelaide Amaral, ambientada no século XVII, época dos bandeirantes. “Basília foi o personagem mais difícil da minha carreira. Ela era muito amargurada porque o filho tinha sido raptado, e acabava adotando indiozinhos e cuidando deles”, relembra a atriz, que teve aulas para aprender a tecer e tingir roupas e a cozinhar em panelas grandes: “Sim, porque eu particularmente não faço nem ovo frito…”.
Na novela Um 'Anjo Caiu do Céu' (2001), Deborah fez novo par romântico com Cássio Gabus Mendes e chamou a própria tia de mãe. É que a deficiente física Virgínia, interpretada por ela, era herdeira dos personagens de Renata Sorrah e Tarcísio Meira. “Fazer a filha da Renata era muito engraçado porque a gente é muito íntima, foi difícil entrar nesse canal. Mas ela é ótima, engraçada, uma colega maravilhosa. Até então, a gente só tinha feito teatro juntas. Foi bem especial”.
Mães controversas
O ano de 2002 foi de participações na carreira de Deborah: ela fez rápidas aparições nas novelas 'Desejos de Mulher' e 'O Beijo do Vampiro'. Mas 2003 foi especial para a atriz, que deu vida à problemática Beatriz, de 'Celebridade'. Nem vilã nem mocinha, mas humana e, por isso, cheia de defeitos. A personagem acusava o filho caçula, vivido por Bruno Gagliasso, pela morte do primogênito, declaradamente seu predileto: “Eram cenas difíceis, muito duras. Eu falava horrores, crueldades para ele e depois ia para a coxia chorar. Era sofrido, mas bom de fazer. E o Dennis (Carvalho) dirigiu lindamente as cenas escritas pelo Gilberto (Braga)”.
Mãe tão instigante quanto Beatriz, Anna Maria, da novela 'Páginas da Vida' (2006), também foi personagem de grande repercussão em sua trajetória. Bailarina frustrada, ela obrigava a única filha a frequentar aulas de dança e tinha pavor de que a menina engordasse, passando a vigiar tudo o que ela comia. A trama abordou a questão da anorexia, e a atriz acabou revelando em entrevistas que sofreu do mal na vida real, durante a adolescência. Antes desse trabalho, Deborah marcou presença em 'Começar de Novo' (2004) e 'JK' (2006).
Em 2007, Deborah Evelyn viveu a governanta mineira Madalena na novela 'Desejo proibido', em mais um par romântico com Cássio Gabus Mendes. E em 2009, encarou a megera Judith, de 'Caras & bocas', sucesso escrito por Walcyr Carrasco.
'Caras e Bocas': cena em que Judith (Deborah Evelyn) chantageia Denis (Marcos Pasquim) e o obriga a falsificar quadros.
Outra que se deu mal foi a Eunice de 'Insensato Coração' (2011). Aspirante a socialite, mesquinha, a personagem aprontou muito durante a novela de Gilberto Braga e terminou servindo cafezinho. Participou de 'Sangue Bom' (2013). Nela, interpretou Irene, misteriosa ex-atriz que mudara seu nome para Rita de Cássia e trabalhava como estátua viva e contadora de histórias para crianças.
Em 2015 esteve em torno da morte misteriosa de Gibson (José de Abreu) em 'A Regra do Jogo', ao intetpretar Kiki. Dois anos mais tarde, foi a retrógrada Alzira em 'Tempo de Amar'.
No ano de 2021, repetiu a parceria de sucesso com Walcyr Carrasco ao atuar em 'Verdades Secretas 2', primeira novela produzida pelo Globoplay. Sua personagem, Betty, se envolve com Matheus (Bruno Montaleone), num relacionamento que terá consequências para toda sua família.
Além dos trabalhos citados, Deborah fez diversas participações em programas da TV Globo como 'Delegacia de Mulheres', 'A Justiceira', 'Brava Gente', 'Sob Nova Direção', 'Casos e Acasos' e 'Histórias de Cama e Mesa'.
Teatro e Cinema
No teatro, a atriz sublinha seus trabalhos nas peças 'As Três Irmãs', 'Ligações Perigosas', 'Jardim das Cerejeiras', 'Deus da Carnificina' e 'O Baque', com a qual ganhou o Prêmio Shell de Melhor Atriz, em 2006. Ao longo da carreira, Deborah participou de apenas cinco filmes: 'Mistério no Colégio Brasil' (1988), 'Lamarca' (1994), 'A Partilha' (2001) e 'Mulheres do Brasil' e 'O Maior Amor do Mundo', ambos de 2006.
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